System of a Down – Toxicity [2001]
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Por Mairon Machado
O ano é 2001. No inicio de um novo século, algumas bandas surgem para tentar conquistar espaço no já famigerado mundo do rock. Aqui no Brasil, enquanto alguns exaltam a volta de Bruce Dickinson ao Iron Maiden, outros esperam o “tão aguardado” novo disco do Guns N’ Roses (que ainda iria demorar 7 anos para sair), o que havia sido espetacularizado ainda mais pela participação de ambos no Rock in Rio de janeiro daquele ano. E outros estão abrindo os ouvidos para ao menos três novas (e surpreendentes) bandas advindas de locais bem aleatórios: Rammstein (Alemanha), Slipknot (Iowa, Estados Unidos) e System of a Down (Armênia/Estados Unidos).
Eu já conhecia as três em 2001, sendo que tinha visto o Rammstein abrir para o Kiss em 1999, em um dos Melhores/Piores shows da minha vida, não curtia Slipknot (e ainda acho a banda bem aquém) e tão pouco apreciava System of a Down. Estava no início da minha licenciatura em Física, concentrado em aprender integrais, as Leis de Gauss, ao mesmo tempo que me preparava para um dos maiores desafios da minha vida, que foi tornar-se pai com 18 anos. Passava boa parte do dia na universidade, já que o curso era diurno (manhã e tarde), e durante o horário do almoço, ia para o Diretório Acadêmico (bons tempos do DA) para estudar e relaxar um pouco de uma ronda diária que eu fazia pelo Campus do Capão do Leão da Universidade Federal de Pelotas, onde localiza-se o curso, catando latinhas (sim, durante um bom tempo catei latas de alumínio e outros materiais de reciclagem como forma de trabalho para sustentar meu filho). Sempre tinha maluquetes de diversos cursos frequentando o DA, e um deles, certo dia, apareceu com um CD-R trazendo diversas canções de diversas bandas. Uma delas me pegou de jeito, era uma faixa chamada “Aerials”, com um dedilhado lindo, uns acordes pesados e um vocal estranho mas contagiante. Ali, no DA, começou minha paixão por System of a Down.

Lembro que ouvi aquilo por diversas vezes, e a medida que o tempo passou, fui descobrindo outras músicas, como “Chop Suey”, “X”, “Prison Song” e “Science”, tudo graças ao WinMX e Audio Galaxy, dois sites que permitiam baixar músicas de graça, que demoravam pra caramba para baixar, mas que trazia uma sensação ainda mais gostosa de vitória depois que baixava a música e ficava ouvindo ela no computador ou no CD-R gravado clandestinamente no computador da universidade. A internet era algo ainda engatinhando no Brasil, e as informações que chegavam até nós eram ainda mais precárias, mas não demorou muito para eu descobrir que todas aquelas faixas que eu curtia eram de um mesmo disco: Toxicity!
O tempo passou, adquiri o CD, ouvi bastante, e ainda hoje, com a proximidade dos cinco shows dos caras aqui no Brasil, começando depois de amanhã, dia 06, em Curitiba, dia 08 no Rio e 10, 11 e 14 em São Paulo (aaaaaaah, como queria estar em um desses 🙁 ), ainda acho este o melhor disco do quarteto formado por Serj Tankian (vocais, teclados), Daron Malakian (guitarras, vocais), Shavo Odadjian (baixo) e John Dolmayan (bateria). Voltando na história da banda, este é o segundo álbum, lançado em 4 de setembro de 2001. Os caras já haviam conquistado Disco de Platina com o seu álbum de estreia, auto-intitulado, de 1998, mas com Toxicity eles conquistaram o mundo.

São 45 minutos de uma obra pesada, esquizofrênica, maluquete e capaz de conquistar o coração inclusive de garotas que nunca ouviram rock pesado, o que por si só é uma façanha. Com uma produção fantástica de Rick Rubin, e seguindo a ordem das canções, o álbum abre com “Prison Song”, uma ótima escolha com os primeiros acordes pesadíssimos e a voz sussurrada de Tankian, caindo para uma das maiores obras do quarteto, que traz tudo o que um fã do SOAD gosta, ou seja agressividade mesclada com trechos maluquetes, a voz veloz de Tankian, a voz aguda de Malakian e um refrão marcante! Impressiona o peso desta faixa, mas ainda virá mais. “Needles” surge caótica na guitarra de Malakian, com a pancadaria comendo solta e muito mais peso. Aos desavisados, parece que “Prison Song” não acabou, mas não, é uma nova faixa, tão agressiva quanto a anterior, e com mais um refrão marcante, para se cantar a plenos pulmões. Destaco também a absurda performance de Dolmayan aqui.

“Deer Dance” é mais uma faixa pesadíssima, porém alternando momentos cadenciados em mais etapas, e com Tankian abusando do sotaque armênio, além das melodias vocais lembrarem bastante canções daquela região do mundo. É uma faixa um pouco abaixo das duas primeiras, mas mesmo assim bem interessante, e com um bom uso de harmonias na guitarra durante a segunda parte da canção, inclusive com uso de um banjo, a cargo de Malakian. Chegamos em “Jet Pilot”, e mais pancadaria comendo solta. De novo temos referências a Armênia, agora nas batidas da bateria, mas é a alternância entre o peso descomunal da guitarra e os trechos “armênios” que se sobressai em mais uma ótima faixa. “X” é a quinta faixa, alucinante desde o seu início, explodindo em riffs pesadíssimos e batidas furiosas que me remetem ao Sepultura de Chaos A. D.. Tankian explode sua raiva em vocais gritados, guturais e furiosos, e é nessas alturas do campeonato que seu pescoço já está começando a sentir o que pouco mais de 15 minutos de música são capazes de fazer.

O grande clássico “Chop Suey!” então surge com os violões, a linha da guitarra, o crescendo das batidas da bateria com a marcação do baixo, e a grande explosão para colocar a casa abaixo. Tudo devidamente bem encaixado para chegar nos vocais absurdos de Tankian. Que faixa! A mescla do peso com o ritmo lento, incluindo piano e teclados, é incrível e criativo. Ninguém havia feito algo igual até então. É uma violência descomunal mesclada com uma singela canção que somente ouvindo para tentar entender o que ocorre aqui. Essa paulada fantástica ganhou ainda mais créditos pelo hilário videoclipe montado – não oficialmente – com a turma do Chaves cantando essa lindeza de música. É a mais conhecida composição do quarteto, e também polêmica, já que toca no assunto suicídio e, como o disco foi lançado uma semana antes dos ataques terroristas de 11 de Setembro, criou-se uma espécie de “banimento” para a mesma. Apesar de banida das rádios, o vídeoclipe liderou o álbum no mundo todo
“Bounce” retorna a insanidade de velocidade e vocais alucinantes, caindo bastante o nível, mas talvez por vir depois de uma obra-prima como “Chop Suey!”, levando então para “Forest”, onde a percussão inicial é o destaque para mais pancadaria, bem melhor que “Bounce”, mais agressiva, pesada e boa para pular junto. Os vocais de Tankian aqui também são muito bons de cantar junto, assim como em “ATWA (Air Trees Water Animals)”, esta a canção mais lenta de todo o disco, levada apenas pelo dedilhado da guitarra de Malakian e os vocais chorosos de Tankian, apesar de ter seus momentos mais pesados na segunda metade principalmente.

A esquizofrenia de “Science” é estampada pelas notas da guitarra e pelo tempo todo quebrado na bateria. Que música complexa de se tocar, mas como é legal o encaixe vocal com as notas da guitarra. Pancada boa, retomando o bom nível de Toxicity, assim como “Shimmy”, outra na qual Dolmayan dá um show a parte, com mais referências melódicas para a música armenia, um refrão foderoso e claro, Malakian destruindo em notas rápidas. A faixa-título é outro grande clássico do álbum. Assim como “Chop Suey!”, surge lenta no dedilhado da guitarra, mas logo descamba para uma série de acordes e viradas impressionantes, alternando então entre o ótimo trecho conduzido pelo dedilhado (que levada de bateria, para viajar junto dos vocais de Tankian) e o refrão pesadão que assombra a casa. A segunda metade da canção simplesmente muda tudo, num peso a la Black Sabbath que pouco encontramos nas músicas do SOAD, voltando então para o refrão. Fantástica!

Chegamos na reta final com “Psycho”, faixa onde o baixo de Odadjian surge com força, puxando o ritmo de outra faixa perfeita para sair pulando pela casa, mas com um trecho sensacional onde Malakian usa Sitar, além de executar um lindo e melodioso solo, preparando o terreno para o grande finale de Toxicity. Assim, surge “Aerials”, digna de vários adjetivos maravilhosos que são dados com razão, e de toda a atenção do ouvinte. O dedilhado inicial da guitarra, a presença tímida do violino, leva para a explosão e talvez a melhor performance vocal da carreira de Tankian, em outro daqueles momentos onde os caras sabem que estão criando uma obra-prima. A música soa com uma melodia triste, mas pesada, que com os vocais dobrados entre Malakian e Tankian só enaltecem a grandeza tocante que está saindo das caixas de som. Que música! Que espetáculo. É difícil para mim saber se ela ou “Chop Suey!” é a melhor do SOAD, mas sem sombra de dúvidas, ambas são as melhores! O álbum encerra com uma faixa escondida, “Arto”, com a presença de Arto Tunçboyacıyan nos vocais, em uma canção que é uma adaptação para “Der Voghormia”, um hino de igreja tradicional na Armênia, que pouco acrescenta ao compilado geral deste grande disco, mas serve principalmente para registrar uma homenagem à este país.
Eleito aqui na Consultoria do Rock como melhor disco de 2001, Toxicity fez com que o SOAD se estabeleça de vez na cena musical mundial, refinando as composições criativas que ja haviam sido apresentadas na estreia, mas sem perder a essência sonora, confirmando tudo com a venda de um milhão de discos em apenas seis semanas. Até hoje, Toxicity já foi certificado 6 x platina nos Estados Unidos, em julho de 2022, o que significa seis milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos. Além disso, todos os singles de Toxicity alcançaram o Billboard Hot 100. “Chop Suey!”, lançado em 13 de agosto de 2001, atingiu o número 76, “Toxicity”, lançado em 22 de janeiro de 2002, o número 70 e “Aerials”, que saiu em 11 de junho de 2002, o número 55.

Há diversos lançamentos especiais de Toxicity. Na França, saiu uma edição com um CD bônus trazendo quatro faixas ao vivo (“Sugar”, “War?”, “Suite-Pee” e “Know”), registradas em um show do dia 19 de janeiro de 1999, no Irving Plaza de Nova Iorque, mais “Johnny”. No Japão, o álbum veio com “Johnny” no lugar de “Forest”. Também existe a Blue Edition, trazendo um DVD bônus com o clipe de “Toxicity” mais versões ao vivo para “Chop Suey”, “Prison Song” e “Bounce”, e a Red Edition, com um CD-Rom bônus tendo um documentário sobre a produção do disco.
Como curiosidade final, um dia antes do lançamento do disco, em 3 de setembro de 2001, o quarteto havia planejado lançar o Toxicity em um concerto gratuito em Hollywood, Califórnia, como um agradecimento aos fãs. O concerto seria realizado em um estacionamento para 3500 pessoas, mas na hora, cerca de 10000 fãs apareceram no local, levando ao cancelamento da apresentação pela polícia local pouco antes de começar o show. Durante mais de uma hora, a plateia aguardou a banda, até que uma faixa pendurada no fundo do palco com os dizeres “System of a Down” foi removida pela segurança. Indignada, a plateia invadiu o palco, destruiu o equipamento de turnê e causou um tumulto de 6 horas com prejuízo de mais de 30 mil dólares. Mais uma história para a gigante história do SOAD. Aproveitem os shows!

Track list
1. Prison Song
2. Needles
3. Deer Dance
4. Jet Pilot
5. X
6. Chop Suey!
7. Bounce
8. Forest
9. ATWA (Air Trees Water Animals)
10. Science
11. Shimmy
12. Toxicity
13. Psycho
14. Aerials/Arto
Absolutamente sensacional essa resenha! Gosto muito quando a música está colada com nossas memórias! Realmente, “Toxicit” é um grande álbum e merece, à luz da distância, mais audições, confesso que não sou um ouvinte atento deles, nem sequer possuo algo da banda, mas minha filha e esposa adoram System of a Down, ouvem direto, e vou mostrar a elas seu texto.
Belíssima resenha. Mairon! Não sou grande fã da banda, mas “Chop Suey”, “Toxicity” e, principalmente, “Aerials”, são canções que nunca “agridem” meus ouvidos quando as ouço, e o faço bastante nas “prévias” de shows do Bar Opinião, onde o SOAD é presença quase obrigatória nos alto falantes, para esquentar a galera presente na pista, especialmente em shows de metal e punk, e sempre com excelente recepção por parte do pessoal! O que só mostra que, ao menos estas três, passaram com méritos no “teste do tempo”!