I Wanna Go Back: Hartmann – Out in the Cold [2005]

I Wanna Go Back: Hartmann – Out in the Cold [2005]
 
Por Diogo Bizotto
É bastante provável que o leitor conheça ou ao menos tenha ouvido falar no Avantasia, ópera heavy metal capitaneada por Tobias Sammet, vocalista da banda alemã Edguy. Contando com uma grande diversidade de membros fixos e participações especiais, aquilo que começou como um projeto ambicioso, mas restrito ao estúdio, foi tão bem recebido pelo público a ponto de se expandir de tal maneira que, apesar da dificuldade em conciliar a agenda de tantos integrantes, foi colocado na estrada, realizando turnês bem sucedidas, inclusive no Brasil, onde os fãs de heavy metal, em especial da vertente mais melódica, abraçaram o Avantasia desde o primeiro álbum, The Metal Opera, lançado em 2001.
Para quem não conhece o Avantasia, citarei apenas alguns dos artistas que fazem ou já fizeram parte de seu extenso cast: Michael Kiske (Helloween, Place Vendome), Kai Hansen (Gamma Ray, Helloween), Jon Oliva (Savatage, Trans-Siberian Orchestra), Timo Tolkki (Stratovarius, Revolution Renaissance, Symfonia), Andre Matos (Symfonia, Angra, Viper, Shaman), Russell Allen (Symphony X), Tim “Ripper” Owens (Judas Priest, Yngwie Malmsteen, Iced Earth), Jorn Lande (Masterplan, Ark), Bob Catley (Magnum)… a lista é longa. Achou pouco? Que tal Alice Cooper, Klaus Meine e Rudolf Schenker (Scorpions), Eric Singer (Kiss, Alice Cooper, Black Sabbath) e Bruce Kulick (Kiss)?
E se eu disser que, no meio de todo esse povo, um dos integrantes mais importantes a participar do Avantasia é praticamente um desconhecido em meio a tantos rostos (e vozes) familiares? Pois Oliver Hartmann, presente como vocalista no primeiro álbum, dando voz ao personagem Papa Clemente VIII, interpretação que repetiria em The Metal Opera Pt. II (2002), conseguiu conquistar esse espaço. Sua contribuição continuaria no disco subsequente, The Scarecrow (2008), como vocalista, e como guitarrista nos lançamentos mais recentes, The Wicked Symphony e Angel of Babylon, ambos de 2010. Além disso, quando o Avantasia finalmente foi para a estrada, Oliver foi escalado como um dos vocalistas a dar vida ao projeto sobre os palcos, além de ser guitarrista fixo ao lado do renomado produtor Sascha Paeth.
Oliver Hartmann (dir.) ao vivo com o Avantasia
Mas o Avantasia não é o assunto de hoje: o que quero frisar, acima de tudo, é que, além de ter obtido destaque em meio a músicos gabaritados, seu primeiro álbum solo após ter saído da banda que ajudou a fundar ainda nos anos 90, o At Vance, é com facilidade um dos melhores discos feitos nos últimos anos por artistas relacionados ao projeto. Se o At Vance seguia uma linha mais próxima do heavy metal melódico, tão em voga no final dos anos 90 e início dos anos 2000, Oliver conseguia imprimir um diferencial através de seu vocal que fugia da linha inspirada por cantores que abusavam de agudos e falsetes, soando como se egresso dos anos 70, com uma voz encorpada, apta a alternar melodia e agressividade com facilidade.
O terreno explorado por Out in the Cold é a faceta mais melódica do hard rock, vitaminada por uma produção refinada (talvez até demais), dividida entre Oliver e Sascha Paeth. O vocalista, que também é responsável pela guitarra e por teclados, foi auxiliado por Armin Donderer (baixo), Bodo Schopf (bateria) e Jurgen Wust (telcados), além do escudeiro de Sascha, Miro Rondenberg, que criou arranjos de cordas para diversas faixas.
Quem aprecia o gênero, em especial o lado mais europeu do AOR, tem tudo para se surpreender com o disco, que merece fazer parte da prateleira de qualquer pessoa que valorize o esmero em criar canções envolventes, que logo nos fazem memorizar suas letras e melodias, cantando junto após poucas audições. Não existem malabarismos instrumentais, e Hartmann demonstra um controle admirável de sua voz, fazendo com que ela jamais agrida nossos ouvidos. E o melhor: acima de tudo, Out in the Cold soa honesto, pessoal. As letras escritas por Oliver fazem jus às músicas compostas. Difícil é apontar destaques, mas vamos à tarefa ingrata!
A união inteligente e bem costurada entre guitarra e violão abre “Alive Again”, demonstrando o talento de Hartmann nas seis cordas, transformado em uma faixa “pra cima”, perfeita para estabelecer um astral alto e convidar o ouvinte a se aventurar pelo track list. O refrão é facilmente memorizável, e precedido por uma ponte muito bem construída sobre uma linha vocal nada clichê. Para contrastar, as linhas de teclado que introduzem e as cordas que permeiam a faixa-título mostram que o artista também é capaz de expor um lado mais melancólico com facilidade, transmitindo sentimentos distintos através de uma interpretação caprichada, sem soar caricata.
Formação atual da banda que acompanha Hartmann
Quem achou que a faixa-título ainda ficou devendo em interpretação, tem a obrigação de escutar o cover que Hartmann registrou para “Brazen”, maior sucesso do grupo inglês Skunk Anansie, liderado pela vocalista Skin. Se Oliver já havia conquistado uma boa reputação ao registrar alguns covers ao lado do At Vance, em especial dos suecos do ABBA, em “Brazen” ele a estabeleceu de vez, oferecendo seu melhor em uma performance agressiva, utlizando-se de tons mais agudos, que servem para transmitir melhor a mensagem passada pela angustiada letra.
O lado mais hardeiro surge com ímpeto em “The Same Again”, dona de bons riffs de guitarra e de um refrão muito bem engendrado, incluindo dobras de vozes e até o uso de efeitos na voz, emprestando uma personalidade à parte para essa faixa. Já “I Will Carry On” é uma balada que investe pesado nas cordas, que agem em conjunção com o lado mais melódico de Hartmann, expresso em linhas vocais mais simples, mas não menos agradáveis. “What If I” é a mais moderna do registro, soando em uma linha mais power pop, rápida e alegre, ótima para animar concertos.
Dona de linhas de bateria atípicas, remetendo um pouco a “Take Cover” (Mr. Big), “How Long” fica mais “normal” apenas em seu refrão, e envolve o ouvinte através desses segmentos distintos, constituindo uma das mais diferentes do álbum. Em um território mais seguro surge “The Journey”, balada de caráter acústico, conduzida pela voz de Oliver e perfeita para agradar a quem sente saudade da época na qual esse tipo de canção, produzidas por bandas de rock, habitualmente ocupavam altos postos nas paradas de sucesso. Para coroar, um solo de guitarra simples e melódico, encaixando como uma luva.
“Who do You Think That You Are” resgata o lado mais roqueiro presente em “The Same Again”, além de ser incrementada com interessantes efeitos, provável cortesia de Sascha Paeth, enquanto “Listen to Your Heart” remete ao alto astral de “Alive Again”, porém mais acelerada e explicitamente melódica, quase chiclete. “Can You Tell Me Where Love Has Gone” provavelmente é a de menor destaque em Out in the Cold, por soar um tanto mais genérica, mas para compensar, a canção que fecha o disco não tem nada de habitual. “Into the Light” é um pequeno épico na forma de uma balada que começa com discrição e vai crescendo aos poucos, ganhando intensidade através, especialmente, das orquestrações e da interpretação vocal de Hartmann.
Oliver Hartmann ao vivo
Se a descrição que apresentei acima lhe agradou de alguma maneira, a minha recomendação é a seguinte: não perca tempo e trate de correr atrás de Out in the Cold, e comprove que ter um nome conhecido pode ser importante, mas nada supera a capacidade de um compositor em se expressar com propriedade, criando músicas que transcendem ideias pré-estabelecidas e têm o poder de conquistar muito mais que apenas nossos ouvidos. Oliver Hartmann tem, através de sua belíssima voz e de ótimas interpretações, essa capacidade. Confira!
Track list:
1. Alive Again
2. Out in the Cold
3. Brazen
4. The Same Again
5. I Will Carry On
6. What If I
7. How Long
8. The Journey
9. Who Do You Think That You Are
10. Listen to Your Heart
11. Can You Tell Me Where Love Has Gone
12. Into the Light

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