Elton John – Goodbye Yellow Brick Road [1973]

Elton John – Goodbye Yellow Brick Road [1973]
Por Fernando Bueno
No final dos anos 80 tinha uma música que tocava o dia inteiro nas rádios chamada “Sacrifice”. Cheguei a gravá-la em uma das minhas fitas cassete, mas logo percebi que isso não era necessário já que a com a veiculação freqüente eu ouvira aquela música sempre. A saturação radiofônica fez com que eu fosse enjoando e depois de um tempo comecei a detestá-la. Por tabela, só de ouvir o nome de Elton John já me fazia torcer o nariz.
Porém, em 1996 conheci um EP de uma banda que estava escutando muito na época. Change of Seasons, da banda Dream Theater. A faixa título tinha sido composta na fase do Images and Words. Entretanto, foi uma música gravada ao vivo que vinha nesse mesmo CD que eu me identifiquei mais: “Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding”. Escutava essa faixa várias e várias vezes. Como não tinha o CD, só uma fita cassete gravada, não sabia de quem era essa música. Só sabia que era um cover. Quando descobri que era do Elton John fiquei um pouco confuso. Como um cara que tem uma música tão chata como “Sacrifice” pôde fazer algo tão legal? Também pesava o fato de que o cantor já não era há muito tempo considerado um músico de rock. Além dele ter assumido sua homossexualidade, razão que afastava ainda mais os fãs mais “true”. Grupo que, de certa forma, ainda me encaixava.
Elton John e um dos ítens da sua famosa coleção de óculos
Passado um bom tempo, utilizando o Soulseek (ferramenta de troca de arquivos, lembram?), resolvi baixar o álbum do Elton John que tinha a versão original de “Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding”. Na época, se eu fosse procurar um disco e visse a capa de Goodbye Yellow Brick Road, certamente eu teria rejeitado. Afinal, um cara com uma jaqueta rosa, utilizando um sapato de salto alto – representando o sapato da Dorothy talvez – entrando na estrada de tijolos amarelos do reino de Oz poderiam não me incentivar (lembrem-se, eu era meio “true”). Hoje, até gosto da capa. Contudo, na questão musical – que é o mais importante – tive uma enorme e agradável surpresa.
O álbum abre com a própria “Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding”. Já me surpreendi por imaginar que o Dream Theater teria incrementado os arranjos. Ledo engano, eles pegaram uma obra já perfeita do seu jeito original. Como sugere o nome, são duas músicas que formam a longa faixa. Bem ao estilo das bandas de rock progressivo da época do seu lançamento. A primeira é uma peça instrumental com várias camadas de teclados e frases lindas de guitarras que vão crescendo em emoção com algumas mudanças de andamento na sua estrutura que culmina na segunda parte, uma canção de decepção amorosa e ótima letra de Bernie Taupin. A parceria de Sir Elton John com Taupin é algo que vem se mantendo até hoje. Como já conhecia a faixa, não tive dificuldades em absorver tudo. Foi na época em que estava me envolvendo mais profundamente com o rock progressivo, que tornou tudo mais fácil e prazeroso.
Elton John e Bernie Taupin
Na sequência um dos maiores clássicos do britânico, “Candle in the Wind”. Música que já entrou em diversas trilhas sonoras. Uma homenagem ao ícone Marilyn Monroe. Elton John chegou a regravar essa música com algumas alterações para homenagear a princesa Diana. “Bennie and the Jets” mostra ele também como um grande cantor. Claro que isso não é novidade, mas nessa faixa temos variações vocais que deixam isso claro. Curioso é que ela tinha saído no lado B do single de “Candle in the Wind”, mas após o sucesso da própria mereceu um single só para si com “Harmony” no lado B. Abria o lado B do disco 1 (o LP saiu como álbum duplo) a faixa título. Talvez uma das músicas mais conhecidas de Elton John. Seu refrão cheio de backings possui uma melodia que certamente todo mundo já ouviu.
Depois temos “Grey Seal” com uma ótima introdução de piano. Uma das melhores do disco! Em seguida, “Jamaica Jerk-Off”, com vários ritmos latinos. Certamente inspirado por algum jamaicano durante a estadia de Jonh e Taupin na Jamaica, local que utilizaram para compor boa parte das canções do álbum. A dupla decidiu ficar no país porque os Rolling Stones tinham gravado recentemente o “Goats Head Soap” lá.
Muitas canções seguem a linha de piano e voz, marca registrada do músico. Muito devido ao seu background como pianista de pubs. Acompanhavam ele neste LP o baixista Dee Murray (Procol Harum, Spencer Davis Group, Alice Cooper), o baterista Nigel Olsson (Spencer Davis Group, Uriah Heep) e o ótimo guitarrista Davey Johnstone. Uma dessas músicas piano-voz que mencionei é a melancólica “I’ve Seen That Movie Too” que fecha o primeiro disco.
“Sweet Painted Lady” tem como destaque novamente piano/voz, acompanhados de um mellotron lá no fundo dando um clima relaxante para a canção. A distorção da guitarra de “Dirty Little Girl”, o solo de “All the Girls Love Alice” e a atitude de “Saturday Night’s Alright for Fighting” mostram que ele também podia fazer rock and roll. Isso sem falar de “Your Sister Can’t Twist (But She Can Rock ‘n’ Roll)”. Claramente inspirada pelo músicos que ele ouvia quando criança como Elvis Presley e Bill Haley. Além dessas, Goodbye Yellow Brick Road ainda tem as mais calmas – porém ótimas – “Roy Rogers”, “Social Disease” e “Harmony”.
Elton John em sua versão “tiazona”
Não sou um especialista na discografia de Elton John. Até porque sua carreira é muito extensa. Para terem uma idéia, de 1969 até 1973 (ano de lançamento do álbum tema dessa matéria) já tinha sido nove lançamentos do artista. Sei que, a partir dos anos 80, direcionou sua carreira para a música pop (ou soft pop, como já vi alguns falarem). Esse direcionamento tem muito a ver, merecidamente, com a imagem de “tiazona” que muitos têm dele atualmente. Mesmo assim, posso indicar outros trabalhos que gosto muito como Elton John (1970) e Madman Across the Water (1971). Em 2010, ele voltou a gravar um ótimo disco em parceria de Leon Russel (The Union). Acabei ouvindo esse disco por causa do bom show que ele fez no último Rock in Rio. Acabei me interessando novamente pelos álbuns que sempre gostei e fiquei sabendo dessa parceria.

É muito importante que as pessoas busquem as canções e os álbuns que ele gravou até a metade dos anos 70, mesmo tendo a imagem atual do músico. Quem gosta de música e não de rótulos, certamente, irá se envolver pelas canções de Elton John. Goodbye Yellow Brick Road talvez seja a melhor porta de entrada…

Track list

1. Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding
2. Candle in the Wind
3. Bennie and the Jets
4. Goodbye Yellow Brick Road
5. This Song Has No Title
6. Grey Seal
7. Jamaica Jerk-Off 
8. I’ve Seen That Movie Too
9. Sweet Painted Lady
10. The Ballad of Danny Bailey (1909–34) 
11. Dirty Little Girl
12. All the Girls Love Alice
13. Your Sister Can’t Twist (But She Can Rock ‘n’ Roll)
14. Saturday Night’s Alright for Fighting
15. Roy Rogers
16. Social Disease
17. Harmony

20 comentários sobre “Elton John – Goodbye Yellow Brick Road [1973]

  1. Esse sem sombra de dúvida é uma das duas obras primas de Elton John, junto com o Captain Fantastic & Brown Dirt Cowboy
    e como vc bem disse, a imagem da Tiozona realmente afasta alguns ouvintes, lembro da primeira vez q ouvi Tiny Dancer de uma coletânea que uma amiga fez pra mim, lá estava ela, nem sequer sabia quem era que estava cantando, mas ela me tocou no fundo da alma, certamente uma das músicas que mais escutei na vida, um brinde ao bom gosto, ao feeling e á excelência instrumental…
    depois disso, corri atrás dessa amiga pra conhecer melhor a obra de Sir Elton John, mas honestamente muita coisa depois dos anos 80 não me agradou, questão de gosto…
    grande abraço, belíssima resenha!!!
    Carlos

  2. Carlos…obrigado pelo pelo elogio. Claro que falo isso sem querer autopromoção…de forma alguma. Mas fale a verdade, a expressão "tiazona" não é perfeita para o Elton Jonh…rs. Quando comecei a escrever estava procurando algo para definir essa fase dele a partir do anos 80 e fiquei super feliz quando pensei nisso….rs
    Abraços

  3. São resenhas assim que fazem a alegria deste blog. Quer dizer, no meio da mesmice pretensiosa de se escrever sobre bandas obscuras, de grupos farofeiros de gosto duvidoso e de clássicos já completamente dissecados, aparece de vez em quando um cara genial como o Elton John. Mesmo a fase "tiazona" dele é honesta e apropriada ao seu público terceira idade. Mas nos anos 70 ele reinava absoluto. Elton John e Bernie Taupin não devem nada a Lennon e McCartney, aos irmãos Gibb, Page e Plant, aos Pink Floyd e Sabbaths da vida. E torcer o nariz para essa sua fase é puro preconceito e ignorância. Parabéns, Fernando. Seu critério musical está cada dia mais bueno.

  4. Ahhhh…putz…
    Esqueci de colocar no texto. Agora que, relendo, lembrei disso. O disco atingiu a primeira colocação na Inglaterra e perdeu a posição algum tempo depois para um disco bastante controverso, o Tales of Topographic Ocean do Yes…

  5. Quando eu conheci o A Change of Seasons eu achei muito estranho o Dream Theater gravando Elton John. Depois que fui ter mais noção do passado roqueiro da tiazona, coisa que eu até já tinha ouvido falar, mas nunca tinha corrido atrás. Mostra como nosso preconceito nos afasta de músicos excelentes, e muitos outros poderiam ser incluídos dentre os que têm um passado glorioso, mas dos 80 em diante tiveram um carreira desastrosa, como por exemplo Joe Cocker e Rod Stewart. E a parte do filme Quase Famosos onde toca "Tiny Dancer" é emocionante, em muito por causa desta belíssima música! Agora até me deu vontade de assistir ao filme de novo!

    Excelente texto, Bueno!

  6. Endosso as palavras do Marco. É muito bom ver Elton John sendo abordado por aqui, fugindo do que seria mais habitualmente esperado. Quanto à dupla John/Taupin, concordo ainda mais, e destaco a grande sorte que Elton teve em encontrar um letrista de tão grande talento, que serviu como o catalisador de tantas excelentes composições.

  7. Ótimo texto. Gosto muito da fase setentista do Elton! Gravou vários ábuns brilhantes e sempre acompanhado de bos músicos, como por exemplo, Ray Cooper, Caleb Quaye, Rick Wakeman, Jean Luc Ponty, entre outros…

  8. Pô José Leonardo….Jean Luc Ponty…que lembrança!!!!
    Quem sabe não me arrisco um dia em falar dele…
    Apesar de achar que alguns do colaboradores poderiam fazer um trabalho muito melhor do que eu …

    Valeu

  9. Também tinha "Sacrifice" gravada em k7, assim como "The One" e "Understanding Women". O The One, apesar de meloso, é um bom disco. Elton John é sensacional até o 21 at 33, sendo os meus favoritos Madman Across the Water e o incrível ao vivo 17-11-70, um dos melhores no estilo em todos os tempos. Parabéns Bueno

  10. Este é um otimo album cheio de grandes hits da carreira do Elton John….
    Me lembro ate hoje a primeira vez que escutei Elton John , vestido de pato Donald tocando piando em um show , que meu irmão mais velho colocou no VHS e bem alto quando meus pais saíram de casa quando eu tinha uns 7 anos de idade . sempre gostei das musicas mais Rock in roll dele , não posso negar que gostos de algumas das mais pops assim como tiny dancer , que acho sensacional esta musica . enfim
    Ótima matéria como sempre .

  11. 17.11.70 é MUITO bom!! Apenas baixo, bateria e piano, sem guitarras, numa gravação ao vivo para um programa de rádio em New York! Altamente recomendável! Já eu me lembro de Elton apresentando sua "Crocodile Rock" no The Muppet Show!!!

  12. Esse é realmente um grande disco, uma obra-prima. E quem conhece sabe que não é exagero da minha parte. Resenha muito boa que, embora eu já tenha ouvido esse disco umas trocentas vezes, meu deu vontade de ouvi-lo de novo.

    Eu gosto muito dos trabalhos do Elton John até mesmo nos anos oitenta. Ele deu mesmo uma bandiada para o pop mesmo, com muita competência, mas ele não abandonou o Rock n Roll, não, como muitos podem pensar. Entre algumas músicas no estilo "Sacrifice" sempre tem aquelas bem Rock n Roll e que empolgam bastante. A questão é que as músicas que explodiram nas rádios e tal foram as baladinhas, mas se você pegar os álbuns dessa época para ouvir, você vai ver que tem muito Rock n Roll ali presente.

  13. SUGESTÃO: Eu acho que o Elton John devia voltar para a Consultoria, inaugurando a volta daquele quadro “Discos que Parece que só Eu Gosto” com Captain Fantastic & the Brown Dirt Cowboy (1975). No mais, esta resenha de sua obra máxima que é Goodbye Yellow Brick Road foi muito bem feita e muito bem articulada. Tá certo, Fernandão?

    1. Esse disco aí muita gente gosta e talvez a sessão de Discos que só eu gosto não seria ideal. Mas vc está certo: Elton John podia e merece voltar à Consultoria. Obrigado pelo elogio!

      1. Peraumpouco… enenas de milhões gostam do Elton John… que história é essa de “parece que só eu gosto”?.

        1. Em primeiro lugar, meu caro Marco, eu não falei do artista (Elton John é mito) e sim do disco dele citado, por que eu ouvi o Captain Fantastic na íntegra e não achei lá o bicho. As músicas são boas sim, mas considero este disco inferior ao GYBR por não ter muitos hits conhecidos, com exceção de “Someone Saved my Life Tonight” que foi o único hit-single do Captain Fantastic. Só isso.

          1. Ah, entendi… se você não achou o bicho então deve ter algum louco que escreva sobre ele no “parece que só eu gosto”.

  14. Pois é Marco, fiquemos então no aguardo da volta deste e de outros quadros famosos aqui da Consultoria.

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