Discografias Comentadas: UFO [Parte IV]

Discografias Comentadas: UFO [Parte IV]
Phil Mogg, Pete Way, Vinnie Moore, Andy Parker e Paul Raymond. UFO em 2006

Por Mairon Machado

Depois da entrada de Vinnie Moore para a guitarra da banda, e o retorno de Andy Parker para a bateria, o UFO atinge um novo status perante seus fãs, trazendo lançamentos regulares e, em grande parte, de ótima qualidade. Logo em 2006 surge o primeiro disco dessa nova fase.


The Monkey Puzzle [2006]

O retorno de Parker à bateria da banda trouxe também um certo cheiro de nostalgia que não era encontrado anteriormente. O velhinho voltou com tudo, como mostram as potências de “Black and Blue” e “Heavenly Body”. Moore brilha nos solos de “Drink Too Much” e “Who’s Fooling Who?”, ambas lindas faixas com momentos acústicos, e também com boa participação dos teclados de Raymond. Falando em Raymond, ouvir a abertura de “Some Other Guy” e não imaginar que a voz de Mick Jagger irá surgir em seguida é impossível. O piano elétrico, a harmônica, o embalo sexy, tudo perfeitamente Stones, em uma grande faixa, onde a harmônica brilha. Outra faixa em que Raymond chama a atenção é a trabalhada “Kingston Town”, com o piano elétrico e o baixão de Way se destacando entre o hipnotizante dedilhado da guitarra. O álbum não é pesado como seu antecessor, e possui bastantes momentos amenos, onde “Good Bye You” talvez seja o mais clichê de todos, e a mais desnecessária das canções do disco. Por outro lado, curto as inspirações country de “Hard Being Me”, com uma boa participação do slide guitar, e também em “World Cruise”, faixa animada e com Moore fazendo boas intervenções ao violão. Vocalizações femininas fazem-se presente em “Down by the River”, e o vocal de Mogg em “Rolling Man” está impecável, em mais um bom som. The Monkey Puzzle é um disco mediano, que não empolga perto de You Are Here, mas com bons momentos. O álbum foi lançado em 25 de setembro de 2006 na Europa, e no dia seguinte nos Estados Unidos.

Infelizmente, pouco depois Way passou a ter problemas de saúde, e acabou por ter que se afastar da banda. Assim, para as gravações do próximo álbum, Peter Pichl ficou responsável pelas 4 cordas, apesar de não creditado no mesmo.


The Visitor [2009]

Depois de estabilizarem-se sem a presença de Way, o UFO volta como quarteto, e a participação de Peter Pichl como baixista. No dia 2 de junho lançam o excelente The Visitor. É um álbum que retorna ao peso de You Are Here, como mostra a pegada “Hell Driver”, a bem trabalhada “Living Proof”, forte candidata a melhor do disco. Novamente, chama a atenção a participação de Raymond, compondo três faixas: a baladaça “Forsaken”, a suave e setentista “On the Waterfront”, e a boa “Villains & Thieves”, na qual o piano é o instrumento de destaque. Parker também faz sua contribuição, em parceria com Robert Barth, através da pesadíssima “Stranger in Town”, e manda ver no ritmo de “Stop Breaking Down”, faixa que nos remete diretamente aos álbuns dos anos 80, assim como “Can’t Buy A Thrill”, que apesar do ritmo bem oitentista, tem nas intervenções de Moore interessantes momentos. As demais canções são da dupla Mogg/Moore. Moore dá show no violão durante a introdução da ótima “Saving Me” e trazendo um brilho country para “Rock Ready”, com uma pegada bluesy a la Led. Ao longo de The Visitor, temos as participações de Martina Frank (backing vocals em “Living Proof” e “Forsaken”), Melanie Newton (backing vocals em “On the Waterfront” e  “Forsaken”) e Olaf Senkbeil (backing vocals em “Stop Breaking Down”, “Saving Me”, “Hell Driver” e “On the Waterfront”). A edição em CD trouxe como bônus “Dancing with St. Peter”, faixa que havia sido anteriormente gravada por Mogg no projeto $ign Of 4, o qual ele está junto do guitarrista Jeff Kollman, o baterista Shane Gaalaas e Jimmy Curtain no baixo, e cujo álbum com a faixa-título foi lançado originalmente em 2002. The Visitor marcou o retorno do UFO às paradas britânicas, após 15 anos, entrando nos 100 mais na posição 99.

Ainda em 2009, no mês de julho, saiu a caixa Official Bootleg Box Set 1975-1982, contendo 6 CDs que trazem registros ao vivos entre 1975 e 1982, bem como faixas inéditas ao vivo. Já em 2010, veio a caixa Let It Roll, com 4 CDs de apresentações ao vivo da band. Também foi a primeira vez dos caras no Brasil, em maio de 2010, fazendo apresentações em São Paulo e Goiás. No baixo, Rob de Luca ficou responsável por substituir Way. Já na perna de 2011, Barry Sparks foi o homem das 4 cordas.

UFO no show de São Paulo, em 2010

The Seven Deadly [2012]

Lançado em 27 de fevereiro de 2012, este álbum é mais roqueiro que seu antecessor, mas considero-o um nível abaixo. Lars Lehmann assumiu o baixo, ao mesmo tempo que temos os vocais de apoio de Alexa Wild e Marino Carlini, que fazem participações interessantes ao longo do disco. Raymond participa novamente da escrita de três faixas, mas não brilha tanto quanto em The Visitor. O maior destaque do álbum para mim fica com “Wonderland”, com um bom ritmo para balançar o pescoço, e um excelente solo de Moore, e a sensacional “Waving Goodbye”, música com uma levada muito para cima, onde Raymond brilha no órgão, os vocais de Mogg estão rasgados e emocionantes, e Moore pula do violão para a guitarra de forma brilhante. O blues “The Fear” conta com a participação de Marc Hothan na harmônica, e é outra grande faixa de The Seven Deadly, com mais um grande solo de Moore. Aliás, Moore dá show em todas as canções, sendo os solos de “Steal Yourself” e “The Last Stone Rider” bons exemplos das qualidades musicais do rapaz, com a última tendo um refrão para se cantar em plenos pulmões. Há faixas puramente UFO anos 2000, com um vigor jovem mas com cheirão setentista, vide “Fight Night” e “Year of the Gun”, baladaça para se agarrar na patroa, através de “Ange Station”, lindona, ou a oitentista “Burn Your House Down”, e outras mais pesadas, fora dos padrões UFO, mas muito boas, como “Mojo Town”, baita riff. A versão limitada em CD conta ainda com dois bônus, através das influências country (sempre presentes na fase Moore) de “Other Men’s Wives” e a sensacional “Bag o’ Blues”, somente com Mogg acompanhado do piano, e com efeitos chiados de vinil que abrem aquele sorriso no cidadão. Musicona que deveria estar no track list original.

The Seven Deadly alcançou a posição 63 nas paradas britânicas. No ano seguinte, o grupo fez mais uma turnê mundial, vindo pela segunda vez ao Brasil, com apresentações em São Paulo, Porto Alegre, Goiânia e Rio de Janeiro.


A Conspiracy Of Stars [2015]

O 21° álbum do UFO chegou às lojas em 23 de fevereiro de 2015, e trouxe Rob de Luca finalmente efetivado como membro oficial do grupo. O garoto chega compondo duas canções ao lado do titio Mogg, a grudenta “The Killing Kind”, ótima para comear um show dessa nova fase, e “One and Only”, canção que fácil nos coloca em Mechanix ou The Wild, The Willing & The Innocent, com um diferencial no solo de Moore. Raymond também faz sua colaboração, através de “The Real Deal”, faixa suave que pode ser considerada a “balada” deste disco, apesar de não ter nada de balada, e marca presença com o hammond durante a envolvente “Precious Cargo”, faixa com um refrão bastante grudento e com Moore utilizando escalas jazzistícas com soberania em seu solo final. Destaco que a produção do disco é bastante crua, e a audição parece nos colocar exatamente na sala de ensaios do quinteto. As demais composições são da dupla Moore/Mogg, e claro, os caras estão afiados. Mogg tem uma performance vocal exuberante na ótima “Rollin’ Rollin'”. Já Moore traz o uso de slide na ótima “Ballad of the Left Hand Gun”, manda ver em arpejos durante “Devil’s in the Detail”, e solta os dedos na pancada “Messiah of Love”, com boa participação também da cozinha de Luca/Parker. Destaques ainda para o peso de “Run Boy Run” e a épica “Sugar Cane”, faixa com um climão oitentista muito interessante, onde os teclados e sintetizadores predominam e Moore dá um show a parte em um belo solo. Há uma edição limitada em CD que traz como bônus “King of the Hill”, faixa com um ótimo riff de guitarra, inspirações bluesy e mais uma baita performance vocal de Mogg. Durante muito tempo, The Visitor foi meu preferido deste período, mas reouvir A Conspiracy of Stars para escrever este texto me fez mudar de visão, e certamente, temos aqui um grande disco dos caras. Lembrando que o mesmo atingiu a quinquagésima posição nas paradas britânicas.

Vinnie Moore, Andy Parker, Phil Mogg, Rob de Lucca e Paul Raymond. UFO em 2016

 


The Salentino Cuts [2017]

O último álbum da banda é um álbum de covers, lançado em 29 de setembro de 2017. Gravado em Hannover, Alemanha, o nome é uma homenagem a um bar próximo ao estúdio onde foi registrado, chamado Sallentino’s. Ali, o quinteto se reunia todas as noites, e decidia quais as bandas e músicas iam homenagear, e no dia seguinte, iam ensaiar e registrar as homenagens. Assim, The Salentino Cuts passeia entre os anos 60 e 70, e surpreende com canções dos anos 80 e 90. Dos clássicos dos anos 60, surgem versões interessantes para “Heartful of Soul” (The Yardbirds), “Break On Through (to the Other Side)” (The Doors), “It’s My Life” (The Animals), “The Pusher” (Steppenwolf) e “Mississippi Queen” (Mountain), as quais soam um tanto quanto deslocadas do que já conhecemos sobre UFO até aqui, sem ter nenhuma com grande destaque. Para quem conhece bem estes clássicos, parece mais um momento de diversão do quinteto do que algo levado realmente a sério. Dos anos 70, vieram “Just Got Paid” (ZZ Top), “Too Rolling Stoned” (Robin Trower) e “Rock Candy” (Montrose), em faixas bem melhores e mais casadas com o estilo da banda, destacando Moore no swingue da canção de Trower. A maior surpresa vai para as surpreendentes (e lindas) revisões para canções dos anos 90, no caso a pesada versão de  “Honey-Bee” (Tom Petty) , que curiosamente saiu três dias antes do falecimento do guitarrista americano, e a linda versão de “River of Deceit”, do excepcional e subestimado projeto Mad Season, que emociona logo no início e foi a que melhor casou, por incrível que pareça, com o estilo do UFO. Outros resgates inesperados são John Mellecamp, na oitentista “Paper in Fire”, que ganhou muito mais peso aqui, e “Ain’t No Sunshine”, sucesso de Bill Withers no início dos anos 70 e que se torna a grande balada de The Salentino Cuts. Que faixa, e que versão, com um show da dupla Moore / Mogg! Um bom disco, que se quiser saber mais, veja nosso War Room.

Vinnie Moore, Rob de Lucca, Phil Mogg, Andy Parker e Neil Carter. UFO em 2019.

Após o lançamento de The Salentino Cuts, o grupo sai em turnê pela Europa para fazer a turnê de 50 anos da banda. De lá para cá, saíram dois lançamentos inéditos de shows, os quais foram Live In Youngstown 1978 ‎(2020), mais uma das apresentações da tour de Obsession, ocorrida no Tomorrow Club de Youngstow, Ohio, em 15 de outubro de 1978, e Cleveland 1982 (2022), com um show no Agora Ballroom de Cleveland em 9 de junho de 1982, durante a turnê de Mechanix. Infelizmente, Raymond faleceu em 13 de abril de 2019, vítima de um ataque no coração. Neil Carter retornou ao grupo para substituir Raymond até o fim da mesma.

Já em 9 de junho de 2020, quando completou 66 anos, foi a vez de Paul Chapman nos deixar, seguido de Way, falecido em agosto do mesmo ano. Com a pandemia, a banda permaneceu inativa, até anunciar o retorno aos palcos. Porém, no último agosto, Mogg sofreu um ataque do coração, culminando com o cancelamento da turnê e o anúncio da aposentadoria do grupo, tendo como último show uma apresentação em Atenas em 29 de outubro do mês passado, com a cidade escolhida justamente por ser onde foi o primeiro show de Vinnie Moore como membro da banda, há 18 anos. O UFO encerrou suas atividades, marcou época, influenciou inúmeros outros artistas e estará eternamente rolando em vitrolas e caixas de som do mundo inteiro.

2 comentários sobre “Discografias Comentadas: UFO [Parte IV]

  1. A fase final do UFO é muito boa! Apenas Seven Deadly fica um pouco abaixo do nível dos demais discos. The Salentino Cuts não me agradou muito de cara, mas depois acabou me pegando. Infelizmente, essa é outra excelente banda que acabou antes de eu ter oportunidade de assistir…

    1. Valeu Marcello. Estamos na mesma. Eu ainda acho que o Salentino é um bom disco de covers, surpreendente em algumas escolhas, mas cujas versões para as faixas dos anos 60 são bem abaixo das originais. O The Seven Deadly parece que o pessoal estava meio em estado de choque com a doença do Way, sei la. Já os outros são baitas discos

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