Rush – A Farewell To Kings (40th Anniversary) [2017]

Rush – A Farewell To Kings (40th Anniversary) [2017]

Por Mairon Machado

Ontem, completou-se 44 anos de A Farewell To Kings, quinto disco de estúdio dos canadenses do Rush. O álbum por si só é considerado o primeiro da fase mais progressiva da banda, que seguiu ainda com Hemispheres (1978), Permanent Waves (1980) e Moving Pictures (1981). Afinal, depois de namorarem por dois anos com o progressivo, o trio canadense, aqui formado por Geddy Lee (baixo, violão de doze cordas, mini-mooh, badd pedal synthesizer, vocais), Alex Lifeson (guitarras, guitarra de doze cordas, violões, violão de 12 cordas, violão clássico, bass pedal sinthesizer) e Neil Peart (bateria, sinos, tímpano, tubular bells, Wind Chimes, triângulo, Bell Tree, Vibraslap) resolveu assumir a relação (basta ver a quantidade de instrumentos que o trio está tocando), e o casamento ocorreu em 1977, gerando os quatro filhos geniais citados acima.

Em A Farewell to Kings, o trabalho dos canadenses é praticamente perfeito. Aliás, o que Lifeson faz em todo o álbum é de tirar o chapéu, e deixar aquela dúvida de por que ele nunca está entre os dez mais nas listas de melhores guitarristas de todos os tempos. Mesmo as canções mais simples, no caso a clássica “Closer to the Heart” e a lindinha “Madrigal”, o homem está impressionando. Nas demais músicas, ouvimos a pura perfeição, seja nos extasiantes cinco minutos da faixa-título, destacando o violão clássico de Lifeson e seu solo de guitarra fora do comum, no hard simples de “Cinderella Man” ou nas maravilhas prog “Xanadu”, trazendo uma das mais apreensivas e perfeitas introduções criadas pelo trio, e “Cygnus X-1″, diamante bruto que foi lapidado um ano depois, tornando-o fácil um dos melhores da carreira dos caras.

Alex Lifeson, Geddy Lee e Neil Peart em 1977

Então, seguindo a série de lançamentos em comemoração aos 40 anos de seus discos, já apresentado aqui com 2112 e Hemispheres, volto no tempo para comentar a versão de A Farewell To Kings, que foi lançada em 2017. A versão aqui apresentada é a Deluxe Edition, com três CDs, deixando a edição box Super Deluxe, com quatro LPs, três CDs, e mais um Bluray, apenas para o sonho de conquista de um colecionador (mas citarei o diferencial do box ao final). Já comentei sobre o álbum nos parágrafos acima, e o que posso acrescentar aqui é que as faixas estão com a mixagem feita para o relançamento, em CD de 2015, chamada de Abbey Road Mixes, então, vamos aos extras.

Nos CDs bônus, o lançamento resgata o show dos canadenses no dia 20 de fevereiro de 1978, no Hammersmith Odeon de Londres. Parte deste show saiu como CD bônus no ao vivo Different Stages (1998), com onze canções deste show lançados naquela época. Agora, o show vem completo, trazendo além das onze de Different Stages (a saber “Bastille Day”, “By-Tor And The Snow Dog”, “Xanadu”, “A Farewell To Kings”, “Something For Nothing”, “Cygnus X-1”, “Anthem”, “Working Man”, “Fly By Night”, “In The Mood” e “Cinderella Man”), somadas quatro canções: “Lakeside Park”, “Closer to the Heart”, “2112” e “Drum Solo”, totalizando 35 minutos a mais. O CD 3 também traz alguns extras, que comento na sequência.

O trio e toda sua parafernália ao vivo

Pegando a apresentação no Hammersmith, após a abertura com “Nights Winters Years”, de Justin Hayward e John Lodge, entre muitas explosões, o Rush entra detonando com “Bastille Day”, apropriadamente utilizada para abrir a turnê de um álbum chamado A Farewell To Kings. Essa paulada de Caress of Steel é tocada sem tirar uma nota em relação ao original, e logo, o trio acalma os ânimos com a suave “Lakeside Park”, de 2112, onde já podemos perceber o uso do bass pedal synthesizer por parte de Lee e Lifeson, com pequenas intervenções entre as pontes da canção. Voltamos para a pancadaria com “By-Tor & The Snowdog”, de Fly By Night, e um show à parte de Peart, e encurtada pela metade, abrindo os trabalhos para “Xanadu”. Esse é uma das grandes atrações do show no Hammesrmith Odeon, já que podemos conferir cinco das seis canções de A Farewell to Kings sendo apresentadas ao vivo, e claro, os doze minutos de “Xanadu”, com o trio utilizando praticamente todos os instrumentos possíveis em uma única canção (os famosos double-necks de Lee e Lifeson e a incrível parafernália de instrumentos percussivos de Peart, além do já citado bass pedal synthesizer) é sempre um momento especial. A versão de “Xanadu” é bem próxima ao original e ao que ouvimos em Exit … Stage Left, mas não por menos encantadora, mostrando que o Rush não era uma banda muito adepta à improvisos, sempre primando pela excelência de suas apresentações. Que grande som!

Seguimos pela linda “A Farewell To Kings”, com Lifeson no violão clássico e mais uma série de empregos de novos instrumentos, seja o mini-moog de Lee ou os diversos apetrechos percussivos de Peart, em outro grande som deste álbum, passamos por “Something For Nothing” (2112), com Peart empregando os sinos tubulares, e encerramos o primeiro CD com “Cygnus X-1”, simplesmente perfeita, em toda sua integridade e grandeza, ao longo dos seus 11 minutos dos quais é difícil dizer qual dos músicos está na melhor performance. Uma das canções mais fantásticas da carreira do Rush, simples, e ao mesmo tempo extremamente complexa, e que permitiu posteriormente a sequência para “Cygnus X-1: Book Two – Hemispheres”.

O segundo CD traz as outras duas canções de A Farewell to Kings, mas começa com a paulada “Anthem”, de Fly By Night, para mim a melhor faixa para abrir um show do Rush, mas que aqui vem abrindo o segundo CD. Passa por “Closer to the Heart”, muito fiel ao original, e tem seu auge com os vinte minutos de “2112”, a emblemática faixa que mudou a vida dos canadenses, e que nesse show do Hammersmith Odeon, ganhou mais uma interpretação visceral. Os agudos de Lee são impressionantes, o vigor de Peart é de perder o fôlego com quatro minutos, e toda a técnica de Lifeson nos seus solos e riffs são para colocar o guitarrista em um pedestal muito acima de alguns nomes consagrados do instrumento. Acho bem legal também que Lifeson resgata o tema de Contatos Imediatos de Terceiro Grau no momento em que o personagem central da suíte descobre a guitarra. Outra coisa interessante é a interpretação vocal de Lee no momento da conversa do personagem com os sacerdotes do Templo de Syrinx, mudando a forma de falar, e inclusive adicionando drama na voz da personagem quanto os sacerdotes menosprezam-o pela primeira vez. Rush inovando aqui!

O trio de ouro do rock canadense

A sequência final, com o Bis, é aquela conhecida, com “Working Man”, “In The Mood” e o solo de bateria, porém acrescentando “Fly By Night” no meio delas. O solo de Peart já é bem próximo ao que depois ficou consagrado em “YYZ” de Exit … Stage Left, porém adicionando diversos instrumentos. Para surpresa geral, no segundo Bis, a banda apresenta a última canção de A Farewell To Kings, “Cinderella Man”, uma rara oportunidade de ouvir essa bela faixa ao vivo, já que depois disso ela participou pouca vez dos set lists dos canadenses. Ficou apenas “Madrigal” de fora, o que convenhamos, é bem pouco perto da grandiosidade do álbum.

Fechando o segundo CD, temos uma série de cinco canções bônus. A primeira é uma (na minha mais honesta e sem paixão visão) desnecessária versão de “Xanadu” feita pelo Dream Theater. Não entendo a lógica de gravar um cover tocando todas as notas igual ao original, apenas com a bateria soando diferente primeiro por que é Mike Mangini quem está tentando ocupar o posto de Neil Peart e segundo por que as peles sintéticas de hoje em nada se comparam ao som das peles dos anos 70. Os caras parecem adolescentes que estão aprendendo a tocar, que tentam imitar igualzinho os seus ídolos, e quando conseguem vão mostrar faceiros para as tias o resultado. Está tudo certinho, tudo bonitinho, mas é muito mecânico para o meu gosto. Para piorar, James LaBrie nunca foi um bom cantor, e ver ele destruindo na interpretação desse clássico é mais vergonhoso do que ver eleitor do Bolsonaro defendendo o mito com a famosa frase “E o PT?”. Ridículo, muito ridículo esse cover. Depois vem “Closer to the Heart” na versão do Big Wreck. Confesso que não conhecia a banda, mas aqui não se preocuparam em fazer algo idêntico ao original, o que ficou interessante, como uma espécie de hard pop que lembra Extreme nos anos 90, bem divertido. O solo foi totalmente renovado, e acho que é o mínimo que poderíamos esperar de algo assim. Não fiquei fã da banda, mas curti a revisão que eles apresentaram.

O box Super Deluxe de A Farewell To Kings

Os canadenses do The Trews (belo nome) revisitaram “Cinderella Man”, que apesar de pecar como o Dream Theater, reproduzindo fielmente as notas originais, os vocais aqui encaixaram muito bem, e é agradável ouvir a canção com essa nova perspectiva vocal. O último cover vem de Alain Johannes, músico famoso por sua passagem no Queens of the Stone Age que fez uma viajante revisão para “Madrigal”, recheada de sintetizadores. Para fechar os bônus, “Cygnus X-2 Eh”, faixa que serviu para fazer os sons incidentais que abrem “Cygnus X-1”.

Acompanha ainda um livreto de 44 páginas, das quais 20 são dedicadas a contar a história de A Farewell to Kings, bem como esmiuçar cada canção do álbum de uma forma tão detalhada em minutagem e conceitos técnicos, que até fiquei com vergonha dos meus textos dos tempos de Maravilhas do Mundo Prog. Para se ter uma ideia, a faixa-título recebeu quatro páginas de avaliação, enquanto “Xanadu” são cinco páginas de detalhes feitos por Rob Bowman. Também no livreto há as letras do álbum, algumas imagens do trio (algumas apresentadas neste texto) e uma bela arte de recriação tanto da capa (que apresenta uma interessante charada com três “hobbies” pertencentes cada um a um membro da banda) e com uma bonita arte que acompanha as letras, ambas feitas por Hugh Syme, que criou a capa original.

O box Super Deluxe contém as mesmas canções deste box, porém, no Blu-Ray, além do áudio das canções originais de A Farewell to Kings, temos também os vídeos promocionais para “A Farewell To Kings”, “Xanadu” e “Closer To The Heart”, tornando-se realmente um fetiche para os colecionadores completistas. Daqui uns meses trarei o que está na versão de 40 anos de Permanent Waves, lançada ano passado, e aguardo o que virá para Moving Pictures.

Contra-capa da versão tratada aqui

Track list

Album – 2015 Abbey Road Remaster

1. A Farewell To Kings

2. Xanadu

3. Closer To The Heart

4. Cinderella Man

5. Madrigal

6. Cygnus X-1

CD 2 Live At Hammersmith Odeon – February 20, 1978

1. Bastille Day ( Features A Performance Of Justin Hayward & John Lodge ” Nights Winters Years ” )

2. Lakeside Park

3. By-Tor & The Snowdog

4. Xanadu

5. A Farewell To Kings

6. Something For Nothing

7. Cygnus X-1

CD 3

1. Anthem

2. Closer To The Heart

3. 2112

4. Working Man

5. Fly By Night

6. In The Mood

7. Drum Solo

8. Cinderella Man

9. Dream Theater – Xanadu

10. Big Wreck – Closer To The Heart

11. The Trews – Cinderella Man

12. Alain Johannes – Madrigal

13. Cygnus X-2 EH

2 comentários sobre “Rush – A Farewell To Kings (40th Anniversary) [2017]

  1. Esse foi meu disco favorito do Rush nos tempos do vinil, e até hoje está no meu top 3. Mas, tendo escutado a discografia completa do grupo recentemente, concluí que não consigo me decidir por um álbum favorito da banda, só por uma música favorita (essa nunca mudou desde 1988, hehehehe…). Tirando o “Hold Your Fire”, que não consigo engolir desde que foi lançado, todos os outros podem brigar pelas primeiras posições numa hipotética lista, motivo pelo qual não consigo compilá-la!

    1. Interessante Marcello. Eu teria esse problema com os 8 primeiros. Pós-Signals, daí acho que apenas Counterparts e Roll The Bones conseguem entrar nos Top 5, com muita luta (e dependendo do dia, hehehe). Abração

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