Maravilhas do Mundo Prog: Gong – Prostitut Poem [1973]

Maravilhas do Mundo Prog: Gong – Prostitut Poem  [1973]
Por Mairon Machado
Falar a respeito de bandas de rock progressivo às vezes é muito complicado. Carreiras com uma vasta discografia podem confundir e muito a cabeça de um aficcionado do gênero para que ele possa se decidir como vai se concentrar a ouvir os álbuns da sua banda favorita. Talvez a banda que seja mais “ousada” em termos de lançamentos seja o grupo franco-britânico Gong.
A carreira do Gong é repleta de muitas histórias e também de pontos desencontrados, causados principalmente por uma discografia tão vasta quanto foram suas constantes mudanças de formação. O grupo nasceu de uma história já confusa, sendo fundado em 1967 pelo guitarrista/vocalista australiano Daevid Allen, quando o mesmo teve seu passaporte negado para entrar no Reino Unido a fim de acompanhar o grupo Soft Machine, do qual Daevid fazia parte.
Daevid Allen e Gilli Smyth (1969)
Impedido de tocar, Daevid teve que permanecer na França, país onde o Soft Machine tocou antes da Inglaterra, e lá, conheceu Gilli Smyth, uma jovem professora da Universidade de Sorbonne. Ambos tiveram uma relação mais que direta, algo que definiram como “união cósmica”, e decidiram passar a química de seu encontro para o formato de música. Surgiu assim a primeira encarnação do Gong, que contava ainda com Ziska Baum (vocais) e Loren Standlee (flauta).
Em dezembro de 1968, Allen e Gilli foram forçados a abandonar a França, já que estavam sendo perseguidos por fazerem parte da famosa revolução estudantil de 1968, indo parar no vilarejo de Deià, na Espanha. Segundo a lenda, a dupla passeava pelas bonitas regiões da cidade de Mallorca quando, entre montanhas e cavernas, ouviram o som de um saxofone. Dentro de uma caverna de Deià, estava escondido o saxofonista e flautista Didier Malherbe.
Outros contam que o primeiro encontro entre Didier e Allen ocorreu em maio de 1968, ainda em Paris, quando o Gong foi convidado para fazer a trilha sonora do filme “Continental Circus”, de Jérome Laperrousaz. Através dessa trilha, o Gong travou contato com o diretor de um pequeno selo independente chamado BYG, Jean Karakos. A amizade entre Karakos e Allen, regada a alucinógenos e papos sobre ufologia, exorcismo, rituais satânicos e culto ao paganismo, fez com que o Gong assinasse com a BYG, e através dela, lançou os discos mais cobiçados de sua carreira.

Magick Brother (1970) e Camembert Electrique (1971) são álbuns experimentais, contando com muitos convidados que exalam toda a efervescente cena psicodélica daquela época. Em Magick Brother, participam Earl Freeman (contrabaixo), Barre Phillips (contrabaixo), Dieter Gewissler (contrabaixo), Burton Greene (piano), Rachid Houari (bateria) e Tasmin Smyth (voz), além de Didier, Daevid e Gilli, enquanto em Camembert Electrique, estão presentes Didier, Daevid, Gilli, Christian Tritsch (baixo, guitarra) e Pip Pyle (bateria). Também pela BYG, Daevid gravou seu álbum solo, Bananamoon (1971), que conta com a participação dos membros do Gong bem como Maggie Bell nos vocais e Robert Wyatt na bateria.  

Família Gong “meditando”
Em junho de 71, o grupo se apresentou na segunda edição do Glastonbury Festival, seguido de uma extensa turnê pelo Reino Unido, onde conseguiram assinar com a recém fundada gravadora Virgin, e nessa época, estabeleceu uma formação regular, com Daevid (guitarra, voz), Gilli (voz), Didier (saxofone, flauta), Tim Blake (teclados, voz), Steve Hillage (guitarra), Christian Tritsch (guitarra), Francis Moze (teclados, baixo) e Rachid Houari (bateria, percussão).
Essa grande “família” do Gong passou a consumir diversos alucinógenos em uma fazenda no interior da França, principalmente Daevid, que tendo ao lado a genial cabeça de Steve Hillage (um dos principais guitarristas da Canterbury Scene) e também de Gilli, criou uma sociedade alheia de todo o resto do mundo, e que foi batizada de Planet Gong. Faziam parte dessa sociedade os oito membros do grupo mais alguns produtores, namoradas, roadies e também pequenos animais como gatos, cachorros e coelhos.
Flying Teapot, a primeira parte de Radio Gnome
Dentro da viagem de Daevie e Steve, começaram a compor diversas canções, que acabaram sendo registradas em uma trilogia fundamental do rock progressivo, batizada de Radio Gnome. A história de Radio Gnome em si narra a Mitologia Gong, e a primeira parte dessa mitologia está em Flying Teapot, lançado em 1973, onde as viagens vocais e instrumentais do Gong beiram a loucura em canções como as longas “Zero The Hero & The Witch’s Spell” e a própria faixa-título. Em todo o LP, está o início da mitologia, o qual ocorreu quando Allen vislumbrava uma lua cheia na páscoa de 1966 e acabou vendo seu futuro.
Em Flying Teapot, temos o começo de tudo, quando um fazendeiro criador de porcos e também Egiptologista Mista T Being vendeu um brinco mágico para um vendedor de rua que colecionava rótulos de chá e vendia bules antigos, chamado Fred the Fish. O brinco é um receptor de sinais do planeta Gong, e isso ocorre através de uma estação de rádio pirata, chamada Radio Gnome Invisible. Fish é um líder tibetano do grupo dos hymnalayas, e eles encontram-se regularmente em uma caverna para conversar com o Grande Yoga Cerveja Banana Ananda. Em cada encontro, Ananda canta a canção “Banana Nirvana Mañana”, enquanto bebe muita cerveja australiana. Essa é uma sátira baseada em experiências reais de Gilly e Daevid, supostamente pelo famoso encontro de Didier em uma caverna.
Enquanto as reuniões com Mr. Banana ocorrem, o herói da mitologia Gong, Zero the Hero, vive tranquilamente na Inglaterra, quando tem uma visão do futuro durante um passeio pela Charing Cross Road de Londres. Nessa visão, ele acaba sendo obrigado a procurar alguns heróis que possuem o tal brinco vendido para Fish, além de cultuar a uma série de duendes verdes com hélices sobre as cabeças, os Pot Head Pixies, que são os habitantes do Planeta Gong, e que vivem voando em torno de bules de chá.
Zero começa a sua busca atrás dos brincos e dos Pot Head Pixies, e então, um gato surge em sua vida, lhe oferecendo uma porção de batatas-fritas com peixe. Esse gato é na verdade uma bruxa, conhecida como Good Witch Yoni, que junto a porção de fritas e peixe, oferece um chá onde coloca, por engano, uma poção na qual enfeitiça Zero. Nesse ponto encerra-se a primeira parte da trilogia de Radio Gnome.
Os membros de Angel’s Egg: Mirielle de Strasbourg (Mireille Baer), Bloomdidi Bad de Grass (Didier Malherbe), T. Being esq (Mike Howlett), Sub. Capt. Hillage (Steve Hillage), Shakti Yone (Gilli Smyth), Hi T. Moonweed (Tim Blake), Pierre de Strasbourg (Pierre Moerlen), Dingo Virgin (Daevid Allen)
A viagem instrumental e também criativa de Planet Gong foi tamanha que no álbum, os membros do Gong foram batizados com os seguintes nomes, tocando seus respectivos instrumentos: Dingo Virgin (PON voicebox, aluminium croonguitar & stumblestrum); Good Witch Yoni (Orgone box & space whisper); Hi T Moonweed the favourite (VCS 3box Cynthia size A & crystal machine); The Good Count Bloomdido Bad De Grass (Split sax ie tenna & soprasax & so flooth); Stevie Hillside (spermguitar, Gitbox & slow whale); The Submarine Captain (sideral slideguitar & Dogfoot); Francis Bacon (VCS3 fertilised elect piano & left bank uptightright pno & Shakesperian meat bass); Lawrence the alien (Drumbox kicks and knock); Rachid Whoarewe the Treeclimber (Congox) e ainda Venux De Luxe (Road crew & trux) e Wiz De Kid LIGHTS & Duke (Switch doctor).
A expectativa do que irá acontecer com Zero the Hero está guardada para a segunda parte da trilogia. Angel’s Egg, lançado também em 1973, traz a saga do heroi sob a influência da poção mágica dada pela Bruxa Good Witch Yoni. Zero encontra-se viajando pelo espaço. Depois de acidentalmente bater em um piloto espacial chamado Captain Capricorn, Zero encontra o Planeta Gong, e lá, passa a viver com uma prostituta, a qual é a responsável por apresentear a ele a Deusa da lua, Selena.
Daevid como um Pot Head Pixie
É nesse ponto que a vida de Zero muda, e isso é retratado na nossa maravilha dessa semana. “Prostitut Poem” é um tema mais que fantasioso, e ao mesmo tempo encantador, onde os dotes vocais de Gilli, associados ao talento para criar sombrias camadas atmosféricas de teclados, guitarras e barulhos psicóticos, formam uma trilha sonora de assustar qualquer leigo no assunto.
A canção começa com o saxofone, baixo e os viajantes teclados, com Gilli primeiramente falando algumas frases em inglês: “Happy? I’m not Happy … I’m Sad” e depois algumas frases em francês, trazendo o tema no saxofone de Didier acompanhado por uma valsa-cabaré que, com vocalizações, acompanha a letra cantada em francês, em uma linda melodia feita por guitarra, saxofone, assovios, tablas, baixo e sintetizadores. 
Os vocais franceses de Gilli são tão encantadores quando a melodia musical, em um tom de deboche e sensualidade característicos das canções francesas, entrando em uma viajante sessão com gritos e barulhos enquanto Gilli solta frases aleatórias, com a voz repleta de efeitos e simulando o encontro de Zero com Selena, que pode ser facilmente interpretado a uma relação sexual entre Zero e a prostituta, já que os gemidos  gritos de Gilli claramente simulam isso, chegando ao bonito dedilhado de Hillage, onde Didier é o centro da atenção com suas intervenções no saxofone, e assim, a canção vai para seu encerramento, com a repetição do tema central, e Gilli dividindo os vocais tanto em francês quanto em inglês. 
Uma canção simples, direta, mas tão importante para o contexto geral de uma trilogia como Planet Gong que sua simplicidade acaba elevando-a ao status de uma das melhores da carreira do grupo. Com ela, Zero passa a lutar por uma causa agora pessoal, já que ao ser apresentado a Selena, ele descobre seu terceiro olho, o qual é voltado aos prazeres carnais (como o sexo) e também a gula.
Gong ao vivo (Hyde Park, 1974)
Depois disso, Zero, ainda sob efeito dos alucinógenos, continua sua viagem pelo Planeta Gong, encontrando então os Pot Head Pixies, os quais passam a tentar transformá-lo em mais um deles, ensinando-o como voar sobre os bules (em um sistema conhecido como Glidding) e levando-o para o One Invisible Temple of Gong. Dentro do templo, Zero conhece Angel’s Egg, uma incorporação de 32 Octave Doctors, os quais são descendentes do Grande Deus Célula (Great God Cell). O Angel’s Egg (Ovo do anjo) é construído através de plantas recicladas pelos Pot Head Pixies.
Poster de show do Gong na Itália

Um grande plano é revelado para Zero, que é o de dominar a Terra através da organização de um grande festival mundial de música, chamado Great Melting Feast of Freeks, onde então, Switch Doctor, um dos 32 Octave Doctors, que reside na Terra dentro da caverna de Banana Ananda, e que sabe da busca inicial de Zero pelo brinco por possuir informações do “quartel general dos Pot Heads”, chamado Invisible Opera Company of Tibet (C. O. I. T.), transmitindo todas as informações para o observatório do Planeta Gong através do Bananamoon Observatory, irá ativar um sistema que liberará o terceiro olho dos humanos, começando então uma nova era.

Aqui encerra-se a segunda parte de Radio Gnome. Os membros agora receberam os seguintes nomes e tocando os respectivos instrumentos: Bloomdido Bad De Grass (Didier Malherbe) no saxofone tenor, soprano, floot, bi-focal vocal; Shakti Yoni (Gilli Smyth) no space whisper e loin cackle; T. Being esq. (Mike Howlett) no basso profundo; Sub. Capt. Hillage (Steve Hillage) na lewd guitar; Hi T. Moonweed (the favorite) (Tim Blake) fazendo as vozes femininas; Pierre de Strasbourg (Pierre Moerlen) na bread & batteur drums, vibes, marimba; Mireille de Strasbourg (Mireille Bauer) no glockenspiel e Dingo Virgin (Daevid Allen) nos vocais, aluminium croon e glissando guitar
You, o encerramento de Radio Gnome
No encerramento da trilogia com You (1974), Zero deve retornar para a Terra e organizar o festival, ou morrer e se juntar aos demais Pot Head Pixies. Porém, ele acaba percebendo que a viagem pode ser ainda maior, e acaba perguntando a Hiram, o Grande Construtor, como transformar suas visões em algo concreto e também ter o seu próprio templo invisível. Depois disso, Zero estabelece para si mesmo que é necessário organizar o Great Melting Feast of Freeks, a ser realizado na Ilha de Todos os Lugares, em Bali.
Durante o evento, Switch Doctor liga o terceiro olho de todos, exceto o de Zero, por ser um olho voltado para os prazeres terrenos. Zero acaba perdendo seu terceiro olho e forçado a viver através de nascimentos e mortes que irão convergir em um Angel’s Egg, como constatamos nas também maravilhas “Isle of Everywhere” e “You Never Blow Yr Trip Forever”, onde essa visão assemelha-se a visão de re-incarnação do budismo, algo que Daevid começava a estudar naquele momento na vida real.
O Gong passou por diversas reformulações depois de You, tendo inclusive Bill Bruford participado da formação que encerrou o ano de 1974. O excesso de loucura vivido por Daevid foi tamanha que antes de um show na cidade de Cheltenham, em 1975, ele recusou-se a subir no palco por que uma parede de força estava evitando ele de fazer aquilo. Daevid saiu do Gong, assim como Smyth e Blake. Os demais continuaram excursionando pelo Reino Unido durante todo o mês de novembro de 1975, lançando Shamal naquele ano e começando uma nova fase, que foi batizada de Pierre Moerlen’s Gong, tendo na liderança o baterista Pierre Moerlen, e que lançou diversas maravilhas com o passar da carreira.

O som do Gong não é para qualquer um. Apreciar o que está contido nos álbuns da fase inicial e principalmente na trilogia de Radio Gnome é tarefa que dificilmente alguém consegue em uma audição inicial, e tão pouco em audições que não se preste atenção para os detalhes dos LPs e da história proposta, já que cada segundo é um tijolo fundamental para a construção de uma edificação gigantesca, e assim, somente a audição de uma única música de forma aleatória pode causar uma depreciação que não é devida justamente pela capacidade de criação do todo, e não só daquela canção, como é o caso de Angel’s Egg.

A capa permitida de Angel’s Egg
A capa de Angel’s Egg representa o que acontece no final de Flying Teapot e no início do LP. Da esquerda para a direita, temos primeiramente Zero comprando o peixe com fritas de uma linda bruxa. Essa bruxa oferece a ele um chá que contém a poção, e na casa da bruxa, Zero acaba dormindo, entrando em um estado de profunda viagem, onde, como um sátira a própria história criada por Daevid, ele se vê indo com sua cara direto para o meio das pernas de uma prostituta que o espera ansiosamente com as mesmas abertas,  louca para mostrar a Zero a deusa da lua e deixando em destaque uma rosada vagina sedenta pela boca do herói da trilogia. Obviamente, essa capa foi proibida em diversos países, sendo a capa que saiu em lugares como Itália, Alemanha, Estados Unidos e Espanha, contendo apenas um ovo com asas e tendo o nome do LP.
O Gong de Daevid Allen voltaria anos depois, na década de 80 e anos 2000, sendo que outros Gongs surgiram nesse meio tempo, como New York Gong, Gongmaison e Mother Gong, sendo que o álbum de estreia do Mother Gong, Fairy Tale (1979), possui pelo menos mais uma maravilha, a fantástica “Wassilissa”. Todos esses grupos possuiam um que outro ex-integrante do Gong, com as mesmas maluquices e invenções do início de carreira do Gong original, mas jamais alcançando o impacto sonoro e criativo da trilogia Radio Gnome, que entre todas as maravilhas lançadas nos seus três álbuns, apresenta em “Prostitut Poem” a combinação exata de humor, delírios sonoros, esquisitice instrumental e talento vocal em uma única canção, digna de ser uma maravilha do mundo prog.

9 comentários sobre “Maravilhas do Mundo Prog: Gong – Prostitut Poem [1973]

  1. Finalmente consigo postar meu comentário nesta matéria fascinante. Eu já tinha feito há uns cinco anos uma matéria sobre esta mesma trilogia para a poeiraZine mas o Mairon abordou aspectos que a minha pesquisa na época não revelou. Aprendi um pouco mais sobre esta banda que eu gosto muito e quero dar os parabéns ao amigo do Baú (não aquele, claro), tanto pelo nível do texto quanto pela escolha do grupo. Curioso é que o Daevid e o seu amiguinho Robert Wyatt costumam recusar o rótulo de Canterbury para suas músicas, seja no Gong ou no Soft Machine. Mesmo assim, fãs, críticos e historiadores insistem em encabeçar as duas bandas em qualquer texto sobre essa escola. Será que esses dois não entendem nada de nada?

  2. Grande Mister Master Gaspa, o Blogger anda com problemas em diversos setores, mas aos poucos vamos voltando a normalidade. Obrigado pelos elogios meu caro, e eu tenho a tua matéria na PZ como uma das referências para ter conhecido mais sobre a Canterbury Scene. Particularmente, eu não consigo ver o Gong como uma banda da Canterbury. Eles eram um grupo onde as "alucinações individuais" iam além do que o pessoal da canterbury fazia, e muitas vezes era loucura mesmo. Se pegar o Soft Machine por exemplo, parece que o q o Wyatt fazia, por mais insano que fosse, tinha um sentido, uma luz no fim do tunel onde eles sabiam onde iam chegar. O Hillage é outro forte representante dessa cena, mas fora do Gong. Daevid Allen, sincera e modestamente, não tinha calibre para estar na cena de canterbury por viajar além do normal, levando com ele a gilli smith e o didier, que eram quem realmente mandava no Gong. Depois que o Pierre Moerlen tomou conta, bom, dai sim, o Gong nao teve mais nada a ver com as viagens alucinadas de Allen, só q para Canterbury tb não serve. Camel, Caravan, Khan, Quiet Sun, e o próprio Soft Machine, acho que essas bandas representam o som de canterbury, com aquela pitada de jazz misturada com psicodelia e muita tecnica individual de seus musicos, e eu ou por falta de conhecimento ou por burrice mesmo, não consigo ver similaridade entre elas e o que o Gong de Daevid allen fazia.

    Enfim, falar de Gong é como falar de Zappa, podemos discutir durante anos, mas concordamos que é uma das melhores bandas já surgidas na face da terra!

    Abraço

  3. Bom, Mairon, por mais malucão que o Allen seja, não concordo que ele não tivesse técnica (se é que eu entendi o que você escreveu aí em cima) para ser um digno representante da escola de Canterbury. Inclusive, provavelmente ele tenha sido o autor intelectual do “crime”, já que era mais velho que seus pares do Wilde Flowers. Também já era beatnic quando eles ainda usavam calças curtas, tocava em banda de jazz e deve ter sido uma espécie de ídolo desses garotos que depois virariam os monstros sagrados do Canterbury. O problema com os rótulos sempre é a limitação. Para quem ouve ou comenta, ele é ótimo porque deixa as coisas arrumadinhas em seus devidos lugares. Mas para o músico deve ser frustante. “Ah, o Daevid Allen é corintiano, daí é banguela, maloqueiro e sofredor.” Foda, né?

  4. hahahaha, essa é boa "“Ah, o Daevid Allen é corintiano, daí é banguela, maloqueiro e sofredor.”

    Na real, a técnica que eu me refiro é o fato de fazer uma música "certinha" (para os padrões do Gong). Eu não tenho contato com a carreira solo do Daevid, e claro, ele foi um precursores da Canterbury, só que particularmente no Gong, ele não tinha aquela visão centrada da cena de canterbury (eu acho), pois as musicas eram praticamente feitas em um improviso sem fim. Tem um bootleg de 75 se nao me engano, onde eles fazem uma versão de meia hora de you never blow your trip forever, sendo que uns 20 minutos é só a gilli cantando you are I or I am you …

    É disso que eu falo. A loucura do Daevid Allen no Gong vai muito além da loucura de Canterbury, mas eu ainda sou guri nesse assunto, então, concordo que minha visão não seja a correta (alias, alguem tem algo do Khan ao vivo para me conseguir??)

  5. Fico imaginando o que seria da carreira do Daevid se ele não fosse obrigado a ficar em Paris (e ter conhecido a Gilli e o Didier). Duvido que ele se sentisse a vontade com a guinada que o Soft Machine deu do Soft 3 em diante. Foi o caso do Kevin Ayers, que também debandou na época em prol de um pop mais vanguardeiro. E Deus abençoe o Kevin Ayers, seu trabalho é maravilhoso. Conheço algumas coisas do David Allen solo. Tem um disco que eu gosto muito que ele gravou em uma de suas escapadas para a Espanha, com o grupo Euterpe. Flerta com o folk e o étnico, mas de um jeito bem DA. Como sou fã dessas estripulias sonoras, também me senti no direito de rotulá-las. Chamo de rock jiló. Porque eu gosto, mas para a maioria das pessoas que eu conheço simplesmente não desce, hehe…
    E, Mairon, tem pouco de achar que a sua visão ou a minha é a que está correta. A ignorância é justamente achar que sabe das coisas.

  6. gaspa, tu podes me recomendar algo do Euterpe e da fase solo do Daevid para ouvir? Eu tb curto essas estripulias, e sera um prazer entrar nesse mundo desconhecido (para mim) do Daevid.

    Quanto ao SM, eu penso q se o Daevid tivesse entrado na Inglaterra, o grupo nao teria mudado sua concepção musical tao cedo, mas acredito que o Daevid cairia fora mesmo assim, seja por causa das drogas, por causa do estilo ou outras cositas mas

    E quem toca mais? Kevin Ayers ou Steve Hillage?

    Bananamour é uma joia de interessante

  7. Putz… ta difícil postar por aqui. Escrevi uma resposta enorme e na hora de enviar, foi recusada e eu a perdi. Mas vamos novamente:

    Dessa fase espanhola pós-Gong do Allen, tenho dois CDs:

    “Now is the happiest time of your life” – Um disco maravilhoso e variado. Tem guitarra flamenca, tablas tocadas pelo Sam Gopal e vários gonguerismos. (acho que é de 77)

    “Good Morning” – esse é o disco com o Euterpe e é de 76 (tenho um LP do Euterpe sem o Allen mas não achei no meio da minha bagunça, por isso vou ficar devendo o nome)

    Em 77 o Allen produziu um disco muito legal para o cantor catalão Pau Riba chamado “Licors”. Os rotuladores de plantão logo chamaram o Pau Riba de o Daevid Allem espanhol. Apesar de um certo parentesco sonoro, é uma tremenda injustiça, pois a discografia do Riba é grande e de muita personalidade.

    Tem muita coisa do Allen mais recente, anos 90 em diante. Tenho “The Magick Brother live at the Witchwood 1991” e “Daevid Allen’s University of Errors: Uglymusic.4.Monica”.

    E se quiser ampliar ainda mais seus horizontes canterburianos, procure ouvir os discos de um músico chamado “Todd Dillingham”

    Quanto a um possível tira teima entre o Kevin Ayers e o Hillage, não me arrisco de jeito nenhum. Me inclua fora dessa, hehe…

  8. Francis Bacon WTF! Muito louco o Gong.. Eu adoro algumas coisas do Flying Teapot, preciso ouvir tudo deles e com mais carinho. Depois parece que ficaram mais fusion, né? Essa música me lembra muito um disco do Goldfrapp, que tb flerta com essas músicas de cabaret.

  9. Me esclareceu muito sobre a mitologia Gong esse post. Assim como todo o blog ta de parabéns.

    O Gong com certeza é a banda mais "maluca" da "santa trindade" da cena de Canterbury. Só pra constar as outras duas bandas seriam o Soft Machine e o Caravan.

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