Discografias Comentadas: Exodus (Parte I)

Discografias Comentadas: Exodus (Parte I)

Por André Kaminski

Confira aqui a Parte II

Finalmente chegou a hora de contarmos um pouco da história de uma das bandas mais queridas pelos fãs de thrash e uma das pioneiras do estilo!

Tudo começou em 1979 quando os amigos de escola Tom Hunting (bateria), Kirk Hammett (guitarra), Tim Agnello (guitarra) e Keith Stewart (vocais) se reuniram para formar uma banda para fazerem covers de bandas de punk rock e da nova e efervescente NWOBHM. Depois recrutaram o baixista Carlton Melson. Basicamente, era uma banda para animar festas de aniversário e tocar em pequenos festivais locais. Apesar da maioria das músicas que tocavam eram covers, já havia alguns esboços de músicas próprias que as vezes tocavam em meio as canções já famosas. Stewart deixou o grupo e Tom Hunting foi o responsável pelos vocais por um tempo. Logo depois, tanto Melson quanto Agnello (que virou pastor de igreja) deixaram a banda e foram substituídos por Jeff Andrews e logo depois, pelo atual líder Gary Holt.

Estiveram em quarteto até Hammett conhecer e fazer amizade com o lendário Paul Baloff em um bar em Berkeley, Califórnia. O gosto pelo punk e pelo heavy metal o levou a convidá-lo a cantar na banda que aceitou logo de cara. Em 1982 lançaram sua primeira demo que fez um baita sucesso local. Também construíram uma enorme reputação na Bay Area com a mistura de elementos do hardcore punk ao seu heavy metal, contribuindo assim na criação do nosso velho e amado thrash bay area. Antes mesmo de gravarem seu primeiro disco, eles já eram empresariados pelo também produtor Mark Whitaker.

Este mesmo sujeito iria mudar a vida de Hammett e do Exodus para sempre: após o Metallica chutar Mustaine da banda, o próprio Whitaker aconselhou Hammett a se juntar ao Metallica e largar o Exodus, possivelmente vendo mais potencial na banda de Lars e James. Gary Holt tomaria as rédeas da banda e após alguns guitarristas que não funcionaram, efetivaram Rick Hunolt de vez. Andrews deixou o baixo para ir formar o embrião do Possessed e foi substituído por Rob Mckillop.

Demorou um pouco, mas eis que em 1985 sai o primeiro disco da banda.


Bonded by Blood [1985]

Disco já resenhado pelo amigo Daniel Benedetti aqui com mais detalhes, mas contribuindo com as minhas impressões, claro que dá de se afirmar com toda certeza que a banda começou com o pé direito. Thrash daqueles de se arrebentar pescoços, temos um banho de grande música pesada. A produção tem aquele tom abafado de pouca produção da época, que já é esperado, mas isso não tira o charme de ouvirmos um show de riffs em canções como “Bonded by Blood”, “Exodus”, “And Then There Were None”, “Piranha” e a obrigatória “Strike the Beast”, tendo Gary Holt como principal compositor da maioria das faixas mas com Baloff, Hunting, Hunolt e o produtor e empresário Whitaker também contribuindo seja com letras ou com instrumentais. Não tem como não se impressionar com duas coisas aqui: como Baloff é visceral e seus vocais e como a dupla Holt e Hunolt fazem riffs pesados e empolgantes. Aceleram, reduzem, fazem riff atrás de riff e solam demais. Cru, agressivo, chocante, um prato cheio para quem ama metal pesado.


Infelizmente, logo após a tour de Bonded By Blood e pouco antes da banda entrar no estúdio para gravarem o novo disco, Paul Baloff foi demitido da banda. Segundo Gary Holt, o vocalista estava com problemas para cantar as novas músicas nos ensaios e Paul estava vivendo meio que como um indigente. Sabia-se que eles usavam drogas (principalmente metanfetaminas) e álcool mas, possivelmente, o cantor foi o mais afetado por elas e isso meio que “atrasava” a banda.

Assim, Steve “Retro” Souza foi chamado para seu lugar e o novo disco ficou pronto em 1987.


Pleasures of the Flesh [1987]

Para falar bem a verdade, eu gosto mais de Baloff e Dukes (futuro vocalista) liderando o microfone do Exodus, embora eu não ache Steve um mal vocalista. Apenas por uma questão mesmo de preferência, prefiro os dois que citei antes. Mas ele é o cara que cantou em mais discos do Exodus, logo, o respeito pelo seu trabalho. Quanto ao disco, logo na abertura, temos um monólogo de um cara não falando coisa com coisa. Segundo Holt, essa é a voz de Tom Skid, um mendigo que vivia perto do estúdio de gravação do disco. Pegaram o cara da rua, deram um litrão de vinho barato, ligaram a fita e o deixaram falar. Ainda Holt disse que infelizmente o cara morreu atropelado por um ônibus algum tempo depois. Mas voltando ao disco, percebe-se com o passar das faixas que a banda opta por diminuir um pouco a velocidade e fazer um thrash mais mid-tempo, com riffs mais cadenciados e que, curiosamente, lembram bastante o Metallica da época do Ride the Lightning e Master of Puppets. Claro que há umas pauleiras velozes também. Daqui, gosto de ‘Til Death Do Us Part” com um solo brilhante aos três minutos e mio de música e uns efeitos robóticos que achei bem legais nos vocais de Retro Souza. Adoro “Faster Than You’ll Ever Live to Be”, a canção que mais gosto do álbum com sua velocidade alucinante que só aumenta com o decorrer da música. Tom Hunting dá um show de bateria por aqui e mantém uma pegada forte em toda a canção. Outra que também adoro é “Choose your Weapon” que fecha o disco com mais uma pedrada thrash. Embora eu goste um pouco mais do disco anterior, digo fácil que o Exodus manteve um ótimo nível e acrescentou temperos diferentes em seu thrash dando um ar de novidade bastante bem vindo à sonoridade deles.


Fabulous Disaster [1989]

Muita gente gosta deste disco, mas eu particularmente não tenho lá tanta estima por este terceiro trabalho se comparado aos dois anteriores. O Exodus não teve lá grandes mudanças de direcionamento do anterior para esse, apenas sinto que as músicas não me soaram tão inspiradas como antes. Não é o pior dos discos, mas também não é lá grande coisa. É um sólido thrash metal em que para mim, os destaques ficam com a veloz e marcante faixa título “Fabulous Disaster” uma linda pancadaria com uma certa dose de influência da NWOBHM em suas guitarras, uma das mais clássicas e obrigatórias faixas da banda que é “The Toxic Waltz” um hino oitentista que praticamente nunca mais saiu do repertório ao vivo da banda e a também excelente “Like Father, Like Son” uma canção de guitarras muito pesadas e riffs excelentes mas que, aparentemente, se tornou uma canção underrated no repertório da banda. Uma pena, nunca entendi porque tanto a banda quanto os fãs a deixam meio de lado. Os dois covers “Low Rider” do War e “Overdose” do AC/DC nunca me animaram muito. Além disso, acho as outras músicas não fazem jus às que citei em termos de qualidade. Não diria que é um disco decepcionante, mas apenas que poucas músicas carregam os 50 minutos inteiros nas costas. Todavia, creio eu, acho que a maioria gosta deste álbum então acredito que eu seja uma voz destoante em termos de gosto quanto ao trabalho.


Devido a uma doença crônica nos nervos que o acompanha por toda a vida, o batera Tom Hunting teve que deixar o Exodus logo no começo da tour. Chamaram Perry Strickland do Vio-lence para o restante dos shows e depois, recrutaram John Tempesta para liderar as baquetas em definitivo.


Impact is Iminent [1990]

Um ano depois já vem o quarto disco. Ao qual eu particularmente gosto bem mais do que o terceiro. Tempesta entra bem e tem um estilo que lembra bastante o de Tom Hunting, então a transição foi tranquila. Também gosto muito deste álbum porque segundo Gary Holt, e eu concordando com ele, o guitarrista disse que se tivesse que voltar atrás, ele iria refazer este disco porque este teria os melhores riffs que ele compôs na vida. E logo que ouvimos o disco, percebe-se que ele possui um problema: a produção abafada. Apesar de dar ainda aquela atmosfera de banda de garagem, o próprio Exodus já havia produzido disco melhores.  Entretanto, eu acho as composições deste disco superiores ao álbum anterior. Como eu nunca fui lá muito de ficar fascinado com produções, a pegada pesada desse disco me atrai muito. “Impact is Imminet” tem o riff favorito de Holt em toda a sua carreira. E realmente, que guitarras amigo! Temos ainda “The Lunatic Parade” traz aquele groove de bateria complementado guitarras cativantes por parte de Holt e Hunolt.  Já em “Objection Overruled” a banda dá uma tirada de sarro no sistema jurídico americano em mais um thrash daqueles. “Only Death Decides” tem um ritmo mais lento e diferente, me lembrando bastante uma faixa que uma banda como o Accept faria. Para finalizar, destaco ainda “Changing of the Guard” e sua velocidade além de um instrumental maluco e que me abriu um sorriso. Gosto quando a banda demonstra bom humor com algumas loucuras não usuais como alguns riffs de guitarra da intro. A meu ver, um disco que foi bastante malhado injustamente e um de meus preferidos da banda.


Adentrando a década de 90, o Exodus sofre novas baixas e hiatos. Mas isso falarei mais na segunda parte que virá em cerca de 15 dias. Até lá!

5 comentários sobre “Discografias Comentadas: Exodus (Parte I)

  1. Ótimo texto. Eu gosto muito do Exodus. Eu curto o Fabulous Disaster e gosto bastante dos vocais do “Zetro”, mas aí é questão de gosto mesmo. Aguardando as outras partes!

    1. Tirando o Mairon que é muito mais “exótico” em seus gostos quanto a discos, eu as vezes também não vou muito com a maioria, mas tento reconhecer quando de fato é um bom trabalho e o porquê a maioria gosta dele.

      Valeu pelo comentário, Daniel!

  2. Eu conheci a banda justamente pelo Fabulous Disaster. Era uma espécie de clássico entre a galera do metal que eu conhecia lá no início dos anos 90. Inclusive foi o primeiro disco deles que eu tive. Like Father, Like Son realmente é ótima!!!

    1. Eu imagino que sim, mas nessa primeira geração, sou fã mesmo de Bonded by Blood e depois gosto muito de Pleasures of the Flesh. Mas como eu disse ao Daniel, eu entendo perfeitamente que a galera deve curtir muito o Fabulous Disaster.

      1. O modo como temos acesso à música hoje em dia pode influenciar o jeito como encaramos os discos, mas tava pensando aqui. Como disse o Fabulous Disaster era meio que um clássico entro daquele grupo de amigos que estavam se aventurando a ouvir música. Mas pode ser que ele tenha esse tipo de consideração por ser o único, ou pelo menos o primeiro disco da banda que apareceu nas nossas mãos. Tinha muito disso na época, a gente se afeiçoar à um disco muito mais por ele estar à disposição. Lembro que algumas coisas eram praticamente só uma lenda e fui conhecer tempos depois, como o Walls of Jericho do Helloween. Quando alguém conseguiu comprar esse disco foi um acontecimento, pois não era tão fácil encontrá-lo e também tinha a questão financeira.

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