Cinco Discos Para Conhecer: Steve Winwood

Cinco Discos Para Conhecer: Steve Winwood

Por Fernando Bueno

Praticamente desconhecido da grande maioria dos fãs de música (principalmente daqueles de cabeça mais fechada), Steve Winwood entra facilmente no rol dos maiores compositores ingleses. Além disso, Winwood é multi-instrumentista com tendências virtuosas em mais de um deles, fantástico intérprete e dono de uma belíssima e arrebatadora voz. Com apenas 14 anos, entrou para o o Spencer Davis Group, e aos 17 já tinha uma música no primeiro lugar das paradas. Muitas vezes relacionado com o que se convencionou chamar de blue eyed soul, principalmente no início de sua carreira, emprestou sua marcante voz para diversos clássicos durante mais de quarenta anos, unindo ao rock diversos estilos musicais além do soul, mas também funk, blues e jazz. Com uma carreira tão prolífica, é possível que muitos discordem de determinados álbuns apresentados a seguir, mas, independente disso, ninguém pode negar que esses são ótimos cinco discos para conhecer Steve Winwood.


Spencer Davis Group – The Best of [1967]

Sei que não é de praxe indicar coletâneas nesta seção, mas tive dois motivos para tal. O primeiro é pessoal: conheço apenas esse disco do grupo. Se você entendeu isso como uma falha minha, ficará satisfeito com o segundo motivo: o nome completo do album é The Best of Spencer Davis Group Featuring Stevie Winwood. Ou seja, trata-se de uma coletânea calcada na fase em que Steve ainda estava na banda. Na verdade, o registro acabou tendo um caráter de despedida, e inclusive a última canção é um boogie com o sugestivo título de “Goodbye Stevie”. Contém, é claro, o megaclássico “Gimme Some Lovin’”, do qual muitas e muitas pessoas devem gostar e não têm ideia de quem seja. É surpreendente ouvir sua voz nessa época, comparar com a atual e perceber que não mudou quase nada. São poucos os cantores a respeito dos quais você pode dizer a mesma coisa.

1. I’m a Man
2. Gimme Some Lovin’
3. Every Little Bit Hurts
4. This Hammer
5. Back Into My Life Again
6. Waltz for Lumumba
7. Together Till the End of
8. Keep on Runing
9. Trampoline
10. When I Come Home
11. Strong Love
12. Somebody Help Me
13. She Put the Hurt in Me
14. Goodbye Stevie

Formação: Steve Winwood (guitarra, órgão, vocais); Muff Winwood (baixo); Spencer Davis (guitarra); Pete York (bateria), Phil Sawyer (bateria); Eddie Hardin (teclados); Ray Fenwick (guitarra)


Traffic [1968]

Segundo disco do Traffic, banda formada após sua saída do Spencer Davis Group. O Traffic também tinha Jim Capaldi, Dave Mason e Chris Wood. Virtuosismo, improvisação e muito bom gosto era a tônica do grupo. Contém talvez o maior sucesso comercial do Traffic, “Feelin’ Alright”, mas são vários os destaques, como “You Can All Join In”, “Pearly Queen” e “Vagabond Virgin”. No Traffic, Winwood dividia os vocais com Dave Mason, fato que ajudava um pouco na hora de dividir as tarefas. Quando se fala em Winwood, a primeira banda da qual todos lembram certamente é o Traffic, grupo que merecia maior reconhecimento de muita gente.

1. You Can All Join In
2. Pearly Queen
3. Don’t Be Sad
4. Who Knows What Tomorrow May Bring
5. Feelin’ Alright
6. Vagabond Virgin
7. (Roamin’ Thru the Gloamin’ with) 40.000 Headmen
8. Cryin’ to Be Heard
9. No Time to Live
10. Means to an End

Formação: Dave Mason (guitarra, vocais); Steve Winwood (teclados, guitarra, vocais); Chris Wood (saxofone, flautas); Jim Capaldi (bateria, vocais)


Blind Faith [1969]

Quando Eric Clapton conheceu Steve Winwood, este ainda era um adolescente, porém, esse fato não influenciou na sua ambição em trabalhar com o rapaz. O engraçado é que Winwood sempre teve vontade de convidar Clapton para entrar no Traffic e Eric pensou diversas vezes em tentar convencer Jack Bruce a chamar Steve para o Cream. Depois do final da carreira do Cream, eles finalmente tiveram a chance de trabalhar juntos. Chamaram também o baixista do Family, Rick Grech, tiveram que engolir Ginger Baker, também ex-Cream, para a bateria e, assim, formaram um dos mais importantes supergrupos da história. Gravaram apenas um disco, mas podemos dizer que o que foi registrado já seria suficiente para consagrar a carreira de qualquer músico. Clapton sempre foi o centro das atenções das bandas com as quais tocou, mas ele mesmo diz que tentou se esconder um pouco atrás de Winwood no Blind Faith. “Had to Cry Today” é provavelmente a música mais conhecida do álbum, mas para mim o maior destaque é a emocional “Presence of the Lord”. Ouça “Can’t Find My Way Home” e entenda por que Winwood é tão respeitado. O único senão fica pelo desnecessário solo de bateria de “Do What You Like”, imposição de Baker.

1. Had to Cry Today
2. Can’t Find My Way Home
3. Well All Right
4. Presence of the Lord
5. Sea of Joy
6. Do What You Like

Formação: Eric Clapton (guitarra,vocais); Steve Winwood (guitarra, órgão, vocais); Ginger Baker (bateria); Rick Grech (baixo, violino, vocais)


Steve Winwood – Arc of A Diver [1980]

Quando você lê a ficha técnica de um disco e não encontra indicações a respeito de quem tocou cada instrumento, sempre é esquisito, mas quando isso acontece porque apenas um músico fez todo trabalho, só podemos manifestar admiração. Steve Winwood, apesar de ter contado com a ajuda de alguns parceiros para as composições, gravou a voz e todos os instumentos, da mesma forma que Paul McCartney fez no começo de sua carreira solo e como atualmente Richie Kotzen faz. É difícil definir o que Winwood faz em sua carreira solo, mas podemos destacar a elegância das composições. “While You See a Chance” e “Arc of a Diver” são clássicos instantâneos. Em “Slowdown Sundown” os sintetizadores, frequentes no álbum todo, são deixados de lado, enquanto “Night Train” traz suas influências funk. Você não será capaz de ouvir apenas uma vez. Há presença de música pop e eventualmente um pouco de jazz, música perfeita para ser ouvida em uma tarde de fim de semana sentado em uma cadeira confortável tomando sua bebida preferida. Gravado no último ano da década de 70, abria as portas para a música dos anos 80 sem deixar a aura setentista de lado.

1. While You See a Chance
2. Arc of a Diver
3. Second-Hand Woman
4. Slowdown Sundown
5. Spanish Dancer
6. Night Train
7. Dust

Formação: SteveWinwood (todos os instrumentos)


Eric Clapton & Steve Winwood – Live From the Madison Square Garden [2009]

Depois de muitos anos, idas e vindas de ambos e vários problemas pessoais de Clapton, a dupla conseguiu marcar algumas datas de shows na famosíssima casa de espetáculos novaiorquina. Durante o período de 1969 até 2009, os dois chegaram a ocasionalmente tocar juntos, mas apenas em eventos beneficentes, e mesmo assim poucas músicas. Essa foi a chance de reviver de vez a parceria. Tenho a impressão de que esse será o último álbum ao vivo de ambos, e é perfeito para deixar uma ótima impressão para a posteridade. O repertório passeia pela carreira de ambos em suas diversas bandas, carreiras solo, algumas versões de outros compositores e, claro, por músicas do Blind Faith. Entre as versões destacam-se as de J.J. Cale (três ao todo), inclusive “Cocaine”, que muitos ainda pensam ser de Clapton. Também existem versões para canções de Jimi Hendrix, Otis Rush, Buddy Miles e, claro, de Robert Jonhson, talvez o ídolo-mor de Clapton. Chega a ser irônico que o ídolo de “Deus” seja alguém que supostamente fez um pacto com o demônio. É impossível não destacar a atuação de Winwood, mesmo com “Deus” a seu lado no palco. O que ele faz em “Georgia on My Mind”, quando fica sozinho, é de arrepiar. Gostaria muito de que esse álbum ao vivo fosse uma prévia de um disco de estúdio com músicas inéditas.

1. Had to Cry Today
2. Low Down
3. Them Changes
4. Forever Man
5. Sleeping in the Ground
6. Presence of the Lord
7. Glad
8. Well All Right
9. Double Trouble
10. Pearly Queen
11. Tell the Truth
12. No Face, No Name, No Number
13. After Midnight
14. Split Decision
15. Rambling on My Mind
16. Georgia on My Mind
17. Little Wing
18. Voodoo Chile
19. Can’t Find My Way Home
20. Dear Mr. Fantasy
21. Cocaine

Formação: Eric Clapton (guitarra, vocais); Steve Winwood (teclados, guitarra, vocais); Willie Weeks (baixo), Ian Thomas (bateria); Chris Staintonon (teclados)

9 comentários sobre “Cinco Discos Para Conhecer: Steve Winwood

  1. Ótimo texto, Fernando. Talvez eu colocasse o John Barleycorn Must Die como disco do Traffic, mas isso seria apenas uma opinião pessoal.

    Parabéns pela excelente matéria!

  2. Obrigado Cadão. Tambem tenho o Jonh Barleycorn Must Die como meu favorito do Traffic. Basta lembrarmos do War Room que fizemos com o album…lembra? Porém como a idéia é escolher discos para conhecer o artista, achei mais adequado colocar o segundo, principalmente por causa de Feeling Alrigth devido seu enorme sucesso.

  3. Maravilha, Bueno! Belo texto e os discos escolhidos são ótimos. O Cadão engordou a lista com outro disco fantástico e eu também quero sugerir um álbum pouco divulgado, aquele que o Steve fez com o Stomu Yamashta e o Michael Shrieve (baterista do Santana) chamado Go. Esse álbum é mais progressivo e experimental e ainda tem o Klaus Schulze nos sintetizadores, o Al di Meola nas guitarras, o Rosko Gee no baixo… As letras não são do Steve (apenas uma), mas ele canta com a propriedade de sempre… Vale conhecer.

  4. Concordo Gaspa, inclusive achei que o Go ia entrar certo. Do Traffic eu colocaria ou o The Low Spark of High Heeled Boys ou Mr. Fantasy, mas isso são meramente questões pessoais

    Outros dois discaços que o Winwood participa são o primeiro da Ginger Baker's Airforce, que aliás, é um dos melhores discos ao vivo da história, e a versão orquestral de Tommy (do The Who), que ele simplesmente manda ver com a voz. Fora uma cacetada de discos que ele participou como o Electric Ladyland (Hendrix), About Face (Gilmour) e Berlin (Lou Reed).

    Parabéns de qualquer forma Bueno. Um artista com tanto talento ser resumido em apenas cinco discos não é tarefa fácil

  5. Entendo vcs, mas como a seção é sobre discos para conhecer preferi não colocar coisas mais obscuras. O disco do Ginger Baker's Air Force foi a trilha sonora no momento que escrevia a matéria. Gosto muito desse disco, mas como é mais focada na parte instrumental não quis dcolocá-lo.

  6. O Steve é um cara pra lá de batuta, muito fera no instrumental e cantando. Do Traffic o meu favorito é justamente esse segundo, um discaço, seguido de perto pelo Mr. Fantasy. Agora uma correção – o Rick Grech foi baixista do Family e não do Sly and Family Stone. Tb foi baixista do Traffic durante um tempo. Outra coisa – pô o solo do Ginger Baker na Do What you Like é maravilhoso! a não ser pra quem não gosta de solos de bateria! eheheheh

    Abraço!
    Ronaldo

  7. Ronaldo
    Vc tem toda a razão sobre o Rick Grech…Erro imperdoável!!! Acabei deixando passar. Para falar a verdade nem curto o Family…só o Sly e chamo a segunda somente de Family. Essa foi a razão do meu erro.

  8. Steve Winwood SEU LIMDU! Eu tb colocaria o Barleycorn como disco do Traffic, discaralhaço! Ainda não conheço a carreira solo do Winwood pq.. Bem.. Eu acho Genesis um pouco parecido com Traffic. Daí fui ouvir um disco solo do Winwood e parecia Peter Gabriel solo. Foi uma experiência tosca e desagradável! keke Mas logo logo eu dxo de frescura e corro atrás. Parabéns pela homenagem, apesar de dar muito espaço pra essezinho do Clapton.

    WINWOOD IS GOD! [2]

Deixe um comentário para Anônimo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.