Black Sabbath – Super Deluxe Editions, Valem a Pena?

Black Sabbath – Super Deluxe Editions, Valem a Pena?

Por Marcello Zapelini

Uma banda que tem se mostrado pródiga em relançar seus discos clássicos é o bom e velho Black Sabbath. Acompanho a banda há quase 40 anos e tive a coleção completa em vinil e depois em CD. Sobre este formato, as primeiras edições nada trouxeram de novo (a não ser as da Castle, que traziam músicas do Live at Last como bonus tracks nos discos da fase Ozzy), mas no começo do século XXI começaram a surgir Deluxe Editions bastante caprichadas, em CDs duplos, abrangendo os três primeiros álbuns, os discos com Dio (incluindo Dehumanizer) e alguns posteriores (Born Again, Seventh Star e Eternal Idol). Essas edições fizeram os fãs quebrarem o cofrinho para ter acesso, sobretudo, a gravações ao vivo e versões alternativas, mas um Sabbathmaníaco queria tê-las de qualquer jeito!

Em 2016, um dos agraciados com aquelas edições ressurgiu no mercado como Super Deluxe Edition, numa box com 4 CDs: Paranoid! Quatro anos depois, a box foi relançada (inclusive em vinil), e outras três saíram nos anos seguintes: Vol. 4, Sabotage e Technical Ecstasy, fazendo com que apenas Sabbath Bloody Sabbath e Never Say Die, dos primeiros anos, não tenham nenhuma reedição com material adicional. Heaven and Hell e The Mob Rules (que não serão abordados aqui) receberam recebendo novas edições em CD duplo – o segundo é o mais interessante, pois traz um show completo, inteiramente inédito, gravado em 1981, antes dos shows que compuseram Live Evil. E agora em 2023 esse álbum ao vivo recebeu sua própria Super Deluxe Edition.

Vamos aos fatos: na parte boa, as boxes são lindas, realmente caprichadas na parte gráfica e na qualidade sonora e o material ao vivo tem qualidade variável de gravação; por outro lado, os preços são elevados e não há músicas inéditas ou desconhecidas, apenas versões alternativas. Então, daí surge a pergunta: vale mesmo a pena investir nas Super Deluxe Editions do Sabbath? Vamos tentar responder uma a uma…

Paranoid

Uma escolha natural para as reedições em box sets, o favorito de muita gente quando se trata de Black Sabbath (mas não o meu, hehehehe), Paranoid se deu muito bem aqui. O primeiro CD traz o original remasterizado, com excelente qualidade sonora, e o segundo o reprisa na versão quadrafônica (aqui “reduzida” para estéreo) dos anos 70. O pacote se completa com dois discos ao vivo, Live in Montreux 1970 e Live in Brussels 1970 (gravados respectivamente em agosto e outubro) que, embora sejam muito populares entre os colecionadores de bootlegs, nunca tinham sido lançados oficialmente. De fato, a qualidade sonora dos discos ao vivo não é das melhores, mas não chega a comprometer; o show em Montreux, cronologicamente mais antigo, traz algumas músicas de Paranoid com letras alternativas, e é interessante ver como Ozzy agitava o público já nessa época. O show em Bruxelas circulou muito tempo erroneamente creditado como sendo em Paris, mas aqui está corrigido. Pena que os dois discos juntos totalizam em torno de 100 minutos, mas é sempre melhor um pouco de Sabbath ao vivo do que nenhum. A performance dos músicos é muito boa e o repertório, embora não traga novidades, é baseado no que os primeiros discos tinham de melhor.

Um livreto de capa dura, um poster e uma reprodução do programa dos shows de 1970 acompanham o pacote. O livreto é muito bom em termos de fotografias e imagens, e o texto é de boa qualidade. Por fim, os CDs são acomodados em capas duplas no formato mini-LP, reproduzindo a arte original de Paranoid. Numa escala de zero a cinco, Paranoid Super Deluxe Edition recebe as cinco estrelinhas com louvor – mesmo que as versões instrumentais e a “Planet Caravan” alternativa que fizeram parte da “Deluxe Edition” não tenham sido incluídas, o que fará com que os colecionadores tenham que manter as duas edições…

Black Sabbath Vol. 4

Vol. 4 sempre foi meu álbum favorito do Sabbath, então, para mim, este era o disco que mais precisava de uma reedição caprichada. E, honestamente, essa edição ficou realmente fantástica na parte gráfica. Mais uma vez, tem-se um livreto em capa dura, mas neste caso não há propriamente um texto, e sim trechos de entrevistas, de publicações de época sobre a banda, e muitas fotos e memorabilia. Já o poster traz o que seria a capa original de “Snowblind”, primeiro nome (vetado) para o LP. Novamente, os CDs são colocados em capas duplas, como o original, cada um dedicado a um membro da banda. Dois CDs trazem versões alternativas e outtakes. Normalmente temos pouca variação, mas neste caso as versões alternativas possuem diferenças sensíveis, e é muito interessante ver a evolução de “Wheels of Confusion” (uma das melhores músicas do Black Sabbath, na minha opinião), bem como acompanhar as várias tentativas de acertar “Supernaut” (também disponível em versão com letra bem diferente da final). A coda instrumental de “Wheels of Confusion”, intitulada “The Straightener”, também é apresentada como uma música à parte. Por outro lado, a versão instrumental de “Under the Sun” nada traz em relação à original, pois parece ser simplesmente a música normal sem os vocais mixados.

Um último senão: todo o material caberia num só disco, pois os dois CDs totalizam cerca de 79 minutos. A gravação ao vivo é um pouco decepcionante, pois se trata do velho Live at Last, ainda que com mais falação do Ozzy entre as músicas e com qualidade sonora superior em relação aos lançamentos original e em Past Lives; o CD também usou as versões completas das músicas, sem edições. Embora muito criticado, eu gosto desse disco, mas, uma vez que a banda gravou dois shows para um álbum ao vivo, poderia ter incluído versões alternativas, tornando o pacote mais atraente; ou mesmo lançar um CD duplo com um dos shows completo e músicas do outro como bônus. Ainda assim, a edição Super Deluxe do Vol. 4 é indispensável para os fãs do Sabbath. Quatro estrelinhas para a edição de um álbum que, para mim, numa escala de zero a cinco merecia seis!

Sabotage

À primeira vista você torce o nariz. Não há outtakes ou versões alternativas das músicas, os dois CDs ao vivo circulam facilmente por aí em discos piratas, e o 4º CD é tecnicamente falando um single. Mas não deixe isso iludi-lo, pois essa edição de Sabotage é simplesmente sensacional. O disco original nunca soou tão bem, com uma gravação um pouco mais clara, com melhor separação do instrumental na mixagem, e um volume sonoro absolutamente perfeito. Entretanto, a música fantasma, “Blow in a Jug”, continua audível somente para quem aumentar muito o volume após “The Writ” – custava ter colocado a gravação em qualidade melhor? Os dois discos ao vivo trazem um show completo, com pouco menos de 100 minutos. As gravações foram feitas no Convention Hall, Asbury Park (New Jersey), e algumas das músicas tinham saído no álbum Past Lives. Particularmente, conhecia bem uma das versões piratas deste show, e embora a qualidade sonora dos discos da box set não seja exatamente uma maravilha, dá para ouvir tranquilamente sem reclamar, e é bem melhor que a versão pirata (além de aqui estar completo).

Na minha opinião, é um dos melhores ao vivo da banda disponibilizados oficialmente, com os músicos dando o melhor de si. E é uma pena que a banda não licenciou o show no “Don Kirshner’s Rock Concert” da mesma turnê – teria sido interessante, em vez do single japonês (que podia tranquilamente ser adicionado ao CD 1), ter um registro em DVD ou Blu-Ray do Sabbath com o Ozzy na sua fase clássica. A inexistência de versões alternativas e outtakes, no caso desta edição, é explicada por um fato bem conhecido dos fãs: os tapes originais das sessões foram apagados, sobrando apenas a fita master original. Seguindo o padrão das boxes anteriores, o livreto é muito bom e muito completo, embora novamente seja uma coleção de recortes de jornal. O poster não é dos mais interessantes, já que reproduz a (horrorosa) capa do disco e traz as datas da turnê britânica. No todo, Sabotage Super Deluxe Box Set oferece um bom valor pelo seu dinheiro, e é essencial para quem gosta deste álbum em particular. Mais uma com quatro estrelinhas!

Technical Ecstasy

Confesso que este lançamento em particular me surpreendeu. Estava esperando por Sabbath Bloody Sabbath, e de repente veio este álbum que raramente aparece nas listas dos favoritos dos fãs. Technical Ecstasy, para mim, é um dos discos mais subestimados do Black Sabbath, com a banda soando criativa e diferente, tentando equilibrar o peso que a distinguia com as músicas mais elaboradas que começaram a pintar a partir de Vol. 4. Essa box, espero, é uma oportunidade para muita gente ouvir novamente o disco e reavaliar – vale a pena fazê-lo. O CD 1 traz o álbum original, praticamente sem variações, embora com qualidade sonora superior às edições anteriores, e um detalhe muito interessante: o encarte com letras do original é reproduzido aqui; já o segundo repete as músicas, em nova mixagem de Steven Wilson – e é aqui que a coisa fica interessante, pois Wilson deixou o solo de Iommi ao final de “Dirty Women” mais longo, fazendo com que a música ganhe quase 30 segundos a mais. “Backstreet Kids” ganhou muito em qualidade sonora, com o baixo de Geezer soando mais forte e mais destacado; a bateria na introdução de “Gypsy” está mais clara e mais pesada. Raramente prefiro uma remixagem à original, mas neste caso dou a mão à palmatória: Wilson fez um ótimo trabalho e atualmente, se quero ouvir somente o álbum em vez da box completa, pego o CD 2 e não o 1.

Quanto ao terceiro disco, algumas novidades bem interessantes: “She’s Gone” aparece duas vezes, uma delas com acompanhamento de Bill Ward na bateria e outra instrumental, que destaca bastante a beleza da música original. Quase todas as músicas estão um pouco mais longas do que as versões finais, com destaque para “All Moving Parts (Stand Still)”, que ganha quase 30 segundos a mais; curiosamente, “It’s Alright” não aparece neste CD – e mesmo no CD 2 ela não foi remixada, apresentando-se a versão em mono do single lançado em 1976. O terceiro CD é bem interessante para comparar com o primeiro, e sugiro ouvir nesta sequência, pulando o segundo disco, para perceber melhor as diferenças que surgiram durante as gravações. Por fim, o quarto CD traz parte de um show registrado em dezembro de 1976 no Civic Center de Pittsburgh, e mais uma vez, embora a qualidade sonora não seja das melhores, tem-se uma performance excelente da banda. Das músicas do disco, três são apresentadas: “Gypsy”, que revela todo o seu potencial nessa versão, “All Moving Parts…”, que ganhou mais peso e está bem melhor do que em estúdio, e “Dirty Women”, que fez parte das últimas turnês do Black Sabbath e traz Iommi em sua melhor forma, solando alucinadamente no final.

No todo, trata-se de uma ótima adição às gravações ao vivo oficiais do grupo, e seu único defeito é ser muito curto, totalizando cerca de 57 minutos. A parte gráfica é mais uma vez um destaque, e em especial o programa da turnê, aqui reproduzido, é muito bonito e inclusive traz uma foto do tecladista Gerard Woodrofe, que acompanhou a banda em Sabotage e neste disco, bem como suas respectivas turnês. Novamente, o texto do livreto é baseado em trechos de entrevistas, memórias (o livro de Tony Iommi é citado várias vezes), reportagens da época, e lança luz sobre esse período conturbado da vida da banda. O que faltou, entretanto, é um tratamento da saída de Ozzy após a turnê e sua substituição por Dave Walker. No todo, esta “Super Deluxe Edition” é muito interessante para os fanáticos pelo Sabbath, mas não atrairá os fãs casuais por não ser um disco muito conhecido ou muito apreciado. Para mim, cinco estrelas, sem dúvida!

Live Evil

A mais recente das Super Deluxe Editions mantém o alto nível das anteriores em termos de produção gráfica. O tour book de The Mob Rules é reproduzido junto com um poster famoso da época, e o livreto em capa dura traz mais textos e não apenas recortes de entrevistas ou textos anteriores, mas peca um pouco em termos de fotos. Uma lista completa das apresentações da turnê é incluída, e a famigerada história das mixagens do álbum, que provocaram a saída de Dio, é contada detalhadamente – ainda que Tony Iommi sustente que o maior problema, que provocou as brigas entre os músicos, tenha sido o fato de que a Warner tinha dado ao vocalista um contrato para um disco-solo. Musicalmente falando, trata-se de dois CDs duplos, um com o álbum original remasterizado (reproduzindo fielmente o álbum original) e o outro com uma remixagem. Soa decepcionante? Não é; a versão remasterizada é muito boa, com qualidade sonora bem superior à dos lançamentos anteriores (incluindo a Deluxe Edition da década de 2010), e a remixada é indispensável: em primeiro lugar, temos mais presença de Dio entre as músicas, interagindo mais com o público, a passagem de “Paranoid” a “Children of the Grave” é mais longa, e, sobretudo, a nova mixagem finalmente fez Live Evil soar como deveria: o baixo de Geezer Butler ganhou mais destaque, o vocal de Dio está tão claro que ele parece estar cantando do seu lado e, acima de tudo o mais, o som da bateria ficou mais encorpado, mais
pesado – confira o solo de Vinnie! Várias das músicas na versão remixada estão mais longas do que no LP original, mas todas as versões do Live Evil estão diferentes nesse aspecto – o que me fez comparar as diferentes versões do álbum:

Live Evil foi um álbum bastante judiado nas primeiras versões em CD: a primeira edição não trazia “War Pigs”, a segunda a recolocou, mas cortou quase tudo o que Dio falavaentre as músicas. A Deluxe Edition de 2010 voltou ao padrão original, mas a maior qualidade sonora da nova edição a torna preferível. Este foi o primeiro disco que comprei do Black Sabbath, quase 40 anos atrás – e ainda é uma das melhores introduções à banda que eu posso recomendar. A versão remixada dura 86’27”, o que, comparado com o vinil original, que tinha duração registrada de 78’40”, significa um ganho de quase oito minutos, mesmo sem trazer nenhuma música adicional. Ainda assim, poderíamos ter alguns bônus, mesmo que fossem versões alternativas das músicas que compõem o álbum original – por isso, quatro estrelas para esta versão!

The famous last words…

Em resumo, a decisão de adquirir as Super Deluxe Editions depende de quatro fatores principais: o quão fanático você é pelo Black Sabbath, o grau de seu interesse pelas versões ao vivo e alternativas, o valor que dá pelo material gráfico e, sobretudo, a sua disponibilidade de $$$$… Uma coisa eu posso garantir: o som é o melhor de todas as edições em CD até hoje, e os comentários que li também são favoráveis às boxes em vinil – mas, como não compro LP, não posso dizer nada. Poderiam ser melhores? Talvez, mas quem sabe o que mr. Iommi está escondendo nos seus cofres? De momento, pode ser que essas não sejam as edições definitivas dos discos da banda, mas hoje não há melhores no mercado. E se a gente puder sonhar, que venham Born Again (já prometido por Tony em entrevistas, aliás), Sabbath Bloody Sabbath (quem sabe com o show no California Jam? E talvez até com um DVD com a filmagem?) e Never Say Die! (e seria um sonho ter as gravações com Dave Walker no meio, o show da turnê de 1978 lançado em vídeo no passado, comemorando o 10º aniversário da banda, preferencialmente em áudio e vídeo).

De concreto, sabe-se que os álbuns na IRS, com Tony Martin nos vocais, devem ser relançados, mas não se sabe se serão idênticos aos originais, Deluxe Editions em CDs duplos ou Super Deluxe Editions como essas. O tempo dirá!

2 comentários sobre “Black Sabbath – Super Deluxe Editions, Valem a Pena?

  1. Uma caixa mais linda que a outra. Eu tenho uma baita vontade de adquirir esses boxes, mas no momento, o orçamento está destinado para outras prioridades. Mas com certeza, se fosse pegar só uma, seria a do Technical Ecstasy.

  2. Ótima escolha, uma vez que é a que traz mais coisas novas em relação às outras. O remix do Steven Wilson é muito bom, as versões alternativas trazem algumas surpresas e o CD ao vivo é muito bom. Além disso, embora seja um disco considerado menor na discografia do Sabbath, é muito bom!

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