Discografias Comentadas: UFO [Parte III]

Discografias Comentadas: UFO [Parte III]
Phil Mogg, Andy parker, Pete Way, Paul Raymond e Michael Schenker. UFO em 1995

Por Mairon Machado

Seguindo a Discografia do UFO, hoje mostrarei os discos do retorno da banda nos anos 90, tendo o retorno do aclamado alemão Michael Schenker. Depois de um hiato de 3 anos, em meados de 1991, Moog e Way retornam a parceria, tendo agora Laurence Archer (ex-Stampede) nas guitarras e Clive Edwards (ex-Wild Horses) na bateria. Assim, o UFO voltava a decolar com mais um lançamento, o 13° da carreira da banda.


High Stakes & Dangerous Men [1992]

Lançado em fevereiro de 1992, e tendo a colaboração de Don Airey nos teclados, High Stakes & Dangerous Men é um bom disco para uma época errada. Neste período, o grunge dominava a cena musical, e o único disco com Archer é muito mais representante do início dos anos 80 do que o que estava sendo gravado nos anos 90. Nos teclados, o multi-bandas Don Airey. O som quadrado da bateria é o mais oitentista possível, assim como os inspirados solos de Archer em faixas como “Back Door Man”, “Let The Good Times Roll”, esta com os vocais de apoio da vocalista Stevie Lange (Night) e principalmente em “Primed for Time”, onde o rapaz manda ver em wah-wah, fritação e alavancadas. Há uma nítida tendência de conquista do mercado americano nas canções, vide o country da introdução de “Borderline”, uma bela paulada para apresentar os riffs e a virtuosidade de Archer para os fãs, já que o solo final é muito veloz, o ritmo de “Burnin’ Fire”, também com bons vocais de Lange, ou o estilo bem típico de bandas americanas apresentado em “Runnin’ Up The Highway”, cujo refrão me lembra muito “Jailbreak” (AC/DC). Way e Airey estão bem escondidos ao longo do álbum, mas brilham na ótima “Love Deadly Love”, que poderia estar por exemplo em No Heavy Petting, sendo uma belíssima canção, resgatando o baixo cavalgante de Way, as lembranças do piano de Peyronel e citações de diversas canções do período áureo da banda ao longo da letra. Curto a velocidade de “Ain’t Life Sweet”, faixa bem pegada e uma das melhores do disco, ao lado da citada “Love Deadly Love” e de “Revolution”, que a primeira vez que ouvi jurei tratar-se de uma nova versão para “Cherry”, mas na verdade é mais uma boa faixa com os vocais de apoio de Lange. Sempre tem uma faixa para dedicar às garotas nos discos do UFO, e aqui, “Down Want To Lose You”, também com backing vocals de Lange, e “She’s The One”, são as responsáveis pela leveza, ambas com mais um interessante solo de Archer, assim como a balada tipicamente UFO “One Of Those Nights”. Um disco que não faz feio na Discografia da banda, e bem superior a vários lançamentos da década de 80. Vale lembrar que High Stakes & Dangerous Men foi lançado de forma totalmente independente, e não alcançou posição de destaque nos charts.

Clive Edwards, Pete Way, Phil Mogg e Laurence Archer. UFO em 1992

Mesmo assim, vão para o Japão divulgar o álbum, saindo de lado com Lights Out In Tokyo – Live, o terceiro álbum ao vivo da banda, gravado no Club Citta Kawasaki em 20 de junho daquele ano, e voltado exclusivamente para o mercado japonês, além do lançamento do VHS e LD History of UFO, trazendo várias apresentações de clássicos do grupo bem como entrevistas com expoentes como Steve Harris, Rick Savage e Joe Elliot, e de BBC Radio 1 – Live in Concert, com apresentações da banda na BBC em 1974 e 1980. E uma pena que Archer não ficou mais tempo, já que do Japão, surgiram várias propostas da reunião da formação clássica do grupo. Mogg e Way estavam empolgados com a ideia de resgatar os velhos tempos de Force It e Phenomenon, mas o problema parava exatamente em Michael Schenker. Após Parker aceitar o retorno ao UFO, ele foi um dos encarregados de convencer Schenker a reassumir seu posto. Depois de muitas conversas e pedidos de desculpas, o line-up clássico volta à ativa, com Mogg, Way, Parker, Schenker e Raymond. Fazem a primeira apresentação já em 1994, no Texas, e tem um retorno explosivo e emocionante da plateia presente no local. A ideia não poderia ter sido melhor, e logo começam as gravações de um álbum.


Walk on Water [1995]

Com a inspiração lá em cima, em poucos meses gravam Walk On Water, um grande álbum lançado primeiramente apenas no Japão, em 14 de abrild e 1995. Walk on Water conta com o retorno de Ron Nevison na produção, o qual havia produzido os três últimos LPs do UFO com Schenker. Ele é o responsável pela (desnecessária, em minha opinião) regravação de dois clássicos, “Doctor Doctor” e “Lights Out”, que pouco diferem-se das versões clássicas. O álbum foi lançado de forma totalmente independente, pelo pequeno selo Zero Corporation. No geral, o disco traz excelentes canções, como a pesada “A Self-Made Man” (em um lindo solo de Schenker), o belo trabalho acústico/elétrico de “Running On Empty”, “Venus” e “Stopped by a Bullet (Of Love)”, bem adaptadas aos anos 90, graças aos teclados de Raymond, e a agitada “Darker Days”, resgatando os bons tempos de intervenções entusiásticas da pesada guitarra de Schenker. Temos o hard puramente UFO de “Pushed to the Limit”, a pegada “Knock Knock”, lembrando o UFO do início dos anos 80, e a excelente “Dreaming of Summer”, onde a mescla dos elementos acústicos e elétricos, assim como o peso de Way e Schenker, e as variações suaves do refrão, levam-nos direto para álbuns como Lights Out e Obsession. Certamente, os solos de Schenker são os grandes momentos ao longo de todo disco, e apesar da formação ter todo o ar dos anos 70, o quinteto conseguiu se adaptar muito bem aos anos 90. A parte negativa fica para o pouco destaque de Way ao longo do disco. Em 1997, Walk On Water foi lançado em outros países, com uma capa diferente e com três bônus que faziam anteriormente parte dos repertórios solos da Michael Schenker Group (“I Will Be There”), Mogg/Way (“Raymond Fortune Town”) e Paul Raymond Project (“Public Enemy #1). Para saber mais sobre este álbum, confira nosso Tá Na Hora do Rock!. A versão original japonesa traz ainda uma mensagem especial aos nipônicos de cada um dos membros da banda para os fãs, comentando sobre o disco e aquela velha frase de “I hope to see you again next year“, bem como uma palheta de Schenker. Obviamente, o álbum foi sucesso de vendas por lá, mas acabou não sendo o sucesso esperado nos outros países.

Paul Raymond, Michael Schenker, Simon Wright, Pete Way e Phil Mogg. UFO em 1996

Para divulgar o álbum, começam com uma turnê de sucesso pela Europa, tendo o Quiet Riot como banda de abertura, e que causou a baixa de Parker, o qual foi substituído por Simon Wright. Após a perna europeia, partem para a América, com lotações esgotadas por várias cidades. Porém, Schenker resgatava seu comportamento temperamental, dando novamente acessos de estrelismo e arrogância. Antes de uma apresentação em Hollywood, Schenker e um ambulante que vendia camisetas falsificadas da banda caíram no pau, com o alemão levando a pior. Era o início para as fugas de Schenker voltarem com força, gerando cancelamento de shows e novas brigas internas. Quando o alemão dava as caras, o pau pegava entre ele e Mogg, enquanto Way, com um visual decadente, afundava-se de novo nas drogas. Tendo obrigações contratuais, o UFO parte para o Japão, onde o pau quebra de vez (de novo!), com Schenker jogando a guitarra ao chão em pleno palco, despedindo-se dos incrédulos fãs japoneses e partindo de volta para sua carreira solo.

O contrato assinado para as gravações de Walk On Water dizia que o nome UFO só poderia ser usado por Mogg e Way quando Schenker estivesse presente, e então, o vocalista e o baixista decidem montar uma nova banda, a Mogg/Way, tendo como músicos George Bellas (guitarra) e Aynsley Dunbar (bateria). Eles lançam o interessante Edge Of The World em 1997, e em 1999, com Jeff Kollman nas guitarras, Simon Wright na bateria e a presença de Raymond nos teclados, lançam Chocolate Box. Entre 1998 e 1999, dois shows com Schenker ocorreram no Astoria Charing Cross Road de Londres, o que novamente abriu as portas para a paz surgir entre os músicos.


Covenant [2000]

A formação UFO 2000 traz Way, Mogg, Schenker e Aynsley Dunbar, e esse quarteto incrível, com a colaboração de Jesse Bradman e Luis Maldonado (vocais de apoio) e Kevin Carlson (teclados) lançam em 25 de julho de 2000, o álbum duplo Covenant. O disco um traz somente faixas inéditas, que assim como Walk on Water, faz uma boa mescla do som tradicional do UFO anos 70 com o  fim dos anos 90. Nove das onze faixas são composições da dupla Schenker / Mogg, mostrando que o clima era amistoso novamente entre os dois. Destaques ficam para as pesadas “Cowboy Joe” e “The Smell of Money” (cheia de viradas), assim como a veloz “Midnight Train”, e seu grudento refrão, e a fantástica “The World and His Dog”, tendo um riff empolgante e a participação sensacional de Dunbar. Acima delas,  é indescritível ouvir algo como “Fool’s Gold”, uma baladaça linda demais, mas com uma virada surpreendente como só Schenker e Mogg conseguem criar algo assim, e com uma sequência de solos matadora. Claro, também há as misturas acústicas/elétricas tão tradicionais nos discos do grupo, aqui a cargo da boa “Serenade”. Gosto do ritmo modernoso de “In The Middle of Madness” e “Unraveled”, do peso de “Love Is Forever”, faixa com um refrão que nos lembra Mechanix e Making Contact, e das passagens vocais e a ponte em “Miss The Lights”. Os vocais também participam com destaque em  “Rise Again”, cuja introdução no baixo nos coloca diretamente nos anos 70. Um baita disco, onde Schenker novamente é o centro das atenções, e Way está bem abaixo. Dunbar deu uma cara mais técnica para a bateria, em relação a Parker, e Mogg continua com a voz afiada. Já o disco dois é um registro ao vivo nos EUA ainda na turnê de Walk On Water, com Simon Wright na bateria e tendo as seguintes faixas: “Let It Roll”, “Love To Love”, “Mother Mary”, “Out in the Street”, “Pushed to the Limit”  “This Kids” e “Venus”. Além do destaque para as versões ao vivo das duas canções de Walk on Water, é interessante ouvir a alternância entre violão e guitarra de Schenker durante “Love To Love”. A versão japonesa ainda tem mais duas bônus, “Come On Everybody” e “Shoot Shoot”.

Pete Way, Phil Mogg, Michael Schenker e Aynsley Dunbar. UFO em 2000

O disco estourou, e o UFO segue para mais uma turnê repleta de problemas. Schenker estava cada vez mais fora de forma, e antes de um show em Manchester, o vocalista dos Quireboys, Jonathan Gray, acaba invocando com o estado do alemão. Em revide, o guitarrista partiu para cima do vocalista, e acabou levando uma surra. No show do dia seguinte, Schenker, com os dois olhos roxos, recusa-se a fazer seus solos, além de insultar Mogg na frente de todos, chegando a oferecer sua guitarra para o vocalista tocar. A plateia vaiou fortemente, e todos os demais shows tiveram que ser cancelados. Mas nem tudo era miséria, e em 23 de junho de 2001 ocorreu um dos pontos altos do UFO após o retorno de Schenker: a apresentação ao lado de Uli Roth no festival de Castle Donington, o qual foi registrada no espetacular DVD Uli Roth Live At Castle Donington. Nesta apresentação, os dois ex-guitarristas do Scorpions, e eternos amigos, mandam ver nas clássicas “Doctor Doctor” e “Rock Bottom”, e via-se ali que quando queriam, Schenker, Way e Mogg eram verdadeiros amigos e excelentes músicos.


Sharks [2002]

Entre brigas e alegrias, Sharks é lançado em 3 de setembro de 2002, tendo a mesma formação do álbum anterior, inclusive com a participação de Kevin Carlson (teclados), Jesse Bradman e Luis Maldonado (vocais de apoio). Com muitas guitarras, e um som bastante cru, o álbum agradou em cheio ao público, sendo talvez o melhor disco apresentado nesta lista de hoje, e o mais próximo do UFO setentista. Inclusive, o UFO volta a se inspirar em linhas bluesísticas, vide “Someone’s Gonna Have to Pay”, bastante viajandona, com Schenker destruindo no solo, e ainda, temos aquelas lembranças de Led Zeppelin presentes na ótima “Quicksilver Rider”. A parceria Schenker/Mogg mais uma vez é predominante, com 7 das 11 canções sendo da dupla, e três deles acompanhados do produtor Steve Fontano. Schenker está fenomenal ao longo do álbum, como atestam a pegada “Perfect Man”, sonzeira para quebrar pescoços, o grande riff de “Shadow Dancer” e a grande presença do slide durante “Outlaw Man. O UFO moderniza-se super bem em faixas como “Crossing Over”, destacando a boa presença dos teclados, “Fighting Man”, com a participação de Mike Varney nas guitarras, “Deadman Walking” e “Sea of Faith”, sem soar ultrapassado. O auge de Sharks fica para “Serenity”, faixa com variações muito interessantes, e onde o peso da dupla Way/Dunbar se sobressai junto das distorções de Schenker, além da performance admirável de Mogg. O álbum fecha com a vinheta “Hawaii”, uma linda despedida de Schenker para os fãs do UFO. No Japão, três bônus ao vivo: “Let It Roll”, “Only You Can Rock Me” e “Too Hot To Handle”.

Infelizmente, Sharks não vendeu bem, e culminou com mais uma saída de Schenker, levando com ele Dunbar. Schenker e Way ainda gravaram juntos no projeto The Plot, em 2006, mas com o UFO, o alemão nunca mais teve participação. Para o lugar de Schenker é chamado Vinnie Moore, o qual havia passado pelo Vicious Rumors, enquanto que Jason Bonham (o filho do Homem) assume as baquetas. Raymond volta para os teclados, e com o novo time, lançam You Are Here em 2004.

Vinnie Moore, Paul Raymond, Phil Mogg, Jason Bonham e Pete Way. UFO em 2004

You Are Here [2004]

Lançada em 16 de fevereiro de 2004, a estreia de Vinnie Moore surpreendeu bastante. Poucos confiavam que o baixinho americano iria conseguir se sair bem junto de uma grande banda, ainda mais inglesa, mas o resultado aqui é fantástico. O cara escreve 10 das 11 faixas do disco, trazendo suas técnicas virtuosas ao som do UFO, muito bem recebidas pela nova geração de fãs, e ainda agradando aos antigos. Ao mesmo tempo, Bonham traz uma vitalidade impressionante. Faixas empolgantes vide “Call Me”, com um arranjo fantástico e um solo ainda mais fantástico de Moore, “Give It Up”, “Jello Man” e “Swallow”, apresentam as diversas técnicas de Moore para o novo público. Aprecio o peso de “The Spark That Is Us”, com Bonham socando seu kit sem piedade, ou “When Daylight Goes To Town”, com bons solos de Moore, que usa bastante o slide guitar. You Are Here passa pela linda “Slipping Away”, surpreendendo pelas intervenções do violão em uma faixa muito bem construída, a grandiosidade de “Sympathy”, onde Mogg está mandando muito bem, e claro, balada, no caso “Baby Blue”, destacando além dos harmônicos dos violões, e o bonito solo acústico de Moore, os teclados de Ramyond. Os melhores momentos vão para a pancadaria da sonzeira “Black Cold Coffee”, uma paulada rara nos discos do UFO, com um show a parte de Bonham (se colocasse o Plant para cantar, seria fácil pensar que era Led o que saía das caixas de som), e o trabalho de “Mr. Freeze”, provas finais de como Jason e Moore deram uma cara totalmente nova (e ótima) para o UFO. Que baitas sons! Ambas são um reflexo de como foi possível o UFO se reiventar nos anos 2000, graças não só ao talento de Moore, mas também a um Jason inspiradíssimo, fazendo uma cozinha brilhante ao lado de Way, e mostrando que o Led Zeppelin está no D.N.A. do UFO desde sua fase embrionária. Ainda citando Led, a mistura de elementos acústicos e elétricos de “The Wild One” é o grande momento de um grande disco, cuja edição japonesa ainda traz a bônus “Messing Up The Bed”, outra faixa bastante pesada, arrancando com mais um belo solo de Moore.

O quinteto partiu para uma longa turnê, registrada no CD e DVD Showtime, lançado em 2005. Infelizmente, essa formação durou pouco tempo. Foi certamente a mais pesada que passou pelo grupo, e podia ter gerado mais discos fantásticos como You Are Here. Mas, logo em 2006, Bonham foi trabalhar com Joe Bonamassa, e Parker voltou para o UFO, criando a mais nova formação (mais uma) da banda, com discos que trataremos no encerramento desta Discografia Comentada, no próximo mês de novembro.

4 comentários sobre “Discografias Comentadas: UFO [Parte III]

  1. Os renascimentos do UFO nos anos 90 e, depois, em 2004, foram ótimos. Lawrence Archer é um ótimo guitarrista que merecia mais chances com a banda, mas ninguém ficaria no lugar de Schenker quando este se mostrava disposto a voltar. Posteriormente, com o excelente Vinnie Moore, a banda encontrou um novo caminho, adaptando-se bem ao status de veteranos em ação, e construiu uma interessante carreira, tornando-se novamente uma banda da qual se podia comprar os discos sem medo. Aguardando a última parte!

      1. Ótima pergunta! Após a primeira saída dele, acho que é o No Place to Run (ainda que High Stakes and Dangerous Men seja ótimo, dou preferência a esse porque adoro a guitarra do Paul Chapman) e depois da saída definitiva estou em dúvida entre You Are Here e The Monkey Puzzle – mas mais inclinado para este.

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