Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Nassau Coliseum

Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Nassau Coliseum

Por Marcello Zapelini

Localizado em Uniondale (NY), o Nassau Coliseum é uma arena para diferentes eventos, sobretudo esportivos (basquete e hóquei são os mais comuns), musicais e esportivos, cujo nome completo é Nassau Veterans Memorial Coliseum, inaugurada em 1972. Reformado ao longo do tempo, chegou a ter capacidade para mais de 18.500 pessoas, mas, desde 2015, o Nassau Coliseum pode comportar cerca de 14.000 pessoas em eventos esportivos e até 16.000 nos musicais. Em termos de área, é uma das maiores arenas da região metropolitana de New York, ocupando uma área de 77 acres. Interessantemente, foi construído numa antiga base aérea desativada, e sua arquitetura sinuosa foi desenhada para evocar as dunas de Long Island.

Elvis Presley se apresentou pela primeira vez em 1973, e inclusive teria se apresentado em 1977, mas acabou falecendo alguns dias antes do show. Ao longo dos anos, o Grateful Dead se tornaria a atração musical com maior número de shows no Coliseum (42), e a maior parte dos principais músicos norte-americanos se apresentaria no local, com vários estrangeiros também usando suas instalações – como provam quatro dos cinco discos selecionados para a seção principal. Dos discos escolhidos para esta seção, quatro foram integralmente gravados neste templo do rock, e apenas um traz músicas registradas em outros shows (o Three Sides Live do Genesis). Dentre outros álbuns interessantes que cumpririam esse requisito e poderiam ter sido abordados neste artigo, um de Bruce Springsteen registrado em 1980 quase fez parte da seleção final, mas confesso que eu prefiro o Genesis ao The Boss – mesmo sabendo que só uma parte dele foi gravada no Nassau Coliseum, acho Three Sides Live um ótimo disco que é um pouco esquecido pelos fãs da banda. Da mesma maneira, o bom álbum duplo Beach Boys In Concert, de 1973, também foi parcialmente registrado na arena, e merece sua atenção (ainda que não tenha Brian Wilson). O terceiro disco ao vivo da formação clássica do Blue Öyster Cult (Extraterrestrial Live, de 1982) também traz uma música gravada no Nassau Coliseum. E não poderia deixar de registrar uma curiosidade: se você estiver curioso em saber como era um show lá e for fã do Queen, preste atenção ao clip de “Tie Your Mother Down”, pois a filmagem foi feita no Coliseum.

Um fã de música que visite New York tem muitos lugares para visitar, e alguns deles (Madison Square Garden e Carnegie Hall) já foram abordados aqui, enquanto outros como o Radio City Music Hall e a NY Academy of Music merecem um artigo a respeito, mas nem todos se lembram do Nassau Coliseum, que pode ser um pouco menos conhecido que outras arenas novaiorquinas, mas tem coisas interessantes suficientes para poder ser chamado de um templo do rock. Vamos para os cinco discos para conhecer o Nassau Coliseum e, como bônus, uma pequena homenagem à banda que mais se apresentou lá, o Grateful Dead – que enquanto existiu não registrou nenhum disco ao vivo lá, ainda que tenha incluído duas músicas em “Without a Net” e “Infrared Roses”.


1) The Allman Brothers Band – Nassau Coliseum: Uniondale, NY 5/1/1973 [2005]

A Allman Brothers Band tinha perdido Duane e Berry Oakley quando da gravação deste álbum, lançado em 2005; assim, além dos fundadores Gregg Allman (aqui tocando guitarra rítmica em algumas músicas, além do órgão), Dickey Betts (que estava progressivamente assumindo mais vocais além da guitarra solo), Jaimoe e Butch Trucks (os dois bateristas), temos Chuck Leavell nos teclados e Lamar Williams no baixo. O CD duplo está cheio até quase o gargalo, com 150 minutos, sendo que “Les Brers in A Minor”, “Whipping Post” e “Mountain Jam” juntas consomem quase 70! Ao decidir não substituir Duane, a banda perdera os duetos incendiários entre Allman e Betts, e a entrada de Chuck Leavell rendeu um tecladista muito mais proficiente do que o bom, mas tecnicamente limitado, Gregg Allman; com isso, os longos improvisos instrumentais ganharam um clima mais jazzista do que na formação original. Betts, como se sabe, estava totalmente à vontade como guitarrista solo, inclusive tocando com slide, que antes era especialidade de Duane. A interface entre o órgão de Gregg e os pianos de Leavell é notável, tornando este disco bem diferente do clássico At Fillmore East, ainda que várias músicas estejam repetidas entre os dois; mas é forçoso admitir que o impacto é reduzido pelo fato de que gravações ao vivo da época já estavam disponíveis no subestimado Wipe the Windows, Check the Oil, Dollar Gas (um álbum que poderia ser objeto de uma box set contendo os shows completos que o compõem), ainda que não haja nenhuma música gravada no Nassau Coliseum nesse disco. Além das longas jams, a versão de “In Memory of Elizabeth Reed”, a abertura com “Wasted Words”, o vocal de bluesman-cansado-dessa-p***a-toda de Gregg em “Stormy Monday”, são destaques deste álbum que, mesmo não chegando aos níveis do sublime disco no Fillmore, mostra que a Allman Brothers Band conseguia fazer bons shows sem seu mestre guitarrista.

Gregg Allman (órgão, guitarra, vocais), Dickey Betts (guitarra, vocais), Chuck Leavell (teclados) Lamar Williams (baixo), Jaimoe (bateria)

  1. Intro
  2. Wasted Words
  3. Done Somebody Wrong
  4. Statesboro Blues
  5. One Way Out
  6. Stormy Monday
  7. Midnight Rider
  8. Jessica
  9. Come & Go Blues
  10. Ramblin’ Man
  11. In Memory Of Elizabeth Reed
  12. Trouble No More
  13. You Don’t Love Me
  14. Les Brers In A Minor
  15. Whipping Post
  16. Mountain Jam

2) David Bowie – Live Nassau Coliseum ‘76 [2017]

Bowie tinha lançado o primeiro álbum ao vivo em 1974 (David Live), e por isso este álbum sensacional foi “engavetado” – e fortemente pirateado ao longo dos anos. Após ser disponibilizado oficialmente na box set dedicada a Station to Station (2010), foi lançado em 2017 para o público em geral. Registrado durante a turnê Isolar, este álbum traz Bowie acompanhado por três músicos que gravariam vários discos e participariam de outras turnês, Carlos Alomar (guitarra), George Murray (baixo) e Dennis Davis (bateria), além do ex-Yes Tony Kaye nos teclados e Stacey Heydon (guitarra solo), que trabalhara com Iggy Pop. No repertório, quase todo Station to Station é apresentado aqui (as exceções são “Golden Years” e “Wild is the Wind”) em versões que, quando não superam (como a belíssima “Word on a Wing” e a funky “Stay”, com direito a Heydon dando um show particular na guitarra), no mínimo igualam as originais. Além disso, ele interpreta hits como “Fame”, “Changes”, “Rebel Rebel”, “Diamond Dogs” e “The Jean Genie” (esta última numa versão simplesmente arrasadora, provavelmente a melhor que ele gravou) com garra e emoção, acompanhado por uma banda compacta, coesa e sobretudo extremamente talentosa. É no mínimo engraçado ver Tony Kaye ao piano em “Life on Mars”, que seu sucessor de Yes, Rick Wakeman, gravara na versão original, e Bowie, no vocal dramático de “Five Years”, atinge seu melhor desempenho no disco. E, claro, há uma versão simplesmente fenomenal de “Station to Station” abrindo os trabalhos. Nunca consegui confirmar se o show está completo ou não, mas sei que o solo de Davis em “Panic in Detroit” foi pesadamente editado. Com cerca de 83 minutos, Live Nassau Coliseum ‘76 acaba sendo um CD duplo meio curtinho, mas para quem curte música em vinil está no limite. Mas, no final das contas, o que realmente importa é que não há um segundo sequer de música aqui que não seja de alto nível, e resta esperar que os arquivos da família de David Bowie tenham mais gravações de boa qualidade dessa turnê – afinal, a anterior (1974) e a posterior (1978) já tem mais registros disponíveis.

David Bowie (vocais, guitarras, violão), Carlos Alomar (guitarra), Stacey Heydon (guitarra), George Murray (baixo), Tony Kaye (teclados) e Dennis Davis (bateria)

  1. Station To Station
  2. Suffragette City
  3. Fame
  4. Word On A Wing
  5. Stay
  6. Waiting For The Man
  7. Queen Bitch
  8. Life On Mars?
  9. Five Years
  10. Panic In Detroit
  11. Changes
  12. TVC15
  13. Diamond Dogs
  14. Rebel Rebel
  15. The Jean Genie

3) Emerson, Lake & Palmer – Live at Nassau Coliseum 1978 [2011]

Outro disco póstumo, registrando a turnê de Works pelos EUA (a última turnê do grupo antes de sua dissolução), e oficialmente lançado em 2011, junta-se a outros álbuns ao vivo oficiais do ELP que documentam esse período da carreira do grupo. Nessa época, o ELP tinha retornado depois de alguns anos afastado dos shows e gravações: o álbum duplo Works trazia um lado com gravações solo de cada um dos músicos, e outro com a banda completa, e as primeiras apresentações ao vivo traziam o luxuoso apoio de uma orquestra sinfônica, um projeto que quase faliu o trio britânico. In Concert, lançado em 1979 (e relançado com bônus como “Works Live”), traz a banda acompanhada pela orquestra, mas em Live at Nassau Coliseum 1978 temos somente o trio original. Nessa época, o ELP estava nos seus últimos dias. Após o encerramento da turnê, a banda queria tirar umas férias, mas a gravadora exigiu mais um álbum de estúdio, que sairia ainda em 1978 – Love Beach – apenas para ser malhado pelos críticos. Em 1979 o grupo já tinha acabado, e embora tenha retornado posteriormente, nos últimos 45 anos teve-se acesso sobretudo a coletâneas e diversos registros ao vivo, alguns de qualidade sonora bem ruim. Não é o caso deste álbum, com boa qualidade de gravação e, sobretudo, boa performance. Mesmo que alguém tenha adquirido Works Live, vale a pena ir atrás deste álbum; a banda volta a interpretar “Hoedown” e “Nutrocker”, por exemplo, e é interessante comparar as versões do final da carreira com aquelas que aparecem em Welcome Back My Friends to the Show that Never Ends e Pictures at an Exhibition. “C’est la Vie” obriga o ouvinte a prestar mais atenção na bela voz de Greg Lake, e há uma bela versão para a épica “Pirates”, que não aparece em “Works Live”. Ouvir esses álbuns em sequência permite comparar o desempenho dos músicos com e sem orquestra, e é impressionante como Emerson, por exemplo, se desdobra para suprir o buraco deixado pela ausência dela, enquanto Lake e Palmer dão o melhor de si. O álbum acaba sendo um bom testamento da última tour do ELP antes da dissolução.

Keith Emerson (teclados, piano, moog, órgão, sintetizadores, efeitos), Greg Lake (vocais, baixo, violão, guitarras), Carl Palmer (bateria, percussão)

  1. Hoedown
  2. Tarkus
  3. Take A Pebble
  4. Piano Concerto #1, 1st Movement
  5. Maple Leaf Rag
  6. Take A Pebble (Reprise)
  7. C’Est La Vie
  8. Lucky Man
  9. Pictures At An Exhibition
  10. Tiger In A Spotlight
  11. Watching Over You
  12. Tank
  13. Drum Solo
  14. The Enemy God Dances With The Black Spirits
  15. Nutrocker
  16. Pirates
  17. Fanfare For The Common Man

4) Genesis – Three Sides Live [1982]

A edição original, que incluía um lado de estúdio, foi parcialmente gravada (quatro músicas, cerca de 1/3 dos 65 minutos que compunham os “três lados ao vivo” da edição internacional do álbum) no Nassau Coliseum em show realizado em 29 de novembro de 1981 (com material de outros shows da mesma turnê em 1980 e 81). Eventualmente, as músicas que compunham o lado de estúdio foram substituídas por três outras gravadas entre 1976 e 1980, que inicialmente saíram apenas na edição inglesa. O Genesis aqui é o trio Collins/Banks/Rutherford com o reforço de Chester Thompson na bateria e Daryl Stuermer na guitarra e baixo, e ainda Bill Bruford na bateria no medley “It/Watcher of the Skies”, gravado em 1976 (ou seja, poderia ter entrado em Seconds Out). Na versão original, o álbum era formado quase que exclusivamente por músicas de … And Then There Were Three, Duke e Abacab – as exceções são o medley em “In the Cage” e “Afterglow” (esta já tinha uma versão ao vivo em Seconds Out), e formam um bom panorama dos primeiros discos do Genesis como trio (uma música da época que eu gosto bastante e teria sido interessante neste álbum é “No Reply at All”, que só tem no vídeo – assisti o VHS original, mas confesso não lembrar dela). O lado A do álbum original, com “Turn it on Again”, “Dodo/Lurker” e “Abacab” é impecável, mas o B, que é justamente o que mais tem músicas registradas no Nassau Coliseum, não me agrada muito (à exceção de “Duchess”); sobre o terceiro lado ao vivo, nada a se queixar, pelo contrário – no máximo alguém poderia reclamar de ter uma nova versão ao vivo de “Afterglow”, mas, como gosto da música, está tudo bem para mim. Na época, o álbum foi acompanhado por um vídeo com doze músicas (algumas incompletas) quase inteiramente filmado no show do Nassau Coliseum, dando uma ideia do ambiente interno da arena; apenas duas vieram do show no dia anterior no Savoy Theatre (New York). Posteriormente, uma edição em Blu-Ray trouxe repertório completo da época, mas os bônus só estão em áudio.

Mike Rutherford (baixo, guitarras, vocais), Phil Collins (vocais, bateria), Tony Banks (teclados), Chester Thompson (bateria, percussão), Daryl Stuermer (guitarras, baixo)

* Bill Bruford (bateria em 13)

  1. Turn It On Again
  2. Dodo
  3. Abacab
  4. Behind The Lines
  5. Duchess
  6. Me & Sarah Jane
  7. Follow You, Follow Me
  8. Misunderstanding
  9. In The Cage (Medley – Cinema Show – Slippermen)
  10. Afterglow
  11. One For The Vine
  12. Fountain Of Salmacis
  13. It / Watcher Of The Skies

5) Pink Floyd – Delicate Sound of Thunder [1988]

Confesso que não sabia que este disco tinha sido registrado no Nassau Coliseum! Gravado durante a turnê que promoveu A Momentary Lapse of Reason, o álbum duplo pode ser visto de duas maneiras: ou você o considera o primeiro ao vivo oficial do grupo (quer dizer, inteiramente ao vivo), ou você o vê como uma competente banda cover interpretando clássicos da banda entremeados por material recente – depende do quanto você valoriza a presença de Roger Waters. De qualquer forma, a escassez de gravações ao vivo oficiais do Pink Floyd em 1988 fez com que o disco vendesse muito bem. Nos shows, Gilmour, Wright e Mason são acompanhados por Guy Pratt (genro de Rick Wright), o veterano Tim Renwick na segunda guitarra, o percussionista Gary Wallis, o tecladista Jon Carin (que conseguiu o feito de acompanhar tanto Gilmour quanto Waters em seus shows solo), Scott Page no sax e três backing vocals (Durga McBroom, Rachel Fury e Margret Taylor). Quase todo o primeiro disco é dedicado a recriar as músicas do AMLOR, e, verdade seja dita, pouco é acrescentado às versões originais. O resto do disco compõe-se de músicas do The Wall (“Another Brick in the Wall Pt. 2”, “Run Like Hell” e “Comfortably Numb”), de Wish You Were Here (a faixa-título e uma versão reduzida a menos da metade de “Shine On You Crazy Diamond”), de Dark Side of the Moon (“Time”, “Money”, “Us and Them”) – um repertório de clássicos – e, numa agradável surpresa, “One of These Days” (do subestimado Meddle). Quem conhece o Pink Floyd ao vivo dos discos piratas sabe que, a partir de 1973, a banda praticamente se concentrou em reproduzir da maneira mais fiel possível as músicas originais, então, a grande curiosidade que cercava o álbum era saber como substituir Roger Waters. De fato, Guy Pratt é um baixista bem mais técnico que o ex-líder da banda, e junto com Jon Carin o substitui nos poucos vocais solo de Waters nas músicas originais escolhidas. Assim, o que se tem neste álbum duplo é uma banda extremamente talentosa e profissional fazendo boas versões dos clássicos do Pink Floyd, capitaneados por Gilmour em boa forma tanto no vocal quanto na guitarra; por outro lado, Mason e Wright são coadjuvantes que parecem estar dando legitimidade para as pretensões do chefe. Quando comprei o vinil original, ouvi até quase furar, mas, anos depois, comprei o CD apenas para completar a coleção. Recentemente, uma reedição trouxe várias músicas de bônus, permitindo que se tenha acesso a todas as músicas diferentes apresentadas nos shows originais que formaram DSOT, e algumas músicas que tinham sido originalmente editadas para caber nos LPs originais foram disponibilizadas completas.

David Gilmour (guitarra, vocais, slide guitar, Rick Wright (teclados, piano), Nick Mason (bateria), Guy Pratt (baixo, vocais), Tim Renwick (guitarras), Gary Wallis (percussão), Jon Carin (teclados, vocais), Scott Page (saxofone), Durga McBroom (backing vocals), Rachel Fury (backing vocals)e Margret Taylor (backing vocals)

  1. Shine On You Crazy Diamond
  2. Learning To Fly
  3. Yet Another Movie
  4. Round And Around
  5. Sorrow
  6. The Dogs Of War
  7. On The Turning Away
  8. One Of These Days
  9. Time
  10. Wish You Were Here
  11. Us And Them
  12. Money
  13. Another Brick In The Wall Part II
  14. Comfortably Numb
  15. Run Like Hell

Bonus tracks:
Para os discos-bônus da seção, uma homenagem ao Grateful Dead, que, como se viu, é o recordista de apresentações no Nassau Coliseum, que já renderam diversos álbuns ao vivo retirados dos aparentemente inesgotáveis arquivos da banda. Além destes, selecionados com base num critério de preferência pessoal, há um álbum já resenhado na Consultoria (na seção Cinco Discos para Conhecer dedicada a Jerry Garcia).


1) Go to Nassau (1980)

Entre 14 e 16 de maio de 1980, o Grateful Dead se apresentou no Nassau Coliseum com sua nova formação (Brent Mydland entrara em meados de 1979 no lugar de Keith e Donna Godchaux, tecladista e backing vocals durante os anos 70). A banda tinha lançado Go to Heaven, um de seus discos menos apreciados pelos fãs, mas vinha tendo bom desempenho nos shows. Assim, material gravado nas datas de 15 e 16 de maio foi compilado pelo arquivista David Lemieux para formar este CD duplo. Go to Nassau traz desde músicas antigas, dos anos 60, até material mais recente, extraído de “Go to Heaven”, e dá ao estreante Mydland seu lugar ao sol, cantando “Far from Me”. Garcia, Weir, Lesh, Kreutzmann e Hart têm seus momentos de brilho ao longo do show, e um momento especialmente interessante ocorre quando Bob Weir lidera a banda em “Saint of Circumstance” e “Lost Sailor”, duas das melhores músicas do último disco. Jerry Garcia está em boa forma, e seu vocal em “Alabama Getaway” faz desta uma das melhores versões ao vivo da música mais rocker de “Go to Heaven”; além disso, ele faz a alegria dos Deadheads ao trazer a pouco interpretada depois do começo dos anos 70 “China Cat Sunflower”. “Go to Nassau” não é um dos discos mais conhecidos do Dead, mas é um bom registro de uma época em que a banda alternava bons e maus momentos (felizmente, os bons momentos superavam os ruins), e por isso merece uma chance na sua playlist, especialmente se você curtir o vocal rouco e agudo de Brent Mydland. Mas, independentemente dele, o bom desempenho de Garcia, Weir, Lesh, Kreutzmann e Hart torna-o uma adição bem interessante ao catálogo da banda.


2) Dick’s Picks vol. 13 (1981)

Dick Latvala foi o arquivista oficial do Grateful Dead, passando o bastão para DavidLemieux quando foi diagnosticado com o câncer fulminante que o mataria. Registrado em 6 de maio de 1981, este show impressionou Dick o bastante para lançá-lo em sua série Dick’s Picks. Mais uma vez, o repertório é bastante variado e o CD triplo traz o show completo, com mais de 170 minutos de duração; numa prática relativamente comum na série, o CD 2 traz duas músicas registradas em 1º de novembro de 1979 (cerca de 35 minutos), “ocultas” na setlist do álbum. Quanto ao show em si, não chega a estar entre os melhores da Dick’s Picks, mas não compromete: a banda apresenta 22 músicas, mais uma jam e o dueto de bateristas, sendo que quase todo o CD 3 é ocupado por 67 minutos contínuos de música, começando com “He’s Gone”, que Bob Weir dedica a Bobby Sands, um membro do IRA que morrera recentemente numa prisão inglesa durante uma greve de fome, e concluindo com “Good Lovin’”. O bis é com a velha “Don’t Ease Me In”, que deve ter feito Pigpen sorrir no além. Em 1981 a banda ainda conseguia manter um bom nível musical na maior parte de seus shows, fazendo com que um ouvinte ocasional encontre boa música e um time afiado de instrumentistas naqueles (relativamente poucos) que foram lançados oficialmente, mas nos anos seguintes a banda se perderia um pouco (para se reencontrar na turnê de 1990). Mas, se com Dick’s Picks vol. 13 a banda não chegou a marcar um gol de placa – só que como dizia o folclórico Dadá Maravilha, não existe gol feio, feio é não fazer o gol – também não foi daqueles que a bola bateu no jogador e acabou entrando.


3) Dave’s Picks vol. 38 (1973)

Gravado em 8 de setembro de 1973, com duas músicas extraídas do concerto anterior (e, para os assinantes da coleção, um CD bônus com mais algumas músicas do show da noite anterior), este volume da coleção Dave’s Picks registra as primeiras apresentações da banda no Nassau Coliseum. 1973 é um ano com vários lançamentos de arquivo, pois o Grateful Dead estava em boa forma no período e os shows mantêm um nível elevado, além de serem bastante longos até mesmo para os padrões do grupo. Tendo perdido Pigpen, o Dead incorporara o casal Godchaux (Keith, piano e vocal; Donna, vocal), em “Europe ‘72” (que ainda traz o bluesy tecladista e vocalista original) e continuava com apenas um baterista, pois Mickey Hart saíra envergonhado com o fato de que seu pai (que fazia a contabilidade) tinha roubado dinheiro deles. O show é longo, com mais de 197 minutos (e mais 31 de bônus nos três CDs que compõem o lançamento “padrão” da coleção), trazendo músicas dos discos mais recentes não só do Dead, mas também dos álbums-solo de Bob Weir e Jerry Garcia. Dentre os destaques, uma rara versão ao vivo de “Let me Sing my Blues Away”, de Keith Godchaux, uma “Eyes of the World” simplesmente sensacional, e a primeira vez que a banda tocou ao vivo a sua “Weather Report Suite”, um dos destaques do álbum “Wake of the Flood” e que depois das turnês de 1973 e 74 poucas vezes seria executada completa em suas apresentações. O terceiro CD também é absurdamente bom, com uma “Truckin’” fantástica e Jerry arrasando na guitarra em “Not Fade Away”. No bis, “One More Saturday Night” faz com que a gente queira mais. O CD bônus registra boa parte do segundo set do show de 7 de setembro, e a banda novamente está em altíssimo nível, fazendo a gente se questionar do porquê não foi lançado completo.

Um comentário em “Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Nassau Coliseum

  1. Que postagem massa, meu amigo Marcello! Já anotei aqui vários álbuns que mencionou e que nunca tinha ouvido (o do The Allman Brothers Band é um exemplo)! Texto bom e bem recheado de informações legais sobre a arena mencionada (sobre a qual, te confesso, nunca tinha ouvido falar ou sequer me atentado a ela, ainda que conhecesse tanto o disco do Genesis quanto o do Pink Floyd)!
    Abraços!

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