Melhores de 2017: Por Mairon Machado

Melhores de 2017: Por Mairon Machado

Para mim é uma honra abrir as indicações de Melhores de 2017. Ouvi quase uma centena de lançamentos este ano, alguns horríveis, outros excelentes. Foi difícil compilar apenas 10 aqui para vocês leitores, mas enfim, aí vão aqueles que julgo serem os dez melhores discos de 2017 (e uma menção honrosa). Sendo que desta feita, não irei trazer questões como pontos positivos ou negativos, me focando apenas nos álbuns.

Black Country Communion – BCCIV

Confesso que eu achava que o BCC não ia mais se reunir. Depois das pequenas brigas internas, da dissolução do California Breed e de Glenn Hughes fortalecendo sua carreira solo, eu esperaria que cada membro da banda seguisse seu destino, e pronto. Mas os caras surpreenderam todo mundo, e lançaram mais um álbum magistral. Peso em “Sway”, com ótima participação dos teclados de Derek Sherinian, velocidade em “Awake”, hard pegado em “The Crow”, com um belo solo de baixo e órgão, tudo soando encaixado e perfeito. Há algumas canções surpreendentes, como a soturna “The Cove” e a leve “Over My Head”, bem como a longa “Wanderlust”, que ganharam um ar “pop” por conta dos teclados, mas nada que as torne ruins. Hughes rasgando a voz em “Collide”, Joe Bonamassa fazendo estripulias com a guitarra na ótima “The Last Song for My Resting Place”, a qual também emociona com sua voz e o violão, e Jason Bonham cada vez mais aperfeiçoando-se na batida que está impregnada em seu DNA. Falando em Led, quem que não imagina “The Wanton Song” quando começa “Love Remains”? Claro que a música não tem nada a ver com o clássico Zeppeliano, mas o riff é muito parecido. E que combinação arrepiante é a voz de Hughes com o piano e o violão em “When the Morning Comes”! A versão em vinil ainda conta com outra bela canção, “With You I Go”, um bom presente aos fãs. Uma união de monstros da música, e que merece a primeira posição com méritos. Hughes está vindo ao Brasil para desfilar os clássicos do Purple em várias cidades, mas como seria bom vê-lo em ação com a BCC. Tomara que um dia venham aqui, e que continuem relevando as brigas para criar obras atemporais como BCCIV.



Rikard Sjöblom’s Gungfly – On Her Journey To The Sun

O final do Beardfish causou algumas feridas que pareciam incuráveis para os fãs dos suecos. Porém, o líder da Banda, Rikard Sjöblom, agregou-se ao Big Big Train e manteve seu trabalho junto ao Gungfly. E é com este último que o espírito do Beardfish sobrevive. Apesar de não ser um disco totalmente conceitual, algo tradicional na sua antiga banda, isso é a única coisa que um xiita pode reclamar no que ficou registrado em On Her Journey to the Sun.  Afinal, tudo o mais é sensacional. Rikard trouxe sua marca mais uma vez, evidenciando influências de diversos gigantes progressivos, como Focus (“Keith (The Son of Sun)”), Genesis (“Of the Orb”), Gentle Giant (“If You Fall Part I”), Yes (“My Hero” e “Old Demons Die Hard”) e Renaissance (“Over My Eyes”). Além disso, há uma modernização no som que o gordinho faz, principalmente na faixa-título, e uma mostra muito grande do talento individual de Rikar, seja nos teclados, seja na guitarra, no baixo ou até mesmo no acordeão. Destaques para a viajante suíte “The River of Sadness”, a linda “He Held an Axe”, com uma melodia emocionante, e a fenomenal “Polymixia”, uma jornada instrumental de insaciáveis doze minutos, repletos de variações, para colocar On Her Journey to the Sun no pódio da minha lista. Essencial para quem curte um prog rock atual, e o comentei um pouco mais sobre ele aqui.



Styx – The Mission

Depois de 14 anos sem lançar material inédito, o grupo Styx resolveu sacudir a poeira, e motivou seus fãs a criarem enorme expectativa quanto ao seu primeiro disco de estúdio dessa década. Diversas postagens e entrevistas diziam que The Mission seria um álbum conceitual, e como a banda sempre foi especialista em fazer álbuns conceituais (vide Paradise Theater, Kilroy Was Here e The Grand Illusion, por exemplo), era inegável que o que viria em 2017 só podia ser de alta qualidade. E assim o é. O melhor de tudo nesse álbum é que parece que voltamos aos aos 70, e estamos ouvindo o Styx em sua melhor fase. Logo de cara, após a vinheta “Overture” (há mais duas vinhetas em The Mission, as quais são “Ten Thousand Ways” e “All Systems Stable”), somos levados pelo rockzão de “Gone Gone Gone”. Quer balada típica do Styx, então segura a emocionante “Locomotive” ou a estonteante “The Greater Good”, onde a voz de Lawrence Gowan, em duelo com Tommy Shaw, lembra muito a de Dennis DeYoung. Gowan, que aliás, dá um espetáculo solo ao piano em “Khedive”, linda faixa para relembrar peças como “Clair de Lune”. Junto com isso, tudo aquilo que caracterizou a banda, sejam grandes vocalizações, excelentes arranjos, produções fenomenais, estão presentes em The Mission. Algumas faixas soam imponentes, tais como em “Hundred Million Miles from Home”, “Time May Bend”, “The Outpost” e a épica “Red Storm”, forte candidata a melhor do disco (só o dedilhado de violão dessa música já vale umas 4 posições na lista de melhres). Outras soam como o velho Styx em ação, na voz debochada de James Young em “Trouble at the Big Show”, nas vocalizações de “Mission to Mars” ou quando o hammond é a força propulsora de “Radio Silence”. Forte candidato a melhor disco da banda desde o seu retorno, e fácil um Top 3 de 2017.



Roger Waters – Is this the Life We Really Want?

Um disco que foi muito ouvido por mim esse ano é este Is this the Life We Really Want?, de Roger Waters. Para quem é fã de Pink Floyd, é uma nostalgia revisitada de várias fases da banda, sem soar como um caça-níqueis. É muito difícil não se envolver sentimentalmente com faixas como “Broken Bones”, “Déjà Vu”, “The Last Refugee”, “The Most Beautiful Girl” e “Wait for Her”, para quem aprecia a fase The Final Cut/Pros and Cons of Hitch-hiking, ou a faixa-título, “Bird in a Gale”, “Smell the Roses” e “Picture That” para quem é mais do período Wish You Were Here/Animals. Letras poderosas, melodias envolventes, canções marcantes e a certeza de que Waters ainda é capaz de criar música de alta qualidade. Waters está vindo ao Brasil em 2018, já estou com o ingresso comprado, e a certeza de que será mais um espetáculo inesquecível para todos aqueles que sabem apreciar sua obra. Outro álbum que também fiz questão de comentar mais para vocês, aqui.



U2 – Songs of the Experience

Ansiedade predominava pelo novo lançamento do U2. Sempre é uma surpresa o que os irlandeses fazem, e não foi diferente dessa feita. Songs of the Experience é mais um disco que deverá ser absorvido aos poucos. As canções tem muitos elementos de experimentação, como os eletrônicos de “Get Out of Your Own Way”, e os teclados/pianos em “Love Is All We Have Left”,  “Love Is Bigger Than Anything in Its Way” e “The Little Things That Give You Away”. Claro, também há aquelas faixas para os fãs cantarem o refrão em plenos pulmões, “Red Flag Day”, “You’re the Best Thing About Me”, e aquelas que soam descoladas das demais, mas que as audições subsequentes fazem da mesma uma boa canção, no caso  “Landlady” e “Summer of Love” Me trouxe lembranças da tríade Achtung BabyZooropaPop, com elementos de No Line on the Horizon, mas no fim das contas, é o U2 criando outro álbum fundamental e digno de sua discografia. Alguns falam que o U2 virou cópia de si mesmo, que virou inferior as bandas que ele influenciou, mas é tudo balela. “Lights of Home” ganha disparada a posição de melhor música do disco, seguida por “The Blackout”, “13 (There is a Light)” e a dançante “American Soul”, a qual poderia facilmente ter estado nos discos da tríade que citei acima. E que coisa bem bonitinha é essa “The Showman (Little More Better)”, cada vez ganhando mais pontos comigo. O U2 continua tão importante quanto o foi nos anos 80, 90 e 2000, e se adaptando ao mercado sempre de forma positiva para quem está com os ouvidos abertos ao que Bono e cia. é capaz de criar. Fizemos um Test Drive com o disco aqui, e mesmo que o pessoal tenha malhado, não vá pensando que eles tem razão.



Black Pussy – Power

Quando ouvi esse disco pela primeira vez, logo de cara percebi que ele estaria na minha lista de melhores de 2017. Foi um dos álbuns que mais ouvi esse ano, muito em virtude de um som psicodélico altamente alucinógeno, pegado, com grudentas frases de guitarra e vocais, mas também com suas várias fontes de inspirações no hard setentista. As faixas te deixam em êxtase, com vontade de sair pulando pela casa e curtindo o rock ‘n’ roll de primeira que sai das caixas de som, em especial “Girlfriend”, “Full Tilt Boogie”, “Parasols”, “Take You There”, e o petardo “Home Sweet Home”, uma sonzeira que sintetiza a psicodelia e o hard com perfeição. Ainda por cima, entrevistei Dustin Hill, o líder dos americanos, em uma entrevista muito legal. Quer mais?


Tuber – Out Of The Blue

Quando ouvi o disco Out of the Blue, jurei que estava sendo captado por algum prédio de festas de Manchester. O som post-punk é muito forte, só que com o passar da primeira música, você percebe que ali há uma novidade, e que os “ingleses” na verdade é um quarteto grego, que está em ação desde 2010. Os caras misturam eletrônicos e peso sem piedade, e isso é o principal no Tuber, como atestam “Cat Class” e “Moon Rabbit”, faixas que vão deixar-te encucado com o que está sendo criado ali. Esse é o segundo álbum do grupo, perfeito para quem aprecia grupos como Smiths ou Joy Division, mas com um detalhe, tudo instrumental, e com fortes pitadas de Stoner. Curti muito ouvir Out of the Blue, principalmente ” Luckily Dead”, “Noman”, “Russian” e a faixa-título. Para ser surpreendido, e conquistar o Top 10 da minha lista.



Supersoul – Faith Bender

Ouvi o Supersoul na finaleira do ano, bem daquelas do sem queres. Estava ocupado no trabalho, e não tinha percebido que tinha deixado o youtube selecionado no modo reprodução automática. Depois de curtir uma das minhas bandas preferidas de 2015 (Naxatras), entrou um riffzão setentista, uma voz carregada de efeitos e uma sonzeira animalesca. Meus ouvidos começaram a vibrar na frequência daquele som, e tive que parar o que estava fazendo para conferir o que era. Supersoul é outro power trio da Grécia, e nesse seu álbum de estreia, entrega aos fãs um som sujo, pesado, e repleto de energia. São 14 faixas, que fazem você sair de uma pancada violenta (“Faith Bender”, “Freedom Prayer”, “Mind Me When I’m Gone” e “The Manipulator”) para faixas dançantes (“Gold”) e até blues ballad hardona (“Came Back To Moscow”). “Blackhorse”, “Jacob Williams” e “The Torment” soam modernas, mezzo White Stripes, mas ao mesmo tempo tem aquela veia de antiguidade, que agrada fácil. Como resistir as vocalizações do refrão de “Sea Of Tears”? Ainda temos espaço para a experimentação de “Carve My Stone”, o blues elétrico “Wrong Side Of Suicide”, a delicadeza de “Divine”, enfim. Ótimo disco, e vida longa para o Supersoul. Ah, não engane-se com a capa, o álbum não é nada careta.



Electric Octopus – Driving Under The Influence Of Jams

Ano passado, o Electric Octopus entrou na minha lista de Melhores de 2016 com um álbum de uma hora e dez minutos, tendo apenas três canções. Pois em 2017, eles conseguiram fazer algo ainda melhor, mais delirante, e confesso, para poucos. Afinal, os caras vieram com uma fome do cão, e deixaram-se viajar por suas inspirações mais diversas para criar um álbum de 3 horas e 54 minutos somente de improvisos longos, viajantes, ácidos, chapantes, tudo o que você precisa para ficar naquele “barato” sem usar nenhum alucinógeno além da música. São nove faixas onde baixo e bateria (e camadas de teclados) criam a base para a guitarra de Tyrell Black ressonar maravilhosamente nas caixas de som.  É voltar ao tempo dos longos improvisos de nomes como Grateful Dead, Allman Brothers, Canned Heat, e por aí vai. Um dos grandes momentos, para os mais chegados, é quando a base de “Walk on the Wild Side” (Lou Reed) surge para guiar as explorações de guitarra em “New Jam #2”. Obviamente que um álbum dessa duração não é comum, e o mesmo foi lançado somente para download, mas olha, você não irá desperdiçar quatro horas ouvindo esse petardo. Pelo contrário, vai ver como ainda há músicos capazes de, com muita inspiração, usufruir de uma boa e bela jam. Aproveito também para indicar os outros três discos lançado pelo trio esse ano, Chaotic Wavemaker, Iliudi e Smokyhead, ambos igualmente acachapantes.


Universal Hippies – Dead Hippie’s Revolution

Terceira banda grega, e essa segue os moldes clássicos do Stoner. Canções instrumentais, arrastadas, com solos de guitarra chapantes e muita viagem lisérgica. O que chama a atenção, além da mentalidade Stoner, é a influência hard rock, explícita nos riffs de guitarra e nos solos talhados a martelo para satisfazer os ouvintes. Procurem as faixas “Holy Slave”, “Mariner’s Dream”, “Mountain”, ou melhor, procure ouvir todo o álbum. Mais uma bela banda saindo da Terra de Zeus.


Menção honrosa

Robert Plant – Carry Fire

Cada novo lançamento da carreira de Plant mostra como o eterno vocalista do Led Zeppelin se reinventou de tal forma com o passar do tempo e continua capaz de alegrar os ouvidos dos fãs dos britânicos. Ouvi Carry Fire muito recentemente (o disco saiu em outubro) e por isso, não consegui colocá-lo numa posição acima dos demais, apesar de ele ter ficado um tempo nas minhas preferências. Nesse álbum, Plant buscou influências no seu passado hippie, e entregou canções belíssimas, tais como “New World” e o climão oriental da faixa-título. Temos a participação especial de Chrissie Hynde na viagem “Bluebirds Over the Mountain”, e o som da The Sensational Space Shifters, que novamente acompanha Plant, com os elementos acústicos sensacionais, sendo o viola de Seth Lakeman e os violões de Justin Adams outras grandes atrações. Para quem curte Led Zeppelin III, “The May Queen” e “Carving Up the World Again… A Wall and Not a Fence” são uma macarronada com molho de calabresa, e “Season’s Song” leva o prêmio de melhor canção de Carry Fire lindíssima e viajante através da voz de Plant. Belo disco, que merece ainda mais audições.

11 comentários sobre “Melhores de 2017: Por Mairon Machado

  1. Escutei o Black Country e o Styx. Ambos estão ali para entrarem nas minhas listas visto que os considerei bons álbuns. Ainda tem muita coisa que separei para ouvir nesse fim de ano, vamos ver no que dá.

  2. Oi Mairon ! Valeu pela lista recheada de interessantes discos “obscuros”. Com certeza vou procurar ouvi-los. Grande abraço !

    1. Valeu André e Fábio. Outros discos de 2017 que curti bastante, sem ordem específica

      Big Big Train – Grimspound
      Sepultura – Machine Messiah
      Caravela Escarlate – Caravela Escarlate
      Geezer – Psychoriffadelia
      King Weed – Smoking Land
      Blind Horse – Patagonia
      Anxtron – Jellyfish
      Stone From The Sky – Fuck The Sun
      Breath After Coma – Leaders
      Tim Bowness – Lost in the Ghost Light
      Half Gramme Of Soma – Groove Is Black
      Puta Volcano – Harmony of Spheres
      Stranhos Azuis – Stranhos Azuis
      Giant Anteater – The Last Dance

  3. Boa, Mairon! O disco do BCC ouvi algumas vezes e achei bonzão (não entrará na minha lista particular dos 10, mas em uma lista maior entraria tranquilamente). O Gungfly é incrível e agradeço a você por ter me indicado…assim como no ano passado, não busquei ouvir nada dos medalhões (Roger Waters, Styx) e o U2 ouvi por dever de ofício (um texto aqui para a CR). O Electric Octopus ouvi o ano passado e sinceramente não achei que a banda tenha tanta lenha pra queimar assim fazendo jams tão loucas e intermináveis. Mas vou dar uma chance…se os primeiros 10 minutos forem bons eu ouço o resto kkk!
    Abraço,

  4. Não conheço muita gente que figurou nos seu Melhores, Mairon, com exceção de Plant e do U2. Nas minhas garimpadas pelo Youtube, já topei com o primeiro colocado e o Electric Octupus.

    Tenho que ouvir ainda todos os álbuns listados, mas senti uma faltinha do prospectivo ‘Painted Ruins’ da talentosíssima banda Grizzly Bear. E também gostei bastante do bem estruturado e relaxante ‘New Energy’ do Four Tet, um apanhado inspirado de música eletrônica num estilo bem particular.

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