Review Exclusivo: Sepultura, Rio Branco/AC 10 de setembro de 2016

Review Exclusivo: Sepultura, Rio Branco/AC 10 de setembro de 2016

Por Fernando Bueno

No dia 10 de setembro o Sepultura do Brasil, modo que a banda era chamada mundo afora na época que explodiu em popularidade, foi ainda mais DO Brasil. Pela primeira vez a banda desembarcou no estado do Acre e fez seu primeiro show ali provando que, sim, o Acre existe. Fiz uma procura rápida e não encontrei datas em que a banda tenha tocado anteriormente nos estados do Amazonas e no Pará, mas é certo que além do Acre, Roraima, Rondônia, Tocantins e Amapá, os outros estados da região norte do país, eles ainda não tinham se apresentado.

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Prova da existência do Acre

Rio Branco fica a cerca de 500 quilômetros de Porto Velho e no sábado de manhã pegamos a estrada. Já vi o Sepultura outras vezes em shows médios, shows grandes, como os do Rock In Rio, e shows históricos (Olympia em novembro de 1996). Muita gente pode até pensar que é loucura se deslocar de carro por toda essa distância para ver uma banda que já tinha visto antes e ainda por cima numa fase da carreira bastante controversa. Porém, independente das pessoas gostarem ou não dos discos gravados após a saída de Max Cavalera com Derrick Green, não se pode negar que eles sempre fazem um show marcante. Essa foi a premissa que tive em mente desde quando soube que esse show aconteceria. Além do mais ter a oportunidade de vê-los assim, com os músicos tão pertinho de mim seria a primeira vez. Notem na foto de abertura do texto a única pessoa com uma camisa azul na plateia e verão o que estou falando. As estradas entre Rondônia e Acre não lembram em nada aquelas que as pessoas no Sudeste estão acostumadas. A viagem foi tranquila por ter sido durante o dia, caso tivesse sido a noite certamente teríamos tido problemas. O primeiro trecho de cerca de 300 quilômetros, até o Rio Madeira, era até bastante adequado o problema foi depois de atravessar o rio de balsa. Não…não tem ponte no local. No fim das contas a viagem foi tranquila, apesar de um pouco cansativa.

Já no hotel, decidimos ir de taxi para o local. Afinal não conhecíamos a cidade e ficamos com receio de o local não ter estacionamento seguro. Além do mais tem a questão da Lei Seca. Vai que eu caio na bebida, né!! Chegar no local do evento foi um pouco preocupante. O taxista tagarela não sabia onde era o lugar pois nos disse que o 14 Bis, nome do local do show, estava fechado a anos e anos. Ele chegou a telefonar para outro companheiro de profissão que também disse que não conhecia o local. Nisso já estávamos no meio daquelas ruas sinuosas, marca registrada da cidade já sem saber o caminho de volta. Porém o local era aquele mesmo e estava tudo certo. Foi informado que a primeira banda que se apresentaria seria o próprio Sepultura por questões logísticas: eles pegariam o vôo da madrugada.

O Sepultura está fazendo uma turnê comemorativa de 32 anos de banda. Normalmente as bandas fazem isso com datas mais redondas como 20, 30, 40 anos, ou até mesmo 25, 35 anos. De 32 anos é a primeira vez. Daí me veio à mente que em 2016 completam 20 anos do lançamento de Roots e talvez fazer algo relativo à esse álbum poderia gerar algum constrangimento por conta da ausência de Max Cavalera e também pelo fato dos irmãos já terem anunciado que sairão em turnê tocando de “Roots Bloody Roots” até “Dictatorship”. Se pensarmos com objetividade que Max está fora da banda há 20 anos e que esteve nela durante 12 chegamos à conclusão que a tão esperada reunião talvez não faça mais sentido mesmo.

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A pancadaria começou com “Troops of Doom”, clássico do Morbid Visions regravada em 1990 e colocada em uma nova versão no Schizophrenia. No fim, seria a única música que lembraria esses dois primeiros discos. De Beneath the Remais também apenas uma música, a faixa título já no fim do show. Em seguida veio “Kairos”, a melhor música do Sepultura da fase Derrick Green na minha opinião, aliás voz dele tanto em estúdio, quanto ao vivo sempre surpreende pela agressividade no refrão. “Slave New World” foi uma surpresa já que não considero ela um dos clássicos do grupo, apesar de gostar da música. Na sequência outra que também gosto e ouvi muito na época do lançamento, mas que não entendia ela como um destaque do repertório, “Breed Apart”. Os álbuns Chaos A.D. e Roots foram os mais prestigiados no show, o que de certa forma mostra que o aniversário de Roots não foi completamente esquecido.

A trinca de abertura de Arise é para mim a melhor sequência de músicas da banda e “Desperate Cry” me fez voltar à época que conheci os caras. Porém isso me fez ficar na fissura por ouvir as duas outras, “Arise” apareceu na parte final do show, mas “Dead Embrionic Cells”, a minha preferida de todas ficou faltando. Esse talvez tenha sido o único pecado do show. Senti falta também de uma música do Schizophrenia, “Escape to the Void”, por exemplo. “Dusted” do Roots antecedeu uma faixa nova que estará no próximo álbum, ainda sem nome, prometido para 2017. “Convicted in Life”, “Dialog”, “Sepulnation” e “The Vatican” são músicas da fase de Derrick Green que mesmo aqueles que eventualmente não gostam dos álbuns como um todo certamente devem gostar. São aquelas músicas que fazem os fãs adquirirem um álbum que talvez não comprariam. Em “Attitude” eu já estava sem voz e a próxima foi um medley matador de “Biotech Is Godzilla” e “Polícia” que me fez voltar à época do Hollywood Rock. Ficou bastante marcado para mim alguém dos Titãs falando para o público “nós vamos tocar Polícia e vamos chamar o Sepultura pra tocar com a gente” e o público todo ir ao delírio.

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Desde o início do show os mais apressados gritavam as suas faixas favoritas e havia chegado a hora de atender muitos daqueles pedidos. “Terrritory”, “Beneth the Remains”, “Arise” e “Refuse/Resist” acabaram de vez com qualquer dúvida sobre se valeu a pena ou não os 500 quilômetros de estrada.

Antes do bis tenho que comentar a atuação individual de cada músico. Andreas Kisser é um grande guitarrista e é muito criticado por ser “arroz de festa”. Difícil criticá-lo por tentar sempre estar em evidência. Artistas devem fazer isso. Quem acha que o underground é suficiente certamente nunca viveu de arte. Interessante que ele conseguiu junto com Paulo Junior, que está cada vez mais parecido com o Popeye, ajustar os timbres e equalizações dos equipamentos para suprir uma segunda guitarra. O peso da guitarra de Kisser e principalmente a distorção cavalar do baixo é algo que poucas bandas conseguem hoje. Derrick Green tem uma garganta privilegiada e deve ser difícil conseguir manter isso show após show. Quem ouve a voz do cara deve se assustar com a simpatia daquele negão de dois metros de altura. Agora dessa vez quem mais me surpreendeu foi o Eloy Casagrande. Absurda a atuação do músico. Cansa só de olhar ele martelando as peles do seu instrumento. Realmente um fenômeno.

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Para fechar o show uma faixa que eu só tinha ouvido uma vez antes do show e tive que ouvir duas vezes por dia depois dele, “Sepultura Under My Skin”. Ela foi lançada apenas em um single de comemoração dos 30 anos de banda. Na capa desse single foram reunidas diversas imagens de tatuagens que fãs da banda enviaram para eles. Legal a idéia de homenagear os fãs em uma comemoração do grupo com uma ação que casou com o próprio nome da música, entretanto é justo já que são os fãs que os fizeram durar tanto tempo. “Ratamahatta” foi uma surpresa para mim também. Sei que ela é importante e marca a história do grupo, mas nunca achei que ao vivo ela tenha ficado boa. Ainda mais para um bis. Andreas Kisser fez a maior parte dos vocais dela. Quando “Roots Bloody Roots” foi anunciada sabíamos que seria a última música e todos buscaram as últimas forças para bater cabeça com esse que talvez seja o maior clássico do grupo. Como disse antes tenho muitas outras faixas preferidas, mas é inegável a importância dessa música para o Sepultura.

Após a banda principal ainda estavam marcadas quatro outras, sendo que uma delas a Coveiros de Porto Velho. Coveiros…Sepultura…Coveiros…Sepultura….sacaram? Em menos de uma semana vi os caras duas vezes. As outras foram Death Silence, Brutal Death e Hyliday. Peço desculpas as bandas Brutal Death e Hyliday, mas não fiquei para vê-los já que o cansaço tinha pegado, precisava dormir para pegar o longo caminho de volta na manhã seguinte.

Há algum tempo atrás Krisiun e André Matos estiveram em Rio Branco. Depois foi a vez de Hibria, Blaze Bayley e mais recentemente o Angra. Eles têm um público de metal que me parece bastante unido, que prestigiam os eventos. Basta dizer que Krisiun e André Matos foi no mesmo dia. Além disso os eventos de bandas locais são frequentes também como o festival Feliz Metal que acontece há 10 anos. Está faltando isso aqui em Porto Velho e certamente muitas cidades do país que até poderiam ter uma cena mais forte por estarem mais perto das bandas. Parabéns ao pessoal do metal de Rio Branco!

Set list:

01 – Troops of Doom (Morbid Visions)
02 – Kairos (Kairos)
03 – Slave New World (Chaos A.D.)
04 – Breed Apart (Roots)
05 – Desperate Cry (Arise)
06 – Dusted (Roots)
07 – I Am The Enemy (Música do novo disco)
08 – Convicted in Life (Dante XXI)
09 – Dialog (Kairos)
10 – Attitude (Roots)
11 – Biotech Is Godzilla / Polícia (Chaos A.D.)
12 – Sepulnation (Nation)
13 – The Vatican (The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart)
14 – Territory (Chaos A.D.)
15 – Beneath the Remains (Beneath the Remains)
16 – Arise (Arise)
17 – Refuse/Resist (Chaos A.D.)
Bis:
18 – Sepultura Under My Skin (Single de 2015)
19 – Ratamahatta (Roots)
20 – Roots Bloody Roots (Roots)

20 comentários sobre “Review Exclusivo: Sepultura, Rio Branco/AC 10 de setembro de 2016

  1. Cara, parabéns pela disposição. E tem cara que fica com “preguiça” de sair do interior de SP pra ver show na capital.

  2. Sepultura, eu ACREdito! Já o Bueno dar uma de Borba Gato e fazer essa empreitada é inacreditável. 500km de parabéns pra você!

    1. Fernando Bueno agora vive no mar da felicidade sem a presidenta no comando. Por isso anda se aventurando pelo norte do país.

      1. A vida de Bolsominio do Fernando tá tão boa agora sem a Dilma que ele até deu uma engordada. O cara de azul na foto parece um Smurf depois do Jantar de Ação de Graças …

  3. É triste isso… Rio Branco recebe o Sepultura. Já aqui em Porto Velho, só as tranqueiras do breganejo e do arrocha. E Júlio Nascimento, o mestre do brega.

  4. E a Consultoria chega ao Acre através de nosso infiltrado no mundo do high business, Fernando Bueno. Que, de quebra, traz importantes evidências científicas da existência deste enclave cearense no extremo norte, e prova que o Sepultura, ao contrário de toda expectativa, ainda vive.

  5. É isso aí Fernando. Já encarei muita estrada (600 km de ida, ou 1200 km ida e volta, e por aí vai) só para assistir a um artista do qual sou fã. É uma experiência inesquecível, com certeza, e aí no Norte, deve ter sido mais incrível ainda. Como são as estradas por aí?

    Abraços

    1. Estradas simples que precisam de manutenção permanente por terem sido feitas de qualquer jeito. Trechos bons onde a manutenção passou recentemente e trechos ruins quando isso aconteceu há mais tempo. Esse é um resumo das estradas de Cuiabá pra cima….

  6. Sou de Rio Branco. Hoje, quase uma semana depois, ainda não acredito que vi esses monstros tocando na minha cidade. Obrigado por prestigiar nossa cena! Ela realmente tem se fortalecido e ver isso sendo reconhecido por moradores de outros estados é uma grande honra!

  7. Adorei! O Acre existe e a consultoria do rock foi la registrar! Hahaha
    Adorei a comparação Sepultura.. Coveiros haha 😘

  8. Se eles tivessem mudado o nome da banda logo depois da saída do chato do Max Cavalera, eles teriam feito a coisa certa. Teria preservado o passado glorioso da banda. Mas preferiram lançar discos ruins atrás de discos ruins e queimando cada vez mais o filme da banda. Se bem que antes do Max sair a coisa já estava fedendo, nunca achei grande coisa o aclamado “Roots” que mais parece o Olodum tocando com guitarras distorcidas. Horrível aquilo! Mas tem nego que fala: “ah mas eles estavam exaltando a nossa cultura brasileira”. Grande m… que é a cultura brasileira. Se for pra exaltar aquela batucada ridícula e cafona melhor continuar a exaltar o que vem de fora mesmo.

  9. O Andreas Kisser é apenas um músico mediano, nada além disso. Ele não consegue criar um único riff convincente que lembre a banda nos bons tempos de Arise ou Chaos A.D. Já saturou legal a afinação que o Andreas usa para tocar. Isso sem contar que se tornou um guitarrista arroz de festa que já tocou até com a Sandy. E se duvidar ainda tocará com algum grupo de axé. Chegou perto disso, no carnaval do ano passado tocou um cima de um trio elétrico junto com o ultrapassado Angra para um público apático e sem identificação nenhuma com o rock. Ainda tivemos que aguentar o mimimi do Rafael Bittencourt reclamando de quem os criticou por isso.

  10. O Sepultura era tosquérrimos nos tempos de Morbid Visions mas a música que faziam era infinitamente superior ao que fazem hoje. Eles e os Titãs são como mortos-vivos que não conseguem aceitar que o tempo deles já foi, e que hoje vivem à sombra do passado.

  11. Paulo Xisto, o baixista invisível que faz de conta que toca. E não foi expulso da banda! Ele é a prova de que um baixista não precisa saber tocar para estar em uma banda de rock. Sid Vicious tocava menos que ele, e ganhou a notoriedade que ganhou, mas isso por culpa das suas atitudes completamente loucas. O Paulo faz o Sepultura parecer o White Stripes do metal, uma banda sem baixista. Se um dia ele faltasse em algum show e os caras não tivessem quem colocar no lugar pra substituir não teriam problema nenhum, já que o contrabaixo dele mal se ouve. Me lembrei do Anthology dos Beatles, George Harrison falando sobre o fato de Sturar Sutcliff que não tocava nada de baixo: “mas antes ter um contrabaixista que não toca do que não ter contrabaixista.

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