Consultoria Recomenda: tema livre (segunda edição)

Consultoria Recomenda: tema livre (segunda edição)

Editado por Fernando Bueno
Com Adrian Dragassakis, Alisson Caetano, Davi Pascale, Diego Camargo, Diogo Bizotto, Fernando Bueno, Mairon Machado e Ulisses Macedo

Terminamos mais uma temporada da seção “Consultoria Recomenda”. Desta vez tivemos mais oito edições, que começaram em 25 de fevereiro de 2017, abordando o rock argentino, em sugestão de Davi Pascale. Na sequência tivemos discos depressivos (Alisson Caetano), one-man bands (Ulisses Macedo), discos representativos de estilos (Ronaldo Rodrigues), trilhas sonoras (Mairon Machado), splits (Fernando Bueno), grandes produções (Diogo Bizotto) e rock alternativo dos anos 1990 (Diego Camargo). Esperamos que estejam gostando desta que é a única seção colaborativa que estamos mantendo com frequência no site. É bem provável que continuemos com a “Consultoria Recomenda” e o feedback de vocês leitores é bastante bem vindo.

Sobre esta edição, o fato de termos um tema livre trouxe discos muito distintos entre si, desde o mais clássico da MPB até o mais experimental do black metal, passando por heavy metal tradicional oitentista, hard rock mais moderno, indie e rock clássico. Ou seja, certeza de que pelo menos um álbum entre os oito recomendados agradará ao leitor.


Chico Buarque – Construção (1971)
Recomendado por Mairon Machado

A MPB não é um dos principais estilos que aprecio normalmente. Dos artistas principais, poucos estão em minha coleção, com exceção de Elis Regina, cuja obra inteira foge somente da MPB e é um caso a parte. Mas alguns discos eu admiro e muito, e um deles é essa obra-prima de Chico Buarque. Ele já vinha fazendo estardalhaço no final dos anos 60 com os 4 volumes de Chico Buarque de Hollanda, todos muito bons, mas o ápice de sua “catigoria” está em Construção. Aqui ele faz misérias com letras poderosas, complexas e historicamente marcadas pelo protesto contra a ditadura. Tanto que muitas estão até hoje nas aulas de português e história. Pegue o desabafo contra a censura de “Acalanto” e “Cordão”, ou a crítica à mulher submissa e ao machismo de “Cotidiano”, quem fez algo assim naquela época? Ou então a mágica versão de “Gesù Bambino” em “Minha História”, original de Lucio Dalla e Paola Pallotino que ganhou toques sertanejos e uma letra tocante. Ainda há espaço para relatos pessoais, seja sobre o período de exílio na Itália, em “Samba de Orly”, o doloroso choro “Desalento”, e uma parceria emocionante com Tom Jobim e Vinícius de Moraes na introspectiva “Olha Maria (Amparo)”. Os maiores destaques vão para a tocante “Valsinha”, faixa que sempre me arranca lágrimas pela sua poesia e história, e principalmente, o início e o fim do Lado A. Começando com o crescendo de “Deus Lhe Pague”, arrepiante, com uma letra forte, pancada na orelha da censura, e a participação essencial das vozes do grupo MPB-4, que com os arranjos sensacionais do maestro Rogério Duprat. A dupla MPB-4 e Duprat também participa com importância no lirismo poético e conturbador da faixa título, que é simplesmente e fácil fácil uma das 5 melhores canções já compostas em terra brasilis (a versão de Elis no álbum Transversal do Tempo é de assustadoramente encantadora). Disco essencial em qualquer prateleira que de apreciadores de arte, e para se ouvir de mente aberta.

Fernando: Confesso que foi difícil dissociar o homem da obra. Ainda mais quando o objeto de análise é de um estilo que nunca me disse nada. É claro que muitas das músicas são clássicos atemporais da música brasileira e mesmo não sendo da minha preferência, já ouvi incontáveis vezes. Assim não é de se estranhar que as faixas menos conhecidas, como “Deus lhe Pague”, foram as que mais me chamaram atenção. Nos clássicos eu lembrava a todo tempo que era o Chico Buarque, nas menos conhecidas eu tinha mais tempo para prestar atenção à música. A faixa título foi usada tanto em aulas de português que não consigo não lembrar dos meus antigos professores.

Diogo: O que vou dizer? Não é o tipo de material que costumo ouvir, mas obviamente é representativo da qualidade da música brasileira, mesmo que o predomínio cultural dessa MPB sobre tantas outras manifestações musicais nacionais me incomode um pouco. É um disco denso de conteúdo e ao mesmo tempo sutil, explorando ritmos brasileiros com muito talento e traduzindo-os em uma musicalidade muito particular, com a assinatura de um artista maiúsculo. Considerando os rumos atuais, é até estranho pensar em como um disco destes fez tanto sucesso (várias faixas são facilmente reconhecíveis com poucos segundos decorridos), mas esses eram os anos 1970, uma época verdadeiramente excitante para os fãs de música, quando álbuns audaciosos eram financiados por grandes gravadoras e artistas de talento superior alcançavam sucesso surpreendente. Entre aquelas que já conhecia, destaco a (positivamente) assombrosa “Deus Lhe Pague”. Já no ramo das “novidades”, as que mais chamaram minha atenção foram as singelas “Olha Maria (Amparo)” (parceria com Vinícius de Moraes e Tom Jobim) e “Valsinha” (podem pensar que estou louco, mas não soaria mal encaixada em Lizard, 1970, e em Islands, 1971, do King Crimson). Indicação bastante válida.

Ulisses: Não sou lá apreciador de MPB, mas é evidente até para mim as enormes doses de musicalidade e sofisticação injetadas neste álbum. Chico consegue moldar influências europeias em sambinhas e baladas tipicamente brasileiras que agradam a qualquer um, ao mesmo tempo em que suas letras conseguem versar sobre as circunstâncias da época sem soarem anacrônicas hoje. Os belos arranjos criam as atmosferas perfeitas, sem que cair num excesso de grandeza ou pomposidade. Gosto especialmente de “Cotidiano” e da faixa título.

Diego: Muito já se falou de Chico Buarque, uns o acham superestimado outros acham ele o compositor do século. Eu acompanhei a maioria dos discos do Chico do começo até a metade dos anos 70, e foi justamente nos anos 70 que ele brilhou. Se nos anos 60 ele era insosso, nos anos 70 ele ouviu as coisas certas e deu uma guinada radical em sua discografia com o essencial Construção. Construção é uma coisa que inovou em tantos lugares, levou o samba a um nível elevado, refinado, requintado, misturando o Samba tradicional com orquestrações, melodias sofisticadas e até umas ‘progressivices’. O repertório é quase todo perfeito, mas um mérito, que diversas vezes é esquecido, deve ser mencionado. Construção o disco, especialmente nas faixas ‘Construção’ e ‘Deus Lhe Pague’, não existiria sem o mestre Paulinho da Viola e sua ‘Sinal fechado‘. O próprio Chico reconhece isso ao gravar a faixa (e nomear seu disco de 1974). Obrigatório!

Adrian: A surpresa ao ouvir esse álbum foi logo na primeira faixa, “Deus lhe Pague”, que eu conhecia através de um cover da banda brasileira de doom metal, Imago Mortis. Apesar de saber que era do Chico, nunca havia ouvido. No mais, não é muito a minha praia, apesar de respeitar o Chico Buarque como músico e compositor.

Alisson: Não tem mais o que ser dito sobre esse aqui. O melhor conjunto “construção musical + poesia” que o Brasil já havia visto. O que a faixa título entrega é talvez um dos momentos mais arrepiantes da música mundial. Disco essencial para entender o período em que o Brasil passava.

Davi: Não concordo com a visão política de Chico Buarque e ainda acho algo extremamente ridículo ele ter saído a favor da proibição das biografias não autorizadas (É, Chico, não me esqueci. O dia em que Gil, Chico e Caetano se venderam e defenderam abertamente a censura. Vergonha!). Mas não é por isso que vou negar a qualidade de sua obra. Principalmente, nessa fase aqui. Construção é um dos grandes clássicos da música brasileira. Inegável. Chico é, sim, um ótimo letrista e o LP é repleto de clássicos da MPB: “Deus Lhe Pague”, “Cotidiano”, “Construção”, “Samba de Orly”, “Minha História”… Trabalho onde chegou muito próximo à perfeição. Melhor disco dele brincando. Pena que esse Chico não existe mais…


Ted Nugent – Ted Nugent (1975)
Recomendado por Diogo Bizotto

Depois de dois discos já ensaiando seu protagonismo e deixando o nome Amboy Dukes cada vez mais de lado, este álbum deu início à carreira propriamente dita solo de Ted Nugent, um dos grandes guitarristas que os anos 1960 pariram e a década seguinte alçou ao estrelato. As performances bombásticas de Ted e seu estilo extravagante de agir podem não ser traduzidos perfeitamente em estúdio, mas chega-se bem perto disso. Ted lançou outros bons discos em sua carreira, mas nenhum tão sensacional quanto este. Grande parte disso deve-se à excelente banda que o acompanhava, destacando os vocais de Derek St. Holmes (que canta a maior parte das faixas, coisa que muita gente não sabe) e o baixo de Rob Grange (jurava se tratar de um Alembic, mas é um Fender com captadores tipo Precision e Jazz, um dos pioneiros com essa configuração), dono de uma sonoridade quase tão poderosa quanto aquela que Ted extraía de sua Gibson Byrdland (um instrumento incomum para tocar rock pesado). Muito mais que sua maior obra, “Stranglehold” é uma das melhores canções dos anos 1970 e uma de minhas músicas favoritas, perfeita desde as primeiras palhetadas carregadas de personalidade e dona de um dos solos de guitarra mais épicos de que se tem notícia. Quem gosta de hard rock rústico, tipicamente norte-americano, com um pé no blues e outro no rhythm ‘n’ blues, tem em Ted Nugent um cardápio de alto nível, destacando o riff delicioso de “Stormtroopin’” (cantada pelo baterista Cliff Davies) e o boogie pesado de “Snakeskin Cowboys”, sem falar na fantástica “Just What the Doctor Ordered” (segunda melhor do álbum, com bela performance de Derek) e em “Motor City Madhouse”, demonstração da personalidade e da porralouquice de Ted, uma das figuras mais verdadeiramente polêmicas que o rock norte-americano já produziu.

Fernando: Como Chico Buarque, Ted Nugent é mais um músico que tem em seu ativismo político fonte de críticas sem fim. Atualmente ele é até mais conhecido por isso do que pela própria música. Esse é um dos artistas que nunca tive tanto interesse. Cheguei a ouvir algumas coisas mas nada me segurou. Como a sua carreira é enorme eu também confesso que sempre tive um pouco de preguiça. Preferi as músicas mais diretas sem os solos de guitarra ao estilo de jams intermináveis como “Stormtroopin’” e “Just What the Doctor Ordered”. Bela indicação e fica a pergunta para os entendidos: o Cat Scratch Fever não seria o disco ideal para apresentação ao músico?

Mairon: Estreia arrebatadora de Nugent em carreira solo, exibindo-se para o mundo e revelando-se mais um dos grandes guitar heroes que os anos 70 pariu para a posteridade. É rock ‘n’ roll puro e direto, para pular pela casa e gritar os refrãos em altos brados, principalmente no riff beatle de “Just What the Doctor Ordered”, nas pauladas “Queen of the Forest” e “Stormtroopin'”, e no rockaço “Motor City Madhouse”. Aprecie o jazz de “You Make Me Feel Right at Home”, o boogie de “Hey Baby”, as inspirações de Kiss em  “Snakeskin Cowboys” e “Where Have You Been All My Life”. Ah, e tem “Stranglehold”,  o ápice da exibição virtuosa e regada de feeling e distorção por Nugent. Discaço que rende boas quebradas no pescoço, e que deixa aquele gosto de “como os anos 70 eram fantásticos”. Pena que Nugent hoje virou um ativista político reaça do cão, pois seu passado como músico tem vários grandes momentos.

Ulisses: O disco conhecido pela famosa “Stranglehold”, sua faixa de abertura, não chega ao mesmo patamar após seus incríveis oito minutos iniciais, mas ainda se segura bem com outras ótimas composições – “Just What The Doctor Ordered”, “Motorcity Madhouse” e “Where Have You Been All My Life” são algumas das faixas igualmente obrigatórias. Nugent teve o mérito de se cercar de ótimos parceiros musicais, que provém uma sólida fundação para que ele mostre suas habilidades na guitarra.

Diego: Ted Nugent por si só é uma figura, pra bom ou pra ruim. Tentei alguns dos discos dele como Free-for-All (1976) e Cat Scratch Fever (1977), mas sempre fiquei com a aquela sensação incômoda de que eram discos ‘ok’. E não há nada pior do que gravar um disco ok, que não fede nem cheira. Ted Nugent (1975) começa muito bem com ‘Stranglehold’ (apesar de ser desnecessariamente longa) e o disco segue muito bem com ‘Stormtroopin”, ‘Hey Baby’ e ‘Just What The Doctor Ordered’. Na verdade, o disco segue bem até o final e foi uma surpresa. Ted Nugent não faz nenhuma reviravolta e nenhuma revolução na música, ele apenas gravou um disco de Rock cheio de faixas pra curtir. O único senão é o vocal de Ted que é fraco pra caramba, de resto o disco é sólido!

Adrian: Confesso que conhecia bem pouco do Ted Nugent, incluindo a primeira faixa,”Strunglehold”, que é um clássico do Rock. Mas já conhecendo suas qualidades como guitarrista, não me surpreendeu a boa qualidade do disco, que é bem divertido e te transporta imediatamente aos anos 70, com ótimos solos e experimentalismo característico.

Alisson: Os dois primeiros discos do guitarrista captam bem o espírito agressivo do som feito em Detroit durante os anos 70, época onde surgiram os discos mais barulhentos no estado. Boas passagens clássicas estão aqui, como a longa jam em “Stranglehold”. Disco legal de ouvir, da época onde a prioridade do guitarrista era fazer música, e não cuspir seu posicionamento conservador escroto país afora.

Davi: Primeiro trabalho solo de Ted Nugent. Muitos não curtem Ted Nugent por conta de suas declarações um tanto quanto, digamos, extremistas, mas musicalmente não tem muito o que falar do cara. Puta guitarrista. Sempre trabalhou com uns puta músicos. O trabalho dele sempre foi de altíssimo nível. Esse LP é meio que um clássico do rock. Além de Nugent, também gosto muito do cantor Derek St Holmes, com quem tive o prazer de conversar alguns minutos no Kiss Kruise, inclusive. O cara é genial e ainda canta muito, mas voltando ao disco. “Stranglehold” é um clássico do seu repertório, mas as minhas favoritas são os rockões “Stormtroopin´”, “Snakeskin Cowboys”, “Queen Of The Forest”, além da bluesy “Where Have You Been All My Life”. Discaço!


Manilla Road – Open the Gates (1985)
Recomendado por Ulisses Macedo

Algumas bandas, a despeito de seus lançamentos constantes ou pioneirismo na cena musical, jamais alcançam o reconhecimento mainstream, mas antes tornam-se ícones cultuados no underground para sempre. O Manilla Road, que durante suas quatro décadas de existência sempre foi capitaneada pelo infalível guitarrista Mark Shelton, segue firme e forte até hoje, fazendo um heavy metal mitológico com ares épicos, mas sem abusar da excentricidade. Pode-se afirmar com segurança que já em seu quarto disco, Open the Gates, o (ainda) trio atingiu seu ápice musical, indo desde composições pesadíssimas (“Metalstrom”, “Weavers of the Web”) a épicos atmosféricos viajantes (“The Ninth Wave”, “the Fires of Mars” e “Witches Brew”). Tendo aperfeiçoado a fórmula do icônico Crystal Logic (1983), o Manilla, influenciado pelo thrash metal da época, tornaria-se ainda mais pesado nos álbuns subsequentes, igualmente merecedores de umas boas audições, especialmente The Deluge (1986). Uma banda subestimada, tendo como principais obstáculos um frontman cuja voz não agrada a todos e produções que quase sempre falham em exibir completamente a potência sonora das faixas. Entretanto, boas composições são imortais e quebram todas as barreiras, e isto o Open the Gates tem de sobra. Up the hammers!

Fernando: Sou suspeito para falar dessas bandas de metal dos anos 80. Invariavelmente acabo gostando de tudo, mesmo aquelas menos conhecidas e não tão inovadoras. O Manilla Road gravou de 1983 até 1990 discos que poderiam aparecer dentre os preferidos dos fãs de metal, mas infelizmente eles acabam sendo pouco lembrados. Eles fazem parte daquelas bandas de fora da Inglaterra que levaram a NWOBHM para outros cantos do mundo. O único porém é a gravação que contou com a conhecida falta de zelo que muitas bandas tiveram na época.

Mairon: Heavy Metal oitentista, com muito peso e uma produção um tanto quanto precária. Apesar do abafamento do disco, e de o baterista ser bastante travado, gostei do vocalista Mark Shelton, e me surpreendi por ser um power-trio, algo bem diferente na linha do Metal. Algumas faixas me chamaram a atenção por trazer alguma referência ao Black Sabbath de Master of Reality, como “Weabers of the Web” e  “Astronomica”, e outras soaram mais furiosas, como “Open the Gates”, “Heavy Metal To The World” e a pesada “Witches Brew”. As que mais curti, no fim das contas, foram “The Fires of Mars”, que me trouxe uma certa similaridade ao Saxon, e a longa “The Ninth Wave”, com um belíssimo trabalho instrumental, e que também me lembrou Saxon (algo na linha de “The Eagle Has Landed”), além da introdução de “Metalstorm”, as faixas que mais apreciei. Pena o disco ser tão abafado, ou fui eu que dei azar no link do download?

Diogo: Com facilidade, a indicação mais legal desta edição. Já conhecia o Manilla Road de nome, mas nunca havia parado para escutar um álbum na íntegra. A banda é contemporânea de alguns e precede outros importantes nomes daquela onda norte-americana de heavy metal bem tradicional, como Manowar, Savatage, Queensrÿche (dos primórdios), Metal Church, Riot, Armored Saint e Virgin Steele, com a qual simpatizo bastante. É o tipo de imagem e até mesmo de sonoridade que hoje em dia virou motivo de piada para muita gente, mas, apesar de concordar que imitar esses elementos hoje em dia soe forçado (para não dizer patético), é representativo de uma época mais inocente e tem muitos atrativos. Os vocais de Mark Shelton não são grande coisa, mas o cara é um bom guitarrista e sabe extrair ótimos riffs, como aquele que conduz “Weavers of the Web”. Na verdade, o trio todo executa um trabalho bem competente. O baterista Randy Foxe encarna Phil Taylor (Motörhead) e conduz o speed metal “Heavy Metal to the World”, simples na ideia, mas efetiva na execução. “The Fires of Mars” tem uma pegada mais Judas Priest e destaca o som “estilingado” do baixo de Scott Park, que também me agrada. O lado mais épico do grupo aflora em “The Ninth Wave” e chega a lembrar os melhores momentos do Trouble, que começava a fazer história. Rapaz, gostei do disco, nem tenho faixa fraquinha pra citar.

Diego: É heavy metal tradicional. Competente quando o assunto é a parte instrumental mas com um dos piores vocalistas que eu já ouvi cantando metal, e olha que tem muito vocalista ruim no heavy metal! Na verdade Open The Gate é simplesmente ‘inescutável’ por causa do Sr Mark W. Shelton, também responsável pelas guitarras. Vai cantar mal lá no quinto dos infernos. Massacre aos ouvidos, passe longe! Sem contar que o que diabos Manilla Road tem a ver com Heavy Metal? Mais um caso de banda com nomes que não condizem com o seu som.

Adrian: À primeira vista, me lembrou de grandes bandas dos anos 80, como o Angel Dust (em sua fase Thrash Metal) e o Crimson Glory, que são ótimas bandas e que não devem nada aos grupos do Mainstream. Ótimos riffs de guitarra e cozinha comendo solta. Destaque para “Metal Storm” e “Road of Kings” (baita trampo de guitarras nessa faixa). Confesso que também não conhecia, mas ouvindo esse álbum, me despertou o interesse de ouvir os demais álbuns. Excelente!

Alisson: Costuma-se chamar de metal “old-school” exatamente o que o Manilla Road fez nesse disco, uma espécie de ponto de virada na carreira do grupo, que antes tinha muita psicodelia em seu som. Open the Gates não economiza nos riffs e na velocidade, casando com a lírica épica do conteúdo. Apesar da produção old school além da conta, do vocal sofrido e da falta de inventividade, dá para deixar rolando o disco numa boa.

Davi: Álbum que marca a chegada do baterista Randy Foxe no lugar de Rick Fisher e que marca a banda entrando de cabeça no universo místico. A ideia é legal, ainda mais se tratando de anos 80. A temática estava de acordo com a época. O problema que eu vejo é a qualidade do material. Esse disco parece que se tornou um clássico do gênero, mas confesso que se eu fosse produtor de uma gravadora e caísse uma fita dessas na minha mão, eu reprovaria a banda. Randy é realmente um bom baterista, o trabalho de guitarra é muito legal, mas parou por aí. Trabalho vocal ruim, composições fracas, produção extremamente pobre. Trabalho extremamente datado. “Heavy Metal To The World” é a melhorzinha, mas ainda sim, longe de ser aquele puuuuta som…



Hique Gomez – O Teatro do Disco Solar (1994)
Recomendado por Diego Camargo

Quando o tema saiu eu não tinha o que indicar e uma recente compra me fez indicar esse excelente disco sem pensar! Alguns dias depois me dei conta de que com certeza massacrariam o disco, e ele não merece o massacre. Bom, até o momento 70% do que eu indiquei foi massacrado, então não estranharia se O Teatro Do Disco Solar fosse massacrado também. Porque, convenhamos, não é um disco de Art Rock feito na Inglaterra, também não é um disco underground americano que todo mundo ama amar porque isso é cult. É apenas um disco bem feito, gravado independentemente por um ótimo música sem esquemão com gravadora e é Brasileiro… ah, é Brasileiro então não pode ser bom e não é! Conheci esse disco do Hique há uns 13 anos atrás quando descobri um morimbundo blog que se dedicava a postar sobre o rock gaúcho. Baixei e foi paixão logo de cara. Ouvi o disco direto até que um problema no meu HD consumiu com ele e nunca mais o encontrei… eis que ano passado, comprando uns cds numa loja online de SP achei o CD que eu nunca achei que veria, felicidade! Não vai agradar por que não é hypado, mas continua sendo bom pra caralho!

Fernando: Não tenho problema nenhum da apropriação de ritmos regionais no rock. Mas também não sou obrigado a gostar. A mistura de ritmos não só dá um aspecto de colagens às músicas como também me causou sensação de estar não em um teatro, mas eu um circo. Pior que pelos vídeos que vi no youtube me parece que o artista é acompanhado por músicos de alto gabarito. Parece-me um desperdício. O pouco de rock progressivo que está diluído me deu a impressão de que se estivesse puto seria algo melhor.

Mairon: Quem conhece o Hique Gomez do projeto Tangos e Tragédias, certamente irá se surpreender com esse disco. Bastante introspectivo, me lembrou canções da carreira de Vitor Ramil. As faixas são conduzas por piano, contrabaixo acústico e leves orquestrações, em um clima jazzístico com pitadas de MPB e Tango. Destaques para o instrumental envolvente de “Guedali”, faixa emocionante, onde o violino é a principal atração, “Teatro Invisível” e a linda “Descampado”. Passe reto por “Tão Estranho Quanto Somos”, que nada acrescenta a essa boa obra musical. Parabéns para quem o indicou.

Diogo: Não fazia ideia do que este disco me ofereceria. Conheço Hique por “Tangos e Tragédias”, mas não sabia de suas incursões no mercado fonográfico. Não é surpresa alguma perceber que se trata de material bastante teatral, focado na interpretação vocal, bem destacada sobre o instrumental, cuja produção e arranjos equilibram-se entre o estranho e o curioso. Em alguns casos, como na jazzística “Previsão dos Tempos”, o resultado tem maior sutileza e acaba soando bem. A faixa-título também é boa, equilibrando melhor vocal e instrumental, que soa mais roqueiro que no restante das canções. “Teatro Invisível” também é agradável. Em outros casos, o resultado ora fica exagerado (“Cidade Solidão” é de franzir o cenho), ora moroso demais (“Descampado” já entra no ramo da chatice). Não posso dizer que gostei de verdade do álbum, mas é uma indicação que vale pela curiosidade.

Ulisses: Eu até consigo relevar o vocalista que, apesar de afinado, expressa sua interpretação de maneira forçada em grande parte do registro. O problema maior é que o disco quase todo é composto por faixas que não chegam a lugar nenhum. Completamente inofensivas, à exceção da belíssima “Guedali” e da ótima faixa-título. “Cidade Solidão”, por outro lado, consegue fugir do tédio que permeia o restante do tracklist e vai direto para o outro extremo: irrita o ouvinte misturando versos rápidos dentro de um arranjo repetitivo.

Adrian: De cara desconfiei de que é um artista do sul do Brasil pelo sotaque. Achei uma mistura de Prog setentista com um psicodélico bem doido. Um pouco difícil de dissolver nas primeiras audições, mas bem tocado e dá pra entender a intenção do artista em tratar com humor o cotidiano em suas poesias.

Alisson: Uma clichezada de rock progressivo/psicodélico/lisérgico difícil de aturar. Pra ajudar, boa parte do disco é voz com acompanhamento ao piano mais previsível possível. Não, apenas.

Davi: Muito difícil achar informações à respeito desse disco e desse rapaz. Pelo que entendi, esse cara, além de músico, também é ator e parece que houve um espetáculo com esse mesmo nome nos anos 90. Sendo assim, acredito que esse álbum seja uma espécie de trilha da peça em questão. O cara é talentoso. Canta bem, os arranjos são bons, são inteligentes. O disco não tem uma sonoridade única. Cada canção traz uma sonoridade totalmente distinta, mas esse é um disco que gostaria de ter escutado acompanhando as letras para conseguir entender a história que tem em volta. Para entender o projeto de fato. De todo modo, deu para sacar que o trabalho dele tem bastante qualidade. Interessante…


Subvision – So Far So Noir (2006)
Recomendado por Fernando Bueno

Ouvi a banda pela primeira vez ainda antes do Ghost ter lançado seu segundo disco, Infestissumam. E naquela época ainda tinha uma dúvida se o Papa Emeritus era mesmo Tobias Forge. Porém quando finalmente saiu Infestissumam essa dúvida caiu por terra de vez, afinal a voz dele é bastante característica e o modo como foi utilizado no debut estava um pouco diferente mesmo. O disco do Subvision foi lançado quatro anos antes do primeiro disco do Ghost e Opus Eponymous ainda é o disco mais pesado do Ghost. Os seguintes têm muitos dos elementos melódicos que aparecem em So Far So Noir. Aliás, são as melodias o ponto forte do disco o que demonstra que Tobias Forge tem muita versatilidade e repertório musical por saber o que entregar em vários estilos musicais, basta saber que outra banda que ele fez parte foi o Repugnant que era puro death metal. Os destaques do disco ficam para a indie “Scenario” e a sombria “Lady Morgue”, mas o disco como um todo é repleto de canções que certamente vão agradar muita gente. Esse é o disco que eu não tenho que eu mais gosto. Já tenho vontade de trazer esse álbum aqui para a Consultoria há muito tempo. Porém estava esperando a minha cópia chegar para que eu tivesse mais informações para apresentar aos leitores. Mas depois de muita procura por uma cópia, finalmente encontrei o CD no discogs, fiz a compra e não (ainda) recebi. Isso já tem uns bons oito meses e por isso acabei indicando ele nessa nossa seção. Mas ainda não perdi as esperanças!

Mairon: Tas de brincadeira que essa bandaça indie é liderada pelo Papa Emeritus? Cara, como sou um apreciador moderado de indie rock, curti rapidamente o que ouvi. Logo de cara, “Room 611” chama atenção pelas boas vocalizações (com um grande ‘que’ de Ghost na sonoridade, mas soando bem melhor) e um solo de guitarra de empolgar. Outras faixas que também curti bastante foram “Cartwheeling the Void”, com o baixo em destaque. O pessoal saudosista dos anos 80 irá curtir o baixão de “Killing Floor”, que parece uma emulação de grupos como Smiths ou The Clash, assim como “Beyond the Moon”, cujas quebradas lembram muito a geração pós-punk dos anos 80. Até a soturna “Lady Morgue” tem seu charme. Muito bom esse disco. Outra boa indicação nesse recomenda, e que eu passaria longe de uma compra sabendo que era um derivado do Ghost. Mas é um derivado muito diferente do original, aliás, bem melhor que o original. Obrigado a quem recomendou.

Diogo: Não conhecia esse grupo que Tobias Forge tinha antes de ser conhecido mundialmente com o Ghost. Apesar do rótulo de indie rock, é muito fácil perceber no disco as influências setentistas que também se fazem presentes na musicalidade e seu atual projeto. Em alguns momentos elas pendem mais para o pós-punk (tanto o inglês quanto o norte-americano), daí a associação com o indie, em outros pendem mais para o hard rock. Algumas faixas são bem agradáveis e pegajosas, especialmente “Killing Floor” (a mais pesadinha), “Cartwheeling the Void” e “Fault”. Há muitas semelhanças melódicas com o trabalho que Tobias desenvolve no Ghost; a diferença maior fica por conta dos arranjos, bem mais “cheios” e desenvolvidos em sua empreitada mais recente, que dá maior ênfase a guitarras distorcidas. As guitarras de “Necropolis” são um bom indicativo daquilo que seria construído com o Ghost, mas de uma maneira mais tranquila. Se a intenção de quem fez essa indicação era apresentar uma curiosidade positiva, seu objetivo foi alcançado.

Ulisses: Passei a audição inteira com aquela sensação de já ter ouvido isso em algum lugar. E quando fui pesquisar a ficha técnica, lá estava: Tobias Forge! Esta é uma das bandas na qual ele cantava antes de formar o Ghost. Alguns elementos sonoros são similares entre os dois grupos, mas o Subvision é bem mais acessível, apostando numa veia mais indie e pop, mas ainda mantendo a linguagem do rock. Não notei nenhuma composição que se destacasse demais; ainda assim, o álbum é bastante homogêneo e agradável.

Diego: O que diabos eu consigo falar sobre esse disco? Que é completamente sem graça? Que não tem atrativo nenhum? Que não tem graça nenhuma? Que os músicos não tem talento e que a produção é terrível? Indie Rock do mais genérico com ecos de Post Punk só pra ficar dentro da caixinha de modernosos. Precisa mais?

Adrian: Conheci esse disco por uma curiosidade na época em que o Ghost surgiu e todo aquele hype em saber quem era o maldito Papa. Acabei viciando nesse álbum e fiquei um bom tempo sem ouvir ou lembrar dele, até agora. Tem um pouco da atmosfera do Ghost nele, com um toque de rock inglês. É também muito bem produzido. “Room 611” e “Psycamore” são minhas favoritas. Tem até um Easter Egg (será que se pode ser considerado um…) de um álbum do Ghost em uma das músicas. Vale ouvir com atenção.

Alisson: Muita coisa daqui foi refinada parar ser aproveitada por Tobias Forge no Ghost posteriormente — mais nos dois últimos discos. Os elementos pop são bem dosados com o indie rock aqui presente. Carece de impacto e presença, mas é agradável, nada que ofenda ninguém por falta de qualidade, nem nada do tipo. Inofensivo, apenas.

Davi: Ah… Quer dizer então que essa é a verdadeira faceta de Papa Emeritus? Quer dizer que quando ele não está se vestindo de Gorpo e tentando brincar de menino malvado, ele está cantando músicas alegrinhas, suaves e saltitantes? Nunca me enganou kkkkkkk Brincadeiras à parte, o disco é bem legalzinho e diria que gostei mais de seu trabalho vocal aqui do que o trabalho vocal que realiza no Ghost. É um trabalho mais comercial, mais alegre, com bastante influência de rock alternativo e até de uma pegada britpop. Não é um trabalho revolucionário, mas é consistente e de audição agradável. Gostei.


Woods of Ypres – Woods V: Grey and Electric Light (2012)
Recomendado por Adrian Dragassakis

Talvez o primeiro álbum que eu tenha resenhado, em uma fase difícil da vida, posso dizer que de alguma forma, me ajudou a superar muitas coisas, mesmo parecendo querer fazer o contrário. Basicamente, o último álbum do Woods of Ypres, lançado no mesmo ano da morte de seu líder, guitarrista, baterista e compositor, David Gold (até hoje não se sabe se foi um “acidente” de carro ou algo diferente disso) é dividido entre canções positivas, como “Lightning and Snow”, “Death is Not and Exit”, “Career Suicide (is Not Real Suicide”) e mais depressivas, como “Alternate Ending” e “Finality” (essas duas são de cortar o coração). No mais, mesmo para quem não está muito próximo do Black ou do Doom Metal, esse álbum é bem equilibrado em peso e boas melodias entre as canções. Pode servir de porta de entrada para os outros álbuns da banda, que também são excelentes.

Fernando: Não conhecia a banda e achei muito boa. Tenho ouvido bastante coisa nessa linha nesses últimos meses e ele fluiu bastante bem. Eu fiquei relacionando o som da banda ao do Paradise Lost e até aos brasileiros do Malefactor em diversos momentos. Não acompanhei as letras para saber do que se trata, mas a parte black metal deve estar nelas. Da lista toda foi o disco que ouvi mais de uma vez. Só fiquei com uma dúvida: dei aquela procurada básica no Woods of Ypres e encontrei quatro discos sendo que os três últimos sendo chamados de “woods alguma coisa”. Onde estão o Woods 1 e 2?

Mairon: Esses sons com muita testosterona já larguei de ouvir há algum tempo. É muita potência vocal, muita distorção, mas nada que consiga me fazer apreciar esse tipo de som. Bandas como essa tem de baldes pelo mundo, e por mais que tenha superado a mais de uma hora de audição de um álbum no máximo regular, não entendi qual o objetivo de recomendar algo tão comum para ser ouvido. E para piorar, tem uns pianinhos sem vergonhas de vez em quando. O vocal foi condensado de tal forma que duvido que o vocalista tenha tal grave em sua fala. Horrível. Parece-me um Evanescence com inspirações black metal no interior da Islândia. Para não dizer que não gostei de nada, gostei da introdução de “Adora Vivos” e da orquestração no final de “Finality”. Foram os únicos momentos que fizeram eu parar e ouvir com atenção o que saía das caixas de som. Desculpe ao consultor, mas realmente não tenho paciência e sapiência para apreciar esse tipo de música.

Diogo: A coisa estava indo bem até o vocal limpo entrar na jogada e me jogar um balde de água fria, além de fazer a qualidade geral do material cair alguns degraus. Ficasse só no gutural, este disco poderia configurar uma audição bem mais interessante. Focasse mais em passagens instrumentais, aproveitando as boas texturas criadas pelas guitarras, muito mais poderia ser aproveitado. “Keeper of the Ledger”, por exemplo, mostra como a dupla sabe trabalhar bem guitarras melódicas e levemente soturnas. Só que o solo acaba, o vocal volta e a vontade de ouvir termina. Isso é muito lamentável, pois o álbum até é bem resolvido instrumentalmente, apesar de algumas estranhezas. “Adora Vivos” é curiosa e chega a pender para o power e o thrash metal. “Career Suicide (Is Not Real Suicide)” tem um refrão chato pacas. No fim das contas, não funcionou bem pra mim.

Ulisses: Sob o aspecto musical, o álbum é majoritariamente repetitivo e pouco inspirado. A banda se esforça com seu competente metal gótico com toques de doom e black, liderada pela versatilidade da voz de David Gold, capaz de ir do canto barítono ao gutural, mas sem atingir um resultado que faça jus à lírica sombria e melancólica, esta sim digna de nota. Nas emotivas e espaçosas “Finality” e “Alternate Ending”, a banda atinge seu patamar mais interessante. De qualquer forma, é um álbum acessível, sem exageros e nem grandes deslizes.

Diego: Não tão ruim quanto eu achei que ia ser, até tem interessantes ideias, mas é longo e cansativo. Quando chega na metade os ouvidos e o cérebro já estão pedindo pra sair…

Alisson: O Woods of Ypres nunca foi uma unanimidade em black metal melódico mas o primeiro disco deles é interessante de ouvir, possui boas referências do gótico e passagens atmosféricas. Nesse disco, o lado alternativo pesou mais e o resultado ficou blasé, bem semelhante a produções mainstream com uma camada gótica que em nada representa o melhor que o estilo possui. Tirando bons momentos que chegam a lembrar Moonspell, não é o que eu chamaria de boa investida no gótico.

Davi: Cara… Eu já conhecia black metal, doom metal, mas black doom foi a primeira vez que ouvi falar kkkk A banda é muito boa, oscila momentos mais extremos com momentos mais melódicos. Os arranjos são bem arrastados, uma pegada meio gótica . A voz mistura gutural com limpo e devo dizer que o gutural aqui me agradou mais. O cara fazia bem, era um gutural inteligível. A voz limpa dele me dava a impressão que o rapaz estava desanimado, com sono. Dava uma dó. Os músicos são bons, as músicas são boas, mas acho que fazia falta um cantor mais legal. De todo modo, é um bom disco.


Mastery – VALIS (2015)
Recomendado por Alisson Caetano

Acho curioso que o gênero mais ortodoxo do heavy metal tenha se tornado o celeiro da maioria dos experimentos dentro do metal atualmente. Tente pensar em algo como “Ascension” do John Coltrane em versão black metal. A exploração de diferentes sessões ritmas resultou em um disco estranhíssimo. Frenético, psicótico e esquizofrênico, os 41 caóticos minutos do disco são uma jornada incansável pelos limites do experimentalismo no black metal. Ninguém aqui vai gostar disso, mas como o tema era livre, a proposta de exploração livre do black metal nesse disco foi o que mais se encaixou no contexto.

Fernando: O início me fez pensar que tinha dado um bug no arquivo digital. Mas não foi o que aconteceu. Foram seis minutos de incômodo até que enfim tem-se um alívio com uma calmaria meio dissonante, mas que se comparada com o que estava rolando antes parece o paraíso. Mas como tudo o que é “bom” dura pouco, voltamos para o caos completo. Fico tentando pensar em que momento isso seria algo interessante de se ouvir. Não tem. Não dá! Ahhh…. só eu pensei no King Crimson com essa capa?

Mairon: Buda que partiu, que monstruosidade é essa? Vocais incompreensíveis, guitarras sem o mínimo de melodia, barulheira tosca e dolorida de ouvir. Como é que alguém grava isso, e pior, como é que alguém consome isso? Honestamente, a quem indicou tal atrocidade e fez eu perder sagrados 40 minutos de paz, meu singelo e querido “VAI TOMAR NO CÚ”. É cada coisa que me aparece …

Diogo: Opa, black metal! Geralmente isso me deixa com boas expectativas, mas a porralouquice que beira o grindcore e não dá descanso sequer por alguns segundos me deixou de pé atrás. Quando o descanso chega, é na forma de passagens já bem típicas da turma mais avant-garde e/ou atmosférica do black metal, ora de maneira mais abrupta (sem tanta coesão), ora de maneira a praticamente manter o ritmo caótico, apenas com leves puxadas no freio. Na maior parte do tempo, é coisa demais acontecendo simultaneamente, muito zunido e pouca construção de camadas sonoras, algo que ajuda a fazer do black metal uma grande experiência. Outra banda algumas vezes indicada por aqui, o Deathspell Omega, sabe fazer isso muito bem. Se eu já achei um pouco exagerado para o meu gosto, prefiro nem imaginar o que meus colegas dirão. Para não dizer que não gostei realmente de nada, a última faixa até que quebra um bom galho, talvez por soar mais familiar aos ouvidos de alguém acostumado com o black metal norueguês, além de apresentar maior variação e desenvolvimento.

Ulisses: Black metal já não é um estilo fácil de ser digerido. Quando levado aos seus limites, então, a coisa piora. Mesmo os breves interlúdios acústicos não tiram a marca psicótica e avassaladora do restante do álbum. A audição é indecifrável, restando somente a marca de insanidade a ser absorvida pelo ouvinte. Esse é daqueles registros em que não há meio termo: ou o ouvinte achará que é 100% genial (‘hurr durr, avant-garde’), ou ele achará que é 100% desnecessário – fico com este último pensamento.

Diego: Uma única palavra resume isso aqui: péssimo!

Adrian: Fazia tempo que não me aventurava por black metal experimental. Ainda mais uma banda americana. Faz com que o Hique Gomez fique fácil de entender (o melhor elogio que eu poderia fazer ao disco anterior). Bom pra quem curte o estilo. Pra mim, não agradou…

Davi: Meu Deus… Inventaram o black metal experimental. Onde vocês acham essas coisas? Kkkk Para quem nunca ouviu nada do gênero, vou dar uma dica. Imagine o Nervosa tocando Sonic Youth. É exatamente isso. Bom, tem alguns trechos que parece que ligaram dois equipamentos de som ao mesmo tempo, só que em momentos diferentes da mesma faixa. Por alguns poucos minutos é interessante, mas ouvir um disco inteiro assim é uma tortura maior do que ouvir um LP da Yoko Ono ou assistir uma apresentação do Pablo Vittar. Diferente, mas chato pra caramba. Passo!


The Dead Daisies – Make Some Noise (2016)
Recomendado por Davi Pascale

Nesses temas livres sempre tenho dificuldade em escolher o que indicar. Tenho uma coleção grande de discos, escuto diferentes estilos e nossos consultores têm escolas musicais diferentes. Então sempre fica aquela dúvida: o que é legal indicar? Acabei optando pelo Dead Daisies porque foi uma das últimas bandas que me empolgaram de verdade. Depois que assisti o show deles então… Virei mais fã ainda. Uma aula de rock n roll, uma qualidade absurda e sem perder aquele clima de festa. O time que David Lowy reuniu aqui é praticamente um dream team: Doug Aldrich (Whitesnake), Marco Mendoza (Blue Murder), Brian Tichy (Ozzy Osbourne), John Corabi (Motley Crue). A ideia é fazer um hard rock pesado e cativante. E os caras conseguiram. “Long Way To Go”, “Song And a Prayer”, “Last Time I Saw The Sun”, “Mainline”… Só sonzaços. E para não deixar o clima de festa ir embora, os caras ainda entregam 2 covers bem interessantes: “Join´ Together” (The Who) e “Fortunate Son” (Creedence Clearwater Revival). Puta disco. Puta banda.

Fernando: Sei que muita gente acabou se interessando pelos nomes da sua formação. Mas provavelmente poucos se interessaram mais no nome de Marco Mendoza como aconteceu comigo. Vi Mendoza tocando ao vivo com o então Thin Lizzy – aquela versão que acabou se tornando o Black Star Riders – e fiquei muito impressionado com sua performance. O resultado do Dead Daisies era esperado já que só tem feras e dificilmente seria uma empreitada fracassada.

Mairon: Bandaça liderada por expontes do hard nos anos 90 (John Corabi nos vocais, Doug Aldrich nas guitarras, Brian Tichy na bateria e Marco Mendoza no baixo, timaço), e que entrega para os ouvintes da década atual um pouco do que foi o hard metal na década de 90. É tranquilo dizer que este é um grande super-grupo, onde o destaque fica nos solos repletos de técnica por Aldrich (baita guitarrista), os vocais bem encaixados de Corabi (injustiçado pacas, em minha opinião), a cozinha segura de Mendoza e Tichy. Gostei de todo o álbum, e por incrível que pareça, as faixas que mais apreciei são aquelas que fogem os padrões naturais dos músicos da banda, como por exemplo as quases radiofônicas “All the Same”, “Last Time I Saw The Sun” e “Song and a Prayer”, ambas com seu cheirão de Aerosmith, onde fica parecendo que o Steven Tyler não pode comparecer na gravação e colocaram o Corabi mesmo. Fiquei totalmente surpreso com a agressividade de “Mainline”, talvez a melhor faixa do lançamento. Curti bastante a rifferama de “How Does It Feel” e “Long Way to Go”. E como é legal ouvir uma versão tão boa quanto a original, no caso para os clássicos “Fortunate Son”  (Creedence Clearwater Revival) e “Join Together” (The Who). Bela recomendação, a qual curti bastante em seu lançamento, e que cresce em meu conceito cada vez mais.

Diogo: Ouvi o primeiro disco da banda e me soou como um hard rock bem qualquer coisa, com aquela pegada blues previsível e nenhuma composição realmente empolgante. Do primeiro para este, o terceiro, o grupo sofreu uma reformulação, com a entrada de dois músicos talentosos: John Corabi (vocais) e Doug Aldrich (guitarra solo). Isso fez uma importante diferença, tirando o The Dead Daisies da vala comum e injetando uma boa dose de personalidade, coisa que o primeiro álbum não tem. A diferença de ter Aldrich na guitarra solo é enorme, trazendo brilho a canções que, sem sua mão, não seriam lá muito especiais. Corabi também é um bom vocalista para o gênero, sem os cacoetes ridículos da turma mais jovem. Confesso que gostaria de ver músicos como esses fazendo algo um pouco mais maduro, como o próprio Aldrich faz com o Revolution Saints, mas talvez esse seja mesmo o terreno no qual esse grupo específico sente-se melhor. São cinco caras fazendo um tipo de som para agradar a turma que sente falta dos anos 1980 – apesar da sonoridade ser mais setentista do que qualquer outra coisa – e isso acaba sendo um tanto melancólico, trazendo à tona sentimentos conflitantes. O disco é legalzinho até, os covers são super honestos, mas terminei a audição e fui direto conferir Aldrich no Revolution Saints.

Ulisses: Corabi manteve o vozeirão em forma, hein? A banda é boa – ouço pela primeira vez agora, já que só conhecia de nome. Aldritch e Corabi no lineup já vendem o grupo que, mesmo não trazendo nada de inovador em termos sonoros, conseguiu criar algumas composições legais, como “Long Way to Go”, “Mainline” e o cover do The Who, “Join Together”. Para quem é fanático pelo hard rock pelo qual esses caras são conhecidos, é uma boa pedida. Para o restante, como eu, não é tão memorável, mas diverte.

Diego: Interessante o meio que ‘super grupo underground’ que é o Dead Daisies. Boas faixas, bons e veteranos músicos e eles parecem se divertir enquanto tocam. Mas ao mesmo tempo, Make Some Noise não vai mudar o mundo, é bem derivativo e as faixas apesar de serem boas lembram muito outras tantas bandas clássicas, e no final, você acaba voltando pra essas bandas clássicas. Mas é um bom disco, sem dúvida!

Adrian: Nos primeiros riffs já desconfiei de quem se tratava… o grande Doug Aldrich. A pegada Whitesnake é bem forte, apesar de fazerem um Hard Rock mais pesado por aqui. Tem refrões pegajosos e canções que te fazem pegar a moto e pegar a estrada por ai (mesmo não tendo uma, rs). Mas falando sério, é uma ótima banda e ótimo disco. “Long Way to Go” é um ótimo exemplo disso. Impossível não fazer uns air guitars e imaginar como diabos são feitos os solos, especialmente em “All the Same”. Logo após essa faixa, vem algo bem legal, um cover de “Join Together” do The Who. Certeza que Pete Townsend e Roger Daltrey aprovariam. Vale destacar o grande Deen Castronovo na bateria tambem. Ótimo disco!

Alisson: Genérico ao extremo, igual qualquer outro disco de hard rock atualmente, só uns andamentos repetitivos, guitarras altas, refrãos cafonas, e apenas.

 

38 comentários sobre “Consultoria Recomenda: tema livre (segunda edição)

  1. Fico feliz que o disco que indiquei teve boa aprovação. Valeu galera ( e o VTNC é com muito carinho)

      1. Vcs choram demais, só pintar uma dissonância e já cagam de medo, ta loko. Tanto de porcaria progressiva que eu ouvi aqui…

  2. ” ouvir um disco inteiro assim é uma tortura maior do que ouvir um LP da Yoko Ono ou assistir uma apresentação do Pablo Vittar”

    Davi, não compare Yoko a tal atrocidade. Há belos discos da japinha, inclusive alguns já passaram por aqui, nas belas recomendações do Marco. O Siri vai te pegar …

    1. Você também teve a mesma sensação do que eu quando escutou esse disco? Quando comecei a escutar, achei que era uma mina. O gutural me lembrou a voz da Fernanda Lira. Fui buscar informação, esperando ver a foto de uma baita gostosa, me entra a imagem daquele maluco. Que decepção!!!! kkkkkkk

    2. O que? Aquela japa cretina que nunca cantou nada, só berra feito uma doida tem discos bons? Eu que repudio o gosto popular tenho que dar o braço à torcer e preferir a Pablo Vittar à vigarista da Yoko. Pô Mairon, uma pessoa só pode estar muito chapada pra conseguir ouvir o disco da Yoko.

      1. Só aquele trouxa do Lennon pra ter gostado daquilo e ainda dizia que a mulher era talentosa. O amor além de cego é burro!

      2. Yoko é oportunista e vigarista. Começou à correr atrás de Lennon porque estava falida e queria um otário para sustentá-la. Conseguiu!

  3. Até que enfim falaram do Ted Nugent! Curto demais o primeiro álbum dele, é um clássico! Com certeza Angus Young meio que plagiou o riff de Motorcity Madhouse em Landslide do álbum Flick of the Switch do AC/DC.

  4. Mais uma edição do “Consultoria Recomenda – Tema Livre” e nenhum daqueles discos que eu sempre falava nos comentários das edições passadas de “Melhores de Todos os Tempos”…

  5. Engraçado que o Davi falou que o OTG tem composições fracas e citou apenas “Heavy Metal to the World” como legal, sendo que 9 entre 10 fãs acham essa a faixa mais fraca do disco, de longe (o mesmo acontece com “Feeling Free Again” no Crystal Logic).

    E Mairon, qual versão do OTG você ouviu, a original ou a remasterizada (Ultimate Edition de 2015)?

      1. A remasterizada tem um som que pode lhe agradar mais.

        De qualquer forma, como tu é fã de thrash, ouça o The Deluge.

  6. Ótimas recomendações!
    Alguns discos eu não conhecia. Em quesito de arranjos e harmonias, eu considero o primeiro álbum solo de Ted Nugent o melhor dele.

  7. A MPB não é um dos principais estilos que aprecio normalmente. Dos artistas principais, poucos estão em minha coleção, com exceção de Elis Regina, cuja obra inteira foge somente da MPB e é um caso a parte.

    Mairon, te lanço um desafio. Já que você afirma que a MPB é um estilo e diz que Elis Regina foge de trabalhar apenas nesse estilo, te peço: defina a MPB. O que é MPB sonoramente, estruturalmente, semanticamente, o que faz com que uma música se encaixe como MPB? MPB é apenas aquela do eixo São Paulo – Bahia? Nossa música sertaneja não é MPB? Teixerinha é MPB? Luiz Gonzaga é?

    1. Chamo de MPB aquela geração que vai de João Gilberto e Vinícius de Moraes até Geraldo Flach e Vitor Ramil. Daí vai uma leva. Não consigo colocar o Sertanejo como MPB. Sertanejo é sertanejo.

      1. Repare como é uma definição extremamente ampla e que pouco sinaliza em relação à sonoridade…

  8. Orra, pegaram pesado com o Woods of Ypres. Sempre os considerei como uma ótima banda doom.

    No mais, vários discos que nunca ouvi. Vou dar uma chance a alguns mais próximos ao meu gosto.

  9. Bela indicação e fica a pergunta para os entendidos: o Cat Scratch Fever não seria o disco ideal para apresentação ao músico?

    Não. Estilisticamente não há razão para indicar um ao invés do outro. Além disso, o primeiro é um álbum superior, além de contar com a música assinatura de Ted, que é “Stranglehold”.

  10. O único senão é o vocal de Ted que é fraco pra caramba

    Fala apenas do vocal de Ted ou o de Derek também?

  11. Reparem que o Diego fez um verdadeiro desabafo prévio no comentário a respeito de sua indicação. Errou? Acho que não…

    1. Vale notar que tanto nesta edição quanto na anterior os textos dele para suas indicações são mais relatos emotivos do que, propriamente, briefings sobre o conteúdo sonoro…

      1. Acho que o Diego se decepcionou um tanto com os rumos que a seção tomou e ficou meio amargo em relação a ela, tanto que não quis prosseguir. Entendo boa parte dessa decepção, caso seja esse realmente o caso.

    2. Que direção, se me permites a pergunta? Na superfície (digo, pelos posts mesmo) não enxerguei nada de diferente…

      1. A ânsia de não parecermos óbvios talvez tenha feito com que indicássemos álbuns com pouco potencial de aceitação e ignorado obras mais importantes em relação aos temas. Além disso, surgiram muitos temas difíceis e consequentemente vários discos pelos quais nem mesmo os responsáveis pelas indicações têm tanto apreço. Eu mesmo já tive que indicar discos que considero no máximo regulares por não ter familiaridade com alguns temas propostos. Não à toa, tentei fugir dessas amarras através dos meus temas, que foram bastante amplos: álbuns tributo e grandes produções. Claro, longe de mim querer falar pelo Diego, isso sou eu falando por mim mesmo.

  12. Não tenho problema nenhum da apropriação de ritmos regionais no rock.

    De quais ritmos regionais você está falando?

  13. posso dizer que de alguma forma, me ajudou a superar muitas coisas, mesmo parecendo querer fazer o contrário.

    Entendo perfeitamente. Acho de uma estupidez tremenda pensar que músicas depressivas deprimem, músicas alegres alegram e assim por diante. É um pensamento extremamente simplório. Cada ouvinte tem uma relação muito particular com a música. Eu, por exemplo, muito dificilmente gosto dessa ou de aquela música por me identificar com ela. Não é nada anormal, inclusive, que as músicas que mais me emocionam verdadeiramente sejam algumas com as quais não estabeleço relação alguma do tipo. Exemplos? “Ben”, de Michael Jackson, e “Skyline Pigeon”, de Elton John.

  14. Interessante o meio que ‘super grupo underground’ que é o Dead Daisies.

    Pior que é por aí mesmo, um supergrupo underground, e tenho severas dúvidas a respeito da rentabilidade desse tipo de projeto. The Winery Dogs é outro que se encaixa muito bem nessa definição.

  15. O Mairon defende abertamente o Metal Machine Music, gosta de Sonic Youth e chiou com o Mastery ali… tsc tsc

    POSER!

    (Inclusive, achei bem peculiar alguém criticar um disco como “100% desnecessário”, vou estar usando tal expressão)

  16. “ouvir um disco inteiro assim é uma tortura maior do que ouvir um LP da Yoko Ono ou assistir uma apresentação do Pablo Vittar”
    kkkkkkkkkkkk ri pacarai

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