Review Exclusivo: Angra (Curitiba, 12 de Agosto de 2023)

Review Exclusivo: Angra (Curitiba, 12 de Agosto de 2023)

Por Anderson Godinho

O Angra há muitos anos vinha flertando com a possibilidade realizar um show completo acústico. Diferentes gravações, e mesmo um ou outro intervalo, ocorriam em shows, e tudo isso é facilmente encontrado na internet. Volta e meia, Rafael Bittencourt era cobrado sobre o tema, e mesmo quando atentamos para a fase com o Andre Matos esse tema era mencionado. Eis que chegou o dia: 12 de agosto de 2023, 10h04 de um sábado chuvoso e quase frio, uma das maiores bandas de metal do Brasil entrou no palco da bela Ópera de Arame, em Curitiba, acompanhada de uma pequena orquestra, um piano de calda, uma percussão e alguns convidados especiais. A banda apresentou um set com 16 músicas, as quais vou comentar a seguir, sendo que em quatro delas houve a necessidade de refazê-las após o término do show, para delírio dos presentes que lotaram os mais de 1500 lugares do local e não arredaram o pé quando a produção solicitou que ficassem mais um pouco.

Sem mais delongas, vamos ao evento. Após os agradecimentos e aplausos de pé todos se sentam – a Ópera de Arame é um anfiteatro com cadeiras fixas – e a banda inicia o show com “Nova Era”. Música originalmente muito veloz e cheia de guitarras, mas que aqui foram trocadas pelos violões. O arranjo ficou interessante e da espaço para todos os envolvidos se apresentarem, obviamente ficou mais lenta, mas os solos ficaram bem interessantes com palhetadas sucessivas, por fim, a interpretação de Fábio Lione apresenta uma dramaticidade diferente da original. Estava dada a letra, seria um show diferente, e convenhamos, nada mais justo para a proposta. Na sequência, sem parar, entra “Make Believe” que já era esperada por encaixar com a possibilidade de um acústico e já ter sido tocada em eventos menores, ou mesmo em shows, nesse formato. Foi um momento muito bonito para animar os fãs e um tiro certo quando pensamos no piano e na orquestra.

O Angra gravou este show e, portanto, algumas pausas mais longas que o normal ocorriam. Ao fim de “Make Believe” foi um desses momentos. Porém, nada tão longo que chegasse a quebrar o clima, então Fábio Lione anuncia a próxima: “Storm of Emotions”. Particularmente acho a melhor música do Secret Garden, e nunca tinha ouvido ao vivo, o Angra não tocava desde 2018 inclusive. Foi muito bem executada e ficou linda ao som dos violões e com a marcação do baixo tão importante quanto os primeiros. Foi uma ótima escolha e será uma das melhores do show no DVD, com certeza. Então tivemos a ótima “Gentle Change” seguida de “Bottom of my Soul”. A primeira contou com um arranjo um pouco mais lento e tirando o protagonismo dos violões, nada especial. A segunda trouxe os vocais de Lione, originalmente ela é cantada pelo Rafael. Ficaram interessantes e, novamente foram bem recebidas. Não achei nada tão especial e com certeza colocaria outras possibilidades no lugar, talvez “Lease of Life” ou “Breaking Ties”, que tem uma pegada mais leve e com margem para enquadrar a percussão, enfim.

Até esse momento do show o que mais me chamava a atenção era a percussão. Sempre muito conectada com os distintos momentos das músicas e apresentando todos aqueles penduricalhos e brasilidades que fazem o Angra ser o Angra. A orquestra aparecendo no lugar dos teclados também foi muito gostoso de se ouvir, e por vezes prestar mais a atenção neles deixava as músicas mais impressionantes. O destaque menor ficava com o piano que acompanhou todas as músicas mas se destacava pouco em meio a tanta informação. Após mais uma breve parada começa a melodia de “Holy Land”, esta que não era tocada a bons cinco ou seis anos pela banda. Aqui quem cantou foi o Rafael, ao mesmo tempo que tocava, e chamou muito a atenção o arranjo um tanto diferente que deu mais protagonismo para os elementos da percussão e, também, da orquestra. Ficou muito legal e vai valer a pena conferir no material que está por vir.

Vanessa Moreno no palco da Ópera de Arame

Posteriormente à “Holy Land”, é convidada a entrar no palco Vanessa Moreno, a primeira convidada, que também está no álbum novo que será lançado em novembro. Muito aplaudida, Vanessa entra e canta duas músicas: “No Pain for the Dead” e a nova “Here in the Now”. Na primeira, uma execução perfeita e impressionante, muito bela, com uma crescente na intensidade e um trabalho fenomenal de todos, destaque para a percussão e orquestra novamente, e, claro para Vanessa que mandou muito bem. Foi a primeira vez que todos levantam para aplaudir. A segunda música foi anunciada e contou com a atenção de todos os presentes, pois, é uma música que ainda não tinha sido lançada pela banda. Aparentemente é uma balada, Vanessa Moreno inicia cantando e depois Lione realiza uma espécie de dueto com a cantora. A música apresenta uma brasilidade bem aguçada com a percussão aparecendo bastante, vocalizações interessantes no começo, meio e fim, e, no ao vivo, contou com uma performasse dos vocalistas. Uma boa música que me deixou com mais vontade de ouvir esse material de inéditas que está por vir.

Com a despedida de Vanessa Moreno, a banda também deixa o palco permanecendo apenas Rafael Bittencourt. Após uma breve fala sobre a importância do momento, o líder da banda anuncia a música mais antiga composta para o Angra: “Reaching Horizons”. Não foi nenhuma novidade, pois, o mesmo Rafael já havia cantado ela acústica em alguns shows durante a tour dos 30 anos, e mesmo em outros momentos. Entretanto, com o advento da orquestra, ficou emocionante! Aliás, é notório que o Rafael está melhorando em sua capacidade de cantar, foi realmente boa sua apresentação. Ainda, rolou o povo todo cantando apenas ao som da orquestra com direito ao Rafael de maestro. Muito legal e bonito de ver e ouvir.

Amanda Sommerville junto ao Angra

Retornando todos ao palco, depois que Rafael apresentou um por um, e esqueceu de chamar o Fábio Lione – sim ele esqueceu, e pediu desculpas ao vivaço explicando que nos shows normais a dinâmica é invertida – que entrou todo sem graça dizendo que tinha sido esquecido. Então, a boa “Silence and Distance” é primorosamente tocada, com um arranjo muito bonito. Uma breve parada para reorganizar a casa e “Tears of Blood” se inicia. Sim, mais uma nova, privilégio dos presentes. Começa sombria com Lione entonando uma voz mais grossa, para então Amanda Somerville adentrar ao recinto, toda de rosa Barbie, cantando e surpreendendo o público. Uma baita voz! Na fase final Lione incorpora o cantor de ópera e Amanda acompanha no mesmo nível, ou melhor, em dueto extraordinário. Essa música, ficou com um ar de metal sinfônico, ainda mais com piano e orquestra. Ótima música, melhor que “Here in the Now” e em outra sintonia se comparada single lançado, Ride Into The Storm.

Ao final de “Tears of Blood” e respectivos aplausos de pé, Amanda agradece e permanece no palco. A artista respira profundamente por alguns segundos e da o ok para a banda. Começava “Wuthering Heights”, música que o Angra não tocava a dez anos! Foi um alvoroço, e a moça deu um show a parte. Ela agradece muito emocionada e até um pouco perdida em cena. Os aplausos foram contínuos. Após a saída de Amanda, Rafael explica que ela é uma velha conhecida da banda e que fora muito amiga de André Matos. Este é, então, ovacionado pelo público que grita seu nome in memorium.

Participação de Toni Garrido junto ao Angra

Novamente, após uma reorganização é convidado o violeiro Leandro Valentin e começa “Rebirth” seguida de “Bleeding Heart” com o povo todo de lanternas dos celulares em punho. Arranjos bem parecidos com as versões normais e ambas já tinham aparecido em modo acústico outras vezes. Público vai ao delírio e canta junto com a banda nos dois casos. A reta final contou com a maravilhosa “Late Redemption” que contou com a participação de uma empolgadíssimo Toni Garrido. Essa versão da música ficou muito boa e na minha avaliação entra no top três do show junto com “Storm Of Emotions” e a ótima “Tear of Blood”. Por fim e nunca menos importante o clássico absoluto “Carry On”. Bom, se todos queriam algo diferente vindo de um acústico esperem para ouvir tal versão. Ficou extremamente diferente, e confesso que ainda não digeri totalmente. Não faço uma crítica negativa, achei legal e ousado, não posso dizer que gostei plenamente, pois, ainda me causa estranheza. Ficou tão diferente que o Lione errou duas vezes e, para delírio da galera, teve que refazer ao final.

Com explicado, a banda ainda retornou para refazer “Carry On”, também “Late Redemption”, “Silence and Distance” e “Bleeding Heart” (com lanterninhas e tudo). Foi divertido, gratificante e de fato diferente participar desse momento histórico. Não tenho críticas, pois, depois de passar a adrenalina do momento o que tivemos nesse show foram algumas músicas que já possuíam versão acústica sendo exploradas, algumas surgindo com versões bem distintas e outras complementando o set com execuções semelhantes as originais mas com uma produção diferente. Foram propostas muito bem executadas.

Talvez a única questão me levantaria é a presença da bateria em sua plenitude. Em alguns casos Bruno Valverde deu uma aliviada, mas em outros mandou ver. Isso tirou um pouco da cara do evento, em minha opinião poderia ter sido pensado alguma forma de amenizar a bateria para elevar a participação dos outros instrumentos, principalmente os violões. Não compromete, mas seria interessante. Outra situação é que como fã da banda tenho minhas preferências e gostaria de ver algumas outras músicas em versão acústica, como: “Stand Away”, “Lisbon”, “Heroes of Sand”, “Wishing Well” dentre outras, mas aí o choro é livre.

Por fim, como o próprio Rafael explicou, a produção do show precisou de mais que o dobro de membros para colocar tudo no lugar. De fato, em relação ao show de 2022 na mesma casa, não há comparação, pois, dessa vez não houve problemas com a acústica, com a distribuição do som dos instrumentos ou qualquer questão técnica aparente. É aguardar o material e preparar o bolso, valerá a pena.

Fim de show

Acústico Angra:
Nova Era
Make Believe
Storm of Emotions
Gentle Change
The Bottom of My Soul
Holy Land
No Pain for the Dead
Here in the Now
Reaching Horizons
Silence and Distance
Tears of Blood
Wuthering Heights
Rebirth
Bleeding Heart
Late Redemption
Carry On
Carry On (segunda tentativa completa)
Late Redemption (segunda tentativa)
Silence and Distance (segunda tentativa)
Bleeding Heart (segunda tentativa)

Convidadas e convidado: Amanda Somerville, Vanessa Moreno e Toni Garrido.
Percussão: Guga Machado
Piano: Davi Jardim
Viola Caipira: Leandro Valentin
Violoncelo: Raphael Leal
Violinos: Anderson Ancelmo e Vinicius Batista
Oboé: Marcos Vicessuto
Flauta: Julio Zabaleta

4 comentários sobre “Review Exclusivo: Angra (Curitiba, 12 de Agosto de 2023)

    1. Olá Vicente, o Anderson está há algum tempo conosco. Tivemos problemas com o wp (que edita o texto) e acabamos colocando o mesmo sem uma revisão mais precisa por conta do tempo necessário para tal. A mesma está sendo feita e em breve teremos um texto revisado. Grato por sua pergunta

      1. Tranquilo, desculpe se pareci grosso mas foi só uma crítica construtiva, grande abraço a todos, acesso quase todos os dias.

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