Melhores de Todos os Tempos – Aqueles que Faltaram: por Mairon Machado

Melhores de Todos os Tempos – Aqueles que Faltaram: por Mairon Machado

Por Mairon Machado

Edição de Diogo Bizotto

Com Alexandre Teixeira Pontes, André Kaminski, Bernardo Brum, Christiano Almeida, Davi Pascale, Fernando Bueno, Flavio Pontes, Ronaldo Rodrigues e Ulisses Macedo

Participar desta série foi um dos grandes momentos que tive no site. Muitos foram os discos horríveis que ouvi, mas muitas foram as obras magníficas que conheci e passaram a fazer parte de minhas audições. Escolher dez álbuns que ficaram de fora foi uma tarefa muito dura e ingrata. Montei uma lista com 40 nomes. Aos poucos, graças às indicações dos outros colegas, a relação foi diminuindo. Mesmo assim, não consegui ficar com menos de 15 discos para escolher. Certo de que deixei algumas grandes obras de fora, preferi trazer nesta lista álbuns consagrados e identificados com os artistas que os representam. Destaque especial para o Possessed, já que o grandioso Seven Churches, criador do death metal, não ficou entre os dez mais de 1985, perdendo para várias barbaridades, entre elas RPM. Isso em um site que tem muita gente que só ouve METÁU.

Janis Joplin – I Got Dem Ol’ Kozmic Blues Again Mama (1969)

Mairon: Janis Joplin é, para mim, a maior cantora de rock da história. Suas interpretações sempre foram recheadas de muito feeling, e sua capacidade de animar o público era avassaladora. Em seu primeiro álbum solo pós-Big Brother, Janis uniu-se a uma bandaça e fugiu totalmente daquela menina de vestidinho que arrebatou até Mama Cass em Monterey para se tornar uma deusa da soul music. Neste disco, ela entrega para a posteridade a clássica “Try (Just a Little Bit Harder)”, faixa dançante, animada e com um grudento refrão. Uma das mais representativas canções da carreira solo de Janis, ao lado de “Mercedes Benz” e “Me and Bobby McGee”. Destaque em paralelo para os vocais de Janis e para o naipe de metais da Kozmic Blues Band, importantíssimo para que a norte-americana alçasse voos vocais inimagináveis em quase todo o disco, com exceção da única faixa que Janis compôs, o ótimo blues “One Good Man”, na qual estão apenas como base, e quem se destaca é o inigualável Mike Bloomfield na slide guitar. Falando ainda nos metais, não há palavras para descrever o que eles fazem na longa introdução da sensacional “As Good As You’ve Been to this World”. Duvido que qualquer um dos consultores não tenha balançado a perna ao menos uma vez durante essa intro. Contrabalançando os ritmos dançantes, I Got Dem… traz baladas doloridas e representativas da grandiosidade interpretativa e da entrega de Janis. Ouvir a linda versão para “To Love Somebody” (Bee Gees) ou a emocionante “Little Girl Blue” (que belo arranjo de cordas) e não sentir uma pontada no coração é tarefa para poucos, e não se arrepiar com as arrasa-quarteirão “Kozmic Blues” e “Maybe” é demais até para extraterrestres. Quando os metais e a interpretação de Janis se unem em uníssono, o mundo cai, e isso acontece durante “Work Me Lord”. Para mim, essa é a melhor canção que Janis cantou em sua vida, acima até da clássica “Ball and Chain”. Ao final do LP, encerra grandiosamente um dos maiores álbuns dos anos 1960. Acho que o disco não entrou porque o pessoal não o conhece, mas se bem que tem muito marmanjo que deve torcer o nariz para Janis. Problema deles…

Alexandre: É uma maravilha revisitar este álbum, muito tempo depois de eu ter investido certo tempo na discografia de Janis. Sempre que ouço seus timbres novamente, continuo a me embasbacar com a qualidade, a força e a emoção de sua voz. Seu talento é ímpar e tem imensa categoria tanto nas canções de acento soul quanto naquelas em que o blues manda. Do álbum, apenas a última faixa, “Work Me Lord”, está um pouco abaixo das demais. A banda que a acompanha também faz muito bonito e merece um generoso espaço no ínicio de “As Good As You’ve Been to this World”. Os metais são muito bem escolhidos nas faixas mais carregadas de soul, como em “Try (Just a Little Bit Harder)”, mas também tem ótima presença no blues “Maybe”, por exemplo. A mistura de orgão e guitarra limpa com as cordas em “Little Girl Blue” também precisa ser destacada. Dificil salientar apenas uma canção, mas tenho uma queda maior pelos blues. Dessa forma, cito “Maybe” e “Little Girl Blue” como minhas favoritas. É até estranho que Janis Joplin não tenha aparecido antes em nenhuma edição, ou mesmo entre os esquecidos dos demais consultores. Excelente escolha, Mairon!

André: Nunca fui lá um apreciador de Joplin. Seria injusto de minha parte, porém, desqualificar este disco, o único dela lançado ainda em vida. O instrumental blues, psicodélico e roqueiro é brilhante. Sua voz e interpretação é que não me agradam muito, contudo é mais por questão de gosto pessoal do que por qualquer outra coisa. Independentemente disso, para quem curte, fica aí registrado este disco, que serviu de influência para muitas bandas e cantores que vieram depois. Meu principal destaque é para o naipe de metais, de um bom gosto que é de se admirar.

Bernardo: O álbum de “Try (Just a Little Bit Harder)” e “Little Girl Blue”, com aproximação mais psicodélica do que os momentos soul/funk mesclados ao blues de seu sucessor, a obra-prima Pearl (1971). Bom disco, mas mostra uma artista ainda amadurecendo e se descobrindo.

Christiano: Não conheço toda a discografia de Janis Joplin, mas, dos discos que já ouvi, este sempre foi meu preferido. Gosto do seu clima mais sério, às vezes melancólico e menos exagerado que de costume. Em muitas faixas, consigo perceber uma pegada mais soul, alguma coisa próxima de Nina Simone, como é o caso de “Kozmic Blues” e “Little Girl Blue”. Como sugere o título, o blues perpassa todas as faixas, como as belas “Maybe” e “One Good Man”. Ótima dica.

Davi: Uma das grandes vozes do rock ‘n’ roll. Infelizmente, essa mulher nunca teve uma banda à sua altura, mas a rapazeada da Kozmic Blues Band mandava melhor do que a Big Brother and the Holding Company. Sim, Cheap Thrills (1968) é maravilhoso, mas nos shows notava-se que os caras eram bem fraquinhos. Neste disco, a cantora aposta em uma maior influencia de blues e soul music, dois universos que casavam muito bem com sua voz rouca e potente. “Try (Just a Little Bit Harder)” é a mais famosa e hoje atinge o status de clássico. Contudo, há outros grandes momentos neste álbum, como podemos notar nos blues “Maybe” e “Kozmic Blues”. Janis dá uma aula de emoção e interpretação!! O soul de “As Good As You’ve Been to this World” e a lindíssima versão de “To Love Somebody” (Bee Gees) também merecem atenção especial. Discaço!

Diogo: Nunca fui muito chegado em Janis Joplin, mas ouvi este disco com o mínimo possível de preconceito. Não posso negar que a cantora tinha sim muito talento, e o que ouvi neste disco certamente é melhor que qualquer coisa que escutei de sua ex-banda. Contribiu para isso o afasamento da psicodelia e a aproximação com um rock bem mais ligado às suas origens negras. Para além do rock, Janis mostra-se uma grande intérprete de blues e soul, além de performar em estúdio tal qual estivesse ao vivo, em um show dos mais intensos. Aliás, a banda toda vem nessa pegada, e isso é muito bom. Às vezes, porém, essa paixão toda acaba soando meio cansativa e um pouco forçada, vide “To Love Somebody”, cuja interpretação não tem nem a metade da sinceridade da versão original dos Bee Gees, na magnífica voz de Barry Gibb. O fato do álbum soar meio monotemático na maior parte do tracklist também é cansativo e impacta diretamente nas performances de Joplin e acaba limitando sua dimensionalidade. O fino do álbum encontra-se em suas primeiras faixas, especialmente nas de número um e dois.

Fernando: Juro que tentei gostar de Janis Joplin, mas não consigo. O que mais me incomoda em alguns artistas da época é a aura riponga que tinham, e Janis é o amálgama de tudo aquilo que o movimento hippie representava. Isso pode me fazer não gostar de suas músicas.

Flavio: O primeiro disco solo de Joplin traz um pouco mais de polidez em relação à banda anterior com quem ela havia lançado Cheap Thrills. A adição de metais, que têm grande destaque em quase todas as músicas, e a ênfase em buscar um som mais calcado no soul e menos no predominante estilo lisérgico blues, poderiam me afastar do disco. Janis, contudo, está soberana, com performances fantásticas, como em “Try (Just a Little Bit Harder)”, “Maybe”, “Kozmic Blues” e na lindíssima “Little Girl Blue”, que mostram que grande artista era Joplin. O registro é histórico, imperdível e plenamente justificado como ótimo representante nesta lista.

Ronaldo: Perfeição do início ao fim, o disco transpira emoção em cada milímetro de seus sulcos. É intensidade em cada agudo, em cada rosnada, em cada respiro, em cada pausa de Janis Joplin; os arranjos, para acompanhá-la dignamente, são eloquentes e marcantes. Em termos musicais, é o ápice da antidiva Janis Joplin.

Ulisses: Acho que só ficou de fora da edição dedicada a 1969 porque aquele foi um ano cavalar mesmo – embora eu fosse dar preferência a Janis ao invés de Neil Young ou David Bowie. “Try (Just a Little Bit Harder)”, “Maybe”, “Kozmic Blues” e “Work Me, Lord” são musicões de alta qualidade, e é impossível não se envolver pela entrega vocal da senhorita Joplin nessa mistura de blues, rock, soul e R&B – sem a psicodelia do Big Brother and the Holding Company e, sim, algo mais para o lado Stax da música. Ela era puro fogo, mas infelizmente apagou-se cedo.


Jefferson Airplane – Volunteers (1969)

Mairon: Quando se fala em Jefferson Airplane, as pessoas ligadas à música sempre lembram de “White Rabbit” ou do álbum Surrealistic Pillow (1967). Quem é fã dos norte-americanos, entretanto, sabe que tanto a canção quanto o álbum não representam verdadeiramente a força que o grupo tinha. Isso é obtido com excelência em Volunteers. É nele que o sexteto consegue colocar sua raiva contra o mundo, dando uma guinada fantástica na carreira e parindo algumas das melhores canções da era final do flower-power. O trio vocal Paul Kantner, Marty Balin e Grace Slick representam uma das grandes atenções que você deve fornecer ao álbum, assim como a guitarra ácida e endiabrada de Jorma Kaukonen e a participação exclusiva do pianista Nicky Hopkins. Adoro o ritmo suave e o wah-wah sendo pisoteado por Jorma em “Good Shepherd”, a delicadeza do órgão em “Turn My Life Down”, a vinheta-viagem de Slick com o sintetizador em “Meadowlands” (dizem que inspirou Don Airey para a introdução de “Mr. Crowley”, de Ozzy Osbourne). Não nego ainda que as countryzinhas “The Farm” (violões, piano, slide guitar, vocais bem encaixados, quer mais?) e “A Song for All Seasons” demoraram para me conquistar, mas hoje trazem muita felicidade ao meu cérebro. Só que a força que exaltei no início deste texto está nas pauladas gigantes que o Jefferson Airplane dá nos ouvidos do fã. O que eu gosto mesmo neste álbum é da pauleira e da quantidade de surpresas que ele tem. Flauta enigmática entre camadas de solos de guitarra, piano e uma bela interpretação vocal de Slick estão na longa “Eskimo Blue Day”. Doideira comendo é o prato da faixa-título (“Got to revolution, got to revolution”). Como não se entregar à fúria de “We Can Be Together”, uma das melhores músicas do grupo e uma canção antidiscriminação mais revoltosa que qualquer faixa punk já lançada. Parelha com ela, apenas “Hey Frederick”, épico de nove minutos com um show vocal de Slick, das harmonias de piano por Nicky e do solo fabuloso de Jorma, tomando quase quatro minutos. Digno dos grandes solos do rock, como “Free Bird” (Lynyrd Skynyrd), “Hotel California” (Eagles) e “Stairway to Heaven” (Led Zeppelin). E puta que pariu, o que os caras fazem com “Wooden Ships” é para aplaudir de pé enquanto fogos estouram. Uma viagem sem drogas, na qual eles aperfeiçoam uma obra já lindamente criada por Crosby, Stills & Nash meses antes. Só não fazem chover porque o vinil ainda não é feito de água. Que baita música! Letras com temas políticos e sociais, repletas de indignação e protesto, harmonias vocais e instrumentais perfeitas… Qualidades essenciais para um grande disco, que só pode ter passado despercebido pelos meus colegas. Mais sobre ele aqui.

Alexandre: Um atestado da época lisérgica do fim dos anos 1960, uma mistura de blues, country, rock, letras políticas e controversas. Harmonias interessantes,bons vocais e um instrumental dentro do padrão esperado para a época. Não há um destaque absoluto entre os instrumentistas, os solos de guitarra estão na média do que era observado na ocasião. A versão de “Wooden Ships” é bem legal, mas gostei mais da registrada por Crosby, Stills & Nash, do mesmo ano. As músicas seguem variando entre os gêneros que citei. Volunteers soou de fácil digestão, com boa qualidade na maioria das faixas. A exceção, alguns degraus acima, é “Hey Frederick”, por algumas razões. Ela soa ligeiramente mais pesada que as demais, com um clima um pouco mais sombrio. Além disso, é uma das poucas músicas estritamente com vocal feminino, que me agradou mais que o masculino, que divide a maioria do restante. Também pelo fato de ser uma faixa que dá mais espaço para pianos e, principalmente, para as guitarras recheadas de pedal wah-wah. Um bom álbum, no fim das contas. Uma boa escolha do Mairon.

André: Gosto muito dessa banda. Grandes destaques do psicodélico, três vocalistas e arranjos de qualidade é o que se encontra nesta pérola. Adoro “Wooden Ships”, também gravada pelo trio Crosby, Stills & Nash. “Volunteers” ainda tem aquela aura de “hino da revolução” que me soa mais romântico e sonhador hoje do que de fato um chamado contra o “sistema”. O piano soa por vezes até agressivo, os instrumentais variam entre a ideia “paz e amor” e a provocação. Os vocalistas, principalmente Grace Slick, se entregam em grandes interpretações. Foi uma bela indicação, de imenso bom gosto, do físico de partículas colorado.

Bernardo: O J.A. até que fez boas músicas depois de Surrealistic Pillow, mas nunca um bom disco por inteiro. Volunteers é mais um caso, com bons momentos, como “Eskimo Blue Day”.

Christiano: Nunca dei atenção ao Jefferson Airplane. Conhecia Surrealistic Pillow, que acho razoável. Após escutar Volunteers, percebi que cometi uma grande injustiça com a banda, pois é um disco muito bom. Um de seus aspectos mais interessantes é a influência de música folk, como podemos perceber em faixas como “Turn My Life Down” e na bela “Wooden Ships”, que também foi gravada pelo Crosby, Stills & Nash. Aliás, o álbum conta com uma ajudinha de Crosby e Stills, fato que pode ter contribuído para a criação de melodias tão agradáveis que permeiam todo o tracklist. Além de ser ótimo do início ao fim, gostaria de destacar a faixa de que mais gostei, “Hey Frederick”. Mais uma ótima indicação.

Davi: Jefferson Airplane em grande estilo. Ídolos da galera hippie, os músicos trouxeram mensagens antiguerra em um álbum em que mesclaram folk com psicodelia. Dois belos exemplos de como esses dois universos funcionaram são a linda “Good Shepherd” e a versão de “Wooden Ships”, inicialmente gravada por Crosby, Stills & Nash. Para quem gosta dessa pegada mais psicodélica, contudo, acredito que a cereja do bolo seja a ótima “Hey Frederick”, que conta com a linda voz de Grace Slick. Também coloco como destaque as ótimas “Eskimo Blue Day” e “We Can Be Together”.

Diogo: Volunteers exemplifica bem a mudança de paradigma que se desenrolava na época, da psicodelia para aquilo que pariu álbuns como Buffalo Springfield Again (Buffalo Springfield, 1967), John Wesley Harding (Bob Dylan, 1967), Music from Big Pink (The Band, 1968) e Sweetheart of the Rodeo (The Byrds, 1968) e gerou grandes forças musicais como Crosby, Stills & Nash, Neil Young e Eagles. O urbano se mixava com o rural e gerava música que, na minha concepção, soa muito mais excitante que aquilo que a psicodelia norte-americana vinha produzindo. Não à toa, algumas faixas de Volunteers soam bem melhor que quaisquer outras canções do Jefferson Airplane que eu tenha ouvido antes. A totalidade do disco não faz frente aos supracitados, mas é uma audição interessante em sua maior parte. Esse “encontro com a terra” soa às vezes meio forçado, como em “Farm”, mas ao mesmo tempo gera bons resultados, como “Hey Frederick” (e seu belo solo de guitarra), “Wooden Ships” e “Eskimo Blue Day”. Não esperava muito deste álbum, mas até que a surpresa foi positiva.

Fernando: Citei o movimento hippie quando falei do disco anterior, e este caso não é muito diferente. Ao contrário do que acontece com Janis, porém, gosto e é o único disco do grupo que tenho. “We Can Be Together”, “Good Shepherd” e “Volunteers” são os pontos altos.

Flavio: Outra lacuna para meu conhecimento mais aprofundado, o Jefferson Airplane é uma daquelas bandas que acabaram muito antes de eu me interessar pelo rock ‘n’ roll, e não consegui ainda resgatá-la por completo. Em uma mistura bem calcada em folk rock com psicodelia, Volunteers traz um tom melodioso agradável, que peca apenas pela falta de vigor, que realmente não era a tônica dessa fase da banda. Há o ótimo uso de pedal steel e mesmo de slide guitar, além da harmonia vocal perfeita, com destaque para a linda voz de Grace Slick. Há tambem outros pontos de destaque, como o rock psicodélico “Hey Frederick” e o rock calcado em blues de “Eskimo Blue Day”, que apresentam maior diversidade em relação às outras canções, um pouco mais de vigor e, quiçá, uma pitada de rock progressivo. Boa presença.

Ronaldo: O ano de 1969 foi de inflexão, de virada. Bandas como o Jefferson Airplane começaram a polir seu som e tornar mais cristalina a ideia de que a base pela qual todas as guitarras fuzz de 1967 flutuavam eram o blues, o country e o soul norte-americano. Em Volunteers, isso fica mais do que claro; as guitarras estão mais leves, violões e pianos surgem e deliciosamente se conversam e se apreciam. Nesta obra, o Jefferson Airplane está mais para Grateful Dead do que para 13th Floor Elevators. Canções icônicas com ótimas passagens instrumentais fazem deste o grande disco da banda.

Ulisses: Essa é uma daquelas bandas que eu nunca peguei para ouvir direito. Já desde a abertura, “We Can Be Together”, gostei de quase tudo o que ouvi, até porque a banda é bem dinâmica, trazendo uns pitacos de country em algumas faixas, algumas longas passagens instrumentais (“Hey Frederick” é bem boa) e psicodelia. Interessante que “Wooden Ships” tenha sido lançada pelo Crosby, Stills & Nash no mesmo ano, e o Airplane fez sua própria versão. Não posso opinar muito em relação à não inclusão de Volunteers na edição abordando 1969, mas, considerando as letras antiestablishment, as belas melodias vocais (“Good Shepherd”) e um Jorma Kaukonen que não deixa a guitarra descansar, ainda se trata de uma boa indicação.


Frank Zappa – Chunga’s Revenge (1970)

Mairon: Outro artista extremamente injustiçado. Acho que só eu e o Eudes citamos alguns discos do mestre Zappa, o que é uma verdadeira falta de respeito e conhecimento da vasta obra do músico. Claro que existem alguns discos complexos e de difícil apreciação, mas há outros que são baluartes zappianos, como Chunga’s Revenge. Nele, podemos conferir o talento de Zappa na guitarra durante as ótimas instrumentais “Transylvania Boogie” e “Twenty Small Cigars”, ambas com a guitarra cheia de efeitos. A primeira é um ótimo boogie e a segunda um delicioso jazz, na qual o baixo de Max Bennett também merece destaque. Quer ouvir o mestre realmente brilhando na guitarra? Ouça a faixa-título, um musicão no qual guitarra e saxofone, ambos com wah-wah, alegrarão seu dia. Além de Zappa, podemos conferir a sensacional banda de apoio que ele formou no início dos anos 1970, principalmente pelo citado Bennett, Ian Underwood (piano, saxofone), George Duke (órgão) e Aynsley Dunbar (bateria). Eles são o destaque no blues “Road Ladies”, no rockzão “Tell Me You Love Me” e na clássica balada soul “Sharleena”. O principal momento de Chunga’s Revenge é a insana “The Nancy & Mary Music”, faixa espetacular dividida em três partes que começa com um furioso free jazz, passa por um belo solo de Aynsely Dunbar, outro grandioso solo de Zappa, endiabra com o piano elétrico de Underwood e encerra-se com um duelo vocal de tirar o fôlego. Claro, as letras sempre filosóficas, debochadas e sacanas de Zappa são mais um ponto positivo que se une a uma musicalidade impecável, principalmente em “Would You Go All the Way?” e “Rudy Wants to Buy Yez a Drink”. Ainda há a percussiva “The Clap”, que não acrescenta nada a um disco sensacional. Poderia citar outros álbuns de Zappa (Hot Rats, Apostrophe, Zoot Allures, Sheik Yerbouti, Them or Us…), mas acho que este não receberá nenhuma crítica dos meus colegas.

Alexandre: Um disco que vai de momentos geniais para outros bestiais. A linha que divide essas duas interpretações completamente opostas acaba sendo tênue e muito subjetiva. Assim, é muito possível que alguém odeie o trabalho de Zappa, outros o achem espetacular. Fico naquele saudável meio termo, pois em vários momentos consigo enxergar a qualidade do músico, do arranjador, do compositor, do fato dele conseguir habitar por diversos gêneros com igual destreza. Há momentos, porém, que são desnecessários. Talvez o maior deles seja “The Clap”, na qual Frank se encarrega da bateria e da percussão para cerca de pouco mais de um minuto de tolice. Com um músico como Aynsley Dunbar ao seu lado, fica mais desnecessário ainda. O blues com o tema das groupies (“Road Ladies”) também me soou meio piada sem sentido, embora com um instrumental correto. Em compensação, há faixas de incrível demonstração de maestria de diversos instrumentos, como o uso do piano elétrico na espécie de jam session chamada “The Nancy & Mary Music”. O próprio Zappa faz um uso nada ortodoxo do pedal wah-wah na faixa-título, que é algo que chama atenção. Os vocais de acento soul em várias faixas também me agradaram, em especial em “Tell Me You Love Me”. Enfim, algumas esquisitices se contrapõem a um instrumental que beira o impecável, mas no fim das contas isso não me faz, mais uma vez, querer investir na obra que Zappa deixou.

André: Difícil analisar qualquer disco do bigodudo. As experimentações e loucuras do segundo artista de relevância com mais álbuns lançados no mundo (só perde mesmo para o ainda mais absurdo Rick Wakeman). Não dá para negar que o grande destaque do disco sequer é Zappa, mas o fodástico Aynsley Dunbar, pisando no pedal do bumbo e segurando as baquetas. Que bela performance do cara. No mais, é um dos ótimos álbuns de Zappa com aquela deliciosa influência do jazz e do blues. Para quem quiser começar a ouvir algo do sujeito, este disco é uma ótima porta de entrada.

Bernardo: Aqui é quando Zappa despirocou de vez tanto do rock satírico e sofisticado da época dos Mothers of Invention quanto da doideira ambiciosa de Hot Rats (1969). É tiro para todo lado, de maneira até irregular. Tem jazz, blues e avant-garde; solos de guitarra, percussão e uns lances mais pop; frequentemente instrumental e quando cantado falando de sexo. Nunca foi exatamente bem recebido como os anteriores, mas o tempo fez justiça e resgatou o valor histórico de um artista que, por mais que tenha flertado e terminado ao lado da música popular várias vezes, permaneceu como um dos músicos mais originais de seu tempo. Ouvir sua discografia é um convite a abrir a cabeça e nunca mais voltar a fechar.

Christiano: Que disco genialmente doido! Desde a primeira faixa, “Transylvania Boogie”, um tema instrumental impecável, fica claro que estamos diante de uma obra diferenciada. É muito interessante passar por músicas como a pesada “Tell Me You Love Me” e, logo em seguida, dar de cara com um tema próximo do rock psicodélico, “Would You Go All the Way”. É como se tivéssemos várias (excelentes) bandas em um só álbum. A faixa-título tem uma levada mais jazz, lembrando um pouco o que Zappa havia feito em Hot Rats. As duas últimas faixas, “Rudy Wants to Buy Yez a Drink” e “Sharleena”, retomam a influência psicodélica, fechando o disco em grande estilo.

Davi: Está aí um cara absolutamente endeusado, mas que nunca me atraiu. Não dá para questionar sua importância nem sua habilidade, isso é fato, mas sempre que colocava seus discos para rodar ouvia coisas malucas que não faziam muito sentido para meus ouvidos. Acredito que Chunga’s Revenge seja o mais bacaninha que ouvi dele. Realmente é um álbum legalzinho, que traz alguns ótimos momentos, como os rocks “Tell Me You Love Me”, “Would You Go All the Way” e o blues “Road Ladies”. No entanto, o fato de gravar diferentes estilos no mesmo álbum (como a jazzy “Twenty Small Cigars”) incomoda-me um pouquinho. No lado guitarra, as que mais me chamaram atenção foram “Transylvania Boogie” e a faixa-título. Não sou muito fã dele, mas até que foi bacana ouvir este disco…

Diogo: Comparado com outros discos de Zappa que ouvi, até que Chunga’s Revenge é relativamente convencional, fato que facilita a vida do neófito. A presença de um cara como Aynsley Dunbar na bateria é outro elemento reconfortante, a certeza de uma performance de altíssimo nível, do jeito que ocorre mesmo. Isso sem desmerecer o próprio Zappa, que é um dos guitarristas mais peculiares que há. Muitos falam da excentricidade de sua obra, do humor ácido e de sua produtividade, mas o cara mandava muito bem nas seis cordas. A instrumental “Transylvania Boogie” é um ótimo exemplo, além de ser a melhor música presente em Chunga’s Revenge. A faixa que empresta nome ao álbum é outro grande momento solo de Zappa. A jam “The Nancy & Mary Music” poderia ser algo enfadonho, mas não é, isso graças ao talento da banda que o acompanhava. Quando cai em algo supostamente mais convencional, caso do blues “Road Ladies”, Zappa o faz de maneira a soar totalmente peculiar. O restante do disco não chega a ser maravilhoso, mas é um belo lançamento do bigodudo.

Fernando: A carreira de Frank Zappa é gigante e eu não tenho pique para conhecê-la por completo. Acabo sempre escutando os mesmos discos, que vão de Freak Out! (1966) até Hot Rats, e, eventualmente, One Size Fits All (1975) e Joe’s Garage Act I (1979). Nunca havia ouvido Chunga’s Revenge e não consegui absorver muita coisa em apenas uma audição que me permita tecer um comentário mais elaborado.

Flavio: Disparado o disco mais difícil de tentar analisar. Frank Zappa já aprontava as suas lá em 1970. Uma mistura eclética de vários ritmos e estilos típicos da mente criativa do super guitarrista; é, no entanto, importante ressaltar que as canções são executadas com grande qualidade. Os vocalistas cantam muito bem durante o disco todo, trazendo toda sorte de influências, desde blues e soul com pitadas de humor, lembrando um pouco a trilha sonora de “Hair” (1979), ou melhor, vice-versa, como em “Sharleena”, “Tell Me You Love Me” e “Would You Go All the Way”. Frank Zappa também se utiliza de uma série de efeitos em sua guitarra, já o começo da tendência que viria a ser fortemente aplicada no instrumento a seguir, durante a década. Gostei também da viagem total de “Transylvania Boogie” e do jazz de “Twenty Small Cigars”. Não é um álbum que eu escolheria para minha discografia particular, mas o entendo como influenciador e merecedor de respeito pela abrangência e qualidade musical, bem resgatada pelo Mairon.

Ronaldo: Zappa mostrando com quantos paus se faz uma canoa. Além de ótimas composições (especialmente as instrumentais), Zappa teve grande preocupação em encaixar sua guitarra nas músicas e o fez magistralmente. Suas composições são uma incrível fusão de rock, jazz, funk, soul, R&B e doo wop, algo que apenas o Chicago conseguia fazer com tanta eficácia naquela mesma época. A diferença é que Zappa sempre adotou um tom cômico em sua obra (quer seja pelas letras, a forma de cantar ou até mesmo na sonoridade de seus arranjos). Um de seus melhores trabalhos.

Ulisses: O álbum possui tanto momentos instrumentais brilhantes quanto algumas coisas bem menos interessantes. “Transylvania Boogie”, “The Nancy & Mary Music” e a faixa-título são ótimas, ao passo que “Tell Me You Love Me”, “Rudy Wants to Buy Yez a Drink” e “Sharleena” são de um rock ‘n’ roll bem passável aos ouvidos, mas sem o brilhantismo das composições anteriores. O restante, olha, sei nem como deixaram entrar no LP. Desculpa, Mairon, mas não era suficiente para 1970.


Pink Floyd – Meddle (1971)

Mairon: Uma das grandes injustiças da série. Quatro de dez consultores votaram nele na edição abordando 1971. Por questões de pontuação, ele perdeu espaço para o sem sal Blue (Joni Mitchell). Meddle é o disco-chave na fase de experimentações do Pink Floyd, que o levou a ser o grande nome do prog, em 1973, com The Dark Side of the Moon. Em Meddle, eles não exploram barulhos e instrumentos – como fizeram tanto em Atom Heart Mother (1970) quanto no próprio Dark Side –, mas estilos musicais diferentes. Há o belo jazz swingado de “San Tropez”, no qual Waters é o responsável pela voz, a pegada folk acústica das emocionantes “A Pillow of Winds” e “Fearless”, ambas explorando o vozeirão de Gilmour, e o blues “cadelístico” de “Seamus” (entendedores entenderão). Aprecio muito o baixão de “One of These Days”, com efeitos mágicos extraídos pelo genial Roger Waters e, claro, contando com a importante contribuição do slide de David Gilmour. Não há como negar, contudo, que o grande momento de Meddle é a suíte “Echoes”. Faixa que já vinha sendo apresentada ao vivo havia algum tempo, ela ganha sua versão definitiva, com uma das melhores performances de Nick Mason na bateria. Uma das raras criações em conjunto do quarteto, resultou em uma das melhores letras da banda, contando ainda com os maravilhosos vocais de Wright e Gilmour. Gilmour estava abençoado na época da gravação, já que o que ele faz, principalmente em “Echoes”, serve até hoje de base para chocar aquele garoto que quer aprender a tocar guitarra e acha que virtuosismo e velocidade é a única coisa necessária, mas aprende que o encaixe da nota certa no tempo certo é algo que poucos, como Gilmour, conseguem fazer. Simplicidade que faz dela uma obra perfeita. Você encontra mais sobre o álbum aqui, na Discografia Comentada que escrevi. Espero que a justiça tenha sido feita para um dos melhores álbuns do rock progressivo.

Alexandre: Sozinha, “Echoes” vale o disco. Ainda que não seja exatamente uma “Shine on You Crazy Diamond” em termos de qualidade, é, sem dúvida, uma ótima canção entre aquelas de longa-metragem do rock progressivo. Meddle tem outros bons números, como a calma “A Pillow of Windows” e os riffs de Gilmour que me lembram Jimmy Page em “Fearless”. É necessário também citar a clássica “One of These Days”, ainda que eu não tenha predileção maior por ela. Particularmente, acho muito legal a brincadeira de “Seamus”. Acabei citando quase todo o álbum, fato que já justifica a escolha. Não é exatamente um The Dark Side of the Moon, The Wall (1979) ou, principalmente, Wish You Were Here (1975), mas mostra o caminho que a banda já perseguia alguns anos antes, deixando de lado a psicodelia da época de Syd Barrett e enveredando de forma mais firme pelo rock mais progressivo. Boa escolha, embora em um ano de forte concorrência.

André: A falta deste disco na edição correspondente foi de matar. Justiça seja feita ao meu álbum favorito dos britânicos. Não faço ideia das incontáveis vezes que ouvi “One of These Days”, minha faixa instrumental preferida de todos os tempos. Aquele baixo pulsante, aquele slide guitar guiado sob a mão do deus Gilmour, teclados de poucas notas mas que, sem eles, a faixa seria sem brilho, e a bateria que me dá calafrios de tão foda que é. Só essa canção já vale o disco todo, mas ainda há a brilhante “Echoes” e a lindeza “Fearless”. Ah, faça-me um favor e vá logo ouvir esta obra-prima.

Bernardo: Este é o disco limítrofe do Pink Floyd, saindo do rock psicodélico dos primeiros álbuns e indo para o progressivo de The Dark Side of The Moon, Wish You Were Here e Animals. Já tem mais a cara dos anos 1970, com longas canções (a faixa-título possui 23 minutos), tanto com momentos experimentais quanto mais acessíveis (“Fearless” e a gravação da torcida do Liverpool cantando “You’ll Never Walk Alone” reveberando em fade out; “San Tropez” e sua pegada mais jazzy; o blues em “Seamus”, com seus sons de cachorro). O progressivo começava sua caminhada rumo a um breve trono da música setentista.

Christiano: Um ótimo disco do Pink Floyd pré-The Dark Side of the Moon. Acho que esses álbuns iniciais mostram a banda explorando uma variedade maior de estilos, como é o caso de Meddle, que traz alguns flertes com o blues em faixas como “Seamus” e “San Tropez”. Por outro lado, músicas como “One of These Days” e “Echoes” antecipam os rumos futuros da banda, com algumas viagens instrumentais e experimentações. No entanto, não posso deixar de citar que este disco contém duas das mais belas músicas da banda: “Fearless” e “A Pillow of Winds”.

Davi: Não consigo curtir a fase com Syd Barrett; sempre gostei muito mais do Pink Floyd com uma pegada mais calma, viajada, e é nessa pegada que corre Meddle. A exceção talvez seja a faixa de abertura, “One of These Days”, mas esse som ainda é bacana. “A Pillow of Winds” e “Fearless” são lindíssimas. “Echoes” é, sem exageros, um grande clássico. Legal notar de onde Andrew Lloyd Webber tirou inspiração para o não menos clássico “Phantom of the Opera”… Mairon irá chorar de raiva quando ler isso, mas o trabalho de slide em “San Tropez” lembrou-me bastante de George Harrison. O disco é excelente e já dava uma dica do que aprontariam em The Dark Side of the Moon, mas poderiam ter tirado o cachorro do estúdio na hora de gravar “Seamus”, né?

Diogo: Meddle é o ponto de inflexão, o disco através do qual o Pink Floyd realmente começou a tomar a forma pela qual ficaria conhecido por milhões e milhões de pessoas. Tivesse apenas duas faixas, já seria uma grande obra. Digo isso pois “Echoes” é uma suíte grandiosa e cativante, cujos 23 minutos desenvolvem-se com sapiência, sabendo quando é hora de alçar altos voos e quando a repetição de temas é necessária para trazer o ouvinte de volta à segurança que a terra oferece. “One of These Days”, por sua vez, é uma de minhas faixas instrumentais favoritas (em geral), ilustrando muito bem o desenvolvimento do quarteto como compositores, extraindo beleza da simplicidade e explorando de maneira absurda os espaços e silêncios que fazem a música respirar. Isso chama-se dinâmica, e o artista que sabe explorá-la já tem meio caminho andado. Fica difícil para que as outras músicas mantenham o mesmo nível, não? A que chega mais próximo disso é “Fearless”, dona de um riff memorável.

Fernando: O melhor disco da lista também tem minha música preferida do Pink Floyd: “Echoes”. É claro, porém, que o álbum não é só “Echoes”, apesar da faixa tomar todo um lado dele. “One of These Days” tem uma marcação de baixo que a comanda. Mesmo sendo instrumental (com algumas partes faladas), é muito empolgante. O fim de “Fearless”, outro destaque, com a torcida entoando “You’ll Never Walk Alone”, arrepia os cabelos até das mais frias criaturas. Acho que Meddle marcou uma mudança sonora que culminou no megaclássico The Dark Side of the Moon.

Flavio: Meddle traz um Pink Floyd ainda misturando rock ‘n’ roll básico, blues, bluegrass e sons calmos (quase acústicos) com o clássico progressivo que predominaria mais adiante. Dois lados bem distintos; o primeiro com a clássica instrumental “One of These Days” e o segundo com “Echoes”, a única música do lado B do vinil, que são mais a cara que caracterizaria o Pink Floyd e os pontos fortes da bolacha, que traz David Gilmour em grande evidência. “Echoes” tem partes belíssimas, misturadas com climas super viajantes. É longuíssima, uma tônica da época. Além disso, há alguns bons e inusitados momentos (como o blues do cachorro Seamus). Vale a presença.

Ronaldo: Em Meddle, o Pink Floyd abre caminho para deixar de ser uma banda de experimentações e blues jams ácidas para trabalhar com concisão em músicas mais estruturadas, com um apelo melódico já delineado em Atom Heart Mother e levado à perfeição em The Dark Side of the Moon. Meddle é um vasto painel de paisagens sonoras, onírico e denso, com composições inspiradas e arranjos apurados, muito bem dosado entre lisergia pura e arranjos inteligentes. Um grande disco e retrato de uma trajetória até então ascendente.

Ulisses: Um dos melhores do Floyd, e não é só porque tem “Echoes” no fim. Acho o marcante ataque inicial de “One of These Days” fantástico, até melhor do que “Echoes”, apesar de ser seguido por faixas mais tranquilas: a bonitinha e acústica “A Pillow of Winds” e a sessentista “Fearless” (por muito tempo eu não soube do que se tratava o coro no fim, mas sempre gostei). “San Tropez” tem um jeito meio jazzy e é agradável, mas “Seamus” é uma gracinha descartável. De qualquer forma, Meddle mostra algo coeso que posteriormente culminaria no sucesso dos álbuns seguintes.


Genesis – Foxtrot (1972)

Mairon: A contribuição de Foxtrot para o rock progressivo é gigantesca. Dele saíram as notas arrepiantes que introduzem “Watcher of the Skies”, facilmente reconhecida pelos amantes proggers, e a intrincação de baixo, teclados e guitarra na complexa “Get ‘Em Out By Friday”. Ambas tornaram-se presentes nas turnês pós-Foxtrot, sendo registradas também no ótimo Live (1973), que capturou os sons de uma turnê emblemática. “Time Table” possui um andamento suave, levado pelo piano, com ótima interpretação de Gabriel. Mesmo sendo um pouco “obscura”, considero-a melhor que a citada “Get ‘Em Out By Friday”. “Can-Utility and the Coastliners” é tão lindinha, lembrando a fase Trespass (1970), com dedilhados de violão e vocais encaixados perfeitamente, que surpreende quando muda para um trecho instrumental pesado, mesmo só com violões, mellotron e bateria. Essencialmente, Foxtrot é O DISCO por conta de seu lado B. A vinheta instrumental “Horizons” mostra as qualidades técnicas de Steve Hackett ao violão, e é inegavelmente linda. Depois, o gozo sagrado do Genesis surge nas caixas de som. Quando falamos no rock progressivo da década de 1970 e suas grandes suítes, lembramos de “Close to the Edge” (Yes), “A Plague of Lightouse Keepers” (Van Der Graaf Generator), a citada “Echoes” e, claro, “Supper’s Ready”. Uma faixa fantástica, viajante, que por si só já coloca Foxtrot como um dos melhores discos de todos os tempos, principalmente de 1972 (leia mais sobre ela aqui). Trata-se de um álbum emblemático, já que o Genesis finalmente transformou-se em uma superbanda, com as fantasias de Peter Gabriel chamando atenção nos palcos, shows que lotavam casas pela Europa e América do Norte, e com uma musicalidade incrível. “Supper’s Ready” servia como o encerramento de uma apresentação inesquecível. Hoje, vendo no YouTube shows da época, já ficamos encantados, imagina ver aquilo ao vivo? Escrevi sobre seus 40 anos em 2012, nessa matéria aqui. Que bom que pelo menos aqui podemos fazer uma homenagem a ele.

Alexandre: Desta lista muito boa, só perde para o Supertramp. Uma escolha muito pessoal, na verdade, pois há de se ressaltar sua complexidade. O álbum começa com um autêntico clássico (“Watcher of the Skies”) e termina com outro (a impressionante “Supper’s Ready”). Antes dessa suíte de mais de 22 minutos, uma aula de violão com uma magistral utilização de harmônicos por Steve Hackett, que atende pelo nome de “Horizons”. Ensanduichadas por essas três maravilhas, outras três grandes canções, menos conhecidas, mas de igual excelência. “Time Table” talvez seja a menos grandiosa, uma espécie de balada nada óbvia do conjunto. Seguem-se dois tratados de competência técnica dos músicos, “Get’ Em Out By Friday” e “Can-Utility and the Coastliners”, minha favorita. Nela, há de se destacar tanto as linhas de Phill Collins quanto os timbres de Tony Banks, tanto no órgão quanto no mellotron.  Foxtrot só não é melhor que seu sucessor, na minha opinião, porque não tem a obra-prima que é “Firth of Fifth”. A diferença é pequena, e Selling England by the Pound está citado entre os melhores de 1973. Foxtrot deveria ter estado na edição dedicada a 1972, nem que fosse em nono lugar.

André: O Genesis sempre ficou no meu limiar pessoal de “boa banda”, mas um tanto distante de Yes e Jethro Tull. Este é o disco deles do qual mais gosto, destacando “Can-Utility and the Coastliners” e a enorme “Supper’s Ready”, com suas toneladas de variações instrumentais. Nem me venham com Peter Gabriel, o grande destaque e melhor músico do grupo é o tecladista Tony Banks, fundamental no enriquecimento do som dos caras com seus mellotrons e tantos outros sintetizadores através da carreira do Genesis.

Bernardo: Típico disco clássico de rock progressivo, misturando rock, ópera e música erudita, pingando aqui e ali novos instrumentos que abriam novas possibilidades, como o mellotron, e compondo uma música com um fôlego inovador e ainda experimental, como é o caso da atmosfera da ambiciosa “Supper’s Ready” e suas sete partes, cheias de movimentos, variações e temática ambiciosa.

Christiano: Uma pena eu não ter colocado este disco na minha lista. Obra seminal do rock progressivo, trazendo o Genesis em sua melhor fase. Falar de suas qualidades é chover no molhado, mas não custa nada lembrar que “Watcher of the Skies” é uma das principais fontes das bandas de neoprogressivo da década de 1980. Também é este o álbum que apresenta “Supper’s Ready”, uma das maiores e melhores faixas de todo o rock progressivo setentista. Enfim, um clássico incontestável.

Davi: Oba… Genesis! “She seems to ha-ve-an-in-vi-si-ble-tou-ch!!” Calma, essa foi para zoar meus colegas que ficam bravos quando digo que gosto muito da fase pop da banda. E realmente gosto! A fase inicial era bem diferente. Não tinha esse apelo mais comercial, o som era mais viajado. Álbum tipicamente progressivo. Letras fantasiosas, arranjos intrincados, diversas mudanças de andamento. Na fase pop, as linhas vocais de Phil Collins me chamavam bastante atenção. Nessa época, neste disco principalmente, por algum motivo, os teclados de Tony Banks e o baixo de Michael Rutherford são o que mais me chama atenção. Sim, Collins manda bem na bateria, Peter Gabriel é um excelente cantor, sem dúvidas, mas são os dois que roubaram a cena neste trabalho. Bem… Com exceção da suíte “Supper’s Ready”, na qual Steve Hackett domina a parada. Embora não seja meu disco favorito do Genesis, é um trabalho super bonito. Destaco as lindíssimas “Watcher of the Skies” e “Can-Utility and the Coastliners”.

Diogo: Das grandes bandas da era mágica do rock progressivo, o Genesis é aquela com a qual estou menos acostumado. Não dialoga comigo da mesma maneira que um Yes ou um King Crimson; ainda assim, é um grupo cuja qualidade está acima de qualquer suspeita. Foxtrot confirma a metamorfose que já havia se desenhado em Nursery Cryme (1971) e inclui o quinteto no panteão supracitado, isso graças a canções complexas, multidimensionais, desafiadoras e imbuídas do mais legítimo espírito inglês. É muito difícil imaginar um álbum como este sendo feito por músicos nascidos além do canal da Mancha. Em se tratando do meu próprio benefício, Foxtrot é a melhor lembrança do Mairon, pois me estimulou não apenas a reouvi-lo, mas a explorar melhor a discografia do Genesis e corrigir o erro mencionado. É surpreendente me deparar com uma música como “Can-Utility and the Coastliners”, que havia passado completamente despercebida por mim em audições anteriores. Não deve nada a um clássico como “Watcher of the Skies” e só não a comparo com “Supper’s Ready” pois se trata de uma experiência musical distinta. Destaco ainda a coesão do disco; todos os músicos brilham com a mesma intensidade, e isso é muito bom.

Fernando: Não tenho todos os discos do Genesis, mas da estreia até …And Then There Were Three… (1978), tenho todos menos… Foxtrot. Claro que eu lembrava disso, pois sempre que o vejo por aí eu sei que tenho que adquiri-lo. Agora que me caiu a ficha de que acabei pegando outros álbuns menores e deixando de lado o famoso disco da raposa, que tem a possivelmente melhor faixa da banda, a fantástica “Supper’s Ready”, além de “Watcher of the Skies”. Que absurdo!

Flavio: Outro representante do rock progressivo, Foxtrot traz a primeira fase da banda, ainda com Peter Gabriel nos vocais principais. Boas composições, em um disco considerado clássico fundamental da banda. Destaco a ótima presença dos teclados de Tony Banks, com uso predominante dos clássicos orgãos hammond e passagens marcantes e bonitas com o mellotron, além da intrincada cozinha de Phil Collins e Michael Rutherford, que brilha na bolacha toda, notadamente em “Watcher of the Skies”. No fim, há outro clássico, “Supper’s Ready”, com quase 23 minutos de pura representação do estilo, sendo o destaque do disco. Ótima escolha.

Ronaldo: Cartilha de rock progressivo em termos de sonoridade e indumentária. Trata-se de uma grande construção musical na qual uma boa canção é arquitetada em uma teia de arranjos complexos, ricos em pausas e intervenções alternadas dos instrumentos, com uma variedade rítmica que outros estilos de rock nem sequer vislumbram.

Ulisses: Não morro de amores, mas banda e disco são legais. O Genesis tinha uma pegada teatral com um lirismo tipicamente inglês, elementos que se encaixam muito bem no template do rock progressivo que eles próprios ajudaram a desenvolver. Todos os instrumentistas se destacam, embora eu ache as composições pouco cativantes, sendo meramentes boas de ouvir e acompanhar em um sentido mais técnico – “Watcher of the Skies” é a exceção.


Supertramp – Crime of the Century (1974)

Mairon: Fiquei com uma grande dúvida sobre qual álbum de 1974 colocaria aqui. Obviamente, os que acompanharam a série sabem quão “de cara” fiquei porque um certo convidado emplacou uma certa “tábua” na edição dedicada àquele ano, deixando de fora tantos clássicos. Escolheria Phenomenon, o grandioso LP do UFO que apresentou Michael Schenker ao mundo como deveria. Preferi, porém, escolher esta joiazinha da discografia supertrampiana pelo simples motivo de ser um pequeno “best of” enrustido. Antes deste terceiro álbum, o Supertramp era apenas mais uma banda inglesa tentando um lugar ao sol, com dois bons discos, mas que não eram capazes de se destacar no oceano de criações que o início dos anos 1970 pariu. Uma grande reformulação na formação do grupo levou à entrada de John Helliwell (saxofone), Bob Siebenberg (bateria) e Dougie Thomson (baixo), unindo-se a Roger Hodgson (teclados, vocais, guitarras) e Rick Davies (teclados, vocais) para fechar uma das formações mais importantes do rock mundial, que estreou com diversos clássicos. Começando pelo épico reggae de “School”, imortalizando a gaitinha da introdução, a linha de piano no solo central e um crescendo fantástico por parte dos vocais de Hodgson, Crime of the Century desfila pelas caixas de som com canções que fizeram sucesso em todo o planeta. Praticamente 80% delas são reconhecidas logo nas primeiras notas. O disco é democraticamente alternado entre os vocais de Davies e Hodgson e, claro, a competência musical dos demais membros faz com que tudo soe perfeito. Davies é o responsável pelo jazz “Bloody Well Right”, a balada “Asylum” e as grandiosas “Crime of the Century”, com seu esplendoroso final, e “Rudy”, maravilha prog que, em sete minutos, coloca no bolso muita gente grande do progressivo britânico. Já Hodgson emociona o ouvinte com a linda “Hide in Your Shell”, canção que ao vivo ganhava ainda mais força do que o espetáculo registrado em estúdio, traz brilho à delicada “If Everyone Was Listening”, com importante contribuição dos metais de Helliwell, e deixa “Dreamer” para os anais dos grandes sucessos dos anos 1970. A canção é enjoadinha, confesso, mas foi responsável por colocar o Supertramp no top 5 do Reino Unido e, ao lado das demais, entre os 50 melhores discos do rock progressivo segundo a revista Rolling Stone. Não foi à toa que sete das oito canções entraram na compilação ao vivo Paris (1980), deixando apenas – injustamente – “If Everyone Was Listening” de fora. É o principal disco da banda, um dos melhores da década de 1970 e, com certeza, top 10 fácil de 1974. Aproveitem e ouçam, quem não conhece, as outras obras-primas da banda, Even in the Quietest Moments (1977) e “…Famous Last Words…” (1982), ambas também merecedoras de terem aparecido na série.

Alexandre: O melhor disco desta lista, na minha opinião. Se formos observar o setlist da turnê de despedida de Roger Hodson, em 1983, apenas uma música deste album (“If Everyone Was Listening”) não foi tocada. Aliás, é uma ótima canção também. Assim, é até dificil fazer uma análise de Crime of the Century que não seja elogiá-lo do início ao fim e destacar minhas músicas favoritas: “Bloody Well Right”, “Hide in Your Shell” e “Crime of the Century”. A banda estava iluminada neste e em Breakfast in America, lembrado na edição abordando 1979. É difícil dizer qual o melhor dos dois e desnecessário discorrer sobre a qualidade técnica de cada um dos músicos. Fazer algo acessível e de qualidade ímpar é para poucos. O Supertramp talvez seja o maior exemplo dessa combinação. A escolha mais acertada do Mairon. Parabéns pela lembrança!!

André: Ah, aquela banda “prog” que causa polêmicas por conseguir uma abordagem mais radio friendly, utilizando a instrumentação e o estilo mais intrincado do progressivo. Adoro como Dougie Thomson aparece com seu baixo, assim como os teclados de Richard Davies. Não há faixas de destaque, porque o disco todo é muito bom. Hogdson e Davies dividem igualmente os vocais e, apesar de achar Hogdson melhor vocalista, as faixas de Davies me agradam um pouco mais. Ignore o colega Marco Gaspari e aprecie o Supertramp e este disco excelente.

Bernardo: Não é minha praia. Sinceramente, não consegui terminar, porque na metade já estava achando enfadonho.

Christiano: Se este disco fosse um single e contasse apenas com “School”, “Hide in Your Shell” e “Dreamer”, já mereceria um lugar nesta lista. Ainda tem, entretanto, a belíssima “If Everyone Was Listening”, a pouco comentada, mas igualmente brilhante, “Rudy” etc. Dizem que é o disco mais progressivo do Supertramp. Não sei se concordo, mas que se trata de um clássico, não há dúvidas.

Davi: Tinha certeza de que o Mairon atacaria com um Supertramp para nós. De minha parte, nenhum problema. Embora seja muito massacrada por alguns, sempre vi bastante qualidade no trabalho deles. Lembra-me um pouco a ladainha em torno do Marillion. “A banda é chata, blá, blá, blá, é pop, blá, blá, blá”, mas tem muitos álbuns lindíssimos. Quem não consegue considerá-los progressivos talvez o faça por estar preso aos singles. Quando conhecia somente as músicas de trabalho, tinha a mesma impressão. Este disco é bem interessante e traz uma de suas faixas mais famosas, o clássico “Dreamer”. Embora eu ache que essa música funciona melhor ao vivo do que em estúdio, o álbum nos brinda com diversas pérolas, como “If Everyone Was Listening”, “Bloody Well Right” e a lindíssima “Hide in Your Shell”, além de da ótima faixa-título. Bom disco.

Diogo: Esse crossover do prog com algo mais amigável ao público não especializado que o Supertramp aperfeiçoou me agrada bastante. Não conheço toda a discografia do grupo, mas é bem provável que Crime of the Century seja mesmo seu melhor disco. Na obra em questão, o lado mais prog me agrada mais que as canções mais acessíveis, mas isso é variável. Quando o piano martela forte, especialmente, é quando o álbum cresce aos meus ouvidos. Não à toa, a faixa-título é sua canção máxima, com aquela dramaticidade que tanto me agrada e cresce imensamente em sua segunda metade, finalizando Crime of the Century com seu clímax. De resto, o disco é dono de equilíbrio invejável. É preciso citar, inclusive, que os hits não são, em definitivo, melhores que o restante. “Hide in Your Shell” e “If Everyone Was Listening” são boas surpresas, enquanto “School”  tem uma segunda metade excelente e, ao lado de “Asylum”, só não supera a faixa-título.

Fernando: Seria o ponto alto da carreira do Supertramp se não fosse Breakfast in America, apesar de saber que ambos são considerados por muitos como os principais discos dos ingleses. “School”, “Dreamer” e a faixa-título são os destaques.

Flavio: Uma superbanda no auge de sua presença musical: posso definir este disco dessa forma. Só para ilustrar a representatividade do álbum para a banda, sete das oito músicas estão registradas no clássico ao vivo Paris, compondo quase a metade de suas faixas. E as tais canções são soberbas, desde a minha preferida da banda, “School”, que também abre o álbum ao vivo, a introdução magistral de “Bloody Well Right” e o sucesso “Dreamer”, passando pela magistral faixa-título e o aprofundamento da banda no rock progressivo. Há um desfile de qualidade em todo o disco. Não há faixas fracas; “If Everyone Was Listening”, que não aparece no ao vivo, também é ótima. Destaco também a lindíssima “Hide in Your Shell”, com sua fantástica letra. Crime of the Century só encontra rival no ótimo Breakfast in America, sendo para mim superior e o melhor da lista do Mairon, plenamente justificado como um “esquecido” de primeiríssima.

Ronaldo: Colocaram água no whisky e o que poderia ser um trabalho bem equilibrado de art rock, com ótimas melodias, se transformou em um pop bastante ralo. A opção por arranjos suavizados, uma sonoridade magérrima e os vocais jocosos fizeram a fama da banda, mas irritam o pessoal que não sintoniza nas FMs.

Ulisses: Prog pop muito bem tocado e produzido. Ganchos evidentes a todo momento, com refrãos bem colocados (“Bloody Well Right”, “Dreamer”), porém com arranjos que variam entre o agradável e o irritante. O contraste entre os dois vocalistas funciona, combinando bem com a liderança dos teclados e safoxone. Só achei que o álbum é “na média” do começo ao fim, sem fraquezas evidentes, porém igualmente com poucas faixas de grande destaque – eu citaria, no máximo, o ritmo da abertura “School” e a belíssima progressão da faixa-título.


David Bowie – Let’s Dance (1983)

Mairon: Sei que Bowie apareceu na série diversas vezes, mas Let’s Dance ter ficado de fora é um atentado ao bom senso musical. Este disco definiu o que hoje dizemos que é o “som dos anos oitenta” e influenciou (ainda influencia) gerações de músicos e ouvintes a dançar e sair cantarolando pela casa. O lado A é impecável. Desde o riff inicial da incrível “Modern Love”, Let’s Dance transmite uma sensação de leveza e alegria que impacta a mente e o corpo do vivente. Com o decorrer da faixa, não há como segurar o corpo e a alegria de ouvir uma canção tão “up”. A versão de “China Girl” é, para mim, muito melhor que a de Iggy Pop, com destaque essencial para a guitarra de Stevie Ray Vaughan – mais um grande nome a passar pelas seis cordas das bandas do Camaleão – e o baixão de Carmine Rojas, além da interpretação precisa de Bowie. A faixa-título surge na sequência – e que sequência – para colocar Bowie no primeiro lugar das paradas do Reino Unido. Uma música dançante, empolgante e corajosa, já que sua versão completa foi inserida no álbum – lembra um remix de um single de menor duração. Acho que ninguém havia feito isso na época. Não posso deixar de citar que ela tem, e muito, a mão de Nile Rodgers, o produtor e principal responsável, ao lado de Bowie, pelo sucesso que foi este álbum. “Without You” encerra o lado A e, perto das demais, é uma pequena derrapada. Analisando sem paixão, é uma bonita balada, na linha do ótimo disco antecessor, Scary Monsters (And Super Creeps), de 1980. O lado B é mais versátil, com a percussiva “Ricochet”, que novamente conta com um importante arranjo de Rodgers, “Criminal World”, uma “irmã safada” de “China Girl”, já que a linha de guitarra lembra o clássico do lado A – mas seu refrão é mais explosivo e sensual –, e “Shake It”, a mais fraquinha, com certeza descartável, mas que acalma os ânimos depois que ouvimos uma grande paulada. Antes dela, uma das melhores canções dos anos 1980, “Cat People (Putting Out Fire)”, na qual o vozeirão de Bowie estoura as caixas de som e os solos de Vaughan nos fazem pensar naquela famosa frase de Renato Russo: “É tão estranho, os bons morrem jovens”. Que baita música, que baita disco, e que baita judiaria Let’s Dance não ter estado na série. Ainda bem que posso pelo menos pagar tributo a esta grande obra.

Alexandre: Um ataque preciso no ambiente pop pelo camaleão Bowie. Super bem acompanhado, com o direcionamento musical de Nile Rodgers, do Chic, um dos maiores arranjadores do gênero. Grandes músicos a acompanhar David, como o baterista Omar Hakim, em algumas faixas. A cereja do bolo é a utilização de um guitar hero do blues, Stevie Ray Vaughan, para sublinhar as canções de grande apelo comercial. A combinação serviu para outras parcerias do pop com guitarristas de blues dali para frente e também para que eles pudessem se aventurar, incluindo suas linhas em composições menos tradicionais, mais modernas. B.B. King junto ao U2, por exemplo, ou mesmo compondo canções como “Into the Night”. Robert Cray também fez essa mescla. O início de Let’s Dance é matador, com três faixas que estouraram nas paradas e videoclipes muito veiculados pela MTV, que ditava as regras do mainstream. Dessas três primeiras, gosto bastante de “Modern Love”, pois traz algumas referências ao rock dos anos 1950. É a música que destaco do trabalho. Como não curto muito essa onda New Wave, com algumas influências do Talking Heads, o restante serve para comprovar quão certeiro Bowie foi, esbanjando competência e qualidade. “Let’s Dance” é inegavelmente um hit. “Cat People” é especial por mostrar um Ray Vaughan muito à vontade dentro de um ambiente diferente daquilo que ele mostraria ao mundo mais adiante. A escolha é muito acertada, muito coerente.

André: Um disco surpreendente. Bowie abraçou a New Wave oitentista e compôs músicas muito ganchudas que fizeram a alegria dos clubes noturnos. Estou ficando cada vez mais fã desse sujeito à medida que conheço sua discografia. Já disse e volto a repetir: Bowie é um dos raros casos que podemos considerar como “artista completo”.

Bernardo: Ainda que seja ofuscado por todos os álbuns maravilhosos que Bowie fez na década de 1970, Let’s Dance é um puta disco de respeito; duvido não dançar com a faixa-título, não ser cativado pelo balanço de “Modern Love”, não se deixar levar pelo pop fácil de “China Girl” e não segurar a respiração por um segundo antes que comece o refrão de “Cat People (Putting Out Fire)”. Não à toa, essas quatro músicas (metade do álbum) viraram referência, com videoclipes icônicos e presença em trilhas sonoras de filmes. É um álbum que todo quarentão amante de música ao menos já ouviu falar – isso se não o mantém com grande estima.

Christiano: Indicação ousada. Após escutar o disco todo, acho que foi uma escolha muito justa. Não tem como negar que Let’s Dance e seu antecessor, Scary Monsters (And Super Creeps), exerceram grande influência em boa parte das bandas que seriam denominadas como New Romantic. Como um todo, o disco é muito bom. É interessante como a voz de Bowie melhorou com o tempo, atingindo seu ápice nessa época. Outro destaque é o baixista Carmine Rojas, que criou linhas memoráveis, como fica claro em “Criminal World”.

Davi: É… Não tinha como dar errado, né? Como não funcionar um álbum que conta com artistas do calibre de David Bowie, Stevie Ray Vaughan e Nile Rodgers (sim, esse mesmo que você está pensando. O músico do Chic que fez um showzaço no Rock in Rio)? Embora Vaughan participe do álbum, ele não é predominante na guitarra. Ainda que no lado B ele se destaque um pouco mais, especialmente em “Criminal World”, a ideia de Let’s Dance era ser um álbum pop, e o que mais se destacava nas canções pop dessa época eram os teclados. Neste caso não é diferente, evidenciando ainda, é claro, a voz de Bowie. “Modern Love”, “China Girl” e “Let’s Dance” são clássicos absolutos, mas também vale prestar atenção na animada “Shake It”. Bowie demonstrou mais uma vez que era um camaleão não apenas no figurino, mas também na sonoridade. Belo disco.

Diogo: Quem acha que Let’s Dance resume-se a uma proposital e bem arquitetada incursão pop de Bowie não entendeu este disco muito bem. Sim, havia o propósito de fazer algo grandioso, tanto que o artista convocou o talento crescente de Nile Rodgers para produzi-lo e emprestar sua inconfundível guitarra base. Sim, há um flerte com a New Wave, em evidência na época, mas há muito mais que isso. A guitarra texana de Stevie Ray Vaughan é, por si só, um elemento em tese completamente diferente daquilo que se desenhava para o álbum, mas mesclou-se de tal maneira que trouxe uma identidade muito distinta às canções. Let’s Dance soa como uma continuação daquilo que havia se desenvolvido em Young Americans (1975) e Station to Station (1976), mas com uma abordagem adaptada à época, inserindo suas influências norte-americanas em um contexto diferente. Gostar ou não do álbum, isso vai de cada um. Para mim, ele varia do pouco memorável (“Shake It”) a uma de suas melhores canções, “Cat People (Putting Out Fire)”. Sim, pois a versão presente em Let’s Dance é melhor que aquela que consta da trilha sonora do filme “A Marca da Pantera” (1982). Do mesmo modo, “China Girl” também é muito melhor na versão de Bowie do que naquela registrada por Iggy Pop. Felizmente, o restante do tracklist pende muito mais para esse lado. A faixa-título é outra obra cheia de predicados, assim como “Modern World”. Na verdade, excetuando-se “Shake It”, o disco todo me agrada. Destaco ainda o trabalho do baixista Carmine Rojas, que conduz grooves poderosos e faz jus aos companheiros de cordas.

Fernando: Respeito demais David Bowie e acredito que todas as suas mudanças foram de alguma forma importantes para o desenvolvimento da música. Sou muito mais interessado, porém, em sua carreira setentista do que em sua carreira oitentista. Somente seus dois últimos discos me agradaram tanto quanto aqueles lançados nos anos 1970. Mesmo não gostando tanto, não posso deixar de citar duas faixas, a boa “China Girl” e a espetacular “Modern Love”.

Flavio: Um disco com som típico do pop predominante do inicio dos anos 1980, com boa influência de New Wave, que também reinava na época. Não há como negar que a produção é acertada e gerou pelo menos três grandes hits, principalmente a boa “Modern Love” (minha preferida) e “Let’s Dance”, que invadiram as discotecas da época, além do cover de Iggy Pop, “China Girl”, também bem executada nas rádios. Houve ainda outro breve sucesso com “Without You”. Como é inusitado entender o que Stevie Ray Vaughan faz no disco, uma presença pálida do excelente guitarrista, afastado do seu estilo blueseiro – a destacar apenas um bom solo em “Criminal World” e no fim de “Let’s Dance” (em fade out). As outras composições apenas preenchem o disco, continuando a tônica New Wave. Um álbum no ponto para o sucesso comercial daquele momento e o mais vendido do artista, fato que talvez identifique o motivo de sua presença nesta lista.

Ronaldo: Ainda a dar as cartas e ditar modismos, como bom visionário pop, David Bowie chegou na nova época como a versão brega-chic dos antigos crooners. Batidas dançantes, guitarras suingadas e teclados esquisitinhos de seu Let’s Dance foram copiados por dez entre dez artistas pop da década de 1980. Apenas por isso, já tem seus méritos devidamente valorizados, ainda que não seja lá a xícara de chá favorita de quem sabe que o glam rock foi apenas uma pequena fração do que aconteceu de relevante na década de 1970.

Ulisses: Para certas pessoas, ver Vaughan nos créditos é meio que uma surpresa, já que ele estouraria com seu blues rock apenas dois meses depois; mas Bowie sempre soube identificar bons guitarristas, e a ideia de que o texano estaria fora de lugar em um disco de dance pop cai por terra quando o ouvimos na ótima “Criminal World” e em “Cat People (Putting Out Fire)”. A primeira metade do álbum é forte e mais reconhecida, e o restante mantém o pique sem grandes surpresas, mas há de se admirar que, mesmo sem a originalidade da vez, Bowie foi bem-sucedido em voltar aos holofotes e atingir o topo das paradas mantendo o bom gosto – o álbum passa longe de ser ruim.


Venom – At War With Satan (1984)

Mairon: A edição dedicada a 1984 foi uma das que mais contiveram atrocidades. Muita coisa boa ficou de fora. Entre as coisas boas, com certeza a mais relevante é esse petardo do Venom. Decepcionou-me que os consultores elegeram diversos discos de METÁU e não colocaram a obra-prima da carreira de Abaddon, Cronos e Mantas. Só o lado A deste álbum, a esporrante suíte faixa-título, já é melhor que metade do que apareceu na lista. O que o trio criou é descomunal, absurdo e tão complexo que, até o que sei, jamais foi reproduzido ao vivo. As performances de Mantas e Cronos são endiabradas, com certeza as melhores de suas carreiras, e Abaddon não fica para trás. Um tour de force metálico com 20 minutos, narrando a história da guerra entre o Céu e o Inferno, da qual Satanás sai vencedor. Ainda há o que exaltar no lado B. Apesar de ser mais próximo dos clássicos antecessores Black Metal (1982) e Welcome to Hell (1981), as canções são mais maduras e trabalhadas. “Cry Wolf” é a mais conhecida, principalmente pelo solo de Mantas, que também é o destaque nas pancadas “Women, Leather and Hell” e “Rip Ride”, ambas quebradoras de pescoço sem piedade. “Stand Up (And Be Counted)” traz à mente o punk sujo do MC5, e o refrão de “Genocide” sempre me lembra o que bandas da NWOBHM faziam na época. Até a divertida insanidade “Aaaaaarrghh” não causa transtornos nos ouvidos, mesmo sendo uma série de gritos no formato do nome da canção sobre uma loucura generalizada entre bateria e guitarra, com inserções discretas e nada convencionais de “acordes” (?) de piano. Mais detalhes da obra podem ser encontrados aqui. Obrigado por poder trazer mais um grande álbum para esta lista.

Alexandre: Nunca curti a banda, não acho nada extraordinário o que ouvi, mas não tenho mais a aversão que já tive, talvez pela imagem bastante apelativa da época em que eles vieram ao Brasil nos anos 1980, excursionando com o Exciter. A sonoridade não ultrapassa os limites do heavy metal. No meu entendimento, o grupo investe sua temática no obscuro menos por uma busca lírica e mais por desejar sua fatia do mercado ao apelar para os clichês do gênero. O “diabo” que eles tanto apregoam, contudo, é meio “café-com-leite”, não faz nem cosquinha. Muito marketing, menos substância. A faixa-título tem até trechos interessantes, como quando baixo e guitarra dobram, outro com violões e o restante da música dentro desse citado heavy metal mais tradicional. O fim da canção, em fade-out, não faz muito sentido, depois de quase 20 minutos. O que não me agrada é o vocal, beirando o limite do gutural. Não é exatamente impossível de ouvir, mas está longe de ser um timbre que me faça tecer elogios. O instrumental, se não é uma maravilha, pelo menos não é mal feito. O restante do álbum não me chamou atenção, a não ser pela brincadeira meio sem graça da faixa final. Não gostava da banda e não me motivei a buscar algo do restante de sua discografia depois de ouvir novamente este disco. Continuo sem gostar deles e não aprovo a escolha.

André: É um caso estranho: o Venom é considerado a primeira banda black metal, são conhecidos pra caralho, mas ninguém do estilo atualmente toca como eles. O black metal caiu todo para o lado nórdico, com corpse paint e instrumental metralhadora. Mais uma banda com temática do capiroto. Só lamento que o Mairon tenha gastado dois slots da lista dele com essas bandas, quando poderia incluir tantas outras mais que eu sei que ele curte e eu também. Enfim, a lista é dele; faça como quiser. Corrigi suas ausências na minha lista, que virá no mês que vem.

Bernardo: O Venom ainda era audível por causa das influências mais tradicionais de metal e os elementos thrash e speed. É mais acessível que o anterior, e é legal ler a letra da faixa-título, que em sua ambição narrativa baseada no Apocalipse e no livro “Paraíso Perdido” lembra muito um livro ou filme de terror.

Christiano: Não faz muito sentido uma banda que surgiu do cruzamento entre o punk e o metal abrir um de seus discos com uma faixa de 20 minutos. Por mais improvável que isso possa parecer, funcionou muito bem. Os caras criaram um épico black metal em 1984. Isso não é pouca coisa. Além da faixa-título, o álbum ainda conta com as ótimas “Rip Ride”, “Cry Wolf” e “Genocide”, um de seus pontos altos. É interessante perceber a dificuldade do baterista para executar as partes de pedal duplo, fato que não é um problema, pois é justamente esse tipo de tosqueira que contribui para a aura perturbadora do disco.

Davi: Neguinho vai querer me matar, mas nunca consegui ver graça no black metal. Nem mesmo no Venom. Para quem curte a cena, sem dúvida é um álbum essencial. É um clássico do gênero, mas ainda que o instrumental traga alguns momentos interessantes – com um quê de Motorhead em alguns momentos –, não consigo gostar desse cara cantando e também não gosto do som da bateria, extremamente estridente. Sem dúvidas, entretanto, poderia ter aparecido na série devido à sua importância. E quem diria que o Mairon ouvia Venom? Achei interessante a lembrança nesse sentido, mas musicalmente não me emociona.

Diogo: Para mim, At War With Satan soa como se fosse dois álbuns em um só. O primeiro, composto por uma única faixa ousadíssima para o estilo em sua época; um passo que poderia ser maior que a perna, mas que se revelou um enorme acerto e a maior obra da carreira do grupo. Considerando que, até então, o trio soava bem mais punk que prog, o resultado é magnífico, cativante mesmo. Não há produção abafada que diminua a intensidade do trovejar que brota das mãos de Cronos, Mantas e Abaddon. O segundo é mais próximo daquilo feito nos dois discos anteriores, mas com menos qualidade. “Rip Ride”, no entanto, é digna dos melhores momentos da banda, puxando mais para o thrash metal, que ainda dava seus primeiros passos. Posso ouvir, inclusive, ecos de uma música como essa em muitas obras do estilo lançadas posteriormente. A maior graça do Venom, aliás, é o fato de, ao menos em seu auge, ter estado à frente de sua época, adiantando mudanças que só seriam consolidadas anos depois e influenciando gente que faria muito mais sucesso.

Fernando: Os dois primeiros discos do Venom foram revolucionários. Em Black Metal, há um pequeno teaser do que seria a faixa-título de At War With Satan. Tenho certeza de que quem ouviu Black Metal e esperou o lançamento do disco seguinte se decepcionou. Afinal, uma faixa de 20 minutos feita por uma banda que não é conhecida por sua capacidade técnica não poderia ser muito atrativa. O restante das faixas são legais, nada tão marcante quanto “Countess Bathory”, por exemplo, mas “Cry Wolf” talvez seja a melhor delas. Houvessem sido menos megalomaníacos, talvez tivessem sido mais bem sucedidos.

Flavio: O Venom é tido como precursor do movimento death metal. Seu terceiro disco consolida os elementos que seriam consagrados como definidores do estilo. Vocal gutural no limite da afinação, som cru, distorcido, cozinha acelerada e pitadas de convenções evolutivas, principalmente na faixa-título, uma espécie de death prog metal, com 19 e tantos minutos de tortura atonal. Procurar itens positivos consiste em uma tarefa das mais difíceis, um tanto pela produção totalmente tosca, que afunda o som da guitarra base, mas principalmente pela constante presença do destestável vocal. Válido apenas para fãs do gênero.

Ronaldo: A intenção em soar extremo até é boa, mas o resultado não foi nem de longe atingido. A gravação (parece ter sido gravado em um estúdio amador e sem masterização) joga totalmente contra a música, que até tem bons riffs e alguns bons solos de guitarra, mas tem instrumental primitivo e vocais limitados. Tudo muito vomitado.

Ulisses: A faixa-título mostra uma banda procurando ser mais intrincada e bem resolvida do que em seus primeiros lançamentos, mantendo o estilo meio “speed metal tosco infernal” assim como o feeling que a tornou influente para o que viriam a ser o thrash e o black metal. Uma batalha entre Céu e Inferno que toma todo o lado A e já vale o disco inteiro. O lado B é composto inteiramente pelas costumeiras canções curtas do trio e que, para mim, continuam oferecendo pouca coisa.


Possessed – Seven Churches (1985)

Mairon: Minha relação de amor com Seven Churches é longa. Há mais de 27 anos aprecio esta obra. É um daqueles casos em que a primeira ouvida me fez virar fã. Acho que já contei a história em algum outro momento, então atenho-me à sua musicalidade. Nele, o quarteto norte-americano pariu o death metal e fez história com um disco abissal e apavorante. Ainda tenho minhas dúvidas se não é o próprio demo falando na introdução de “Pentagram”. O baixão de Jeff Becerra está animalesco. Quebro pescoços com prazer durante “Evil Warriors”, “Satan’s Curse” (pobre alavanca) e “Fallen Angel”, todas pancadas prontas para pular pela casa e incomodar o vizinho funkeiro com alegria e satisfação. O liquidificador de notas de guitarra de “Burning in Hell” é um teste nível extrahard para aqueles que acham que tocar metal com velocidade é só fritação. Para mim, Mike Torrao e Larry LaLonde formam a dupla de guitarristas mais injustiçada do metal, e essa faixa é uma boa prova disso. Outra na qual a dupla faz estripulias enigmáticas para quem está começando a tocar guitarra é “Twisted Minds”. Além da rifferama desgraçada que os caras cospem nos ouvidos da gente, o trecho pesadíssimo da parte central, com os solos melódicos e simplesmente perfeitos, são de arrepiar. E Jesus amado, a brutalidade da faixa-título e de “Holy Hell” é capaz de demolir os muros, dependendo do nível do volume de som com que estamos ouvindo essas pérolas. Os melhores momentos estão no início e no fim do LP. No começo, “The Exorcist” tem aquela referência a “Tubular Bells” (por conta do filme “O Exorcista”, de 1973) e aquele que talvez seja o principal solo de toda a história do death metal. Falando em death metal, o batismo do estilo é feito no fim de Seven Churches, com “Death Metal” acabando com os últimos vestígios de vontade de ouvir algo mais “simplezinho” para os admiradores do metal. Depois dela, abriu-se um novo nicho, explorado por bandas como Death, Napalm Death, Obituary, Deicide e tantos outros. Se não fosse o pai de todos, porém, lá em 1985, talvez não teríamos tantas bandas como as citadas. Por incrível que pareça, algumas delas até apareceram na série. Como este clássico ficou de fora da edição abordando 1985, não entendo de jeito nenhum!

Alexandre: Coisa horrorosa. Tentarei escrever algo sério, mas eis um desafio. Sei que entre a galera da Consultoria há um bom punhado de apreciadores de death metal, mas essa coisa é podreira demais para mim. Não consigo fazer uma crítica direito porque tenho muita dificuldade para ouvir. Talvez eu devesse dar um desconto por se tratar de um disco de estreia, que deve ser um dos precursores do estilo, mas tá muito mal gravado e certamente tem bastantes erros. O baterista aprendeu com quem? Ou ele era um gênio ou um idiota. Vou pela segunda opção. Acho que qualquer um faria melhor (ou menos pior) que ele na primeira canção, que começa com a introdução do tema principal do filme “O Exorcista”. O uso de bumbos duplos em “Twisted Minds” é constrangedor. Certamente influenciou a atual e interminável “fase dos buracos” de Lars Ulrich, que já dura uma boa (ou má) década. E não para por aí, pois  basta o vocal começar a vomitar seus rosnados e tudo se põe a perder. As guitarras não são exatamente mal tocadas, mas são aqueles solos sem sentido algum. O único solo que parece ter alguma coerência é o de “Twisted Minds”. O primeiro, porque para o segundo, que encerra a música, basta ter uma alavanca com ponte flutuante que qualquer um faz. De resto, o negócio é tentar ser o mais rápido possível, que se dane qualquer tipo de harmonia. O baixista até segura a peteca, faz o básico para o estilo. Gostei do uso dos sinos em “Fallen Angel”. O resto realmente é um resto. Não, muito obrigado.

André: Quem escuta aquela intro de sintetizador no começo de “The Exorcist” até pode achar que os caras fazem um som mais técnico e melódico, mas se engana feio com o thrash/death sujo e veloz do Possessed. Tudo bem que os caras foram pioneiros no estilo, mas pensando que na época já havia um Sepultura e um Celtic Frost, que lançaram trabalhos melhores, então a coisa parece meio que genérica. Talvez seja o fato de eu achar a bateria um tanto mal produzida, que a faz mais baixa do que eu gostaria. O fato de haver Iggor Cavalera como comparação na mesma época não ajuda muito para que eu considere melhor o Possessed. Entretanto, preciso ressaltar que os guitarristas Torrao e LaLonde riffam muito bem. Não é um disco ruim, mas considero um trabalho mediano de uma banda que, para mim, sempre foi nota de rodapé dentro do thrash e do death metal, ficando degraus e degraus abaixo de tantas outras muito boas que já existiam e das que surgiriam poucos anos depois.

Bernardo: Se o Helloween foi um dos precursores do metal espadinha, o Possessed foi um dos pioneiros do metal capetinha. Passado o impacto inicial (me assusto mais com a “Tubular Bells” que tiraram do filme “O Exorcista”), a tentativa de se passar como o mais malvado dos seres humanos fica engraçada uma hora e depois só fica repetitivo mesmo.

Christiano: Considerado como um dos primeiros discos de death metal, Seven Churches é um clássico do estilo. Um dos diferenciais do Possessed é a habilidade dos músicos, que executam partes bastante rápidas com muita segurança, o que não era o caso de bandas como o Venom, por exemplo. Apesar de bastante pesado e rápido, é um trabalho que ainda apresenta muitas influências de metal tradicional, o que torna sua sonoridade mais rica, como fica bastante evidente em faixas como “Evil Warriors” e “Pentagram”.

Davi: Death metal é outra vertente do heavy que nunca me atraiu. Nos anos 1980, estava mais ligado na NWOBHM e no thrash metal, de modo geral. Mais uma vez, seria justa a entrada por ser um trabalho marcante dentro do movimento do qual faz parte, mas, musicalmente, mais uma vez, não me chama atenção. Aquela velha história, bateria veloz, vocal gutural etc. O que mais chamou minha atenção foi o trabalho de guitarra de Larry LaLonde. O solo de “Seven Churches”, por exemplo, remeteu-me ao Slayer. Algumas músicas, como “Holy Hell”, “Evil Warriors” e “Death Metal” trazem algumas passagens interessantes no meio da barulheira sem fim. Acho que é isso aí…

Diogo: Entre todos os álbuns apresentados aqui pelo Mairon, Seven Churches é o único que fez parte de minhas indicações para a série. É claro que isso o torna especial, pois inclusive poderia tê-lo citado duas ou três posições acima. Seven Churches passa pelos nossos ouvidos como um trem desgovernado, sem freio e carregadíssimo, tamanha é a intensidade de suas faixas, uma melhor que a outra, escrevendo um verdadeiro catecismo de como fazer música extrema e desafiadora, dando um passo além em relação ao que vinham fazendo Venom, Celtic Frost, Kreator, Slayer e outros. Algumas músicas, como “Evil Warriors” e “Holy Hell”, até poderiam se encaixar nos lançamentos do Slayer até então, não fossem os guturais de Jeff Becerra, que definiu um novo paradigma para os vocalistas da estirpe mais extrema do heavy metal. Suas linhas de baixo, inclusive, são competentes, mas o destaque instrumental é a dupla de guitarristas, que cospe riffs de uma maneira como ninguém até então fazia e mostra que tem uma boa dose de técnica para que isso não soe como uma maçaroca sem sentido. O elo mais fraco dessa corrente é o baterista Mike Sus, mas admito que a sonoridade extremamente abafada de seu instrumento prejudica a percepção de suas linhas. Penso como seria fantástico um músico do calibre de um Dave Lombardo ou um Gene Hoglan em seu lugar. Obrigado ao Mairon por lembrar desta maravilhosa overdose de metal extremo.

Fernando: Gosto muito deste disco do Possessed, mas não quero discorrer sobre ele, pois sei que meus amigos o farão melhor do que se eu tentasse. Aproveito o álbum anterior, junto a este, para comentar o quanto me interesso pelo desenvolvimento musical, a soma de influências que culminam em algo novo. Venom e Possessed acabaram influenciando tantas bandas e tantos estilos diferentes ao longo dos anos seguintes que, por piores que fossem estes discos – e sabemos que eles estão longe de ser ruins –, mesmo assim eles seriam importantes e mereceriam estar em qualquer lista.

Flavio: Se com o Venom a maionese ja havia desandado, aqui apodrece de vez. Como todo estilo musical, com o passar dos anos e a consolidação do gênero, percebo uma evolução, neste caso principalmente na participação da guitarra e nos compassos ímpares que permeiam a bolacha. Em compensação, a tortura do vocal gutural se intensifica tambem. No mais, é aquilo de sempre do gênero, pauleira, porradaria, barulho de montão em ritmo acelerado. Na boa, não tolero o estilo e recomendo apenas para quem é aficionado.

Ronaldo: Um liquidificador de distorções, riffs velozes, batidas furiosas e uma massa indistinta de barulhos. O vocal emula a voz de um corpo em decomposição e há algo “punk” nas músicas, que aparentam ter sido compostas e gravadas com o mínimo de esmero possível. “Podre” é um adjetivo que define este álbum.

Ulisses: Outro podrão influente do metal extremo nesta lista. Este aqui é basicamente um amontoado de riffs de thrash metal, só que com uma produção mais pesada e uma performance vocal em ótima forma de Jeff Becerra. Intenso do começo ao fim, mas também um bocado repetitivo.


Enigma – MCMXC a.D. (1990)

Mairon: O Enigma nasceu em 1990 como um projeto dos franceses Michael Cretu (produção, voz) e sua esposa Sandra (voz), com os alemães David Fairstein (letras) e Frank Peterson (samplers). Eles sacudiram o mundo da música com este incrível álbum de estreia, no qual pop, rock progressivo e cantos gregorianos misturam-se para fazer o ouvinte relaxar, viajar e apreciar uma obra impecável. A vinheta introdutória, “The Voice of Enigma”, prepara o clima para o que virá a seguir, que são longas suítes, divididas em várias partes, que servem perfeitamente para aquele clima zen ou para uma noite de prazer de muita intensidade. Com exceção da suave “Callas Went Away”, uma bela homenagem para a soprano Maria Callas, todas as demais fizeram sucesso ao redor do mundo. “Principles of Lust” é dividida em três partes: “Sadeness”, talvez a mais conhecida das criações do Enigma, “Find Love”, uma canção magnífica, na qual o ritmo dançante e a voz sussurrada de Sandra fazem levantar “o bicho” mais que uma mistura de catuaba, amendoim e gemada de ovo de codorna, e “Sadeness (Reprise)”, que, como diz, é a reprise da clássica parte inicial de “Principles of Lust”, na qual os cantos gregorianos surgem com força. Vale destacar que “Find Love” possui sampler de “Justify My Love” (Madonna) e citações a “∞”, do álbum 666 (Aphrodite’s Child, 1972).  666 também é citado na vinheta “The Voice & The Snake”, uma recriação para a peça “Seven Bowls”. O ritmo avassalador e os cantos de “Mea Culpa” também foram um sucesso estrondoso, tocando nas rádios e com videoclipe aparecendo no Fantástico e tudo mais que se tem direito. Convenhamos, essa música é muito boa mesmo. Para os fanáticos de METÁU, sim, os sinos são um sampler de “Black Sabbath”. A delicadeza de “Knocking on Forbidden Doors” é tão profunda que causa uma sensação de conforto no ouvinte, e a mistura de sintetizadores, guitarra, batidas eletrônicas e baixão sacolejante junto aos cantos gregorianos é de tirar o chapéu. Por fim, a longa “Back to the Rivers of Belief” conclui o disco de forma arrepiante. Também é dividida em três partes: “Way to Eternity”, linda canção que resgata o tema de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” (1977) junto aos cantos gregorianos; “Hallelujah”, que retoma o andamento de “Sadeness”, e “The Rivers of Belief”, com mais uma referência a 666, para as faixas “The Seven Seal” e “Break”. Escrevi mais sobre esta obra aqui. Ela chegou à primeira posição dos mais vendidos de 1991 em 41 países, tornando-se o maior sucesso comercial da gravadora Virgin até hoje. Só por isso, já pode ser considerado um dos melhores de 1990, mas ouvi-lo e apreciá-lo na íntegra mostra que, realmente, o disco merece todos os números e glórias que conseguiu.

Alexandre: O instrumental New Age até é bonito, mas eu encrenco com algumas escolhas de arranjo, a começar pela bateria eletrônica. Outra coisa que me irrita um pouco é aquele timbre de teclado meio World Music, meio flauta paraguaia. A percussão também meio chegada a uma World Music que volta e meia aparece também não contribui. Para terminar, as vozes femininas de propaganda de motel.  Sobram os pianos e alguns sons de teclado que transmitem uma bela harmonia em boa parte do que ouvi. Lembro da catarse que este álbum produziu quando de seu lançamento, com as vozes meio franciscanas, mas nunca dei muita bola, de verdade. Sei que influenciou muita gente do pop, a começar pelos discos eletrônicos que Madonna lançaria alguns anos depois. A melhor canção é “Principles of Lust”. Trata-se de uma das escolhas que menos curti desta boa lista. Perde apenas para a podridão do Possessed. Foi inegável a sensação de certo tédio do meio para a frente do trabalho.

André: Instrumental meio pop/New Age com vários cantos gregorianos. Quem diria. Até que ficou bom. Confesso que não conhecia o Enigma, embora já tenha ouvido falar que fez certo sucesso lá no início da década de 1990. Aparentemente, foi um “one record wonder”. A ideia me pareceu fundir o clássico e tradicional na forma do canto em coral, piano, som de flauta (tudo feito no sintetizador, creio eu)  e a modernidade do eletrônico com uma vocalista que sussurra bastante. Sedutor isso aí. É um disco bem curioso, uma novidade muito bem vinda em minhas audições. A música da qual mais gostei foi “Sadeness”.

Bernardo: Disco de New Age da Romênia, e de uma época roots, queda da URSS e tal, metendo-se a falar sobre religião e sexualidade, fato que o levou a fazer sucesso na MTV, conseguir um posto alto na Billboard e também fez com que fosse banido em vários países, com “Principles of Lust” e “Sadeness (Part 1)” retiradas do ar por serem blasfemas e tal coisa. Uma boa experiência, para dizer o mínimo, ainda que não seja habituado a esse tipo de música. Não lembro muita coisa depois de terminar de ouvir além de uma mistura doidíssima de sons e instrumentos, de canto gregoriano a batida de dança passando por triângulo e flauta japonesa. Polêmica aprovada, mas ainda estou digerindo a mistura. Talvez ouça de novo.

Christiano: Disco interessante. “Principles of Lust” ficou bastante conhecida por ter sido executada à exaustão na programação das rádios da década de 1990. A mistura inusitada entre música eletrônica, New Age e canto gregoriano soa interessante ainda nos dias atuais. O álbum parece girar em torno de um mesmo tema musical, que é retomado de tempos em tempos na maioria das músicas. Não o indicaria como um dos “melhores de todos os tempos”, mas reconheço que é um bom álbum.

Davi: Lembro que comprei este disco na época e não curti. Reouvindo agora, continua não me empolgando. Gosto de alguma coisa de música eletrônica, mas não tanto com essa pegada World Music. Prefiro aquela moçada na onda do Depeche Mode, do Erasure e do Information Society. Misturam a levada da house music com umas vocalizações meio de canto gregoriano. Uma espécie de mistura daquilo que ficou conhecido como eurodisco com New Age, digamos assim. Sandra Cretu gostava de cantar sussurrando, no melhor estilo Jane Birkin, soando meio sensual, meio provocante. O disco é original e é bem feito, sem dúvidas, mas não é para mim. Minha favorita realmente é o hit “Sadeness”, que se encontra na suíte “Principles of Lust”.

Diogo: Da mesma maneira que escolhi Beautiful World (Take That, 2006) na minha edição particular deste prolongamento da série com a consciência de que se tratava de um álbum passível de muitas críticas, espero que o Mairon tenha tido a mesma percepção ao citar este disco do Enigma. Digo isso pois se o próprio Pink Floyd brincando de New Age já não é grande coisa (vide The Division Bell, de 1994), imagina um grupo cuja essência encaixa-se desde o princípio nesse movimento musical. Todo o esquema com cantos gregorianos, vocais femininos sussurados e levadas eletrônicas até funciona e é digno de algumas escutadas eventuais, mas há toda uma assepssia que perpassa o tracklist que é impossível de ignorar. Enigma, Era, Enya, tudo isso soa como trilha sonora para qualquer outra coisa que não seja prestar atenção na música em si. Em se tratando desse tipo de sonoridade, prefiro pioneiros como Mike Oldfield, Vangelis e Jean Michel Jarre, apesar de, nem mesmo assim, nutrir muito amor por suas obras.

Fernando: Lembro que via este disco em uma loja e sempre tive interesse. Como a capa continha uma cruz e o nome Enigma trazia uma aura de desconhecido, achei que poderia ser legal. Nunca cheguei, no entanto, a ouvir. Para escutar no trabalho em companhia de uma planilha bem complexa e uma xícara de chá.

Flavio: Outro precursor de um estilo que nunca me cativou. A mistura de cantos gregorianos com climas eletrônicos sensuais viajantes neste clássico New Age não me prende a atenção para nada. Aliás, quase nada, já que há um sampler da clássica “Black Sabbath” no início de “Mea Culpa”, o que realmente é quase nada mesmo, são apenas os sinos e trovoadas da maravilhosa música. Aliás, ouvir a voz sensual francesa permeando a tal canção talvez seja o mais agradável dessa bagaça toda. Desculpe-me, Mairon, este é melhor apenas que os dois death metal barulhentos anteriores.

Ronaldo: O disco tem tudo para ser um engodo – a mistura de batidas eletrônicas dançantes, toques étnicos e esotéricos – mas funciona por se apoiar em um instrumental sólido (é uma raridade ouvir solos de instrumentos em qualquer coisa relacionada à EDM), ainda que, em muitos momentos, tudo soe forçado. Curiosa a mescla de flauta panorâmica e cantos gregorianos, unindo tintas ocidentais e orientais na mesma música, como na laureada “Sadeness”. O álbum até tem lambiscos de krautrock, com ruídos, declamações e vozes entrando aleatoriamente nas músicas, sob bases constantes e ritmadas. Um disco peculiar e com diversos pontos positivos.

Ulisses: Um trampo New Wave misturado com cantos gregorianos e vocal que se intercala entre o operático e o sussurro. Tem jeito de música de elevador na maior parte, mas até que tem momentos legais. A ideia é boa, apenas não tão inspirada; talvez pela artificialidade formulaica, muito na cara. Ainda assim, as duas suítes (“Principles of Lust” e “Back to the Rivers of Belief”) valem a audição.

82 comentários sobre “Melhores de Todos os Tempos – Aqueles que Faltaram: por Mairon Machado

  1. ” “Work Me Lord”. Para mim, essa é a melhor canção que Janis cantou em sua vida, acima até da clássica “Ball and Chain”, e estando ao final do LP, encerra grandiosamente um dos maiores álbuns dos anos 60. ”
    Esse comentário me representa.
    Abração!

  2. “Foxtrot é O DISCO por conta de seu lado B”. Concordo plenamente. E mais, diria que é o melhor lado B de todos os tempos. Fiquei confuso porque até agora não tinha visto esse disco na lista de ninguém, uma vez que considero-o o melhor disco que ficou fora dessas listas. Ainda bem que essa falta foi reparada pelo grande Mairon Machado.

    1. Concordo 100% com o Elardenberg, até por que “Supper’s Ready” é a melhor (e maior) música de todos os tempos!

  3. O que mais me incomoda em alguns artistas da época é a aura riponga que tinham

    Isso é como reclamar do fato do papa ser católico…

  4. Mais uma ótima lista dos esquecidos aqui da Consultoria, agora quem marca presença aqui é o patrão Mairon Machado. Dentre os 10 álbuns esquecidos resgatados por ele, gostaria de focar em apenas três, que mereciam (e muito) ter aparecido nas listas anteriores:

    MEDDLE (Pink Floyd) = Na minha opinião, a primeira obra-prima do Pink Floyd, e um prelúdio para o ápice que viria em 1973, com The Dark Side of the Moon (que foi o melhor disco do progressivo durante um bom tempo). Só por conter “Echoes” e “One of These Days” já está de bom tamanho para Meddle ser resgatado pelo chefe aqui. Só que além deste, outro álbum que merecia ter entrado na lista de 1971 é Tarkus (ELP). A lista de 1971 trouxe vários álbuns que marcaram aquele ano, como o quarto do Led Zeppelin, Fragile (Yes), Nursery Cryme (Genesis), Aqualung (Jethro Tull), dentre outros.

    CRIME OF THE CENTURY (Supertramp) = Na minha opinião, o segundo melhor disco da banda (o primeiro é o Breakfast in America, obviamente) e na opinião de muitos, o disco onde o Supertramp se encontrou musicalmente. Crime of the Century é realmente um bom disco, mas continuo achando o de 1979 melhor e bem mais diversificado do que este de 1974 e os dois sucessores de 1975 e 1977, que também mereciam aparecer entre os melhores. Acho que COTC poderia muito bem ter estado no lugar do polêmico Tábua de Esmeralda (Jorge Ben Jor).

    FOXTROT (Genesis) = Talvez a mais comentada de todas as ausências ocorridas em todas as listas dos melhores de todos os tempos ocorridas aqui na Consultoria foi do disco que foi minha porta de entrada ao som do Genesis graças á este site. Foxtrot pra mim é o álbum que sintetiza o rock progressivo de uma maneira mais decente: inovação, riqueza melódica, execução exímia de seus músicos, e principalmente, as atuações teatrais e as letras inteligentes de Peter Gabriel, o gênio do grupo. Muito disso se deve ao fato de neste disco, o quarto do Genesis, estar incluída aquela que muitos (inclusive eu) consideram como a maior canção de todos os tempos: “SUPPER’S READY” a suíte de mais de 20 minutos (presente no lado B do vinil) que foi analisada no quadro das “Maravilhas Prog” e que foi a chave para eu abrir essa porta para eu entrar no mundo mágico de Peter Gabriel e cia. Foi a partir de Foxtrot que começou um caso de amor com o “verdadeiro” Genesis (não aquele que Phil Collins transformou em “pop comercial” depois que Gabriel e Steve Hackett cairam fora da banda), passei a vasculhar a fundo essa fase inicial da banda (a Era Gabriel), mas foi com aquele disco lançado em 1973 (o melhor do progressivo e de todos os tempos hoje) que o Genesis me ganhou e eu ganhei eles. Enfim, foi uma surpresa e tanto ver Foxtrot sendo finalmente resgatado pelo chefão, e afirmo que este (e o Trilogy, do ELP) podia muito bem incrementar aquela lista de 1972, onde tivemos Thick as a Brick (Jethro Tull), o quarto do Black Sabbath, Ziggy Stardust (David Bowie), Machine Head (Deep Purple) e o campeão da lista: Close to the Edge (Yes), que recentemente voltei a destrata-lo por conta do puxa-saquismo de seus fãs.

    Valeu Mairon por fazer este primoroso resgate e vamos ver agora se alguém se lembrará de Blackout e Crazy World (Scorpions), Metal Heart e Russian Roulette (Accept), Fear of the Dark e Dance of Death (Iron Maiden), Point of Entry, Turbo, Ram it Down e Angel of Retribution (Judas Priest), Eliminator (ZZ Top), Tormato (Yes), Toto IV (Toto), Metal Health (Quiet Riot), Pyromania (Def Leppard), Tunnel of Love (Bruce Springsteen), No More Tears (Ozzy Osbourne), Sacred Heart (Dio), Bat Out of Hell (Meat Loaf) e dos quatro álbuns do Van Halen que vieram depois do primeiro e do segundo.

    1. Caraca. Um deles acho que sei qualé (deixei de propósito para ti – tem uma cantora nacional né?). O outro não faço a mínima ideia.

      1. Não escolhi esse da cantora porque ele apareceu nos melhores brasileiros. Na hora que receber a minha lista vai cair a sua ficha na hora.

  5. Boa lista, gostei das citações a Jefferson Airplane, Janis, Pink Floyd, Genesis e Supertramp.
    Esperava algo do Queen e o Depois do Fim, um pouco surpreso com tais ausências.

    1. Do Queen, poderia colocar Innuendo ou Hot Space, mas sabendo que a galera não admira muito esses álbuns, não quis dar pano pra manga e discussões, pois é uma questão de gosto. O Depois do Fim acredito que irá aparecer em outra lista por aí, portanto, preferi gastar meu cartucho com o Venom e o Enigma, para saber a opinião da galera sobre eles.

        1. Obrigado André. Aprecio toda a discografia do Enigma, mas tenho esse primeiro como uma obra acima de quase tudo o que foi lançado depois. Acho que por conta das citações ao 666 tb, que é um dos meus discos de cabeceira!!

  6. Com todo o respeito ao Possessed mas sempre achei essa banda um pouco chata. Até o Hellhammer e o Celtic Frost antigo eram bem melhores. Isso é minha opinião, não estou dizendo que eu esteja correto. Gosto é algo particular e sempre achei chato o Possessed. Para meu alívio já li pessoas comentando a mesma coisa. E vou provocar polêmica aqui. Até o Bestial Devastation do Sepultura é bem melhor que o primeiro disco clássico do Possessed. Apesar do Max Cavalera na época atender pela alcunha de “Max Possessed” inspirado claro no Possessed.

  7. O fim da canção, em fade-out, não faz muito sentido, depois de quase 20 minutos.

    Para mim isso é um recurso narrativo, afinal de contas, a batalha entre céu e inferno nunca terá fim.

    1. Com certeza é um recurso narrativo, já que agora, o pessoal que está “no inferno”, os antigos donos do céu, querem tomar o céu de novo. É exatamente isso.

  8. “Podre” é um adjetivo que define este álbum.

    O Ronaldo dá aquela xingada mas finaliza com um elogio desses… Maravilha!

    1. “Obrigado ao Mairon por lembrar desta maravilhosa overdose de metal extremo.”

      O álbum é um CLÁSSICO. Não entendo até hoje como não entrou na lista dos melhores. Quer dizer, entendo sim. Levou paulada geral aqui na Consultoria. Estamos loucos, Diogo?

  9. Para escutar no trabalho em companhia de uma planilha bem complexa e uma xícara de chá.

    Como eu disse, tudo isso soa como trilha sonora para qualquer outra coisa que não seja prestar atenção na música em si.

  10. “espero que o Mairon tenha tido a mesma percepção ao citar este disco do Enigma.”

    É isso aí Diogo. Acho que se a galera pelo menos leu meu comentário, irá ver o por que de eu ter citado o disco. Ah muitas referências de bandas clássicas nele, e cara, eu viajo pacas ouvindo MCMXC a. D.

    1. “Desculpe-me, Mairon, este é melhor apenas que os dois death metal barulhentos anteriores.”

      Ok Flavio. Sem problemas!

    2. ” Um disco peculiar e com diversos pontos positivos.”

      “as duas suítes (“Principles of Lust” e “Back to the Rivers of Belief”) valem a audição.”

      “Não o indicaria como um dos “melhores de todos os tempos”, mas reconheço que é um bom álbum.”

      “Polêmica aprovada, mas ainda estou digerindo a mistura. Talvez ouça de novo.”

      “É um disco bem curioso, uma novidade muito bem vinda em minhas audições.”

      Por essas frases, já valeu indicar o Enigma. Obrigado pessoal!

  11. “Venom e Possessed acabaram influenciando tantas bandas e tantos estilos diferentes ao longo dos anos seguintes que, por piores que fossem estes discos – e sabemos que eles estão longe de ser ruins –, mesmo assim eles seriam importantes e mereceriam estar em qualquer lista.”

    Perfeito Bueno. Muito obrigado por essa frase! É mais ou menos por aí a ideia que tive ao indicá-los (principalmente o Possessed)

  12. ” Uma batalha entre Céu e Inferno que toma todo o lado A e já vale o disco inteiro. ”

    Valeu meu caro. Perfeito!!!

    1. “um passo que poderia ser maior que a perna, mas que se revelou um enorme acerto e a maior obra da carreira do grupo. ”

      Também é um excelente e perfeito comentário.

    2. ” é justamente esse tipo de tosqueira que contribui para a aura perturbadora do disco.”

      HAUHAUHAUHAUAHA. EXCELENTE!!!

  13. “Estou ficando cada vez mais fã desse sujeito à medida que conheço sua discografia.”

    Como é legal ler isso. E como foi legal ver que ninguém desceu a lenha no Bowie.

    1. “Seria o ponto alto da carreira do Supertramp se não fosse Breakfast in America”

      Eu acho o Even in the Quietest Moments ainda melhor que o Breakfast in America

      1. Conheci o Supertramp através do EITQM, através do meu pai (“Give a Little Bit” é lindíssima), mas atualmente continuo achando Breakfast in America a melhor coisa que a banda já fez.

    1. “a melhor lembrança do Mairon, pois me estimulou não apenas a reouvi-lo, mas a explorar melhor a discografia do Genesis e corrigir o erro mencionado.”

      Eu acredito que essa continuação da série serviu E MUITO para isso tb, né Diogo?

    2. “Foxtrot deveria ter estado na edição dedicada a 1972, nem que fosse em nono lugar.”

      Valeu Alexandre. É isso aí!!

  14. “Mairon irá chorar de raiva quando ler isso, mas o trabalho de slide em “San Tropez” lembrou-me bastante de George Harrison”

    Capaz Davi. Só não entendi o por que …

    1. De você ficar com raiva? É porque você não vai muito com a cara daqueles 4 rapazes tão simpáticos e talentosos que vieram de Liverpool…

        1. Ah… Por conta da aplicação do slide, mesmo tipo de afinação que o George usava quando gravava com o slide. Mesmo tipo de aplicação. A música em si, nem tanto, mais o modo como ele explorou o slide mesmo.

  15. “Não sou muito fã dele, mas até que foi bacana ouvir este disco…”

    Foi assim que comecei a ser fã, Davi. Esse foi o primeiro que eu ouvi “as ganha”, e me apaixonei!

    1. “A faixa-título tem uma levada mais jazz, lembrando um pouco o que Zappa havia feito em Hot Rats. ”

      Eu ia citar o Hot Rats, mas daí iam ficar três discos de 1969, e achei exagerado!!

    2. Bacana, Mairon. Eu tenho aquele LP que ele fez a capa satirizando os Beatles, mas não gostei. Esse eu achei legal.

      1. É Davi, o We’re only in it for the money não é dos mais interessantes para se começar na obra do Zappa. Se você curtiu, pegue esses então:

        “One Size Fits All”
        “Zoot Allures”
        “Grand Wazoo”
        “Hot Rats”

        e com certeza

        “‘ (apostrophe)”

        Abraços

  16. “Não esperava muito deste álbum, mas até que a surpresa foi positiva.”

    Como eu disse, essa é a ideia!!

  17. “Foi uma bela indicação, de imenso bom gosto, do físico de partículas colorado.”

    AHuahuahauhauhaua

  18. Valeu pelos comentários gurizada. Gostei bastante de ler. Me surpreendeu que os discos que eu achei que iam levar mais elogios, foram os que mais apanharam (Venom e Possessed)

      1. O que vale é o respeito. Como geral pagava pau para o Death, por exemplo, e outras bandas da linha, jurava que Venom e Possessed iam se sair bem por aqui!

  19. Mais uma vez gostaria de agradecer a oportunidade de participar por aqui. A lista do Mairon é mais uma aula de troca de conhecimentos, preciso ressaltar minha predileção por trabalhos de excelente qualidade como: Crime of the Century, Foxtrot e I Got Dem Ol’ Kozmic Blues Again Mama. É uma pena, mas esta sequência da série original esta acabando, o aprendizado é sempre muito valioso.

    Saudações,

    Alexandre

  20. Achei bacana a lista do Mairon. Bem variada e bastante coisa bacana. Só não gostei muito dos três últimos colocados. Os outros foram muito bacanas ouvir. Parabéns, Mairon. Abraço

    1. Davi, seu comentário resume o meu entendimento também. Tem muitas coisas bem bacanas de ouvir nesta lista do Mairon. E também não curti os últimos três álbuns. Mas sempre também vale por nos forçar a ouvir álbuns que nunca teríamos pensado antes.

      Alexandre

      1. Sim, sem dúvidas. Se bem que o Venom e o Enigma eu já conhecia. Mas não custa reescutar . Já fazia tanto tempo. Vai que muda de ideia…

        1. O disco do Venon teve lá onde eu morava na época do lançamento. Eu ouvi algumas vezes, não curti. Esse Enigma eu conhecia pela mídia, o álbum em si na totalidade não me lembro de ter ouvido. Nem acho o disco do Venon propriamente ruim, só não me motivou a conhecer mais dos caras. O Enigma esbarra nos arranjos mais eletrônicos, que não desce pra mim. Pior na verdade foi o Possessed, esse eu quero distância mesmo. Mas a lista tem muita coisa bem legal, sempre é muito válida essa troca.

          Alexandre

          1. Lembrando que era para ter entrado o Have a Rang Up with Yardbirds, mas infelizmente, o lado B dele já havia sido lançado anteriormente. Agora, o lado A, é um Clássico!!!

  21. O que esperar de alguém que usa bombachas no verão a não ser listar o Supertramp. Aí vem o André e escreve… “Ignore o colega Marco Gaspari e aprecie o Supertramp e este disco excelente.”Ignorar por quê? Eu ajudei a sedimentar a fama dessa bandinha aqui neste espaço. E agradeço ao Bernardo por prontamente me acudir: “Não é minha praia. Sinceramente, não consegui terminar, porque na metade já estava achando enfadonho.” Roger Hodgson e cia é trilha sonora de passeio de carrossel. E tenho dito.

      1. Quando criança, me diverti muito com o Carrossel. Até hoje, lembro a música: “Embarque nesse carrossel, onde o mundo faz de conta, a terra é quase um céu” pãããããã, paranãããããããã

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