I Wanna Go Back: From the Inside [2004]

I Wanna Go Back: From the Inside [2004]



Por Diogo Bizotto

A partir dos comentários surgidos na primeira edição da coluna “I Wanna Go Back”, resolvi trazer  à tona nesta semana um dos diversos projetos idelizados por Serafino Perugino, presidente da gravadora italiana Frontiers Records, que conta com o mais invejável cast em se tratando de artistas que praticam o AOR/melodic rock. Perugino, mais que apenas interessado em lucrar através do trabalho de seus contratados, é um grande apreciador da música feita pelos mesmos. A partir disso, apadrinhou e estimulou diversos projetos formados por músicos do cast da Frontiers Records, escolhendo para cada um destes um grande vocalista. Foi assim com o Place Vendome, que conta com a incomparável voz de Michael Kiske (ex-Helloween, atual Unisonic), o W.E.T., com Jeff Scott Soto, e o recente First Signal, com Harry Hess (Harem Scarem). No caso de From the Inside, o posto de vocalista foi ocupado por Danny Vaughn, que obtivera moderado reconhecimento no final dos anos 80 com a banda Waysted (do baixista do UFO, Pete Way) e principalmente com o Tyketto, no início dos anos 90, onde lançou dois discos obrigatórios para  os fãs do lado mais melódico do hard rock: Don’t Come Easy (1991) e Strenght in Numbers (1994). 

Apesar dos trabalhos para a gravação do disco terem sido realizados à distância, com Danny Vaughn jamais tendo contato direto com os músicos que registraram o disco, a saber, Fabrizio Grossi (baixo, também produtor do álbum), JM Scattolin (guitarra) e Joachin Cannaiuolo (bateria); é impressionante a coesão que transborda das canções que o compõem. Essa característica é ainda mais ressaltada quando sabemos como se deu o processo de composição e escolha das músicas que entrariam no track list. Produto de escolhas que a princípio assemelhariam-se a uma colcha de retalhos, From the Inside é o resultado de composições de Danny Vaughn, sozinho e com Fabrizio Grossi (à distância!), além de covers de artistas tão díspares quanto a cantora country pop norte-americana LeeAnn Rimes, o desconhecido (no Brasil) cantor sueco Martin Stenberck e a cantora canadense Amanda Marshall.

É impossível não associar a música que brota das caixas de som com o que de melhor Danny fez  ao lado do Tyketto nos anos 90. Mesmo os covers foram devidamente trabalhados de tal maneira que jamais destoam do resto do material presente no álbum. A abertura se dá com “Nothing at All”, última faixa finalizada, e, segundo o cantor, tendo seus vocais realizados de primeira, em apenas um take. Uma ótima letra ilustra essa canção, que revelou-se a escolha acertada para a produção de um videoclipe, apresentando um projeto investindo forte no lado mais melódico do hard rock. “Suddenly” é um cover da cantora country pop LeeAnn Rimes, e se o ouvinte não soubesse dessa informação de antemão, jamais poderia adivinhar. Muito mais baseada em guitarra do que a original, a faixa consegue se sobressair em um disco nivelado totalmente por cima. Co-escrita pelo mago Desmond Child, responsável pela composição de diversos sucessos ao lado de grupos como Bon Jovi, Kiss e Aerosmith, além de muitos outros artistas, “Suddenly” se transforma aqui em um energético hard rock de andamento acelerado, conduzido por um Scattolin em excelente performance e pontuado pela belíssima voz de Vaughn.

Danny Vaughn

O disco segue com “Fight For Love”, totalmente conduzida pelo vocalista. O andamento mais reto presente nas estrofes cede espaço a um refrão simples e eficiente, revelando o primeiro uso mais forte de backing vocals até então. “Losing Game” é uma canção do cantor e compositor sueco Martin Strenbeck, que inclusive já foi representante de seu país no famoso concurso “Eurovision Song Contest”, grande vitrine de talentos no continente europeu. A música revela-se um dos pontos mais emocionantes do disco, algo que não posso expressar suficientemente bem em palavras. Fosse o disco lançado quinze anos antes, tenho certeza que essa canção pesada e melódica na medida certa, contando com uma carga de dramaticidade fantástica, teria ocupado as primeiras posições das paradas em diversos países.

Se a dramaticidade é uma das principais características da anterior, “Damn” mantém a emoção em alta, em especial devido ao excelente refrão, dotado de uma interpretação primorosa de Danny Vaughn, que parece realmente estar sentindo tudo aquilo que a letra da canção explicita. “Stop” é outra de Martin Strenbeck devidamente tykettizada. Fica até parecendo exagero, mas novamente preciso citar o empolgante refrão dessa música como ponto alto da canção, mas também a performance do guitarrista, com um curto e belo solo, além da execução de diversos licks no decorrer da música, denotando capricho e preocupação com o resultado final. “Relentless” revela-se aos poucos para o ouvinte, contando com andamentos distintos e bem trabalhados, destacando as linhas de bateria de Joachin Cannaiuolo, que sabe soar reto quando a canção pede e executa andamentos distintos em outros momentos.

“Blessing in Disguise” traz à tona o lado mais positivo das letras de Danny Vaughn, cujos vocais conduzem a canção, que recebe uma “cama” instrumental propícia para que Danny passeie livremente com sua voz. Tivesse essa música sido oferecida a alguma cantora pop famosa, tenho certeza que galgaria elevadas posições na Billboard. Alô, Taylor Swift, essa é pra ti! Segundo o vocalista, “Is Anybody Watching Me?” havia sido escrita para o Tyketto anos antes, mas nunca havia sido lançada pois outras baladas acabavam tomando seu lugar. Sei da rejeição que muitos têm a respeito da inclusão exagerada desse tipo de música nos discos das bandas de hard rock, mas se todas mantivessem a qualidade apresentada nesse caso, não enxergaria problema algum.

“Always” possui a mais forte aura oitentista de todo o disco, já explícita na introdução da faixa, onde a guitarra apresenta um timbre digno das bandas da época. Se é para estabelecer comparações, diria que ela assemelha-se ao lado mais AOR desenvolvido pela banda suíça Gotthard, do mais que saudoso vocalista Steve Lee (lágrimas embargadas aqui), em discos como Open (1999) e Homerun (2001). “Beautiful Goodbye” é a surpresa final, apresentando uma balada quase épica, cover da cantora canadenese Amanda Marshall. Já falei em dramaticidade? Pois é, aqui temos mais um exemplo da fantástica interpretação de Danny Vaughn, que se apoderou da canção e transformou uma música que já era originalmente boa em algo digno de exaltação. Só ouvindo!

Os leitores mais atentos talvez percebam que em momento algum utilizei a palavra “destaque” para dar ênfase a faixas que se sobressaem em relação a outras no disco. Querem saber por quê? O disco inteiro é recehado de canções que, se lançadas em outros álbuns do gênero, seriam pontos altos! Destacar uma ou outra seria um crime contra as não citadas. Muitos podem pensar ser um exagero, mas coloco From the Inside na lista de meus álbuns favoritos lançados na última década. Escutem e comprovem.

Track list:

1. Nothing at All
2. Suddenly
3. Fight For Love
4. Losing Game
5. Damn
6. Stop
7. Relentless
8. Blessing in Disguise
9. Is Anybody Watching Me?
10. Always
11. Beautiful Goodbye

3 comentários sobre “I Wanna Go Back: From the Inside [2004]

  1. MAravilhoso , e a Frontiers Records é a gravadora que faz feliz caras como eu … Recebo mensalmente todos os lançamentos dela e é dificil sair banda ruim , eles são muito seletivos e sempre mandam bem . Quanto ao album citado , nem tem muito o que falar , pra quem curte o estilo , o VAughn é top na categoria.

  2. Pode ser jogo ganho e o disco absurdamente bom, mas quantas pessoas sabem disso? Quantos nunca ouviram o álbum, por não ter acesso, por preconceito com o gênero???

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