Selos Lendários – Harvest

Selos Lendários – Harvest

 

Por Ronaldo Rodrigues

Aproveitando o gancho da seção de matérias especiais aqui da Consultoria do Rock – Clássicos da Harvest – é uma boa escolha começarmos a mergulhar no universo dos selos contando um pouco da história da Harvest. A Harvest é um dos selos mais colecionáveis do universo dos LP’s e tem um logotipo bastante emblemático.

harvest1
Um dos primeiros lançamentos do selo

Integra o conglomerado da EMI, uma das quatro “majors” e a mais antiga das quatro (em um grupo que inclui a Warner, a Universal e a Sony).

Foi fundada em 1969 com o foco no rock progressivo, estilo emergente na época e em uma denominação muito mais aberta do que o termo soa hoje em dia. Basicamente, seria o mesmo que dizer que a Harvest tratava do rock moderno e contemporâneo e de toda aquela geração que estava inovando e criando novas linguagens, que depois receberam cada uma seu respectivo rótulo.

Mas àquela época, rock progressivo era uma grande teia de tendências, que estava desvencilhada daquela escola do som beat e do rock adolescente que dominava a música jovem até meados de 1966.

Harvest6
Parceria Harvest – EMI, explicitada em Dark Side of the Moon

Sua criação foi sugestão de um executivo chamado Malcom Jones, para concorrer especialmente com outros dois selos também lendários (e que serão abordados nesta série) a Deram (pertencente a Decca, hoje dentro da Universal) e a Vertigo (nascida dentro da Philips e depois adquirida pela Polygram, ambas hoje pertencentes também a Universal).

Na mesma época, pipocaram outros dois selos com menor expressão e este mesmo foco – a Dawn, criada pela Pye, e a Neon, criada pela RCA. Ambos duraram alguns lançamentos, que tornaram-se itens raros e desejados de colecionadores ao redor do mundo, e que talvez devam  pintar por aqui em alguns meses, já que suas histórias são bastante complicadas em termos de fontes.

harvest2
Os quatro lados de Ummagumma

Voltando ao selo de hoje, os primeiros discos lançados sob a alcunha da Harvest foram os compactos da Edgar Broughton Band (“Evil”/”Death of Electric Citizen”), do cantor Michael Chapman (“It didn’t Work Out”/”Mozart Lives Upstairs”) e da Barclay James Harvest (“Brother Thrush”/”Poor Wages”) em junho de 1969, e quatro álbuns em julho de 1969 – Deep Purple (Deep Purple), Pete Brown and His Battered Ornament (A Meal You Can Shake Hands With in the Dark), Shirley & Dolly Collins (Anthems in Eden), e Michael Chapman (Rainmaker).

Também em julho de 1969 foi lançado, conjuntamente com outros selos como distribuidores, o álbum More do Pink Floyd, que na época era uma banda com um já adquirido status de “cult”, mas ainda não detentora da fama e das grandes vendagens que vieram com o lançamento do multi-platinado Dark Side of the Moon.

harvest5
Selo do multiplatinado Dark Side of the Moon

Os três primeiros compactos possuem o número de catálogo da série HAR500 (HAR5001, HAR5002, HAR5003), porém o quarto compacto, da banda Tea and Symphony, tem o número de catálogo HAR5005, já que o que viria a ser o HAR5004 foi um compacto da banda Bakerloo que não chegou a ser lançado. Porém, as canções que viriam a preencher esse compacto (“Drivin’ Backwards” / “Once Upon a Time”) foram lançadas pela Harvest no álbum auto-intitulado da banda, em dezembro de 1969.

A Harvest teria como braço nos EUA a Capitol Records, que estaria encarregada de lançar por lá o que o selo lançaria na Europa. Mas como de princípio as vendas sob a alcunha da Harvest foram modestas, a Capitol optou por lançar alguns artistas sob seu próprio selo, numa tentativa de impulsionar as vendas.

A estratégia da EMI com a Harvest se mostrou inteligente após algum tempo, pois foram escolhidos como primeiros lançamentos artistas emergentes e razoavelmente conhecidos, como o Deep Purple, o Pink Floyd e a Edgar Broughton Band, o que acabou favorecendo o selo também nos relançamentos. Ela obteve alguns outros grandes sucessos em nível mundial com esse próprios citados e outras bandas incorporadas posteriormente, como Electric Light Orchestra, Scorpions, Be Bop Deluxe e Duran Duran. Porém, muitos artistas e bandas nas quais apostou ficaram perdidos no limbo, especialmente no início de suas atividades.

harvest4
Álbum experimental de Kevin Ayers

Alguns bastante experimentais e pouco comerciais, como Third Ear Band, Tea and Symphony, Kevin Ayers, o próprio Syd Barret, East of Eden, etc. Porém, outros com potencial grande de terem maior êxito, por uma sonoridade bastante ajustada ao mercado da época, como o Quatermass, Spontaneous Combustion, Climax Blues Band e o Nine Days Wonder, entre outros. A Harvest investiu não só em bandas e artistas britânicos, que eram o foco inicial, como também em alemães (Eloy, Triumvirat, Scorpions, Can), americanos (Love, Sweet Smoke), australianos (Spectrum, Pirana, Carson, Ariel, Little River Band) e holandeses (Solution, Jan Akkerman, Kayak).

Também existem algumas bandas que tiveram apenas a distribuição em alguns países pela Harvest, em acordos de parceria com outros selos, como é o caso de Renaissance, Queen e Iron Maiden.

Harvest0
O famoso selo amarelo

Ao longo dos anos, os lançamentos foram diminuindo em quantidade e se focando mais nas apostas do selo, em artistas já consolidados e seus relançamentos. Também com o declínio comercial do rock progressivo, a Harvest passou a investir nos estilos emergentes no fim dos anos 70 e anos 80 – o pós-punk, o AOR, a new wave e o synth pop. Interessante notar que o logo da Harvest continuou o mesmo desde sua fundação.

O selo Harvest e as bandas integrantes de seu cast, especialmente no início dos anos 70, são bastante cultuados pelos colecionadores de LP e CD’s ao redor do mundo, valendo grandes somas em dinheiro os títulos nas prensagens originais.

Apesar de eclético, o catálogo da Harvest é fértil em bandas que tentaram equilibrar a abordagem art-rock com algum apelo mais pop, mas ainda sim dando espaço a propostas mais radicais e menos comerciais.

3 comentários sobre “Selos Lendários – Harvest

  1. Parabéns! Mas permita-me uma correção? O primeiro Lp lançado pela Harvest foi o The Book Of Taliesyn, do Deep Purple, em junho de 1969 (meses depois da edição americana). O terceiro álbum da banda foi lançado pela Harvest em setembro de 1969, também meses depois do álbim americano

  2. Legal recuperar a história do selo Harvest. Acho que, nos meus tempos de colecionador de vinil, era o selo do qual mais tinha discos!

    1. Boa pergunta para eu tentar responder (e não sei a resposta) kkkk. Qual é o selo que tenho mais discos … Acho que é a Atlantic. Vou ver se o Discogs me responde

Deixe um comentário para Marcello Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.