Haggard – Eppur Si Muove [2004]

Haggard – Eppur Si Muove [2004]

Por Fernando Bueno

A banda Haggard foi formada em 1989, na cidade de Munique, Alemanha, pelo multi-instrumentista e compositor Asis Nasseri. Inicialmente, o grupo era conhecido como Haggard’s Heart, mas posteriormente mudou seu nome apenas para Haggard. A proposta musical da banda é a de combinar elementos do metal sinfônico com música clássica e influências de diversos estilos, como o folk e o medieval. A banda se destacou por sua abordagem épica e atmosférica, utilizando uma grande variedade de instrumentos, como violinos, violoncelos, flautas, trompetes e até mesmo instrumentos tradicionais, como o alaúde. Para isso os shows do grupo demandam uma multidão de pessoas sobre o palco o que torna o espetáculo bastante interessante. Uma curiosidade que o Metal Archives traz é que a banda muda sua formação não só em cada álbum, mas também a cada show.

Em 1994, o Haggard lançou seu primeiro álbum, intitulado And Thou Shalt Trust…The Seer. O disco foi bem recebido pela crítica e estabeleceu a banda como uma das pioneiras do metal sinfônico. No entanto, foi com o lançamento de seu segundo álbum, Awakening the Centuries, em 2000, que o Haggard alcançou reconhecimento internacional. Um problema que me incomoda um pouco no primeiro álbum é que as guitarras e baterias são muito mecânicas. Lembrando até mesmo a sonoridade do programa Guitar Pro. O segundo álbum é um pouco dessa forma também em algumas passagens. Mas é nítido o avanço que o Haggard conseguiu do seu disco de estreia para Awakening the Centuries que pode ser considerado um marco na carreira da banda por apresentar uma mistura perfeita de metal pesado, música clássica e coros épicos. O álbum contou com a participação da Orquestra Filarmônica de Praga, o que adicionou uma dimensão ainda mais grandiosa às composições.

Aí, em 2004, sai Eppur Si Muove, que consolidou ainda mais a reputação da banda. O disco foi inspirado pela vida e obra de Galileu Galilei e apresentou letras profundas e reflexivas, combinadas com arranjos orquestrais complexos e poderosos. Em tempo, no segundo álbum o personagem histórico a ser lembrado foi Nostradamus. O título do álbum, que significa “E, no entanto, ela se move” em italiano, é uma referência à famosa frase atribuída a Galileu Galilei, que desafiou as crenças da Igreja Católica sobre o movimento da Terra. Essa temática é explorada ao longo das faixas, com letras profundas e reflexivas.

Destaque para a faixa de abertura, “All’inizio è la Morte” (do italiano: No começo é a morte), que começa com uma introdução sombria e misteriosa, seguida por riffs pesados e vocais poderosos feito por um coral. Interessante a quebra do clima com a entrada da voz áspera de Asis. E essa troca é constante ao longo de todo o disco pois Asis usa tanto a voz limpa, quanto com drive e o gutural. A música é uma jornada épica, com mudanças de ritmo e atmosferas que mantêm o ouvinte envolvido do início ao fim.

“Minuetto in fa-minore” introduz “Per Aspera Ad Astra” (do latim: Por ásperos caminhos até os astros) eleva tudo aquilo em que a banda acerta na faixa de abertura e deixa tudo melhor. A interação da voz de soprano com o gutural é perfeita. Quem chegou até aqui vai perceber que além da intensa fusão de estilos musicais o Haggard também faz o mesmo com os idiomas, pois é normal uma mesma música iniciar com um verso em italiano, mudar para o inglês, acrescentar partes em alemão e latim. Aqui me traz uma sensação de que se eu tivesse um maior conhecimento de línguas a experiência seria melhor ainda.

A próxima faixa inicia com um clima de taberna, porém com a introdução de uma melodia de piano “Os A Might Divine” se transforma. Aliá, queria muito que o leitor ouvisse a música e me dissesse o que essa melodia lembra aos seus ouvidos. É a primeira vez também que Assis traz sua voz limpa em um tom bastante grave, mas é com o gutural mesmo que ela se desenvolve.

Mais uma vinheta, “Gavotta in Si-Minore”, antes de uma faixa bastante forte “Herr Mannelig”, que apesar de seu título em alemão é cantada em italiano. Aliás, a cantora soprano Veronika Kramheller dá um show. Nessa faixa não há nenhum gutural e pode lembrar em alguns momentos o Nightwish de Tarja Turunen.

Os violinos guiam toda “The Observer”, uma faixa um pouco mais comum. Mas é na faixa título que se retoma a grande forma do que estava sendo feito no disco. A música não é grandiosa mas possui diversas passagens com alternância de climas e um novo show da voz de Veronika.

Para finalizar uma faixa linda, “Larghetto / Epilogo Adagio”, com instrumentos de sopro fazendo a melodia principal e temos a repetição de “Herr Mannelig (Short Version)”. Porém fica a curiosidade de colocarem um subtítulo dando a entender que seria uma versão mais curta enquanto a faixa é dois minutos mais longa.

Após o lançamento de Eppur Si Muove saiu Tales of Ithiria (2008) e uma compilação saiu em 2009, chamada Era Divina e desde então eles não produziram mais nada embora a banda continua ativa e ocasionalmente se apresente ao vivo. Há um boato de disco novo para esse anoa, mas não consegui confirmar. Quando eu indico a banda para alguém eu cito Nightwish, Therion, Rapshody e digo que o Haggard leva as características dessas banda ao extremo. Se você gosta dessa bandas vá atrás!!

4 comentários sobre “Haggard – Eppur Si Muove [2004]

  1. O gif do cientista e a explosão do cosmo representa minha reação quando ouvi haggard pela primeira vez.
    Algumas passagens chegam a ser divinas de tão perfeitas que são e algo absurdo de descrever.

  2. Já ouvi muito este disco, é o meu favorito deles. O problema do Haggard se manter ativo é que deve ser caro pra caralho pagar tanta gente para tocar e cantar tanta coisa sendo uma banda underground. Até me surpreende que tenham conseguido grana para lançarem mais do que um trabalho.

    Uma pena mesmo que lancem tão pouco porque Assis Nasseri é um dos caras mais criativos do metal sinfônico.

  3. Gosto demais do primeiro disco do Haggard, mas tenho um problema com bandas com propostas “diferentonas” assim. Normalmente, a ideia começa a se esvaziar com o tempo. Temos vários exemplos, como o Apocalyptica e o Van Canto. No caso do Haggard, além da dificuldade e dos custos de manter uma mini-orquestra, a parte “heavy metal” e meio genérica, na minha opinião. Mesmo assim, a banda merece destaque. O disco ao vivo gravado no México é incrível e esse Eppur si Muove tem a seu favor a experiência adquirida pelo Assis Nasseri depois de tanto tempo comandando o projeto.

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