Tralhas do Porão: Power of Zeus

Tralhas do Porão: Power of Zeus

Por Ronaldo Rodrigues

A história toda começa com um guitarrista/vocalista chamado Joe Peraino, que trabalhava na fábrica da Chrysler, localizada em Sterling Heights, subúrbio de Detroit, a então cidade dos motores nos EUA. Peraino já estava farto da vida de operário e queria se arriscar na música. Tomou então a iniciativa de fazer um anúncio em um jornal local, recrutando músicos para formar uma banda. Quem respondeu o anúncio foi Bill Jones, baixista, e Bob Michalski, baterista. Em comum entre os três estava a veneração pelo Led Zeppelin, que era uma coqueluche nos EUA em 1969. Fazia parte do rol de favoritos desse recém-formado trio também o Deep Purple e os teclados de Jon Lord, bem como várias outras bandas inglesas que estavam delineando os caminhos do rock pesado e do rock progressivo. Em contato com amigos de amigos, chegou até o trio a indicação de Dennie Webber, tecladista. Estava formada a banda que Peraino estava atrás quando publicou o anúncio. O primeiro nome que adotaram foi Gangrene.

O grupo começou a ensaiar e constituir repertório de acordo com o padrão da época – algumas composições em meio a releituras de sucessos do rock e do blues. Logo começaram a fazer shows, como os que aconteciam no clube Wooden Nickel, em Detroit. O Gangrene, junto com a banda residente do local (um grupo country-rock chamado Jerry Michaels Band) começaram a incrementar os eventos no Wooden Nickel, trazendo shows de luzes e outros aparatos bem ao sabor da era psicodélica. O volume do som da casa começou a ficar sensivelmente mais alto, a música mais pesada, com longas improvisações…Toda a semana o Gangrene estava lá, com shows cada vez mais concorridos.

Executivos da indústria fonográfica começaram a prestar atenção no que estava acontecendo no Wooden Nickel. Dentre eles estavam três que ficaram bastante impressionados – Jim Wilson, Russ Terrana e Ralph Terrana – que pertenciam à Rare Earth, subsidiária da poderosa Motown, que estava investindo no rock. Wilson, então, se tornaria empresário do grupo e os irmãos Terrana levariam o grupo a assinar um contrato com a Rare Earth. Mas o nome Gangrene causava incômodo. Então, a banda brevemente assumiu o nome de Zeus e, em definitivo, Power of Zeus, mantendo a mesma formação – Joe Periano (guitarra e vocal), Bill Jones (baixo), Bob Michalski (bateria) e Dennie Weber (teclados).

O ritmo de trabalho da Motown era intenso – então, tudo precisava estar pronto rápido. Assim foi – em uma casa alugada na cidade de Frankfort, em Michigan, todo o material que a banda tinha foi trabalhado em seus arranjos finais, para compor o álbum “The Gospel According to Zeus”. Mas ainda que o álbum tenha adquirido o status de cult e seja saudado pelos aficionados do hard rock setentista, a banda não ficou satisfeita com o material, achando que o que eles faziam no palco era mais interessante, mas aquilo exatamente não era o que a Rare Earth queria no disco.

O álbum começa com a pressão máxima – “It Couldn’t Be Me” é um estrondo, com bateria e baixo fazendo excelente cama para os rasantes da guitarra e dos teclados. “In the Night” capta um pouco do rock psicodélico dos anos 60 com um dose maior de peso e solos mais apurados. “Green Glass & Clover” é uma típica baladinha envolvente com o sabor do período, acompanhado pelo cravo de Dennie Weber e bateria precisa. “I Lost my Love” é outra que embala em chumbo o rock psicodélico dos anos 60, com um riff marcante à la Led Zeppelin e uma pegada à la Steppenwolf. O trabalho instrumental é ótimo, o entrosamento entre os músicos é nítido, e as ideias musicais muito espertas. “The Death Trip” tem clima de música litúrgica embebida na psicodelia mais ardida ao longo de 7 minutos – uma viagem! “No Time” bota os pés de novo no chão, com um riff da pesada, dobrado belamente entre guitarra e baixo, com um piano cheio de swing por trás. “Uncertain Destination” tem um ar mais melódico e progressivo, com violões e cravo e ótima linha vocal. “Realization” lembra um pouco o Bloodrock com uma boa dose de psicodelia. O disco encerra com “The Sorcerer of Isis”, que é um épico do rock pesado-psicodélico do período.

Infelizmente, o álbum teve pouca repercussão em vendas logo que saiu. Nenhum single chegou nas paradas e não se tem notícias de alguma tour da banda por outros estados. O clima entre o grupo começou a ficar pesado, devido ao abuso de drogas do baterista Bob Michalski e do tecladista Dennie Weber. O grupo se desfez e nunca mais se reuniram para tocar juntos. O único álbum do grupo foi relançado em CD e LP algumas vezes ao longo das décadas e é bastante cultuado por sua qualidade.

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