Krisiun – The Great Execution [2011]

Krisiun – The Great Execution [2011]

Por Thiago Reis

O Krisiun atualmente é um dos grandes expoentes não somente do metal extremo, mas da música brasileira como um todo. Com grande base de fãs na América do Norte e Europa, o trio formado por Max Koslene (bateria), Moyses Koslene (guitarra) e Alex Camargo (vocal e baixo), também tem uma legião de seguidores no Brasil e restante da América Latina. A banda, que impressionou o mundo do metal extremo com álbuns como Conquerors of Armaggedon (2000) e Ageless Venomous (2001) já estava mirando voos mais altos, conseguiu subir ainda mais de patamar técnico e de produção a partir do disco Assassination (2006), em que a velocidade e técnica chegaram em um limite quase sobre-humano.

Com os álbuns Southern Storm (2008) e The Great Execution (2011), toda a técnica esteve ao lado também de composições mais maduras e marcantes. Tal característica se manteve marcante nos lançamentos posteriores, mais especificamente nos discos Forged in Fury (2015) e Scourge of the Enthroned (2018), o que alavancou ainda mais a carreira da banda, com extensas turnês basicamente pelo mundo inteiro.

Para a presente resenha falaremos do álbum The Great Execution, que além de marcar uma nova fase na carreira da banda, foi relançado no Brasil em edição slipcase com pôster pela Extreme Sound Records. O álbum foi gravado, masterizado e mixado por Andy Classen, com todas as letras e músicas compostas pelo Krisiun, com exceção de “Extinção em Massa”, que conta com as letras da lenda João Gordo. O álbum conta com as participações especiais de Marcello Caminha (partes acústicas de guitarra nas faixas “The Will to Potency” e “The Sword of Orion”), além do próprio João Gordo nos vocais da citada faixa em que o mesmo escreveu as letras.

“The Will to Potency” inicia os trabalhos, com uma intro acústica a cargo de Marcello Caminha, sendo o clima perfeito para o que está por vir. Como dito anteriormente, o Krisiun conseguiu alinhar perfeitamente técnica e riffs marcantes, trazendo o ouvinte para um death metal de extremo bom gosto. Destacam-se ainda os arranjos insanos de bateria, cortesia de Max Koslene. Os riffs, ao longo de toda a faixa provam que o Krisiun, além de querer impressionar pela técnica apurada de todos os membros, tinha a ambição de gravar um clássico atemporal, que estaria presente na cabeça dos fãs. O tempo provou que conseguiram, de modo que “The Will of Potency” é um dos melhores sons do trio, sendo executada na maioria dos shows.

Seguimos com “Blood of Lions” que juntamente com a faixa anterior, se configura como uma das melhores “dobradinhas” da carreira da banda. Podemos conferir riffs poderosos e que inclusive em alguns momentos podem ser até identificadas influências de um metal mais tradicional e com peso adicionado à décima potência, são um dos pontos altos do álbum. Max Koslene mais uma vez é protagonista, com sua técnica apuradíssima nos dois bumbos. Alex Camargo tem uma atuação digna de nota nos vocais e o solo de guitarra se apresenta da maneira que tem que ser, velocidade e precisão, abrilhantando ainda mais “Blood of Lions”, que também se tornou com o tempo, um clássico do Krisiun.

O alto nível segue com “The Great Execution”, que como o próprio nome diz, apresenta uma grande execução de todos os músicos. Podemos conferir o som ainda mais rápido e pesado do que nas faixas anteriores, resgatando momentos de discos como Conquerors of Armaggedon (2000) e Assassination (2006), apresentando-se então como um bom resumo do som que o Krisiun se propõe a fazer. “Descending Abomination” começa com influências do Thrash de bandas como Slayer e Sepultura antigo, mostrando claramente algumas das inspirações do trio. Mesmo quando entram os vocais de Alex, o som continua em um andamento não tão rápido para os padrões da banda. O solo de guitarra também mostra um pouco desse direcionamento, em que uma economia de notas não significa que o som seja ruim, muito pelo contrário. Mas Koslene economiza um pouco no uso dos dois bumbos, mas em compensação apresenta linhas de bateria bem criativas. O som vai para o lado mais death metal após a metade da música, que aí sim apresenta os já citados dois bumbos em alta velocidade, riffs bem mais rápidos e um solo de guitarra mais trabalhado.

“The Extremist” já se inicia de maneira bem extrema, do jeito que o Krisiun sabe fazer com maestria. É uma música perfeita para agitar ainda mais o público de um show, com a bateria na velocidade da luz, acompanhada com perfeição pelo baixo e guitarra. Os vocais guturais de Alex também marcam presença de maneira positiva, juntamente com a variação de riffs que acontecem no meio da música, deixando o andamento um pouco mais lento, realizando o exato oposto da faixa anterior, que começou mais cadenciada e terminou com riffs mais rápidos. Uma ótima sacada dos músicos, contribuindo para a dinâmica do instrumental. “The Sword of Orion” tem uma introdução parecida com a faixa de abertura do álbum, contribuindo ainda mais para a dinâmica das músicas. Partes bem interessantes de guitarra são acompanhadas por riffs muito bem escolhidos, nos levando a partes mais pesadas, porém cadenciadas. Os vocais aparecem no momento certo, em um ritmo apocalíptico, uma trilha perfeita para o fim do mundo, com letras como “endless savage doomed infestation, before and beyond all extinction” contribuindo para que o clima seja exatamente esse.

“Violentia Gladiatore” já mostra o lado mais extremo do Krisiun, com um começo alucinante, bateria em alta velocidade e riffs violentos. O ritmo insano continua, inclusive com variações bem interessantes na guitarra, o que nos leva a imaginar a dificuldade de tocar músicas como essa, com a adrenalina do show a mil por hora. A quantidade de notas e precisão sempre impressionam no Krisiun, tanto ao vivo como em estúdio e com “Violentia Gladiatore” não é diferente. Destaque final para o solo de guitarra de Moyses Koslene, talvez um dos melhores de todo o álbum. “Rise and Confront” já se inicia de maneira violenta, fazendo jus ao nome da canção. O baixo está mais do que presente, com linhas bem interessantes que se entrelaçam com a bateria, em uma das melhores partes da música. Os riffs são um pouco mais cadenciados, mas não deixam de ser pesados. Os vocais também são destaque, parecendo a voz de liderança de um sangrento conflito. A velocidade volta minutos depois, com os dois bumbos liderando todo o ataque sonoro, a marca registrada do Krisiun.

“Extinção em Massa” conta com a já citada participação de João Gordo, o que é por si só, um grande atrativo. Podemos conferir um andamento extremamente rápido, digno de uma mistura dos primeiros álbuns do Krisiun, com uma pitada de Ratos de Porão. O caos e a insanidade imperam em um som que apresenta contornos profético, já que pouco menos de 10 anos após o lançamento de “Extinção em Massa”, infelizmente vivenciamos grandes perdas com a pandemia de COVID-19. Passagens como “hecatombe-artificial; catastrófico-juízo final; risco crítico-destruição global; humanidade-em colapso total” endossam o tom catastrófico da faixa. “Shadows of Betrail” já apresenta em seu início riffs mais puxados para o Thrash Bay Area, com variações bem interessantes. O Death metal característico aparece logo depois, com a maestria já apresentada pelo Krisiun em diversas outras situações. Entretanto, riffs mais cadenciados também aparecem, fazendo com que a música tenha diferentes passagens, todas elas com seu brilho. Talvez essa seja a faixa que apresente mais variações, não à toa é a última do trabalho, de forma que o ouvinte mais purista de death metal já chegue em “Shadows of Betrail” bem satisfeito com o que ouviu. O interessante é que tanto ouvintes iniciantes como os fãs do estilo a mais tempo poderão apreciar todo o trabalho.

A versão nacional relançada pela Extreme Sound Records apresenta uma regravação da clássica faixa-título “Black Force Domain”, lançada originalmente em 1995 no álbum de estreia da banda, tornando este relançamento ainda mais interessante para os colecionadores e fãs do Krisiun. O Krisiun apresenta evolução constante e com o álbum The Great Execution não é diferente. A banda provou mais uma vez motivo de ser um dos grandes expoentes do metal extremo mundial e com os trabalhos posteriores vem ganhando inúmeros fãs ao redor do mundo. Se você não conhece Krisiun, The Great Execution pode ser uma excelente porta de entrada para o som do trio brasileiro.

Track list

  1. The Will To Potency
  2. Blood Of Lions
  3. The Great Execution
  4. Descending Abomination
  5. The Extremist
  6. The Sword Of Orion
  7. Violentia Gladiatore
  8. Rise And Confront
  9. Extinção Em Massa
  10. Shadows Of Betrayal

    Bonus Track

  11. Black Force Domain

2 comentários sobre “Krisiun – The Great Execution [2011]

  1. Esse disco não é tão representativo do estilo que o Krisiun forjou entre fins da década de 1990 e início da seguinte, quando firmou seu nome como uma das melhores e mais representativas bandas do metal extremo, com estilo próprio, sem ficar “na cola” de ninguém (“Conquerors of Armageddon” é o maior expoente dessa fase). Pra mim, porém, esse é o melhor disco dos caras. É aquele que mais ficou na memória após poucas audições, com uma quantidade grande de composições bem resolvidas e cativantes, algo não tão normal assim em se tratando de som extremo. É álbum de banda madura, que sabe que pode mostrar suas influências de maneira mais evidente sem medo das comparações. Acho que esse, “Conquerors…”, “Assassination” e “Southern Storm” são suas obras máximas.

    1. Concordo plenamente, Diogo. Somente com uma pequena alteração, o que considero a obra máxima da banda atualmente é o Scourge of the Enthroned. Porém, Southern Storm, The Great Execution, Forged in Fury e Conquerors of Armaggedon tem lugar cativo dentre os grandes álbuns do estilo. O novo disco, lançado recentemente também tem potencial para entrar nessa seleta lista. Vida longa ao Krisiun!

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