Roger Waters – The Dark Side of The Moon Redux (2023)

Roger Waters – The Dark Side of The Moon Redux (2023)

Por Fernando Bueno

Para quê?

Essa é a pergunta que ficou na cabeça desde quando soubemos que Roger Waters tinha o interesse de regravar o monstruoso clássico Dark Side of the Moon (1973). E a mesma pergunta rondou toda a minha audição do disco. Confesso que demorei um pouquinho para ter coragem de ouvir, pois eu estava com medo. Tinha ouvido de relance uma parte de “Time” quando ela foi disponibilizada umas semanas antes de sair o álbum completo. Pensei que o certo era ouvir o disco todo para não fazer julgamentos precipitados. Dark Side é um dos meus disco preferidos da vida e como fã não desejava que ele fosse estragado de alguma forma.

Não preciso falar sobre a obra original, sua história e importância é bem documentada e conhecida. Qualquer pessoa que gosta de música tem pelo menos conhecimento do quanto esse disco foi importante para a história do gênero e empurrou a banda ainda mais para o estrelato fazendo eles se tornarem o gigante que são até hoje. Falo um pouco mais sobre o disco na discografia comentada do Pink Floyd que está disponível nesse link aqui.

O disco começa da mesma maneira com o coração batendo de “Speak to Me”, mas logo depois percebemos que ele incluiu uma espécie de poema que é declamado. Obviamente essas palavras são bastante pessoais. E logo temos “Breathe” uma das principais músicas do Pink Floyd com uma versão instrumental bastante adequada. Porém quando ele começa a cantar não consegui tirar a impressão de essa era a versão de um músico solitário, sozinho num palco, tocando seu violão e tocando a música para uma pequena plateia de poucas pessoas e metade delas desinteressadas.  “On the Run”, originalmente uma faixa instrumental criada a partir do uso de técnicas de estúdios com seus loopings e outros efeitos sonoros, ficou pouco reconhecível quando se tornou apenas uma trilha sonora sutil para acompanhar uma série de declamações acerca das pretensiosas visões de mundo de Roger Waters. Sinceramente tentei acompanhar o que ele dizia, descrevia algum “sonho que ele teria tido”, mas acabei perdendo a paciência depois de um tempo e o sentido se perdeu.

Aliás, declamar as letras é o que ele mais faz durante o disco todo. Ele pouco canta. A parte final de “Time” é isso. Um dos maiores solos da história foi deixado de lado. Claro que ele não iria fazer referência à um dos trabalhos mais fantásticos de um de seus maiores desafetos atualmente. Isso já era esperado, mas que pelo menos ele fosse substituído por algo digno de nota.

Estava particularmente curioso em saber o que ele faria em “The Great Gig in The Sky” já que ela contém umas das performances vocais mais icônicas e incríveis já gravadas em disco e originalmente foi feito por uma pessoa fora da banda, no caso Clare Tory. A parte que imortalizou a moça foi substituída por uma espécie de murmúrio sintetizado fazendo mais ou mesmo a mesma melodia da gravação original. Na verdade, nem consegui identificar corretamente.

Como a Dorothy que abre os olhos depois da tempestade e percebe que agora está em um mundo colorido, é exatamente em “Money” que acordamos para perceber que estamos diante do resultado de uma das piores decisões da história. E vou falar uma coisa, “Money” é talvez a melhor passagem do disco.

Uma das faixas mais lindas da carreira do grupo, “Us and Them”, inicia-se calma e sutil da mesma forma que sua versão original com uma releitura até muito interessante. Porém de música mesmo praticamente somente uma bateria bem marcada nesse começo. Aqui posso comentar a voz de Waters ao longo do disco. Como disse acima, ele pouco canta e prefere declamar as letras na maior parte do disco. Porém quando canta ele tenta imprimir uma sutileza que não cabe para a voz dele. Ele nunca foi um grande cantor, mas sempre quando o fez desempenhou muito bem a função. Porém o que temos em mente para essas músicas é a melodia da bonita voz de David Gilmour. Aí, pela comparação, as coisas ficam muito desbalanceadas. Em “Any Colour you Like” ele cita alguns nomes de cores e sua intenção para isso parece tão óbvia que chega a irritar.

Antes que alguém venha dizer que minhas opiniões pessoais pela pessoa do Waters seja o principal motivo do teor das palavras 4 do texto saiba que eu sou um grande fã por tudo o que ele fez no Pink Floyd, adoro discos totalmente pessoais dele como The Final Cut (1983), execrado por muitos fãs, e acredito que seu último álbum até então, Is This the Life We Really Want? (2017), carregadíssimo de sua visão política e ideológica, é o melhor álbum de sua irregular carreira solo.

Roger Waters transformou um álbum grandioso, fantástico e irretocável em algo super intimista. Um disco que foi feito para ser tocado em estádios hipnotizando dezenas de milhares de pessoas em uma peça digna de performance em alguma sala pequena em uma galeria de arte ou algo do tipo. Todo mundo já sabia que Roger Waters era o maior responsável pela elaboração dessa obra-prima e não havia necessidade alguma de deixar isso claro. Lá no início do site eu fiz um texto com o título questionando: Existe Pink Floyd sem Roger Waters?. Umas das conclusões é que o grupo sempre foi melhor junto e com esse The Dark Side of the Moon Redux temos a perfeita percepção do quanto os outros membros fazem falta.

Roger Waters em entrevista para o The Telegraph

Na verdade o motivo de tudo isso é um resultado da briga pelo nome do Pink Floyd, as declarações ácidas de todos os lados ao longo dos anos, décadas, e mais recentemente da visão distinta sobre a guerra da Ucrânia. Geralmente o grande motivo de se revisitar um álbum é o amor que o músico tem por ele, mas nesse caso o motivo foi apenas o ódio e isso acaba jogando contra todo o trabalho. E eu ainda nem me debrucei sobre o sentida da capa. Apesar de bonita deve ter algum sentido distorcido também.

Roger Waters transferiu sua animosidade contra outras pessoas para uma obra de arte que, mesmo com esse arranhão, permanecerá para sempre na história. É quase como um pai que bate no filho por conta de ciúmes da mãe. Certamente essa releitura servirá daqui uns anos apenas como uma curiosidade naquelas pessoas que forem se debruçar sobre a discografia da banda e das carreiras solos de seus integrantes. O Leão teria coragem de criticar, o Espantalho teria cérebro para discernir que o disco é dispensável e o Homem de Lata perceberia que seu coração foi ferido como o de todos os outros fãs.

E a pergunta que ainda fica é: para que?

9 comentários sobre “Roger Waters – The Dark Side of The Moon Redux (2023)

  1. Resposta: Pra causar. Waters infelizmente as vezes se perde em seu próprio ego, de tão grande que é. Eu não ouvi este disco por que não tenho interesse em me irritar com as atrocidades que opiniões como a sua dizem por aí. Dark Side original é uma obra prima tão atemporal que qualquer regravação com certeza nunca irá reproduzir a genialidade do que foi feito em 1973. Lamentável Mr. Waters …

  2. Roger Waters era o autor do conceito do álbum e da maioria das músicas, bem como das letras, portanto, pode ser considerado o “dono da obra”, e tem o direito de fazer o que bem entende. Eu me reservo o direito de não gostar.
    Ouvi o disco apenas uma vez, e não gostei do resultado. Acho que se trata de uma egotrip inteiramente desnecessária de um sujeito que se considera a última batatinha do pacote, e se esquece de que sem Wright e Gilmour (bem como do sempre injustiçado Nick Mason, um baterista elegante e discreto que sabia descer o braço quando era preciso) ele não teria se tornado um sucesso. Waters é, e sempre será, um dos maiores compositores da história do rock, mas como cantor ele sempre foi mediano e como baixista sua performance nunca impressionou ninguém. David Gilmour, por outro lado, sempre foi um ótimo vocalista e está entre os melhores guitarristas da história – inclusive porque possui um estilo marcante e individual; Rick Wright, embora pouco marcante como vocalista, cantava maior do que Waters, e como tecladista, mesclava múltiplas influências para criar um som inteiramente pessoal.
    Assisti a dois shows de Roger Waters, e em ambos ele honrou a história do Pink Floyd. Aqui ele quis gravar a ferro e fogo o seu ego numa obra que envolvia quatro pessoas, e se deu mal – tanto que os melhores comentários que li a respeito do Redux foram no sentido de “poderia ter sido pior”…

  3. Essa capa ficou ridícula, não espero que as músicas sejam boas….
    Curto muito o Waters, mas tenho de dizer que ele foi longe demais em seu ego e esqueceu da música.

  4. Recebi uma crítica falando mais ou menos assim: “mas vc queria que ele fizesse a mesma coisa?”. O que eu queria é que ele deixasse quieto uma obra atemporal. Quantas vezes vc viu regravações de discos clássicos em que o músico muda TUDO? O respeito pela obra sempre teve. Se ele queria fazer algo completamente diferente que gravasse OUTRO DISCO. No fim das contas ele quis (tentar) apagar a importância dos outros caras.

    1. Fiquei com a mesma impressão. Ele quis marcar o disco como seu, mas fez igual a cachorro marcando território: levantou a perna e…

  5. O TDSOTM já é uma obra-prima tal como veio ao mundo há 50 anos… Não precisava de ser regravado de forma diferente. Perda de tempo total para o velho gagá e crítico político que o Sr. Waters se tornou hoje!

  6. Olha, peguei apenas três faixas do youtube para ouvir que foram “Time”, “Brain Damage” e “Breathe”. Sei lá, me pareceram com duas versões cover meio feitas nas coxas.

    Além disso, Waters não consegue emular nem 1% das excelentes interpretações de Gilmour. É aquela coisa, soa mais como uma provocação dele ao guitarrista do que de fato melhorar ou modificar algo que ele havia feito. Nem “Brain Damage”, cantada por ele mesmo supera ou ao menos chega perto da original, quando ao menos ele ainda tinha alguma consideração pelos outros três.

    Waters se perdeu completamente no ego e na vaidade. O que é uma pena, ele sempre será um dos melhores compositores da história do rock. Mas não precisava fazer isso com ele mesmo. Não ajuda ele próprio, não ajuda o Pink Floyd, sequer ajuda as causas que ele defende.

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