Discografias Comentadas: Ozzy Osbourne – Parte I

Discografias Comentadas: Ozzy Osbourne – Parte I
Bob Daisley, Randy Rhoads, Ozzy e Lee Kerslake em 1980

Por Bruno Marise 

O ano é 1979. Após oito anos como frontman do Black Sabbath, Ozzy Osbourne é demitido do grupo devido a seus problemas com álcool e drogas, o que prejudicava cada vez mais sua performance no palco, e suas participação nas composições era quase nula. Essa fase turbulenta era claramente perceptível no último disco do grupo, “Never Say Die” (1978), talvez o mais fraco de sua discografia.

O Sabbath seguiu em frente com o baixinho de voz poderosa Ronnie James Dio nos vocais, e no ano seguinte lançou o aclamado “Heaven and Hell” (1980). Na época, Ozzy já conhecia Sharon Arden, que futuramente se tornaria sua esposa. O relacionamento dos dois foi essencial para a reconstrução da carreira de Ozzy, que resolveu continuar na música.

O madman então formou o grupo Blizzard Of Ozz (que mais tarde seria o nome do álbum de estréia), com o ex-Quiet Riot e talentosíssimo Randy Rhoads na guitarra, Bob Daisley (ex-Rainbow) no baixo e Lee Kerslake (ex-Uriah Heep) na bateria, além da participação de Don Airey (ex-Rainbow, Gary Moore e Colosseum) nos teclados. Uma das mais bem sucedidas carreiras do Heavy Metal e da música estava apenas começando.


Blizzard Of Ozz [1980] 

Com um aliado poderoso nas composições, o disco de estréia da carreira solo de Ozzy foi um grande sucesso, principalmente pelos hits “Crazy Train” e “Mr. Crowley“, dois clássicos do heavy metal, que mostram toda técnica e talento de Rhoads, e sua principal marca de unir peso e melodia além da grande influência de música erudita.

A primeira tem um dos riffs mais memoráveis da música pesada, e um solo inspiradíssimo de Rhoads. A outra com a sua introdução única no teclado, seguida pela voz metálica de Ozzy clamando “Mr. Crowley!” é uma homenagem ao místico e ocultista Aleister Crowley, de quem Ozzy era bastante fã. A canção conta com mais um trabalho brilhante de guitarras, e um solo primoroso, recheado de tapping.

Ainda temos a bela balada “Goodbye to Romance” e a polêmica “Suicide Solution” que anos depois renderia problemas para Ozzy, quando a letra da música foi acusada de conter mensagens subliminares que incentivavam o suícidio, o que teria resultado na morte de um jovem de 19 anos, que ouvia a música antes de morrer. Ozzy desmentiu a história dizendo que a letra era apenas uma homenagem ao ex-vocalista do AC/DC, Bon Scott, que morrera devido ao abuso do álcool.

O álbum ainda conta com as fracas e esquecíveis “No Bone Movies” e “Revelation (Mother Earth)” e a pesada “Steal Away (The Night)” e seu excelente riff. Blizzard of Ozz foi um dos álbuns mais vendidos de 1980 e é um dos melhores trabalhos de toda a carreira do madman.


Diary  Of A Madman [1981] 

Animados com o sucesso do primeiro disco, Ozzy e sua banda entram rapidamente em estúdio para a gravação de um novo trabalho. Mas por ter sido feito em meio a turnê de Blizzard Of Ozz (1980), o disco acabou saindo às pressas.

Apesar de o primeiro álbum ser mais citado, considero Diary Of A Madman superior no conjunto final. Mesmo sendo feito às pressas, as composições estão mais maduras e mais bem trabalhadas, e a produção também é bem melhor, principalmente o som de bateria. Talvez por não conter nenhum hit, esse disco seja menos celebrado do que “Blizzard“.

A bolacha abre com as patadas de Kerslake seguidas pelo riff cavalgado de Rhoads, na maravilhosa “Over The Mountain“, talvez a mais famosa do álbum, com uma ótima performance de Ozzy. Na sequência vêm   “Flying High Again” e o hino “You Can’t Kill Rock n Roll“, com atuações brilhantes de Rhoads, mais uma vez. “Believer” tem uma levada mais sombria e cadenciada, e é lembrada nos shows até hoje. Podemos destacar ainda a power ballad ” Tonight” , acompanhada pelo piano e com mais um belo solo de guitarra. “Diary Of A Madman” mostra uma banda entrosada, com o primoroso Randy Rhoads no auge e uma obra extremamente coesa e cativante.

Logo após seu lançamento, Bob Daisley e Lee Kerslake foram demitidos devido a desentendimentos sobre direitos autorais e porcentagens financeiras, e foram substituídos por Rudy Sarzo e Tommy Aldridge (ex-Black Oak Arkansas). O disco vendeu bastante e rendeu uma turnê européia e americana, que infelizmente resultaria em um episódio trágico que abalaria a vida de Ozzy pra sempre.

Randy Rhoads, Ozzy, Rudy Sarzo e Tommy Aldridge

Bark At The Moon [1983]

Durante uma pausa na turnê americana de Diary Of A Madman (1981), o motorista do ônibus que também era piloto de avião, convidou Randy Rhoads e a maquiadora da banda para dar uma volta. O piloto começou a fazer manobras perigosas com a aeronave, passando por cima do ônibus onde Ozzy e os outros descansavam.

Em uma dessas, o avião bateu no teto do veículo e perdeu o controle, causando uma explosão que mataria todos os passageiros, e encerraria a carreira de um dos músicos mais promissores e talentosos de sua geração. Randy Rhoads perdia a vida aos 25 anos, no dia 19 de março de 1982. Ozzy ficou muito abalado com a perda do amigo chegando a entrar em depressão, e resolveu dar um tempo antes de gravar o próximo trabalho.

Nesse período, foi lançado o disco ao vivo Speak Of The Devil (1982), contendo versões de clássicos do Black Sabbath, com Brad Gillis (Night Ranger) provisoriamente nas guitarras. No ano seguinte, Ozzy deixou a Jet Records e assinou com a Epic. Para substituir Randy Rhoads, foi contratado o jovem Jake E. Lee, que já havia integrado os primórdios da banda de Ronnie James Dio (recém saído do Sabbath), e Bob Daisley voltou para assumir o baixo. Bark At The Moon foi lançado em dezembro de 1983, bem mais comercial que os dois discos anteriores, e capitaneado pelo single da clássica faixa-título (vale a pena ver o clipe, tosco e engraçadíssimo), onde Lee mostra todo o seu talento, tão técnico quanto Rhoads, mas com menos influência erudita e uma pegada mais hard rock.

O disco tem uma sonoridade bastante acessível, recheado de teclados e com duas baladas melosas, “You’re no Different” e “So Tired“, com acompanhamento de piano e cordas. “Bark At The Moon” está longe de ser um disco brilhante, mas fez bastante sucesso, se encaixando na onda dos grupos de Hair Metal que despontavam na época. Tem alguns ótimos momentos como a já citada faixa-título, “Rock n Roll Rebel” e seu refrão grudento, e a pesada “Forever“. O álbum serviu como uma resposta de Ozzy depois de uma fase difícil com a morte de Rhoads, e mostra que Jake E. Lee viria pra ficar por um bom tempo, substituindo o antigo guitarrista com muita personalidade.

Ozzy com seu novo guitarrista, Jake E. Lee

The Ultimate Sin [1986]

De guitarrista novo, a Ozzy Band excursionou por três anos em uma turnê gigantesca ao lado do Mötley Crüe, inclusive passando pelo Brasil na primeira edição do Rock in Rio em 1985. No ano seguinte, Ozzy entra em estúdio mais uma vez, com mais mudanças na formação: saem Tommy Aldridge e Bob Daisley e entram Phil Soussan e Randy Castillo (ex-Lita Ford), além da participação de John Sinclair nos teclados.

Em fevereiro é lançado  o quarto disco da carreira solo de Ozzy, “The Ultimate Sin”, ainda mais calcado na sonoridade Hair Metal que dominava a metade dos anos 80. O trabalho foi massacrado pela crítica da época, e o próprio madman diz não gostar do trabalho. Pessoalmente não entendo porque tanta birra com o álbum. Apesar de ter uma sonoridade mais amaciada, não deixa de ser pesado, e Jake Lee entrega mais uma ótima performance, com riffs contagiantes como em “Never Know Why” e na excelente “Secret Loser” e solos ainda mais inspirados que em “Bark At The Moon” (1983).

A primeira metade do LP é extremamente cativante, com boas composições e refrões pegajosos, mas perde um pouco o fôlego a partir de “Lighnting Strikes“. O single “Shot In The Dark“, composição de Ozzy em parceria com o novo baixista Phil Soussan foi um sucesso, atigindo o número 6 da Billboard, apesar da rejeição do disco. Mesmo com tantas críticas negativas, considero “The Ultimate Sin” mais consistente e bem acabado do que o trabalho anterior, e deve ser ouvido sem preconceitos, como um bom e divertido disco de rock pesado.

Jake E. Lee, Ozzy, Phil Soussan e Randy Castillo: adotando o visual exagerado da época

No Rest For The Wicked [1988]

As constantes brigas entre Ozzy e Lee, resultantes do abuso de álcool do chefe, acabaram causando a demissão do guitarrista, em 1987. Na busca por um novo dono das seis cordas, Ozzy acaba recebendo a fita de um tal de Zakk Wylde, que com apenas 20 anos acaba sendo o mais novo guitarrista da Ozzband. Bob Daisley retorna pela segunda vez com a saída de Phil Soussan.

O estilo mais agressivo de Zakk influencia claramente em “No Rest For The Wicked“, lançado um ano depois. Mais pesado, soturno e deixando de lado as influências do Glam Metal, o disco agradou público e crítica, apesar de não vender tanto quanto os anteriores. Esse é sem dúvida o trabalho mais subestimado da carreira solo de Ozzy. Talvez como em Diary Of A Madman, a falta de hits influencie na hora de lembarem do disco. Wylde já mostra a que veio com riffs pesadíssimos em “Miracle Man“, “Crazy Babies“e “Breakin’ All The Rules“.

A primeira é uma crítica ao pastor evangélico Jimmy Swaggart, que pregava contra Ozzy em seu programa, e tempo depois foi pego em um escândalo de prostituição. Os solos são outro ponto alto, mostrando uma técnica e feeling impecáveis, dignas do falecido ídolo de Zakk, Randy Rhoads. As composições estão entre as melhores da carreira do Madman, e sua performace em estúdio também é de se destacar. Em suma, No Rest For The Wicked é um álbum pesado, sombrio e de puro heavy metal, como há algum tempo não víamos na discografia de Ozzy, e é particularmente o meu favorito ao lado de “Diary of a Madman”, e considero o melhor registro da carreira de Wylde.

Uma estréia inspiradíssima do guitarrista, e que renderia vários anos de uma bela parceria com o Prince of The Darkness. Geezer Butler, ex-parceiro de Black Sabbath, participou das turnês seguintes como baixista da Ozzy band, e dois anos depois seria lançado o EP ao vivo com o registro de algumas dessas apresentações, Just Say Ozz (1990).

Geezer Butler, Randy Castillo, Ozzy e Zakk Wylde em 1988
Chegamos ao fim da primeira parte dessa discografia comentada, e encerramos a trajetória de Ozzy nos anos 80. Aguardem a parte II na próxima semana!

9 comentários sobre “Discografias Comentadas: Ozzy Osbourne – Parte I

  1. gostei muito da sua resenha da discografia do ozzy..

    atualmente estou ouvindo novamente a discografia do gente fina…

    acabei de ouvir o JUST SAY OZZY e até agora os discos são muito bons, tirando NO REST FOR THE WICKED..

    este eu achei bem mais ou menos…

    até o OZZMOSIS os discos são bons ou muito bons, depois disso eu não me lembro bem, já q faz um bom tempo q eu não escuto, mas vamos ver..

    estou ansioso pela 2º parte..

  2. ERRATA*

    na última foto, a da formação de 1988, não é o baixista Bob Daisley que aparece na foto, e sim Geezer Butler do Black Sabbath, em uma de suas raras aparições sem bigode, Bob Daisley escreveu as letras e linhas de baixo, mas não participou da promoção do álbum, incluso fotos de publicidade.

  3. Bem lembrado, amigo… O pessoal costuma vincular muito – não à toa – o Tony Iommi com seu bigode, mas é mais fácil encontrar registros do guitarrista sem seus pelos faciais do que Geezer Butler. Essa sessão de fotos da época do "No Rest For the Wicked" é algo único!

  4. O Ultimate Sin é magnífico, um dos melhores discos da carreira do Ozzy e injustiçado pra cacete. A Fool like You é fantástica. E vou provocar uma polêmica aqui rapaziada!! Na minha opinião o Jake E Lee é bem melhor do que o Randy Rhoads. Seus solos são infinitamente superiores. Uma coisa interessante é que durante as sessões para escolha do novo guitarrista que iria substituir o Randy, é que o George Lynch do Dokken quase foi o escolhido. Lynch é ainda melhor do que Lee. Mas foi bom que Lee tenha sido o escolhido, não consigo imaginar o Dokken sem o George Lynch, um dos melhores guitarristas da história do hard rock. E Jake E Lee conseguiu substituir Randy com classe e muita, mas muita competência e carisma.

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