Black Sabbath – Master of Reality [1971]

Black Sabbath – Master of Reality [1971]

Por Daniel Benedetti

Master Of Reality é o terceiro álbum de estúdio da banda inglesa Black Sabbath. Seu lançamento oficial ocorreu no dia 21 de julho de 1971. As gravações ocorreram entre 5 de fevereiro e 5 de abril daquele mesmo ano no Island Studios, em Londres, na Inglaterra. A produção ficou sob a responsabilidade de Rodger Bain, com quem a banda trabalhou em seus dois álbuns antecessores. Este seria o último trabalho do Black Sabbath com o supracitado produtor.

Este verdadeiro monólito do Heavy Metal completou, recentemente, 50 anos de seu lançamento e este texto é uma pequena homenagem à obra.

O Black Sabbath experimentava os primeiros sabores do sucesso, afinal, seu segundo álbum de estúdio, Paranoid (1970), permitiu à banda alçar voos maiores. A canção homônima ao disco, “Paranoid”, tornou-se um verdadeiro ‘hit’, fazendo com que o conjunto britânico ficasse muito mais conhecido. A canção chegou a ocupar a 4ª posição na parada britânica de singles. O álbum Paranoid chegou ao topo da parada britânica e na 12ª colocação da parada correspondente nos Estados Unidos, já em março de 1971.

O Black Sabbath adentrou o ano de 1971 capitalizando o sucesso de seus álbuns lançados no ano anterior, nos dois lados do Atlântico, e mantendo-se realizando shows para promoção de seu trabalho. A apresentação mais memorável se deu em Londres, em Janeiro de 1971, no Royal Albert Hall.

Sem pausas entre lançamentos de álbuns e turnês, já em fevereiro de 1971 o grupo retornaria para o estúdio com o intuito de gravar um novo trabalho de inéditas.

Em contraste com os contemporâneos do Led Zeppelin, cujo terceiro álbum desagradou alguns fãs por ter um conteúdo musical significantemente mais acústico, Tony Iommi prometeu que o terceiro álbum do Sabbath seria seu lançamento mais pesado até então. De certa forma, Iommi cumpriu o prometido. O guitarrista alterou a tensão das cordas de sua guitarra em três semitons, tornando-a mais fácil para ele tocar. Para acompanhar Iommi, Geezer Butler fez o mesmo com seu baixo. Isso fez com que o som do grupo se apresentasse ainda mais “obscuro e pesado” em Master of Reality.

Por isso, Master of Reality é citado como forte influência para o gênero “Stoner Rock” ou mesmo para bandas que fizeram muito sucesso nos anos 90, como Nirvana, Smashing Pumpkins  e Soundgarden. É considerado por muitos, também, como o precursor do chamado Doom Metal.

Embora a promessa de Iommi tenha se concretizado em um álbum realmente pesado, o Black Sabbath (como se comprova através de sua vasta discografia) sempre teve coragem para se arriscar musicalmente. O álbum Master of Reality mostra a banda flertando com sonoridades mais suaves. Há duas canções bem curtas, verdadeiros interlúdios entre canções maiores. “Embryo” e “Orchid” são consideravelmente mais leves quando comparadas a clássica linha musical pesada do Black Sabbath.

Há uma canção neste álbum que pode ser considerada uma balada, “Solitude”, bem maior que as duas supracitadas. Tratar-se-á da mesma mais à frente neste post.

Embora as canções da fase clássica do Black Sabbath fossem creditadas, quase sempre, a todos os membros do grupo, o principal letrista da banda (nesta fase) era Geezer Butler. Neste álbum, Butler está ainda mais maduro como autor e aborda questões interessantes de forma ainda mais criativa. Na primeira versão do álbum lançada nos Estados Unidos, algumas alterações na nomenclatura das faixas foram encontradas. À introdução de “After Forever” foi dado o nome de “The Elegy”, o mesmo acontecendo com a introdução de “Lord of This World” (nomeada “Step Up”), assim como acontece com “Into the Void” (sua ‘intro’ foi nomeada como “Deathmask”). Ainda havia o nome “The Haunting” associado a “Children oftThe Grave”. Mesmo o álbum saiu com o nome de Masters of Reality.

Cabe ressaltar que nada disto estava presente na edição britânica de Master of Reality. Nas edições posteriores, os créditos foram concertados, subtraindo os títulos dados às introduções das canções (exceto “The Elegy”) e, também, consertando o nome do álbum, retirando o ‘S’ a mais em Master.

A arte da capa é bastante simples, com um fundo preto, o nome da banda escrito com fontes bem típicas da época em roxo e abaixo, em alto relevo, bem escuro, a denominação do álbum. Posteriormente, com a mesma fonte e tamanho, o nome do álbum seria mudado para um tom de cinza, facilitando sua visualização. O baterista Bill Ward se recorda da época de gravação de Master of Reality como o começo da era em que a banda estava abusando mais severamente de drogas. Ward disse que muitas vezes os membros do grupo tinham uma ideia para alguma canção em casa, iam rapidamente para os estúdios e quando lá chegavam, não se recordavam mais da ideia criada, pois estavam totalmente “fora de si” naqueles dias.

Abre o álbum a canção “Sweet Leaf”. Os primeiros segundos do disco, na realidade, é uma gravação de uma tosse do guitarrista Tony Iommi. Um riff bastante pesado e cadenciado criado por Iommi é a marca registrada da canção, acompanhado por um baixo bastante presente e um eficiente trabalho na bateria por parte de Bill Ward. As letras de “Sweet Leaf” se referem ao uso recreativo de maconha. O título da música foi retirado de um maço de cigarros que o baixista Geezer Butler comprou em Dublin, na Irlanda, e o qual chamava o tabaco de “The sweet leaf”.

A segunda canção de Mater of Reality é “After Forever”, que se alterna em variações do mesmo riff, com momentos mais velozes e outros em que ele fica mais pesado e arrastado. As letras de “After Forever” foram escritas pelo baixista Geezer Butler. Naquele momento do lançamento do álbum, o Black Sabbath era tido como uma banda satânica, devido ao visual, sonoridade e temática bastante sombrios do grupo e, assim sendo, Butler escreveu uma canção em que aborda uma temática absolutamente cristã, quase uma ode às suas crenças. A música acabou sendo lançada como um single, em conjunto com a faixa “Fairies Wear Boots”, mas acabou não obtendo maior repercussão. “Embryo” é a terceira faixa do álbum. Na verdade, contém apenas pouco mais de 25 segundos de duração, e, também durante os shows do Black Sabbath, funciona como abertura para a próxima canção.

O clássico “Children of the Grave” é a quarta faixa de Master of Reality. Um dos riffs mais criativos da história do Black Sabbath embala a canção, tornando-a rápida, pesada e empolgante aliado ao baixo galopante de Butler. As letras de “Children Of The Grave” são das melhores da discografia do Black Sabbath. Ela segue a temática anti-guerra proposta por Butler em canções como “Eletric Funeral” e “War Pigs”, sendo novamente abordada, mas desta vez Butler inova com seus ideais pacifistas e de desobediência civil não violenta. O eu lírico convoca uma revolução pacífica e baseada no amor, chamando as crianças a plantarem a semente da paz, trazendo uma visão otimista (acreditando na vitória) para a mudança do mundo.

Com pouco mais de um minuto, “Orchid” é a quinta faixa do trabalho. Suave e bastante melódica, a canção mostra o lado mais intimista de Tony Iommi e introduz a próxima música do álbum.

“Lord of This World” é a sexta faixa do disco. Um riff bastante pesado é a marca registrada da música. Ele se desenvolve por praticamente toda a canção de maneira mais ‘arrastada’, dando lugar a um solo bastante inspirado no meio da faixa. A sétima faixa de Master of Reality é “Solitude”. Consideravelmente diferente das outras faixas do álbum, “Solitude” é uma balada, que mostra um Black Sabbath soando muito mais suave que anteriormente. Uma canção totalmente leve, com alguma influência psicodélica em um estilo inovador na discografia da banda até então. A música traz letras românticas, mas de uma perspectiva totalmente depressiva, de alguém que sofre por amor.

A oitava e derradeira canção do álbum é “Into the Void”. Um riff espetacular, lento, arrastado e pesadíssimo, abre a canção, oscilando em passagens mais rápidas, e com um trabalho incrível da seção rítmica. As letras de “Into the Void” revelam o desejo de fuga de um mundo que é dilacerado por conflitos e guerras, em uma perspectiva angustiante.

Master of Reality consolidou o Black Sabbath como uma das grandes bandas dos anos 70. Conquistou a 5ª posição da parada britânica de álbuns e a 8ª posição de sua correspondente norte-americana. Apesar da aclamação do público, os críticos musicais da época não aprovavam a proposta da banda. Robert Christgau deu ao álbum uma nota ‘C-‘, declarando que este era uma “estúpida e amoral exploração”. O crítico da Revista Rolling Stone, Lester Bangs, chamou o álbum de monótono, em uma análise negativa. A mesma revista que, anos depois, colocaria Master of Reality na 298ª posição de sua lista 500 Greatest Albums of All Time, em 2003, descrevendo-o como “a relíquia de estúdio definitiva da era dourada do Sabbath”.

A revista Q Magazine o colocou em sua lista de 50 Heaviest Albums of All Time (2001), e, em outra edição, citou Master of Reality como o álbum mais coeso dentre os três primeiros do grupo.

Após o lançamento do álbum, o Black Sabbath saiu em mais uma grande turnê para promover o trabalho, a Master of Reality World Tour. O disco já vendeu mais de 2 milhões de cópias apenas nos Estados Unidos.

Formação:

Ozzy Osbourne – Vocal

Tony Iommi – Guitarra, Flauta e Piano em “Solitude”

Geezer Butler – Baixo

Bill Ward – Bateria

Faixas:

  1. Sweet Leaf
  2. After Forever
  3. Embryo
  4. Children of the Grave
  5. Orchid
  6. Lord of This World
  7. Solitude
  8. Into the Void

 

4 comentários sobre “Black Sabbath – Master of Reality [1971]

  1. De longe o melhor disco do Sabbath. Paranoid pode ter mais “clássicos”, mas este disco possui todas as faixas de nível altíssimo e inspirado. “After Forever”, “Children of the Grave” e “Into the Void” estão entre as minhas preferidas da banda.

  2. Master of reality tem pra mim a faixa que definitivamente comprova o sabbath como o verdadeiro criador do heavy metal, into the void. foi por um bom tempo o meu favorito da banda, posto ocupado agora por vol.4.

  3. Disco realmente sensacional, cujo único defeito é ser muito curto (acho que não dá 34 minutos, como o “Rising” do Rainbow – dois exemplos de tudo que é bom dura pouco). Lembro de ter comprado a edição em vinil brasileira da RGE, com as letras coloridas em vez de roxas. Estou na torcida por uma box do disco, nos moldes das que foram feitas para o “Paranoid”, o “Vol. 4” (este sempre foi o meu favorito da banda, desde a primeira vez que ouvi) e o “Sabotage”, mas por enquanto só anunciaram a do “Technical Ecstasy”, mas não sei se vai rolar!

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