Melhores de 2021: Por Raphael Zenatti

Melhores de 2021: Por Raphael Zenatti

Para mim 2021 foi um ano de grandes lançamentos, onde nenhum estilo prevaleceu (talvez o metal extremo tenha estado um nariz na frente dos outros) e essa é a maior graça da lista, sua variedade. Temos de gothic rock a death metal, hard rock a post black. Hoje a principal característica para achar um disco realmente bom é ele me prender do início ao fim, saber começar um lado B, mesmo que para a maioria que irá escutar no streaming ou no CD, esse lado não exista, ou ter aquela pérola escondida na última faixa. Ouvi discos legais que morreram no meio (o The Pretty Reckless talvez seja o melhor exemplo) como ouvi discos de 12 faixas que ficariam redondos com umas 8 ou 9 (ahh Dee Snider, gosto tanto de você, mas tá difícil de você acertar) ou discos que na mão de um produtor mais rígido que tivesse coragem de cortar partes das músicas, seriam obras primas (Exodus e Maiden são os exemplos mais gritantes).

Em todas essas situações, fico sempre com a sensação que faltou um certo esmero antes de entregar o álbum. Sei que quanto mais faixas tiverem, no mundo do streaming que paga por música ouvida, maior o retorno, mas entregar algo, mesmo que em parte, apenas ok me incomoda para aparecer numa lista de melhores. Por outro lado esse ano tivemos vários exemplos de álbuns que moraram semanas ou meses no meu som, Dead Daisies, Trivium, Alice Cooper foram parceiros fiéis ao longo do ano, então quero acreditar que entregar algo assim mereça o reconhecimento e o lugar nessa lista.


1) Trivium – In the Court of the Dragon

O Trivium é uma banda que eu acompanho desde que eles faziam cover do Metallica no The Crusader. De lá pra cá a principal marca deles era uma inquietante procura por um estilo. Isso produziu uma discografia muito heterogênea, que facilmente alternava um bom disco com uma bomba. Acho que nos três últimos álbuns, desde da entrada do atual baterista, pra mim um dos melhores da atual cena do metal, eles encontraram um som deles, moderno sem ser “modernoso”, muito criativo (parece que a criatividade da bateria transbordou para o resto da banda e obrigou todo mundo a ser melhor) e respeitoso com o metal mais clássico, várias guitarras dobradas não me deixam mentir. Esse som acaba sendo uma ótima maneira de trazer uma nova geração ao heavy metal. Acho esse disco o ápice da banda até agora. Se você é mais “clássico” e não dado ao que se produz nos States por agora, pula a faixa título, ela parece estar ali pra expulsar quem começou a ouvir metal com The Number of the Beast ou Ride the Lightning. O vocal mais gritado mais “na cara”, namorando o metalcore talvez seja o momento mais comum do disco e com certeza não reflete o que vem depois, se você fizer isso, irá começar pela ótima “Like a Sword of Damocles”, ai é só focar na virtuose que Matt Heavy, Cory Beaulieu, Paolo Gregoletto e Alex Bent fazem com os seus instrumentos, se não rolar uma emoção com a parte instrumental da “A Crises of Revelation” ou na belíssima “The Shadow of Abattoir” por exemplo, seu ouvido está muito no automático.


2) The Dead Daisies – Holy Ground

Esperava muito pouco desse álbum. Não sou fã de hard rock, mas sempre gostei do que do som mais sujo que a banda entregava, além de me dar sensação de certa justiça poética ao John Corabi, o personagem que nem diálogo teve na filmografia do Mötley. Por outro lado estou meio cansado do Glenn Hughes, já há algum tempo acho que “A voz” tem resumido todas as coisas que grava, mesmo com parceiros muito diferentes ao mesmo estilo, o estilo Glenn Hughes. Qual foi a minha surpresa ao ver que ele colocou sim um certo groove ali, mas também se arriscou num vocal mais rasgado, com mais raiva e expôs emoções diferentes daquelas de sempre. “Like no Other” foi fácil das músicas que mais ouvi esse ano. Como disse lá em cima, disco que se sustenta fácil e diverte até o final.



3) Alice Cooper – Detroit Stories

Sou um fã da figura do Alice Cooper, mesmo não sendo um conhecedor a fundo da sua discografia. Não perco uma chance de assisti-lo ao vivo, são sempre shows memoráveis. Contudo devo conhecer uns 6 ou 7 discos mais a fundo. Tinha gostado muito do anterior, o “atualizado” Paranormal, e quando fui ouvir Detroit Stories no streaming, o som mais clássico a princípio me assustou. Prontamente parei a audição e deixei a mídia física chegar em casa. Que disco delicioso Tia Alice entrega aqui. Rock clássico, divertido mesmo quando fala de temas tensos. Belíssima homenagem a Detroit e a ele mesmo.


4) Kryptos – Force of Danger

Mais um que a expectativa era pequena, mas essa subiu já nos primeiros singles. Os indianos do Kryptos já deixaram de ser uma simples curiosidade há muito tempo. O disco anterior, Afterburner, que teve versão nacional, já era um disco de uma banda madura no estilo mezzo hard mezzo heavy. Dessa vez parece a obra prima da banda. Disco curto, com excelentes riffs, passagens deliciosas remetendo bem e atualizando os anos 80. Pra se ouvir no repeat e ficar perguntando se no meio de tantos bons lançamentos por aqui, ninguém vai acordar para isso. Merece maior reconhecimento.


5) Harakiri for the Ski – Maeve

Post black é um estilo que eu gosto demais. Aquela bateria acelerada, com guitarras rápidas, contudo não necessariamente pesadas, cheias de melodias meio oníricas pra mim são absolutamente viciantes. Difícil trocar o CD no final, destoa, parece que os ouvidos pedem mais. No estilo, a dupla Harakiri for the Ski é uma das minhas prediletas. O disco anterior, Arson, já esteve na minha lista de Top 10 de 2018. De lá pra cá eu peguei ele, o anterior, Trauma, e sigo esperando os demais saírem por aqui. Todos entregam a mesma qualidade, a mesma melodia. Dessa vez a primeira música, “I Pallbearer”, começando rápida e mais pesada que o normal da banda, causa certa estranheza, entretanto a virada ocorre dentro da própria música e demonstra toda a qualidade da banda. É uma banda que todos que gostam de metal deviam se permitir uma audição sem preconceito, de preferência com o som bem alto, parece que a música deles ocupa a sala, cresce em alto e bom som.


6) Tribulation – Where the Gloom Becomes Sound

O Tribulation é um daqueles fenômenos que eu não entendo no nosso mundinho metal no Brasil. Após o lançamento do disco anterior, Down Below, mesmo antes de sair a tardia, mas excelente versão nacional, todo mundo descobriu a banda e começou a falar muito dela. Foram a banda da semana com uma salada musical que continha um pouco de black, um pouco de gótico, um pouco de post black e até algum post punk. Dessa vez eles simplificaram os ingredientes, o vocal gutural ainda está lá, contudo o som está fortemente enraizado no Gothic Rock. Um dos melhores trabalhos de guitarra dessa lista e um bom exemplo de como se dedicar a um disco por inteiro, não que a abertura seja fraca, mas as melhores músicas do álbum estão no meio e no final, neste inclusive me peguei mais de uma vez checando se realmente acabou e se teria mais uma perdida, de tão bom que ele é.


7) Rage – Resurrection Day

Pra não enganar ninguém preciso começar dizendo que sou muito fã de Rage. Acho “Peavy” Wagner um dos melhores compositores de refrão do metal. Como tudo que eu gosto muito, pesa contra a banda uma crítica sempre muito pesado. Minha expectativa é alta, ou deveria ser. Em nome de tentar soar mais pesado a banda vinha abrindo mão de suas características nos últimos álbuns, menos riffs marcantes, menos refrãos. O último disco com refrãos realmente bons do Peavy nem saiu com nome de Rage e sim de Refuge. Tudo isso levou a um penúltimo disco muito fraco, Wings of Rage, e por isso minha expectativa estava anormalmente baixa a ponto de ter demorado algumas semanas para ouvir o álbum. Qual foi a minha surpresa ao ouvir um disco de puro Rage do início ao fim. Peavy ainda tá dando uns urros e querendo parecer mais malvado, contudo estruturou as músicas na forma tradicional da banda e entregou a típica peça de memória afetiva que o fã antigo gosta. Tem muita inovação nessa lista, o Rage trouxe o momento “comida de avó” desse Top 10.


8) Criminal – Sacrifício

Ouvi muita gente, inclusive meu amigo Fernando Bueno, ligando o Gojira ao velho Sepultura e realmente tem muita coisa, talvez ali estivesse o som da banda se tivesse seguido junta e mergulhado nas suas invenções, por outro lado se eles tivessem seguido outro caminho? Se juntos, décadas depois eles se cansassem das invenções e focassem em mais Slave New Worlds ou mais Propagandas? Os chilenos do Criminal estão classificados no Spotify como death metal, mas isso é uma simplificação grosseira, eles estão mais para uma banda de croosover (talvez as pessoas não se lembrem mais do estilo, mas ele existe) e com a sua mistura de vocal em inglês e em castelhano, cheio de raiva, atualizam um som muito familiar para todos nós entregando um dos discos com mais emoção do ano. Raiva pura na essência. Em tempos de produções tão distantes, é muito bom ouvir isso.


9) Grand Cadaver – Into the Maw of Death

Um grande amigo fala que o vocal do Mikael Stanne é o melhor vocal do death metal, então com o Dark Tranquility seguindo o caminho dos grandes do Gothemburg Sound e flexibilizando seu som, o mundo precisa de outra forma de usufruir desse talento. Grand Cadaver veio pra ocupar esse espaço. Banda de velhos conhecidos da Suécia que estão fazendo death metal sueco simple e puro, algo como o Bloodbath, mas com um pouco mais de gingado, talvez com um gole de Entombed na mistura. Esse disco é isso, um bom disco de death metal que se mantém relevante do início ao fim, daqueles que quando você vê, acabou.


10) Herman Frank- Two for a Lie

Esse é o meu Guilty Pleasure da lista. As partes do que já foi o “Accept” tem produzido coisa boas demais. Udo, quando não tá chorando o legado, produz álbuns bem interessantes, o “Wolf Woffman Accept Experience” não produziu ainda nenhum disco ruim (apesar do último não ser memorável) e o Herman Frank sempre entrega algo bom seja solo seja ou com o Panzer. Nesse caso da carreira solo, os primeiros discos pareciam mais sobras de estúdio da ex banda, o terceiro já tinha uma pegada mais hard, dessa vez ele mostra que pode variar mais sua produção e isso impressiona. Porque Guilty pleasure então? Sei que não é o disco mais cheio de qualidades técnicas daqui, produção esmerada e nem nada assim, contudo ele é divertido demais. Falou direto com meu eu de 15 anos e virou um gostoso vício desse final de ano.


Pra acabar vou deixar mais uma lista de menções honrosas que em algum momento passaram por essa lista:
Ex Deo – The Thirteen Years of Nero: Banda necessária. Death espetáculo com temática romana, só achei que nesse o disco poderia ter acabado na metade.

Volbeat – Servant of the Mind: Volbeat entregou um disco menos radiofônico que seu predecessor, com um pouco mais do metal dos seus primeiros álbuns. Talvez com mais audições (e não foram poucas até agora), tirasse o lugar de alguém lá de cima.

The Crown – Royal Destroyer: exemplo de potência e raiva. Pena que é cansativo pro final

Wolves in the Throne Room – Primordial Arcana: black metal como deve ser. Disco pra expulsar a avó ou a sogra de casa, mas fica repetitivo.

Asphyx – Necroceros: o melhor disco de death metal do início do ano. Depois foi superado por outros.

Massacre – Resurgence: esse perdeu o lugar na lista pro Grand Cadaver no cara e coroa. Grande disco de death metal, raiva bem demonstrada do início ao fim.

Smith & Kotzen- descoberta do final de dezembro. Disco que nutri uma antipatia sem explicação, mas que me ganhou na segunda ou terceira ouvida. Se tivesse chegado um pouco antes, talvez tivesse lugar no Top 10.

3 comentários sobre “Melhores de 2021: Por Raphael Zenatti

  1. Minha lista de melhores de 2021
    1 -The Crown (Royal Destroyer)
    2- volkonis (odyssey)
    3- moonspell (hermitage)
    4- spiritbox (eternal blue)
    5 -the vintage caravan( monuments)
    6- gojira (fortitude)
    7- the pretty reckless( death by rock and roll)
    8- lazer beam (lazer beam)
    9- liquify (lost in time)
    10- epica(omega)
    Menção honrosa:
    Dread sovereign( archemical warfare)
    Khemmis (deceiver)
    Mastodom(hushed and grim)
    Unto others (strength)
    Iron maidem (senjutsu)
    Carcass (torn arteries)
    Nervosa (perpetual chaos)
    Crystal viper (the cult)
    Starefieds( fat hits)
    Liquify(illusionary reality)
    Phanton elite(titanium)

  2. Rapaz, o Trivium não me desce… sei lá. Agora o Alice Cooper mostrando que tá vivo foi bem bom msm. Ainda, esse do Asphyx concordo plenamente contigo.

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