Estranhos no Paraíso – Cotidiano Confuso [2011]

Estranhos no Paraíso – Cotidiano Confuso [2011]

 

Por Davi Pascale

 

Em 2010, os fãs do Velhas Virgens foram surpreendidos com um lançamento nada usual. Alexandre Cavalo – guitarrista e compositor do grupo – lançava seu projeto paralelo. Estranhos no Paraíso era exatamente o oposto que seu grupo principal fazia. Um rock suave, pop e com letras pessoais. E é justamente sobre esse álbum que falarei hoje.

Sempre que uma banda chama muito minha atenção, procuro acompanhar tudo o que acontece em torno dela. Os discos, os vídeos, os shows, e… os projetos paralelos. Essa não era a primeira vez que me deparava com um projeto envolvendo um músico do Velhas Virgens. Já tinha, em minha coleção, o CD do Cuelho de Alice, que contava com os vocais rasgados de Paulão de Carvalho. E, claro, com esse não foi diferente, assim que o disco foi lançado, saí correndo para comprá-lo.

Quem já estava ligado nos lançamentos online, já conhecia o disco quando esse chegou às lojas. O músico, antenado com as mudanças de mercado, soltou o álbum no meio digital, antes mesmo de lançar a mídia física. Eu prefiro sempre esperar a mídia física e se o artista decidir não lança-la, recorro ao streaming. Isso porque não consegui perder o costume de ouvir o disco acompanhando as letras, lendo os créditos, vendo os nomes que estão envolvidos. Também gosto de ouvir com o som alto, em um bom equipamento de som. Principalmente, quando estou ouvindo um álbum pela primeira vez. Enfim… velhos costumes que ainda não consegui perder.

 

Da esquerda para a direita: Juliana Kosso, Martelo, Alexandre Cavalo e Paulo Anhaia.

 

O Velhas criou fama por fazer um som mesclando rock n roll com blues e letras extremamente irreverentes falando sobre vida na estrada, bebedeira e sexo. Tudo de maneira tão explícita que muita gente tinha – e ainda tem – dificuldade em aceitar o trabalho dos rapazes. O Estranhos no Paraíso é totalmente o oposto. Trata-se de um trabalho com letras mais sérias, diria mais intimistas, e uma sonoridade mais pop. Sim, pop, com sonoridade leve, canções curtas, refrãos melódicos. Uma judiação esse álbum ter ficado restrito ao cenário underground. Várias músicas daqui poderiam ter se tornado hit de FM, fácil, fácil. Porém, como a banda é independente e os veículos custam caros… bem, você já conhece a história.

A música de abertura “A Caixa” foi escolhida como canção de trabalho. Essa música apareceu como bônus na coletânea Correndo Pra Encontrar Meu Amor. Também foi a canção escolhida para ter um clipe na época. Por essas e outras, acabou se tornando a mais conhecida desse projeto. A música começa com um bonito dedilhado e a cantora Juliana Kosso cantando de maneira suave, quase sussurrada e acaba crescendo somente na ponte. Um modo bonito de começar o disco, mas não sei se teria escolhido essa faixa como single, para ser honesto.

E, sim, você leu certo. A vocalista do conjunto é a gatinha Juliana Kosso, conhecida por ser a voz feminina do Velhas Virgens. Aqui, ela assume os vocais principais e, na opinião desse modesto redator, a escolha não poderia ter sido mais acertada já que a considero uma das melhores vozes do rock brasileiro. Outro nome relacionado ao debochado grupo é o do produtor Paulo Anhaia que aqui assume o posto de baixista, além de dividir os vocais na bonita balada “Respostas”.

Ainda que os arranjos sejam criativos e com bastante personalidade, é claro que é possível pegarmos algumas referências. Isso é possível no trabalho de qualquer artista, na verdade. Uma referência muito bacana que surge por aqui é a do rock n roll dos anos 50 e início dos anos 60, mais precisamente em “Flor do Atlântico”. A faixa que conta com o uso de palmas e backings estilo doo-wop irá agradar em cheio aqueles que são fãs dos chamados anos dourados. Outra referência que salta aos olhos é daqueles 4 rapazes de Liverpool. Vários trabalhos de harmonias vocais, especialmente nos backings, nos remetem diretamente ao Fab Four.

 

Juliana Kosso: um dos grandes destaques da cena atual.

 

Como já disse aqui nesse texto, o trabalho do grupo tem um acento pop. Portanto, não espere trabalhos virtuoses, solos e mais solos, distorções, quebradas de tempo dificílimas. Pelo contrário, o álbum é focado mais em melodias do que em qualquer outra coisa. No entanto, há de se destacar que tanto Alexandre Cavalo, quanto o baterista Martelo fizeram trabalhos bem criativos. Eu, particularmente, gosto muito do arranjo de canções como “O Homem Que Caiu do Céu” e “Chuva”.

As letras, como disse, possuem um tom mais pessoal. Por exemplo, “Você Me Faz” (para mim, um dos grandes destaques desse CD) é uma música que o guitarrista escreveu, assim que nasceu seu filho Pedro. “Aqui Sou Eu”, de autoria de Ju Kosso, já trata sobre autoafirmação e pode ser interpretada como uma canção mais feminista.

Cotidiano Confuso ainda conta com outros ótimos momentos como a balada “Aos Treze” e o pop-rock “Nada de Mal”. O material era bem redondinho, estava tudo na dose certa. O disco é muito bem gravado, os arranjos são muito bem resolvidos e os músicos estavam em um ótimo momento criativo, mas a impressão que eu tenho é que esse trabalho, infelizmente, passou meio batido. Por isso, resolvi resgatá-lo no post de hoje. Se você curte pop-rock ou admira os músicos do Velhas Virgens, vale a audição. Então, vai lá, corre lá que o álbum já está nos serviços de streaming. Vamos valorizar um pouquinho nossa cena, vai…

 

Alexandre Cavalo: guitarrista, principal compositor e criador do Estranhos no Paraíso.

 

Faixas:

  • A Caixa
  • Você Me Faz
  • O Homem Que Caiu do Céu
  • O Que Eu Preciso
  • Flor do Atlântico
  • Respostas
  • Chuva
  • Aos Treze
  • Nada de Mal
  • Aqui Sou Eu

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