Melhores de 2023: Por André Kaminski

Melhores de 2023: Por André Kaminski

Diferentemente dos anos anteriores em que eu ouvia aí de uns 30 a 50 discos durante o ano todo (e mais durante os meses de novembro e dezembro), esse ano eu escutei mais de 100 discos de estilos variados e mais de bandas e artistas que não são lá muito famosos ou medalhões do estilo. Essa minha lista provavelmente é uma das que terá mais discos e bandas desconhecidas mas das quais eu considero ótimos trabalhos neste ano. Eu recomendo que você também os ouça porque tem bastante coisa bacana que dá de aproveitar daqui.


Wheeler Walker Jr – Ram (country/southern rock)

Wheeler Walker Jr. é uma espécie de personagem do comediante americano Ben Hoffman. Ele foi criado em 2013 como uma esquete para o seu programa “The Ben Show” onde ele criou uma música-paródia chamada “Eatin’ Pussy and Kickin’ Ass” e virou uma espécie de “Massacration do country americano”. Desde então, lançou cinco discos (sendo este aqui o último) e tem uma agenda lotada de shows e muito sucesso nas plataformas de streaming da vida. Para se ter uma ideia das letras e temas tratados, o primeiro disco dele foi lançado como streaming no Pornhub! E neste último disco, ele se focou em um peso maior do rock e nos riffs e, se você for da turma do politicamente correto, melhor passar longe dele porque o sujeito não perdoa em canções como “Born to Fuck”, “Money N’ Bitches” e “Credit Card” sempre com letras ácidas e piadas bem ofensivas seja qual for o “alvo” delas. Mas se você não se importar com isso, terá em mãos um excelente disco de country/southern rock bem animado e divertido.


Thorium – Extraordinary Journeys Pt. 1 (heavy metal)

A primeira coisa que mais me chamou atenção nesses belgas é o fato do vocalista David Marcelis ter um timbre de voz parecido com o de Andre Matos. Agora tente imaginar o falecido vocalista junto a um instrumental que lembra o Running Wild e temos este ótimo disco do Thorium, banda que eu não conhecia. Terceiro disco deles, temos aqui um disco daquele heavy/power típico com pedal duplo, agudos e guitarras proeminentes em um instrumental bem vigoroso. Não é disco que irá revolucionar o gênero, mas tem todos os ingredientes na dose certa para formar uma massa sonora do meu agrado.


Thanatofobia – Kaleidoscope of Fears (death metal)

Aqui temos uma dupla de um russo e um bielorusso que fez um metal extremo de muito bom gosto e porradaria em seus 40 minutos divididos em 9 faixas. Lançado no dia 15 de dezembro, ou seja, quando a grande maioria das pessoas já escolheram seus favoritos, mas que não passou batido por mim que bateu pescoço aqui ouvindo essa podreira. Kaleidoscope of Fears traz aquele tipo death metal noventista em que há uma mistura de mais técnica como do Death junto a brutalidade do Disgorge e aqueles vocais guturais que ninguém entende nada. Essa é mais uma banda que conheci este ano. Esse tipo de sonoridade poucos gostam (aqui mesmo na Consultoria é coisa rara), mas é álbum para gente que curte aqueles deaths bem extremos mesmo.


Edward de Rosa – Darkness Falls (progressive metal)

Um metal progressivo muito pesado, cheio de solos e quebras rítmicas é o que irá encontrar aqui. Esse disco é para gente que curte os discos solo do Kiko Loureiro por exemplo, só que com mais peso e menos balada. Para quem curte momentos mais singelos de guitarra, pode ficar um pouco decepcionado, mas quem quer ouvir os momentos instrumentais mais pesados de bandas como Symphony X e Dream Theater, o guitarrista italiano Valerio de Rosa fez um trabalho primoroso nestas canções. Não há vocais aqui exceto alguns poucos coros, mas sinceramente, o disco é tão variado que não acho que sentirá falta. As orquestrações também são muito boas. Um dos melhores registros instrumentais que ouvi nesses últimos 3-4 anos.


Texas Hippie Coalition – The Name Lives On (southern metal)

Se você gosta de Black Label Society, vai curtir o Texas Hippie Coalition. A pegada instrumental é a mesma, mas os vocais de Big Dad Ritch lembram mais o de Chris Boltendahl do Grave Digger. Há também uma influência maior de hard rock do que na banda de Zakk Wylde, então se você curte guitarras melodiosas irá se esbaldar bastante. Músicas como “Keep my Name Out of Your Mouth” demonstram que o terreno para explorar as sonoridades desse metal sulista/grooveado que foi bastante popularizado pelo Pantera é extenso. Tá aí uma banda que merecia aparecer mais nas mídias especializadas.


The Black Owl – Let Us Prey (blues rock)

Essa aqui é para quem curte aquele rockão blueseiro dos barbudos do ZZ Top. Há também clara influência de AC/DC. O som é bem na linha, ou seja, vai ter aquele baixo pulsando forte, letras falando de estrada e festas e aquele riff de guitarra típico do blues rock que você já ouviu milhões de vezes e que ama mesmo assim. Faixas como “Point my Fingers” e “Pretty Baby” são daquelas de chacoalhar os cabelos e se deixar levar pelo som. “Fever” é puro AC/DC. Ouvir dentro do carro na estrada então, é perfeito. Não tem erro, é para amantes de ZZ Top e Lynyrd Skynyrd.


Lucas Santtana – O Paraíso (MPB/folktrônica)

Primeira curiosidade a respeito deste artista brasileiro é que ele é sobrinho do lendário cantor Tom Zé. Embora eu não seja grande conhecedor do Tom Zé, sei bem que a mistura de vários estilos brasileiros em uma salada sonora muito bem azeitada e temperada é característica dele e também deste álbum, com a diferença que Lucas adiciona fortes camadas de teclados e efeitos eletrônicos. Sem limites no que usar em seu som, Santtana consegue criar uma sonoridade única com aquele requinte típico da bossa nova com atmosferas e som espaciais modernos. Surpreso com o bom gosto desse sujeito, que já no alto dos seus 52 anos e vários discos desde o início dos anos 2000, me pareceu ter lançado um de seus melhores trabalhos. Vale muito a pena conhecê-lo.


Silver Trail – Late Arrival (hard rock/blues)

Uma banda norueguesa da qual obtive pouquíssimas informações a respeito de sua história pela internet. Não encontrei muita coisa exceto mesmo este disco que é deliciosamente rock ‘n’ roll de alma. O vocalista tem um timbre de voz diferente, mais grave, que lembra bastante o velho rockabilly dos anos 50 e 60. A capa do disco é tão bonita quanto o seu som. Uma pena eu não ter conseguido muita coisa deles ainda, mas vou continuar vasculhando para ver se há mais discos ou trabalhos anteriores de seus membros. Um desperdício este disco ficar escondido com tão poucos ouvintes no youtube. Ouça “Eat my Shorts” e eu duvido você não se empolgar e viajar junto!


Saint Deamon – League of the Serpent (power metal)

Nunca neguei que o power metal é um dos meus gêneros favoritos de música. Não, nunca enjoei. E com a idade que estou, sei que vai continuar sendo provavelmente até o final da minha vida. E sempre estou em busca de novas bandas do estilo junto a ouvir também os medalhões. Os suecos do Saint Deamon estão no ramo desde 2006 e, diferente das outras bandas citadas aqui, eu já os conhecia desde o primeiro disco lançado. Meu favorito deles era o segundo álbum Pandeamonium [2009]. Era o meu favorito, porque agora é este League of the Serpent, ainda mais pesado, menos veloz mas mais melódico, mais variado e com composições muito mais interessantes. Vi resenhas elogiosas em relação a este disco (e seus anteriores) o que é um indicativo que fora dos medalhões, o Saint Deamon com certeza é uma das melhores bandas deste tão amado e odiado subgênero do heavy metal.


Vitral – Os Loucos (Symphonic Prog)

Esta banda comemorou em 2023 seus 40 anos desde que foi fundada, embora infelizmente não tenha passado todo esse tempo ativa. Comandada por Eduardo Aguillar e Claudio Dantas e que na época também tinha em sua formação a excepcional Elise Wiermann que nos brindaria depois com o Quaterna Réquiem (sendo Claudio também o baterista), a banda durou pouco e não deixou nada gravado. Após décadas, Eduardo e Claudio retornaram e gravaram o ótimo Entre as Estrelas [2017]. Sem Claudio, Eduardo se uniu a novos músicos e soltou este lindíssimo Os Loucos, que de loucura não tem nada mas de beleza, tem muito. Tirando o fato de ser apenas instrumental, sua sonoridade lembra bastante o primeiro disco do Bacamarte só que mais pesado no sintetizador. Ou seja, qualidade altíssima.


Discos que quase entraram:

Archetype of Disorder – Odyssey in Space (Symphonic Metal)
Bloodbound – Tales from the North (Power Metal)
Caravela Escarlate – III (Symphonic Prog)
Confrontational – Cut (Synthwave)
Cruel Force – Dawn of the Axe (Thrash Metal)
Denuit – Ritual (Darkwave)
Green Lung – This Heathen Land (Stoner Metal)
Lowest Creature – Witch Supreme (Thrash Metal)
RPM – Sem Parar (Pop Rock)
Ryan Hamilton – Haunted by the Holy Ghost (Power Pop)
Stardust – Kingdom Of Illusion (AOR)

15 comentários sobre “Melhores de 2023: Por André Kaminski

  1. dessa lista aí escutei o Green Lung – This Heathen Land. que é muito bom.
    os demais passaram despercebido.
    escutei hoje algumas músicas desses artistas citados . o Lucas Santana é muito interessante.

    1. É um bom disco este do Green Lung. Vi também em outras listas.

      Dentro do underground brasileiro tem muitos artistas com uma originalidade e criatividade enormes, mas que praticamente não tem um lugar para divulgarem seus trabalhos em que haja bom alcance. É muito mais a gente ter que ir atrás do que eles chegarem até nós.

  2. Que lista massa! Parabéns! Eu sou fã de listas, até listas das melhores listas de alguma coisa eu curto. Para mim, as listas de melhores do ano servem para me apresentar aquilo que eu não ouvi, e a sua foi, de todas as de 2023 que li, seja de vocês, seja de outros sites/blogs, a que trouxe mais lançamentos que eu não conhecia. Não gostei da maioria do que listou, mas isso é um outro critério; o que me fez considerar a sua a melhor de todas foi o fator “não conheço/não ouvi, mas se está nessa lista, vou ouvir”. Já do que gostei da sua lista – Vitral eu ainda não consegui ouvir, confesso -, Lucas Santtana e Texas Hippie Coalition também estão na minha própria lista dos 10 melhores de 2023! À exceção desses 3 últimos citados (os 2 que eu já conhecia e o que ainda não ouvi), os sete restantes eu ouvi integralmente. Thanatofobia, realmente, não é a minha praia, mas na última música (acho que é a última), vem uma parte melódica muito bonita. Wheeler Walker Jr é uma boa sobra de estúdio de ZZ Top (com outras letras, claro). Thorium, por sua vez, é um misto de boas sobras de estúdio do Bruce Dickson e algumas do próprio Maiden, mas confesso que vou ouvir de novo para dar outra chance. No mais, é isso, feliz ano novo!

    1. Valeu Marcelo!

      Esses esquemas de listas de melhores para mim tem essa função mesmo que você citou. Não servem para “confirmar os mesmos gostos que eu” mas sim para conhecer possíveis bons trabalhos que passaram despercebidos pela gente e que o autor considera ótimos de acordo com os seus gostos e impressões. Espero que tenha aproveitado as sugestões!

      1. Sim, aproveitei-as! E deixo uma aqui, caso não tenha visto, e que está na minha lista dos 10 mais de 2023: RPWL – Crime Scene. Depois, diga-me o que achou desse progressivo… Abraços.

        1. Tranquilo Marcelo!

          Eu conheço o RPWL e ouvi seus dois primeiros discos. Nesses últimos anos a banda passou despercebida por mim, mas ainda bem que me lembrou. Ouvi este último Crume Scene e achei um ótimo disco também. Eles realmente amam Pink Floyd, a influência dos britânicos no som deles é evidente.

          Abraços!

    1. Eu sempre gostei da banda, Marcos. Tirando o Elektra de 2010, gosto de todos os outros discos e gostei desse último inclusive.

  3. Ainda sobre as mençoes honrosas, que só estou escutando hoje, o Stardust – Kingdom Of Illusion – é muito bom mesmo!

  4. Fui atrás de alguns dos discos mencionados para conhecer; gostei bastante do The Black Owl e do Silver Trail. Ótimas recomendações!!

      1. Uma pena mesmo que informações sobre eles sejam tão poucas. Mas me surpreendeu saber que são caras já veteranos fazendo um som cheio de vigor como o deles.

  5. É tão raro algo como esse tal de THANATOPHOBIA aparecer no Consultoria que tenho que parabenizá-lo, mano! Mistura nonsense e aloprada de CANNIBAL CORPSE, ANAAL NATHRAKH e MESHUGGAH, gostei muito do som dessa banda. É aquilo que sempre falo: as influências do THANATOPHOBIA são evidentes, mas o grupo não é um mero pastiche das bandas que o influenciaram. Valeu!!!!

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