Melhores de 2023: Por Marcello Zapelini

Melhores de 2023: Por Marcello Zapelini

2023 foi, diferentemente de 2022, um ano em que ouvi vários lançamentos. Alguns dos meus artistas favoritos despertaram de longas hibernações, algumas bandas que conheci depois de ter formado meu gosto musical mantiveram-se em funcionamento, e uma banda de novatos, já em novembro, fez-me reavaliar toda a lista que estava construindo até então. Dessa maneira, minha lista dos dez melhores discos do ano saiu assim…


1) DIRTY HONEY – Can’t Find the Brakes

Um stonemaníaco como eu assume com dor no coração: este é o melhor disco do ano. Essa banda de Los Angeles é perfeita para quem quer um rock meio bluesy, com influências de AC/DC, Led Zeppelin, Aerosmith dos anos 70, Bad Company (ou seja, só coisa boa). O grupo é formado por Mark LaBelle (vocais), John Notto (guitarras), Justin Smolian (baixo) e o novo integrante, o baterista Jaydon Bean. Neste segundo álbum temos onze belas composições originais entre rocks setentistas e baladas, tudo embalado numa capa com um belo graffiti de Kelly “Risk” Gravel, figura famosa nesse ramo em LA. O álbum traz vários destaques: “Dirty Mind” possui um daqueles refrões que grudam no seu ouvido, “Rebel Son” tem uma coda simplesmente fantástica (com direito a um piano no arranjo), “Get a Little High” dá vontade de fazer o que a letra manda, a balada “Coming Home (Ballad of the Shire)” mostra que LaBelle é um ótimo vocalista, a faixa-título é aquilo que o Greta Van Fleet tentou fazer desde o começo de sua carreira – e nem sempre consegue – e “Ride On” honra o título, só que em vez do blues do AC/DC, o que se tem aqui é rock’n’roll puro. O disco foi muito bem recebido pela crítica, sendo comparado ao “Southern Harmony…” do Black Crowes e apontado como um dos melhores do ano pelo Ultimate Classic Rock. E é bem interessante ver a evolução do grupo desde o homônimo álbum de estreia: as músicas estão mais trabalhadas, LaBelle desenvolveu um estilo mais pessoal de cantar, e o instrumental está melhor. Se a sua praia for o som dos anos 70, “Can’t Find the Brakes” é um álbum que precisa constar da sua playlist – e quem sabe da sua coleção.


2) THE ROLLING STONES – Hackney Diamonds

Eu admito que é difícil para mim ser imparcial em relação aos Rolling Stones, que eu ouço desde criança e coleciono desde que comecei a comprar discos mais de quarenta anos atrás. Mas que fique bem claro: fã sempre, daqueles que defendem a banda contra seus críticos, mas fanático (como certos fissurados em Queen que tentavam me convencer que “The Works” era um grande disco), não. Dos lançamentos de 2023 este foi naturalmente o que eu mais ouvi – e não mudei de opinião desde que o resenhei para a Consultoria (veja The Rolling Stones – Hackney Diamonds [2023] – Consultoria do Rock): é um bom álbum, digno do segundo escalão dos discos da banda, mas que não se compara com os seus maiores clássicos. Há bons rocks, como “Angry”, “Live by the Sword”, “Bite My Head Off”, músicas um pouco mais pop, como “Mess it Up”, a tradicional balada do Keith Richards (“Tell me Straight”), dois bons blues em “Dreamy Skies” e “Rolling Stone Blues”, e a belíssima balada “Sweet Sounds of Heaven”, que é uma forte candidata a futuro clássico do grupo. Jagger, Richards e Wood são acompanhados por Steve Jordan e uma grande quantidade de convidados, como Paul McCartney, Elton John, Stevie Wonder e Lady Gaga, além de trazerem Bill Wyman para uma canja no baixo e terem Charlie Watts na bateria em duas músicas. Por outro lado, Darryl Jones não aparece. “Hackney Diamonds” tem grande chance de ser o último álbum de inéditas dos Stones, e se o for, terá sido uma despedida digna.


3) IAN HUNTER – Defiance Part 1

O eterno vocalista, guitarrista e pianista do Mott The Hoople nunca parou – e aos 84 anos parece não querer. Outro disco de capa amarela, como o do Metallica, outra coleção de músicas que honram o passado, e trazem memórias dos tempos áureos do rock. Neste seu 22º disco-solo (15º de estúdio), Hunter reuniu uma multidão de colaboradores, como Robert Trujillo, Slash, Mike Campbell, Ringo Starr, Jeff Beck, Brad Whitford, os irmãos DeLeo e Eric Kretz (do Stone Temple Pilots), Todd Rundgren, Joe Elliott, Taylor Hawkins, e os atores-cantores Johnny Depp e Billy Bob Thornton, ou seja, all the OLD dudes are here, e ainda assim conseguiu lançar um disco coeso e uniformemente bom do começo ao fim. A voz de Hunter envelheceu bastante, mas ele ainda consegue colocar um jeito meio Bob Dylan em “Bed of Roses”, e empresta um charme especial a “No Hard Feelings”, tornada ainda mais tocante por ser uma das últimas gravações do mestre Jeff Beck, que faz um belo solo. Ian Hunter ainda não aposentou os óculos escuros – e se o Part 1 do título não for uma propaganda enganosa, virá mais música nova em breve. “Pavlov’s Dog”, com a turma do Stone Temple Pilots, é outro grande destaque do álbum. “I Hate Hate” aparece em duas versões, uma delas com a Rant Band que tem acompanhado o vocalista nos últimos anos, e outra com participação de Jeff Tweedy, do Wilco – e acredite, você vai gostar de ter duas versões da música, mesmo que quase iguais, os vocais fazem a diferença. “Angel” é uma bela balada escrita por Hunter (que aqui toca piano) para a esposa – com quem está casado há mais de cinquenta anos, e traz um belo time: Hawkins na bateria, Whitford na guitarra e Duff McKagan no baixo. Um álbum excelente de um veterano que se recusa a abandonar o rock. Que venha a parte 2 logo!!


4) IGGY POP – Every Loser

O Iguana nunca esteve muito alto na minha lista de artistas favoritos, mas também nunca me decepcionou (vá lá, os discos do começo dos anos 80 são medonhos, mas a gente perdoa – velhos rockers não souberam aproveitar essa década). O disco anterior de mr. James Newell Osteberg Jr., “Free”, lançado em 2019, passou-me despercebido, mas a colaboração com Josh Homme em “Post Pop Depression” esteve na minha lista dos melhores de 2016. “Every Loser” foi gravado por Iggy com Chad Smith na bateria, Josh Klinghofer na guitarra e teclados, e Andrew Watt (que produz o álbum, como o dos Stones) em um monte de instrumentos, bem como os convidados Duff McKagan, Stone
Gossard, Dave Navarro, entre outros. Do início com “Frenzy” até o final com “The Regency”, temos nove músicas e duas vinhetas, totalizando menos de 37 minutos. O álbum é pesado, direto e violento, e Iggy continua em boa forma no vocal, e o peso diminui em poucos momentos, como na introdução de “New Atlantis” (uma das melhores, na minha opinião) e na balada “Morning Show”. Ainda há espaço para uma música bem oitentista, a boa “Comments”. O veterano Iggy Pop mostra, neste 19º disco-solo de estúdio, que ainda há boa música correndo nas suas veias, e continua sabendo com quem estabelecer uma parceria. E em “Neo Punk” ele dá um soco na cara de muito garoto que se acha rebelde.


5) URIAH HEEP – Chaos & Colour

Este foi um dos primeiros lançamentos de 2023 que ouvi, e o resenhei aqui no site ( Uriah Heep – Chaos & Colours [2023] – Consultoria do Rock ). As expectativas eram elevadas, pois a banda tinha lançado um disco excelente em 2018, “Living the Dream”, apontado como uma obra-prima tardia. “Chaos & Colour” não é tão bom quanto o disco anterior, mas mantém o velho Uriah Heep em boa fase. “Save me Tonight” abre os trabalhos a todo vapor, com as harmonias que sempre marcaram a banda, o órgão levando a música e Mick Box fazendo o que faz de melhor desde 1969. O álbum segue com várias músicas mais na veia do hard rock que caracteriza a banda, e surpreende por trazer três composições mais longas, “One Nation, One Sun” (uma daquelas baladas com a cara do grupo), “Freedom to be Free” (a mais ambiciosa e mais longa, com direito a um solo do baixista Davey Rimmer) e “You’ll Never be Alone” (que destaca os teclados de Lanzon), que giram em torno dos 7-8 minutos e mostram que a banda está afiada, inclusive porque agora o baterista Russel Gilbrook foi incorporado ao time de compositores (ele assina quatro músicas com Simon J. Pinto). Desde o já clássico “Sea of Light”, de 1995, o Uriah Heep tem lançado bons discos que só perdem para os melhores com David Byron e John Lawton nos anos 70, e não dá muitas indicações de que venha a parar. Mick Box pode ser o único membro fundador presente, mas não se pode desprezar o fato de que a banda mantém Bernie Shaw e Phil Lanzon desde os anos 80, e mesmo o “novato” Davey Rimmer já completou dez anos no grupo. Quanto tempo ainda continuarão, e se haverá novo álbum de estúdio, só o tempo dirá – mas que o Uriah Heep tem deixado seus fãs felizes, isso não se discute.


6) METALLICA – 72 Seasons

Escrevi uma resenha completa sobre este álbum (que pode ser encontrada aqui: Metallica – 72 Seasons [2023] – Consultoria do Rock). Desde então, ouvi o álbum diversas vezes, e mantenho minha opinião: um disco maduro, com músicas atraentes e letras bem interessantes. O grande problema do Metallica é que cada disco novo é comparado com as obras-primas do passado (seja você fã dos três primeiros discos ou do “Black Album”, não adianta, você sempre compara), e isso é um pouco injusto porque bandas veteranas não vão lançar seu melhor álbum tão avançadas na carreira. Fazia tempo que o Metallica não soava tão forte quanto em “Lux AEterna”, nem tão aventureiro quanto “Inamorata”, nem me botava para pensar como em “72 Seasons”. Outros destaques são “Screaming Suicide”, “Sleepwalk My Life Away” e “If Darkness Have a Son”, músicas que honram o passado do Metallica e apontam para o presente. Admito que a banda me decepcionou um pouco nos lançamentos anteriores, Hardwired… To the Self Destruct e Death Magnetic, que não chegam a ser ruins, mas não são discos marcantes, do tipo que você fica torcendo para ter músicas no setlist dos shows. O Metallica envelheceu e enfrenta uma série de problemas, seja de saúde, seja do seu próprio gigantismo, e pode até encerrar a carreira com este álbum, mas se for para tentar superá-lo, espero que eles continuem!


 

 

 

 

 

 

 

 

7) RIVAL SONS – Darkfighter/Lightbringer

Acompanho o Rival Sons desde “Great Western Walkyrie”, de 2014 (um dos melhores discos da década passada, na minha modesta opinião), e tive a oportunidade de assistir a banda ao vivo abrindo para o Black Sabbath na sua turnê de despedida em 2016. A turma de Scott Holliday não me decepcionou desde então, e neste ano de 2023 lançou dois discos, “Darkfighter” e “Lightbringer”. Comecemos com o primeiro deles: “Darkfighter” inicia com uma introdução de órgão que leva a “Mirrors”, fantástica abertura para o disco, com Jay Buchanan dando um show nos vocais. A ela segue-se o peso de “Nobody Wants to Die” e a meio pop “Bird in the Hand”, bem diferente da maioria das músicas “normais” da banda, mas nem por isso menos interessante. “Rapture” traz de volta o clima tenso típico dos discos do Rival Sons, e o que se tem daí em diante é um conjunto de músicas bem dentro do que os fãs do grupo se acostumaram. “Ligthbringer”, lançado em outubro deste ano, inicia com a faixa “Darkfighter”, longa, bem arranjada e que estabelece a continuidade entre os dois álbuns; ela começa meio devagar, mas ganha peso – e tem um solo no violão (!). Já “Mercy” é paulada pura e tem um ótimo riff, enquanto “Redemption” é uma balada com vocais emocionados de Jay Buchanan. O peso volta com “Sweet Life”, com Dave Beste encharcando o baixo com fuzz nesta que é uma das minhas favoritas de “Lightbringer” e continua com “Before the Life”. O álbum se encerra com “Mosaic”, outra música mais leve, no estilo de “Bird in the Hand”, com bom solo de Scott Holliday. “Lightbringer, no final das contas, é mais suave do que “Darkfighter”, mas não é um disco ruim, e, embora ache que este último tenha ficado melhor, os dois álbuns como um todo formam uma só experiência e merecem uma audição atenta por parte dos fãs de bandas mais recentes que seguem a cartilha do classic rock.


8) RIVERSIDE – ID.Entity

Os poloneses do Riverside continuam com seu interessante rock neoprogressivo neste oitavo álbum, o primeiro com o guitarrista Maciej Meller como membro oficial. O baixista e vocalista Mariusz Duda continua responsável pela composição da maioria do repertório, e o que se tem no disco são sete músicas em pouco mais de 53 minutos – na Deluxe Edition, há mais meia hora de música, sendo que duas são single edits de “Friend or Foe”, a faixa de abertura, e “Self-Aware”, que encerra a edição “normal”. O álbum foi lançado em janeiro deste ano, mas algumas músicas já vinham sendo disponibilizadas desde outubro do ano anterior. Quem gosta da banda vai ter mais um ótimo disco, mas quem não curte muito não vai encontrar razões para mudar de opinião. “Big Tech Brother”, a terceira música, inicia com uma voz de advertência, o que me fez pensar que de alguma forma tinha entrado um comercial no meu streaming quando ouvi pela primeira vez! Independentemente do truque, é uma ótima composição, com boa variação instrumental, belas guitarras e ótimo vocal de Duda. “The Place Where I Belong”, com seus mais de 13 minutos, é um mini-épico moderno, aberto pelos vocais suaves de Duda e um clima meio pink-floydiano no início, mudando significativamente após os primeiros três minutos. O baixo cheio de fuzz inicia “I’m Done With You”, a música mais hard prog do álbum e outro destaque; o clima pesado continua com “Self-Aware”. Na Deluxe Edition, a climática instrumental “Age of Anger”, com seus quase doze minutos de duração, levanta a pergunta: por que não está no álbum regular? Depois os artistas se queixam de que ninguém quer comprar as mídias físicas… O Riverside parece ter finalmente superado a morte do guitarrista Piotr Grudzinski, então, resta esperar que o próximo álbum não demore mais cinco anos.


9) GOV’T MULE – Peace… Like a River

O 13º álbum de estúdio do Gov’t Mule mantém a tradição da banda de lançar bons discos de blues-rock, e marca a despedida do baixista Jorgen Carlsson, pondo fim à formação mais duradoura do grupo, que inclui os fundadores Warren Haynes (guitarra/vocal), Matt Abts (bateria) e Danny Louis (teclados). O disco também conta com alguns convidados especiais, como Billy Gibbons (que dá as caras – e as guitarras – em “Shake Our Way Out”), Billy Bob Thornton (de novo na minha lista? O ator canta/declama em “The River Only Flows One Way”, mas a música é a mais fraca do álbum) e Ivan Neville, e traz doze músicas em mais de 76 minutos. O disco começa com a fantástica “Same as it Ever Was”, igual ao que a banda sempre fez, mas ainda assim diferente como nunca! Uma das melhores músicas nos quase 30 anos do Mule. A dupla “Made my Peace” e “Peace I Need” acaba formando, tematicamente, uma suíte com mais de 16 minutos, os melhores momentos do disco na minha opinião. A funky “Dreaming Out Loud” traz o mestre Ivan Neville e Ruthie Foster dividindo os vocais com Warren Haynes e é outro destaque. “Just Across the River” traz outra convidada especial, uma cantora que desconheço, Celisse, que tem uma bela voz e faz um bom dueto com Warren. O Gov’t Mule no final de novembro lançou o EP “Time of the Signs”, com músicas que “sobraram” das sessões deste disco (e uma versão sem Billy Bob para “The River…”). Ainda não consegui ouvir o bastante para formar uma opinião, mas a primeira impressão é boa.


10) FOO FIGHTERS – But Here We Are

Para o 10º lugar na lista, fiquei em dúvida entre este e Mirror in the Sky, do Yes. Optei pelo Foo Fighters por não estar entre as minhas bandas favoritas, e porque este disco pode ser colocado entre os melhores deles – o que não acontece com o do Yes. O 11º álbum da banda é o primeiro a ser gravado após a morte de Taylor Hawkins em março de 2022, mas de resto traz os mesmos músicos que estrearam em “Concrete and Gold”, com Dave Grohl na bateria novamente, e o resultado é o melhor disco deles desde “Wasting Light”, de 2011. Verdade que eles são meio como o AC/DC e os seus discos são bastante uniformes, mas tem algumas diferenças que chamam a atenção e fazem com que algumas músicas grudem mais do que outras. No caso deste, a faixa-título é, na minha opinião, uma das melhores coisas que eles fizeram em toda a sua carreira, tornada ainda mais comovente quando se pensa em Hawkins, “Rescued” é uma ótima abertura para os trabalhos, “Nothing at All”, com uma melodia interessante e bem cadenciada, e “Hearing Voices” traz um refrão excelente – e estamos falando da primeira metade do álbum. No “lado B”, temos o dueto pai-filha de Dave e Violet Grohl em “Show Me How” (e a garota de 17 anos canta direitinho), a longa (mais de dez minutos de duração) “The Teacher”, na qual não botava fé e se mostrou melhor do que eu esperava, e o encerramento com a baladinha “The Rest”. O álbum se tornou o sexto do Foo Fighters a liderar a parada britânica, tendo chegado ao 8º posto na americana, vendendo bem para esses tempos. Se em 2022 o Foo Fighters parecia ter chegado ao fundo do poço, em 2023 a banda mostra vigor e qualidade suficientes para agradar a seus fãs e convencer este cético a colocá-la em 10º lugar na sua lista de melhores do ano (não que isso faça diferença para Dave Grohl e seus asseclas…).

Agora, peço um espaço para entrar em alguns lançamentos que, para mim, são dignos de destaque positivo – e, infelizmente, um negativo – falando daquele disco que, ainda que não seja top 10, merece uma lembrança, da melhor box set e do melhor relançamento deste 2023 que se finda. No lado negativo, um grande músico lançou possivelmente seu pior álbum.


MENÇÃO HONROSA

ALLAN CLARKE – I’ll Never Forget

O ex-vocalista do The Hollies esteve afastado do meio musical por vinte anos, por causa de uma série de problemas de saúde, retornando em 2019 com Resurgence, e agora com este álbum, que traz a participação do velho amigo Graham Nash (que também lançou um bom disco, Now, neste ano, embora não seja material de top 10 na minha lista) em diversas músicas. A faixa-título é, para mim, a música mais bonita de 2023 (e olha que isso significa colocar “Sweet Sound of Heaven”, dos meus adorados Rolling Stones, em segundo plano…). O álbum começa muito bem com a surpreendentemente pesada “You Need Someone to Save You”, e segue com a linda faixa-título, com o apoio de Graham Nash nos backing vocals (pensar que os dois são amigos desde 1948…), e tem em “Buddy’s Back” um rockabilly agradável e despretensioso que homenageia o inspirador do nome dos Hollies, também presente no novo disco de Graham. Apesar de algumas escorregadas com baladinhas country meio melosas, o álbum é muito interessante, trazendo outros destaques como “Movin’ On”, que tem boas guitarras e bela harmonia vocal entre Clarke e Nash, a divertida “Let’s Take this Back to Bed”, com o nosso herói na harmônica, e a bela “Who Am I”, que encerra o disco em alto nível. “I’ll Never Forget” é um disco impressionantemente bom de um artista que nunca deveria ser esquecido (trocadilho intencional) e que ainda canta muito bem do alto de seus 81 anos.


DECEPÇÃO DO ANO

STEVEN WILSON – The Harmony Codex

O sétimo álbum-solo de estúdio do guitarrista, tecladista, vocalista, compositor, workaholic e remixador Steven Wilson apresenta uma lista impressionante de convidados (Pat Mastelotto, Ninet Tayeb, Theo Travis, Guy Pratt, entre outros). Após a meio desconjuntada “Inclination”, a curta “What Life Brings” traz uma bela melodia, que faz com que o ouvinte queira uma música mais longa – o que infelizmente não aconteceu. “Economies of Scale” (acho que é a primeira vez que vejo um conceito básico de economia empresarial transformada em música) traz belos vocais prejudicados pela percussão eletrônica. A música mais longa do disco, “Impossible Tightrope”, é uma incursão no progressivo que destacou o músico no passado, e uma das poucas músicas realmente boas deste álbum. “Rock Bottom”, que vem em seguida e destaca os vocais de Ninet Tayeb, é outra boa música, mas infelizmente os bons momentos deste “The Harmony Codex” são poucos para um álbum com 64 minutos – a faixa-título, por exemplo, é monótona e cansativa. Ao menos “Staircase”, com mais de nove minutos, é aceitável e encerra o disco dando alguma esperança para o ouvinte. The Harmony Codex foi lançado em edição limitada com três CDs, mas não tive acesso a ela – e confesso que não me esforcei para procurá-la. Wilson já deu umas escorregadas antes, mas sempre lançou bons discos com o Porcupine Tree e em seu próprio nome, e no ano passado se reuniu com sua banda original no bom “Closure/Continuation”, o que faz deste “Harmony Codex” uma decepção ainda maior.


BOX SET DO ANO


BOB DYLAN: The Complete Live at Budokan

“Bob Dylan at Budokan”, o álbum duplo ao vivo lançado no Japão em 1978 (e no resto do mundo em 1979), pode fazer parte da seção “Discos que parece que só eu que gosto” numa boa. Desde que o ouvi pela primeira vez nos anos 80, gosto deste álbum, e discordo de quem o critica. Por quê? As razões são simples: Dylan lançou um “greatest hits live” ousado e criativo, com músicas rearranjadas (certo, algumas ele errou, mas são minoria), sua voz está em boa forma, a banda de apoio é muito boa, e, melhor de tudo, ele parecia feliz de estar nos palcos japoneses, inclusive fazendo brincadeiras na hora de apresentar os músicos. A Sony Music japonesa juntou na íntegra os dois shows gravados em 28/2 e 1/3 de 1978 para formarem este lançamento, e caprichou muito na box, com o poster do LP original, um segundo poster autografado de anúncio do show, um belíssimo livreto com a história da turnê japonesa e desta reedição, uma reprodução do programa da oficial (com um interessantíssimo texto escrito em japonês), reproduções dos tickets e do flyer originais, e uma qualidade sonora sensacional. Os dois shows têm setlists bem semelhantes, mas sempre se percebe alguma diferença entre as versões, e tem muita coisa boa que não saiu no disco original; no total, são 58 faixas contra as já generosas 22 do álbum de 1978. Se você é fã do Dylan, não perca, especialmente por causa das músicas que não fizeram parte da edição original, como “The Times They Are A-Changin’” em versão instrumental, “Tomorrow is a Long Time”, “Reposession Blues” e “Love Her With a Feeling”, estas duas últimas executadas somente na turnê de 1978.


RELANÇAMENTO DO ANO

GRATEFUL DEAD: Wake of the Flood

O primeiro álbum da banda sem o adorado vocalista, tecladista e percussionista Pigpen também foi o primeiro registro de estúdio com o casal Godchaux, e o primeiro lançamento da Grateful Dead Records. Para o 50º aniversário, os arquivistas prepararam uma reedição caprichada, bem como disponibilizaram no streaming todas as gravações feitas para o álbum. A nova edição é um CD duplo, como as outras reedições de 50 anos, mas, diferentemente das demais, Wake of the Flood saiu com duas bônus no CD 1, as demos para “Here Comes Sunshine” e “Eyes of the World” – mas, mais uma vez o material adicional da edição em CD feita no século XXI desapareceu desta nova versão, fazendo com que os fanáticos pelo Dead sejam obrigados a manter as duas, se quiserem ter acesso a todas as versões alternativas das músicas. O CD 2 traz pouco mais de 68 minutos de um show na Northwestern University em Evanston, Illinois, com destaque para uma das poucas vezes em que a banda tocou “Weather Report Suite” completa. É pena que não se tem o show completo, mas o que se tem aqui de amostra é sensacional. “Wake of the Flood” foi o primeiro lançamento da Grateful Dead Records, e marcou uma nova fase da banda, com músicas mais melodiosas, deixando de lado a psicodelia dos anos 60. Um dos melhores álbuns da banda nos anos 70. O Grateful Dead ainda lançou uma box set com shows de 1973, mas infelizmente motivos de força maior (leia-se falta de $$$) me impediram de comprá-la.


Para concluir, alguns discos que saíram neste ano e chamaram a atenção.
OUTROS LANÇAMENTOS INTERESSANTES DE 2023
ALCATRAZZ – Take No Prisoners
ALICE COOPER – Road
BARONESS – Stone
BOB DYLAN – Shadow Kingdom
BOB DYLAN – Fragments: The Time Out of Mind Sessions (Bootleg Series vol. 17)
CAT POWER – Cat Power Sings Dylan: The 1966 Royal Albert Hall Concert
COCO MONTOYA – Writing on the Wall
DEPECHE MODE – Memento Mori
THE DUST CODA – Loco Paradise
FLEETWOOD MAC – Rumors Live
GENESIS – BBC Broadcasts (box set)
GRAHAM NASH – Now
GRATEFUL DEAD – RFK Stadium, Washington D.C., 6/10/1973
GRETA VAN FLEET – Starcatcher
HAWKWIND – The Future Never Waits
JETHRO TULL – Broadsword and the Beast Monster Edition (box set)
JETHRO TULL – RökFlöte
LAST IN LINE – Jericho
NEIL YOUNG – Chrome Dreams
NEIL YOUNG – Before and After
PAUL RODGERS – Midnight Rose
PRETENDERS – Relentless
QUEENS OF STONE AGE – In Times New Roman
ROLLING STONES – GRRRR Live
SOFT MACHINE – Other Doors
TANITH – Voyage
THOSE DAMN CROWS – Inhale/Exhale
TYGERS OF PAN TANG – Bloodlines
VANDENBERG – SIN
THE WHO – Who’s Next/Life House (box set)
THE WINERY DOGS – III
YES – Mirror in the Sky

7 comentários sobre “Melhores de 2023: Por Marcello Zapelini

  1. por enquanto essa é a minha lista :(ouvi mais de 70 álbuns no YouTube).
    1- catlle cecapitaded(terrasite)
    2- riverside (ID entity)
    3 -greta van fleet (starcatcher)
    4-dozer ( drifting in the endless void)
    5-haken (fauna)
    6- in flames (foregone)
    7witch hazel ( IIV Sacrament)
    8-godthrymm(distorcions)
    9- smolder (violent creed of vengeance)
    10- ahab(the coral tombs)
    menção honrosa( álbuns que merecia está na lista:
    fuzzrider(fuzzrider)
    winger (seven)
    code Orange ( the above)
    Metallica (72 seasons)
    metal church( congregation of annihilation)
    arrival of autumn ( kingdom undone)
    legion of the danmed ( the poison chalice)
    prong (state of emergency)
    socerer (reign the reaper)

    obs: ainda não ouvi o álbum do roling stones e nem do baroness (deixei pra depois)

    1. Tem coisa boa aí, preciso conferir alguns dessa tua lista que ainda não ouvi! Obrigado por comentar! O disco do Baroness é bom, mas acho que eles fizeram melhor!

  2. Dos discos da lista principal, ouvi Ian Hunter (bom disco) e o do Metallica (mediano). Esse ano acabei me focando mais em artistas novos ou não tão conhecidos e acabei ouvindo pouquíssimos medalhões (e os próprios medalhões lançaram pouco este ano comparado aos anteriores). A minha será a próxima do dia 02/01.

    1. Ian Hunter dificilmente decepciona! Esperando agora pela lista para ver o que posso garimpar. Obrigado pelo comentário, André!

  3. Muito boa lista!!! Pena que não ouvi o Dirty Honey ainda. Banda muito boa! Já o GOV’T MULE e o Foo Fighters eu não gostei, principalmente este último.

    1. Obrigado! O Dirty Honey foi uma grata surpresa, espero que goste ao ouvir. Gov’t Mule é uma banda que me toca fundo, então, gosto de quase tudo o que fazem… Já o Foo Fighters é um grupo do qual gosto sem ser fã, e este disco em si me caiu muito bem!

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