Discografias Comentadas: The Stooges

Discografias Comentadas: The Stooges

Por Pablo Ribeiro

Formado em Ann Harbour (Columbia, EUA), em 1967, o Stooges foi o embrião do que no futuro viria a ser o Punk Rock e seus consequentes desdobramentos. Figuras seminais da cena punk/hardcore como The Ramones, Black Flag, Sex Pistols, The Damned e mais algumas dezenas de grupos do estilo, além de grupos de outras vertentes (ainda que influenciadas pelo punk) como Red Hot Chili Peppers, Sonic Youth, Sisters of Mercy, Rage Against The Machine, Slayer, entre muitos outros prestaram e ainda prestam referência ao proto-punk da banda. Dotado de uma sonoridade crua e cortante, regada a uma dose generosa de cinismo e acidez lírica, o som do Stooges é absurdamente carismático e contagiante, cativando um grupo fiel de admiradores.


The Stooges [1969] 

Lançado em abril de 1969, o auto-intitulado primeiro disco dos “patetas” ja mostra a que veio: são menos de 35 minutos, mas cada segundo reduz a pó tudo que havia sido feito no Rock n Roll até então. As guitarras “motosserra” de Ron Asheton, mais a cozinha formada por seu irmão Scott Asheton (bateria) e Dave Alexander (baixo) pavimentam o caminho (im)perfeito para Iggy – de iguana – Stooge (depois Iggy Pop) – que já nessa época aterrorizava os mais incautos com sua performance absurdamente debochada – patrolar os ouvidos alheios com sua visão de mundo sem perspectivas.

A bolacha ja começa com um belo tapa na cara da apatia juvenil da época: “1969, OK/através da América/Outro ano pra você e pra mim/Outro ano sem nada pra fazer“. A próxima é mais um dos clássicos da banda (e do Rock n Roll), uma música de amor, evidentemente no estilo sujo, sarcástico e cínico dos caras,. Trata-se de “I Wanna Be Your Dog“, com seu riff de guitarra tão ácido quanto hipnótico e “ganchudo”, e sua letra urgente: “Agora estaremos cara a cara/e deitarei no meu lugar favorito/e agora quero ser seu cachorro“. Declaração de amor infalível para qualquer dama, convenhamos! A seguinte, “We Will Fall” é um épico claustrofóbico de mais de 10 minutos, espremendo carência de afeto por entre os dedos. Segue o disco, voltando à loucura proto-punk com “No Fun” um puta som, clássico absoluto dos caras, que vai nessa: “(…) Sem graça andar por aí/se sentindo do mesmo jeito/apavorado por outro dia“. As próximas, “Real Cool Time” (recorrente nos shows da posterior carreira solo de Iggy, “Ann“, “Not Right” e “Little Doll” seguem no mesmo nível altíssimo de qualidade. Altamente recomendado, “The Stooges” é fundamental em qualquer discografia de rock que se preze.


Fun House [1970] 

No ano seguinte ao debut, os 4 patetas (o mesmo lineup do álbum da estreia) de Columbia voltam a cuspir seu sua música irresistivelmente suja não despreparados (e também em sua crescente legião de fãs).

Fun House é o nome da barbaridade em questão. Basicamente uma sequência do disco anterior, lá estão os temas cortantes, sarcásticos e diretos do grupo. Assim como seu antecessor, não há destaques no sentido de que o disco é absurdamente coeso e estável, em sua anarquia sônica, por mais paradoxal que isso possa soar. Mesmo assim, algumas se tornaram clássicos idolatrados por gerações de rockeiros das mais diversas vertentes. Exemplo de “T.V. Eye” (outra tocada até hoje nos shows de Iggy), “Loose” e a faixa título. Outra paulada fundamental na prateleira de rockeiros e admiradores de música boa, Fun House ,apesar de curto, vale cada segundo.


Raw Power [1973] 

Logo após Fun House, os Stooges se separaram, principalmente devido aos (grandes) problemas com álcool de Alexander, e aos (enormes) problemas de Iggy com heroína. Esse último só não foi comer capim pela raiz por causa da intervenção do “camaleão” David Bowie, admirador de Osterberg e dos Stooges. Com o auxílio de Bowie, e contando com a produção do próprio e de Iggy Pop, os Stooges entram em estúdio para gravar Raw Power (sob a alcunha de “Iggy and the Stooges”). Outro puta disco, mas ironicamente, o menos cru (raw) até então. A maior diferença está não só na produção um pouco mais esmerada – que não prejudicou de forma alguma o som dos caras – mas também nas guitarras, uma vez que Ron Asheton substitui Dave Alexander no baixo, dando lugar a James Williamson, que já tinha à época certo nome como produtor. Utilizando-se de timbragens um pouco mais limpas e riffs menos anárquicos, Williamson levou o som dos Stooges a um patamar um pouco mais acessível (mas não pop – sem trocadilhos). Mesmo assim, Raw Power tem uma das canções mais representativas dos anos 70 no que tange a agressividade, a poderosa “Search And Destroy“. A face menos agressiva do “novo” Stooges se mostra em “Gimme Danger” uma semi-balada punk que também está cravada na história do gênero. As outras faixas do disco, apesar de nao terem a urgência nem o frescor das constantes nos dois discos anteriores, mantém o nível elevado de composição do grupo. Depois desse disco, a banda novamente se desfez. Iggy Pop seguiu uma carreira solo de sucesso (ainda que dando umas rateadas vergonhosas aqui e ali), James Williamson tocou com Iggy em alguns albums do cantor e continuaria sua carreira de produtor. Da parte dos irmãos Asheton , Ron tocaria com alguns outros grupos, incluindo aí passagens pelo New Order, e Scott passaria por várias bandas de pouca expressão. Por fim, Dave Alexander faleceria em 1975, vítima dos abusos de álcool.


The Weirdness [2007] 

34 anos depois de seu último disco de estúdio, acontece o inesperado retorno dos Stooges. Contando com quase a mesma formação dos dois primeiros discos, com Mike Watt (Minutemen, Firehose) no lugar do falecido Dave Alexander, The Weirdness parece ser, ao mesmo tempo, o Stooges dos anos 2000, e o disco que seria lançado em 1974 ou 1975 caso a banda não tivesse terminado naquela altura. Mesmo depois de 40 anos de carreira (com os integrantes na casa dos 60) os Stooges ainda mostram que têm muita lenha para queimar, e mostram uma cara de pau e um sarcasmo ímpar, deixando no chinelo muito moleque – e marmanjo – metido a punk e revoltado! Dificil lembrar de alguém lançando tijoladas como “You Can’t Have Friends” (“eu deveria acreditar em mel jorrando de pedras/eu deveria acreditar na humanidade, mas não!“) ou “My Idea of Fun” (“minha idéia de diversão/é matar todo mundo”). Todos os quarenta minutos do disco são dignos de respeito. E, se por um lado não estamos mais no final dos 60’s/começo dos 70’s, por outro, fica claro que, mesmo quarenta anos depois, os Stooges ainda têm muito gás! Ainda no final da primeira década do século XXI, fortes rumores davam conta de outro disco de inéditas. Rumores esses reforçados por declarações dos próprios integrantes. Infelizmente, Ron Asheton faleceu em janeiro de 2009, dificultando em muito a produção de material inédito por parte do grupo. Ainda que James Williamson possa vir a substituir Ron, a possibilidade é mínima, uma vez que a relação do mesmo com o restante do grupo parece não ser das melhores.

Stooges anos 2000: Ron Asheton, Iggy Pop e Scott Asheton.

Ainda que a carreira do grupo tenha definitivamente chegado ao fim, seu legado vai ficar cravado de forma irreversível em todo grupo que tenha, teve ou terá, influencia do puk rock do qual os Stooges foram, inegavelmente, os principais responsáveis por criar.

3 comentários sobre “Discografias Comentadas: The Stooges

  1. Não sou grande admirador de punk e tenho uma pequena aversão a essas bandas que a galerinha "proto-pós-punk" alternativete curte – ou adora dizer que curte -, MAS peguei os discos da banda pra ver qual que era e até que me surpreendi um pouco. Os caras faziam não só esse som que desembocaria no punk, mas há momentos mais experimentais, ousados, e o próprio som mais proto-punk não dxa de ser interessante, tendo em vista o contexto em que os caras faziam isso. Interessante!

  2. Faltou o Born to Die. Outro discaço. Impressionante como é bom o som deles! Os discos solo do Iggy também são muito bons. Muita energia para um infante da idade dele. Recomendo Beat em up e Post Pop Depression.

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