Discografia Comentada: UFO [Parte I]

Discografia Comentada: UFO [Parte I]
Paul Raymond, Andy Parker, Phl Mogg, Michael Schenker e Pete Way. UFO em 1977

Por Mairon Machado

Helloween, Def Leppard, Kiss, Judas Priest e Iron Maiden. Esses são apenas alguns dos principais nomes do rock mundial que nasceram graças ao surgimento de uma das maiores bandas britânicas de todos os tempos, e que infelizmente é jogado em um segundo (ou até terceiro) plano pela mídia especializada. Estou falando do UFO.

Irei apresentar a história e a discografia da banda desde suas origens, passando pelo auge com o loiro Michael Schenker nas quatro cordas, bem como os tenebrosos anos 80 e a resurreição na década de 90, até os dias atuais. Em 1968, um jovem Phil Mogg (vocais), fã de blues, conheceu três jovens de Southgate, norte da Inglaterra, membros de um grupo, batizado de Acid (antes chamado The Good The Bad The Ugly, The Boyfriends e Hocus Pocus). Eles eram Pete Way (baixo, vocais), Mick Bolton (guitarra) e Colin Turner (bateria), que assumiu o lugar de Tic Torrazo (bateria), o qual foi demitido por sua higiene um tanto quanto precária, já que não tomava banho regularmente.  Mogg se apresentou ao Acid, e mais uma mudança de nome, agora homenageando um dos mais importantes clubes londrinos da história, colocando então o pomposo nome de UFO.

Phil Mogg, Pete Way, Andy Parker e Mick Bolton. UFO em 1971

Logo nos primeiros ensaios, surge o nome do técnico em eletrônica Andy Parker, que as vezes, enquanto arrumava caixas de som e pedais, dava uma canja tocando bateria. O técnico era tão bom baterista que pouco antes da estreia oficial do UFO, em outubro de 1969, Way e Mogg dispensaram Turner, e fizeram com que Parker assumisse as baquetas. Dessa forma, ganhariam um pouco mais de grana, e teriam um técnico a hora que precisassem. Estava pronta a primeira grande formação do UFO. que logo conquistou um fã, Noel Moore, que os levou a assinar um contrato com o pequeno selo Beacon Records. O selo disponibilizou um contrato de 400 libras, investidas no agendamento de seis noites em um estúdio de última categoria na cidade de Rickmansworth, tendo na produção Guy Fletcher e Doug Flett. Assim surge a estreia do quarteto.


UFO 1 [1970]

Gravado em apenas 4 canais, trazendo uma sonoridade muito crua e cheia de psicodelia, UFO 1 foi lançado em outubro de 1970, e é uma pérola a ser descoberta pelos fãs. O disco abre com a instrumental “Unidentified Flying Object”, na qual Bolton mostra ao mundo os seus marcantes efeitos de distorção, os quais seriam responsáveis (ao lado de Steve Hillage – Gong) pela criação de um novo gênero musical, o chamado Space Rock. Os solos ácidos de Bolin destacam-se em pancadas como “Evil”, “Follow You Home”, “Shake It About” e “Timothy”, faixas onde o baixo de Pete também se destaca. Aqui estão os primeiros sucessos da banda, os quais são as versões matadora de “C’mon Everybody” (Eddie Cochran) e “Who Do You Love” (Ellas McDaniel), a primeira é cura e direta, enquanto a segunda é uma longa versão de sete minutos para esse clássico do blues, repleta de solos e viagens psicodélicas. Outro sucesso é a poderosa “Boogie For George”, um pesadíssimo blues na linha de outras grandes bandas do hard setentista como Bang e Black Sabbath. Ainda temos a linda “(Come Away) Melinda” (Fred Hellerman e Frank Minkoff), a qual já havia sigo registrada pelo Uriah Heep também no seu álbum de estreia, Very ‘Eavy, Very ‘Umble (1969), e a suave “Treacle People”, destacando os efeitos espaciais da guitarra de Bolton e o belo trabalho vocal de Mogg. A Beacon Records era uma boa estrategista de marketing, e acabou lançando nove dos dez sons de UFO1 em cobiçados singles, sendo eles: “Shake It About” / “Evil” (1970); “(Come Away) Melinda” / “Unidentified Flying Object” (1970); “Boogie For George” / “Treacle People” (1970); “C’mon Everybody” / “Timothy” (1970) e “Boogie For George” / “Follow You Home” (1971). Apenas “Who Do You Love” não foi lançado devido a negativa do grupo de diminuir a longa versão, alegando que aquilo era o mais curto que poderiam fazer (ao vivo, essa canção passava facilmente dos 10 minutos). Além disso, a Beacon conseguiu negociar os direitos de gravação com países como Alemanha, Itália e Japão, e ninguém sabe por que, no Japão UFO 1 estourou nas paradas. “Boogie For George”, C’mon Everybody” e principalmente “(Come Away) Melinda tornaram-se hits entre os nipônicos, e as vendas de UFO 1 superaram todas as expectativas da Beacon Records.


UFO 2 – Flying [1971]

Com o grupo estourado tanto na Alemanha e no Japão, mas fracassado em casa, a Beacon dá mais um crédito, e entre muitas incertezas, sai este disco essencial. Trazendo um som bem mais psicodélico, com faixas longas e com muitos improvisos, a bolacha abre com “Silver Bird”, um pesado hard onde Way e Bolton duelam pela atenção do ouvinte. A clássica sequência “Prince Kajuku / The Coming of Prince Kajuku” é a que nos remete ao disco de estreia, sendo uma paulada direto no cérebro, onde mais uma vez o baixo é o destaque, ficando fácil compreender por que o líder do Iron Maiden – Steve Harris – é o fã número 1 de Way. O solo de Bolton é sensacional, com muito feeling e ótima aplicação das escalas de blues. Já “The Coming Of Prince Kajuku” é uma linda faixa instrumental com um crescendo no solo da guitarra e um show a parte por Andy, que faz viradas monstruosas na bateria. Baita som! Nas faixas longas, o lado A nos proporciona a viajante “Star Sorm”, uma gema de quase 20 minutos na qual Bolton faz de tudo com sua guitarra. O solo central é assustador, debulhando as cordas da guitarra com se fossem ervilhas presas nas suas cascas, em um viajante espetáculo sonoro! Loucura geral! Já o lado B é todo dedicado aos mais de 27 minutos de “Flying”, símbolo dessa primeira fase da banda. Um lindo blues inicial que transforma-se em uma das mais delirantes viagens musicais que um grupo já ousou criar, e que claro, tem novamente em Bolton o papel de destaque. Flying é uma paulada do início ao fim, que como a capa alerta, traz uma hora do mais puro space rock do UFO. E sou suspeito para falar, já que considero este o melhor disco dos caras (pedras voando em 3, 2, 1 …). Após o lançamento de Flying, a imprensa britânica caiu de pau em cima do grupo, alegando que não passavam de uns garotos medíocres fazendo lixo. Em compensação, de novo o UFO estourava na Alemanha e no Japão. As longas composições do LP agradaram os fãs alemães e nipônicos de uma forma incrível, e assim, partem para uma excursão pela Alemanha, França e Itália.

Isto culmina com um convite para excursionar na terra do sol nascente abrindo para o Three Dog Night. Chegando lá, mais uma surpresa. O Three Dog Night tinha cancelado as apresentações, e para não deixar o produtor local na mão, o UFO acabou sendo elevado ao status de headliner, logo na sua primeira excursão fora da Europa. O grupo fez vários shows pelo país, todos com ingressos esgotados, além de regalias dedicadas as grandes bandas, como limusines, comida, bebida, avião particular (japonês, claro), mulheres e hotéis de luxo. O sucesso da excursão nipônica do UFO foi tanto que tiveram que agendar um show extra no Hybia Park em Tóquio, onde o grupo se apresentou para mais de 20 000 enlouquecidos fãs. Como consequência, a Beacon acabou registrando este último show, e lançou (inicialmente) somente no mercado japonês o álbum UFO Landed Japan , posteriormente relançado como UFO LiveUFO Live In Japan, trazendo seis estonteantes faixas, as quais são “C’mon Everybody”, “Who Do You Love”, inspirada na versão do Quicksilver Messenger Service, inclusive citando “Mona”, a fantástica adaptação de “Loving Cup”, de Paul Butterfield, carregada de lisergia, a dupla “Prince Kajuku”/”The Coming of Prince Kajuku”,”Boogie for George” citando “The Hunter” (de Willie Dixon) e “Follow You Home”, citando “You Really Got Me” (The Kinks) . Ao longo do disco, um registro também da histeria total dos fãs japoneses. Posteriormente, o álbum acabou sendo lançado também na Europa. Os três LPs desta fase inicial da banda acabaram recebendo diversos re-lançamentos, inclusive tendo nomes trocados (“Boogie For George” virou “Boogie”) e alternância na ordem das faixas (“The Coming Of Prince Kajuku” acabou tornando-se a primeira do lado B nesses re-lançamentos). UFO Live recebeu uma nova capa, e vale destacar a bela versão alemã em Picture Disc. Outra bela pedida é a coletânea The Early Years (2004), trazendo material dos três primeiros discos.

Após o sucesso da incrível sequência de shows no Japão, voltam à Terra Natal, onde não decolavam de jeito nenhum, e sendo malhados cada vez mais pela crítica britânica, Mogg decide investir no glam rock, o que assustou o tímido Mick Bolton, que foi despedido da banda no final de 1971. A busca por um novo guitarrista levou a Larry Wallis, um experiente guitarrista que já havia tocado em bandas como o Lancaster e o Blodwyn Pig. A nova formação faz uma série de shows pela Europa, mas dura pouco. Um quebra pau na Itália entre Mogg e Wallis, leva a que Wallis seja despedido por justa causa. Dessa fase ficou um raro bootleg gravado no Marquee de Londres, trazendo as músicas “Boogie”, “Back In The USA”, “Mean Woman Blues”, “Don’t Bring Me Down” e “Johnny B. Goode”. Wallis foi parar no The Pink Fairies e posteriormente fez parte da primeira formação do Motörhead, registrando o álbum On Parole, gravado em 1975 e lançado somente em 1979.

No fim de 1972, um jovem chamado Bernie Marsden, o qual havia tocado no Skinny Cat, entra na banda, após algumas audições. Partem então por mais uma excursão fugindo da Inglaterra, resolvendo excursionar na segunda terra onde eram venerados, a Alemanha. Porém, alguns problemas mudariam a história do UFO para o resto do tempo. Com problemas particulares, Bernie teve que ficar em Londres para resolvê-los antes de partir para a Alemanha. Assim, Way, Mogg e Parker foram de balsa, e esperariam Bernie, que iria de avião, já na Alemanha. Só que o guitarrista acabou esquecendo o passaporte na hora do embarque, e teve que ficar na Inglaterra. Com as datas já marcadas, mais um incidente ocorre poucas horas antes da apresentação. A bombástica notícia era que todo o material do grupo, trazedo o PA e alguns instrumentos, havia sido roubado. A solução encontrada foi alugar o PA e os instrumentos da banda de abertura, uma iniciante chamada Scorpions, além de pedir emprestado também o guitarrista, o jovem e talentoso Michael Schenker, enquanto que Bernie acabaria surgindo posteriomente na mais famosa encarnação do Whitesnake. Sem falar uma palavra em inglês, Michael acabou aceitando graças a insistência de seu irmão, Rudolph, e então, em apenas 20 minutos, Way passava todo o repertório do show para o guri. Foi o suficiente para o mundo do UFO ser transformado. Naquela noite, o mundo ganhava um dos mais talentosos criadores de riffs da história do rock, e o UFO finalmente arrancava as cordas que o prendia e conseguia voar não somente na Inglaterra, mas conquistando todo o planeta.

Pete Way, Andy Parker, Phil Mogg e Michael Schenker. UFO em 1974

Schenker muda totalmente o caminho de UFO. Ao invés de largar o psicodelismo e virar uma banda glam, o alemão proporcionou a criação de um novo estilo dentro do hard rock setentista, destacando refrões grudentos, guitarras gêmeas e riffs mortais. A presenã de Schenker também deixou Way mais a vontade no palco, virando marca registrada do baixista os longos cabelos, a correria insana por todos os cantos, calças listradas e a tradicional apontada do baixo em direção ao público como que o instrumento fosse uma arma, sempre cantando a letra das canções. Tal performance é visilmente assimilada ao seu fã Steve Harris, e nos vídeos do UFO da época, em comparação ao baixista do Iron, fica clara a influência de Way no estilo de tocar de Harris.


Phenomenon [1974]

A nova formação voltou da Alemanha e recebeu o único registro do grupo com Bernie, a demo “Give Her The Gun”, que havia ficado nas prensas antes da partida para a Alemanha. Gravam uma nova demo, assinam com a Chrysalis, e com Leon Lyons como empresário, lançam Phenomenon, o início de uma trilogia essencial, e uma obra-prima. As guitarras gêmeas, ótimas sessões acústicas, riffs eternos e vários clássicos do hard estão ao longo das 10 faixas do LP, sendo que no mínimo 6 tornaram-se hinos nos anos 70, com destaque para o mega-clássico “Doctor Doctor”, com sua arrepiante introdução, o dedilhado da guitarra acompanhado pelo baixo e batidas nos pratos, o riff principal e os gritos com o nome da canção entoados por Way e Mogg. Grande hino! Mas, para mim a melhor faixa de é “Rock Bottom”. Que música sensacional, um riff imortal destruindo os alto-falantes, o baixo galopante de Way, a pancadaria de Parker, e um magistral voo solo de Schenker, que mostra toda sua virtuosidade e técnica. Fantástico!! Outros sucessos são “Queen Of The Deep”, viajandona e com Schenker mandando ver em virtuosísticos solos, o hardão de “Oh, My!”, os belos trechos acústicos de “Time On My Hands”, a pegada bluesy de “Blues for Comfort”, que poderia facilmente estar no primeiro disco da banda, e o emocionante blues de “Space Child”, levada por violão, guitarra e uma bela zoinha, com um solo fantástico de Schenker (mais um!). Temos ainda a linda “Crystal Light”, também mesclando violões e mais um solo seminal, a suave “Too Young To Know”, que lembra Rush na fase inicial e a sensacional “Lipstick Traces”, linda balada instrumental criada por Schenker para homenagear sua eterna companheira Flying V, e que conta a lenda que essa canção foi gravada com Schenker tocando a guitarra com os pés!! O relançamento em CD de 2007 trouxe vários bônus, como a demo lançada para a Chrysalis trazendo “Sixteen” e “Oh My”, as duas canções da bolachinha com Bernie Marsden, “Give Her the Gun” e “Sweet Little Thing”, mais uma versão para “Sixteen” e “Doctor Doctor” ao vivo em 06 de junho de 1974. Vale destacar a bela capa do álbum, a qual foi elaborada pela empresa Hipgnosis, e que ficou redentora de realizar as capas do grupo por muito tempo.

A banda estourou com os singles de “Doctor Doctor” e “Rock Bottom”. Resultado, bebedeiras e quartos de hotel quebrados começaram a frequentar a rotina da banda. Schenker começou a criar uma imagem cada vez mais consolidada como guitarrista, improvisando muito durante os shows, o que levou ao UFO, em abril de 1974, a contratar mais um guitarrista, Paul Chapman, o qual havia substituído Gary Moore no Skid Row em 1971 e também tocou no grupo Kimla Taz de 72 à 74. Chapman auxiliava nos temas e passagens onde Schenker viajava nos palcos, deixando a sonoridade do UFO ainda mais harmoniosa. O guitarrista ficou até o fim da turnê de Phenomenon e em janeiro de 1975 foi parar no Lone Star. Antes disso, a banda partiu para sua primeira turnê pelos EUA. Apesar de Phenomenon não ter uma grande vendagem, a crítica elogiava o grupo, com a Rolling Stone por exemplo afirmando que em breve o UFO seria um dos maiores nomes do rock mundial. Isso motivou a gurizada a trabalhar ainda mais, e durante o inverno de 1974, após a bem sucedida excursão nos EUA, registram o próximo álbum da banda.


Force It [1975]

Novamente com produção de Leo Lyons e tendo o tecladista do Ten Years After Chick Churchill como convidado, em julho de 1975 é lançado Force It. Outro álbum repleto de clássicos, mostrando que o UFO havia encontrado a fórmula perfeita para angariar ainda mais fãs. O disco tem inspiração no Led Zeppelin, vide “Love Lost Love”, uma matadora canção, com um riff bem agudo de Schenker, e “Dance Your Life Away”, onde os vocais de Mogg são na mesma linha dos de Plant, e o trabalho de guitarra e baixo também remete fácil a Page e Jones, mas principalmente, fazendo uso do “jogo de luz e sombra” que a turma de Page fazia como ninguém, e o UFO faz inovando em melodias e aplicações das guitarras gêmeas. Logo na abertura uma das melhores canções da história do UFO, “Let It Roll”, um show a parte de Mogg nos vocais, mas principalmente, de Schenker. O solo das guitarras gêmeas é de chorar, e que paulada na cabeça. Sonzeira e clássico indiscutível. Mais clássicos vêm em “Shoot Shoot”, um rockzão recheado de backing vocals, com um virtuosístico solo de Schenker, a pesada “Mother Mary”, fantástica, com trabalhados riffs de Way e Schenker e um refrão rico em harmonias vocais, e “This Kid’s (Between The Walls)”, mais uma zeppeliana, mas com direito a intervenções de piano, transformando-se em blues grudento, e encerrada pela vinheta “Between The Walls”, com sintetizadores e mellotron acompanhando o dedilhado triste de um violão e as bonitas escalas do baixo, chegando ao emocionante solo das guitarras gêmeas. O auge do trabalho fica com “Out In The Street”, trazendo a marcante introdução ao piano e uma faixa muito bem trabalhada, diferente de quase tudo que o UFO havia feito até então, sendo a comprovação de como os caras estavam afiados para criar aqui, misturando com muito equilíbrio trechos amenos e trechos pesados. Contrapondo o peso destes clássicos, o UFO apresenta a lindeza de “High Flyer”, com um arranjo acústico perfeito, que me lembra muito Rush da fase prog, e direito a presença de mellotron acompanhando o solo de Schenker . Mas a melhor canção de Force It ao meu ver é “Too Much Of Nothing”. Só de citar esse nome já corre um arrepio na espinha. Faixa com riffs pesados de Way e Schenker, um fabuloso refrão, Mogg estraçalhando nos vocais, a bela sequência de rolos de Parker e uma viajante sessão instrumental, onde um incrível sustain é mantido por vários minutos, enquanto Parker destrói acompanhando os solos de Way. PERFEIÇÃO!!! Escrevi sobre ele aqui. Force It alcançou posição 71 na billboard, e teve dois singles lançados: “Shoot Shoot/Love Lost Love”, que chegou na posição 48 dos charts britânicos, e “High Flyer/ Let It Roll”, que ficou entre as 100 mais na Inglaterra. Além disso, o álbum também causou muita polêmica por causa da capa.

Andy Parker e Paul Chapman (acima); Michael Schenker, Phil Mogg e Pete Way (abaixo). UFO em 1975

Originalmente, Force It apresentava um casal de namorados nus em um quentíssimo amasso dentro de uma banheira. Essa capa foi boicotada em muitos países, sendo que nos EUA, a imagem do casal (interpretados por Genesis P Orridge e Cosey Fanni Tutti, fundadores da extravagante banda Throbbing Gristle) foi substituída por uma imagem transparente dos mesmos, e no Brasil, um fato curioso aconteceu com o álbum, como veremos a seguir. O re-lançamento em CD de 2007 trouxe vários bônus, com “A Million Miles” (não lançada oficialmente), “Mother Mary”, “Out In The Street”, “Shoot Shoot”, “Let It Roll” e “This Kid’s”, estas últimas em insanas apresentações ao vivo.

A crítica finalmente dava o braço a torcer, e o UFO começava a ser idolatrado em sua terra natal, além de fazer conquistar a América e claro, manter a moral elevada no Japão. Em agosto de 1975, o UFO anuncia um novo integrante, o tecladista argentino naturalizado italiano Danny Peyronel. o qual havia participado da formação clássica do Heavy Metal Kids. Danny trouxe uma sonoridade latina para a música da banda, criando sons ainda mais melódicos e poderosos (se é que isso é possível), e que podem ser conferidos no famoso disco do macaco, No Heavy Petting.

Danny Peyronell, Phil Mogg, Michael Schenker, Andy Parker e Pete Way. UFO em 1976

No Heavy Petting [1976]

Lançado em maio de 1976, e novamente produzido por Joe Lyons, No Heavy Petting deixando mais clássicos na já vasta seleção de grandes músicas da carreira do grupo. Além disso, é a partir dele que o formato quinteto passa ser adotado para os discos posteriores. A fórmula de Force It é repetida com êxito, e seguem as influências de Led, vide os momentos acústicos da linda “I’m a Loser” (eu sempre que ouço o início, me lembro de “Ramble On”. Outra faixa linda é “Belladona”, com violão, baixo e piano fazendo a base para a grande interpretação vocal de Mogg. Do lado ameno também temos “Martian Landscape”, com seu lindo arranjo ao piano elétrico, e a magistral interpretação de Mogg. Do lado pesado, a pancada “Reasons Love” é uma pedrada no estômgao para você ajoelhar e ficar balançando o pescoço com o riffzão matador de Schenker e Way. “On With the Action” é o grande sucesso do LP, e nos remete fácil aos primeiros discos do grupo. Há ainda os rockzões de “Natural Thing”, para ouvirmos Schenker tocando com o slide, “Highway Lady”, com uma pegada bem anos 50, e a cover de “A Fool In Love” (sucesso da The Frankie Miller Band, composta por Miller e Andy Fraser), essa última destoando um pouco das demais. E aqui está a fantástica “Can You Roll Her”, uma das minhas preferidas do grupo, com um excepcional trabalho de Parker nos dois bumbos e que, tendo a mão de Peyronel, traz melodias de tango que casaram muito bem com a pancadaria gerada por Schenker, Parker e Way. Que música!!! No Heavy Petting teve singles lançados apenas no Japão (“Can You Roll Her/Belladonna”) e “Highway Lady/A Fool In Love”), ambos em 1976, e teve a tímida posição 169 na billboard. Porém, os fãs adoram o disco, e várias canções ainda fazem parte do repertório ao vivo. Foi re-lançado em CD em 2008, trazendo como bônus as inéditas “All Or Nothing”, “French Kisses”, “Have You Seen Me Lately Joan”, “Do It If You Can” e “All The Strings”.

Mais uma vez o UFO partia para uma longa turnê pelos EUA. Farra, bebedeiras e mulheres se tornavam cada vez mais constantes. Dentre as diversas farras pela América, algumas se tornaram famosas, como uma onde Schenker estava em pleno ato sexual com uma parceira que tomava cerveja e ouvia o show daquela noite no seu walkman, e de onde Schenker falou a famosa frase a um membro da equipe “Usamos muito eco essa noite John”. Nessa mesma turnê, completamente chapados, o grupo foi fazer um show no estádio de St. Louis e acabou se perdendo dentro dos corredores de acesso ao palco, atrasando o show em quase meia hora e inspirando uma das hilárias cenas do filme do Spinal Tap. Dentro dos estúdios Peyronel foi demitido em julho de 1976, sendo substituído pelo guitarrista e tecladista Paul Raymond, que havia tocado no Savoy Brown. Além disso, desmancham o casamento com Leo Lyons, e com a produção agora a cargo de Ron Nevison, lançam em maio de 1977 o álbum mais homogêneo da carreira.


Lights Out [1977]

É aqui que o mercado americano é conquistado de vez. O UFO experimenta arranjos bem mais elaborados, inclusive com um quarteto de cordas e metais, além de um investimento forte da gravadora. É aqui também que surge o logotipo da banda, que virou marca registrada até os dias de hoje. O som é mais acessível, como atestam o hit “Too Hot To Handle”, ou as amenas “Electric Phase”, revelando os caminhos que o UFO seguiria nos anos 80, e “Gettin’ Ready”, retomando as influências zeppelianas. As cordas, arranjadas por Alan McMillan, surgem na suave “Just Another Suicide”, na linda balada “Try Me”, onde Raymond brilha ao piano, Mogg solta seu vozeirão rouco, e o solo de Schenker acompanhado pelas cordas é de chorar, e na ótima versão de “Alone Again Or” (Love), com um belo solo em duas escalas diferentes pelas guitarras gêmeas (oriental e menor). Mas nem só de músicas simples vive Lights Out, e a faixa-título coloca tudo abaixo, com total destaque ao baixo galopante de Way e o pesado refrão, que foram inspiração para muitas canções da NWOBHM. Ao mesmo tempo, a quase prog “Love To Love” faz o resumo do disco, misturando peso, cordas, violões, piano elétrico e mais um solo fenomenal de Schenker. Fácil fácil a melhor música de um disco que alcançou a posição 23 na Billboard. Na versão em CD vários bônus gravados ao vivo: “Lights Out”, “Gettin’ Ready”, “Love To Love” e “Try Me”. Da bolacha, saíram 4 compactos: “Too Hot To Handle / Electric Phase”, em vinil vermelho; “Gettin’ Ready / Too Hot To Handle”; “Alone Again Or / Electric Phase” e “Try Me / Gettin’ Ready”.

Em mais uma turnê nos EUA, abrindo para o Rush, Schenker começou a primeira de uma série de fatos que acabariam mudando sua história no grupo, desaparecendo sem deixar nenhuma pista e nem por que. Com as mãos atadas, Way e Mogg chamam o velho Paul Chapman, que toca nos primeiros e conturbados shows, com as plateias gritando (e as vezes brigando) pelo nome de Schenker. Meses depois da turnê americana começar, Schenker aparecia outra vez, porém na Europa. Totalmente fora de si, o guitarrista alemão pedia seu equipamento de volta e afirmava que iria seguir carreira solo para poder ganhar algum dinheiro, já que segundo ele, Way, Mogg e Parker consumiam toda a grana gerada pelas vendas e shows. A coisa já estava degringolando antes mesmo das gravações de Lights Out. O UFO havia participado de shows abrindo para Rick Wakeman e Rod Stewart, e Schenker não havia ficado nada satisfeito com aquilo. Como as vendas de Lights Out foram enormes, e ele não recebeu sua parte, decidiu pular do barco. Way acabou convencendo Schenker a voltar, e assim, terminam a excursão pela América com o clima entre Schenker e Mogg cada vez mais acirrado. Em fevereiro de 1978, vão morar na Califórnia, e começam a trabalhar no novo álbum, mesmo com o clima brabo que passavam internamente, com o UFO trancando-se em uma agência postal desativada em pleno centro de Beverly Hills, com um estúdio móvel da Record Plant Studios, onde Schenker ficava isolado dos demais integrantes do grupo.


Obsession [1978]

Lançado em junho de 1978, e contando novamente com a produção de Ron Nevison, Obsession manteve o nível de Lights Out, com músicas bem trabalhadas, arranjos orquestrais e diminuição no peso das mesmas, o que afastou os fãs mais antigos, mas angariou mais jovens americanos e ingleses para o hall de fãs da banda. Os hits ficaram a cargo do rockzão “Only You Can Rock Me”, com uma importante participação dos teclados de Raymond, “Hot ‘N’ Ready” grande som, como manda a escola UFO, e “Cherry”, canção bem trabalhada e viajante em comparação as demais do álbum, e com grande solo de Schenker. Curto muito a violência de”Pack It Up (and Go)” e “You Don’t Fool Me”, ambas sendo fortemente zeppelianas, com Parker socando seu kit e enfiando o pé no bumbo sem dó, assim como a sensacional (e esquecida) “Ain’t No Baby”, mais uma faixa pesada que já tem um pezinho nos anos 80. utra que gost bastante é a quase disco “One More For The Rodeo”, mais um som bem oitentista, mas muito bom de se ouvir. Os arranjos orquestrais estão na balada “Looking Out For No 1” e na linda “Born To Lose”, onde a guitarra introduz com um bonito tema, surgindo os vocais em uma balada com interessantes arranjos orquestrais empregados no solo de Schenker. Ainda temos duas curtas vinhetas, “Arbory Hill” apenas com violão e flauta doce (!) e “Lookin’ Out For No 1 (reprise)”, somente com passagens instrumentais que resgatam temas da faixa que lhe dá o título. Obsession chegou a posição 41 da Billboard, e de novo o UFO partiria para estradas. O único single foi “Only You Can Rock Me / Cherry”, além de um EP com as faixas “Only You Can Rock Me”, “Cherry” e “Rock Bottom”. É aqui que o pessoal de marketing da banda inova, vendendo durante a turnê um quebra-cabeças com a capa do álbum. No re-lançamento, tivemos como bônus “Hot ‘N’ Ready”, “Pack It Up (And Go)” e “Ain’t No Baby”, todas gravadas ao vivo. Lembrando que todos os álbuns da fase Schenker aqui tratados estão no box The Chrysalis Years (1973-1979), repleto de extras, como tratado aqui.

Durante a turnê, ficava claro que o clima de amizade no UFO não existia mais. Schenker vivia o auge do consumo de drogas, gerando vários bate-bocas e discussões entre Mogg e o alemão, inclusive com pancadaria acontecendo por algumas vezes. Mogg, lutador de boxe desde a adolescência, partia pra ignorância constantemente, agredindo Schenker de forma covarde e insana. Incomodado com a pressão de Mogg e inconformado com a forma como era tratado pelo mesmo, o garoto buscou abrigo com o irmão Rudolph, retornando ao Scorpions, onde grava o bom Lovedrive (1979). O último show com Schenker foi realizado em Kentucky, e de lá, durante muito tempo, as farpas ainda rolaram entre Mogg e o guitarrista.

O UFO seguiu carreira sem Schenker, e enquanto buscavam um novo guitarrista, lançam o maravilhoso álbum duplo ao vivo Strangers In The Night, que entra fácil na lista dos dez melhores álbuns ao vivo de todos os tempos. Trazendo gravações feitas durante a turnê americana de 1978, é um petardo, com versões definitivas para vários clássicos, como os quase 12 minutos de “Rock Bottom” (em um solo espetacular de Schenker), “Doctor Doctor”, “Let It Roll” entre outros. Nas vendas, uma bolsa de frisbee com o nome do LP poderia ser adquirido por algumas moedas. Hoje, a bolsinha é vendida em sites especializados à várias libras. Além disso, ainda em 79, dois EPs ao vivo foram lançados, um com as faixas “Doctor Doctor” e “On With The Action”, gravadas na mesma turnê de 1978, e uma versão em estúdio de “Try Me”, e outro com “Shoot Shoot”, “Only You Can Rock Me” e “I’m A Loser”. Strangers in the Night está no box citado acima, e em 2020, recebeu um lindo box de relançamento, trazendo 8 (!) CDs nos quais os dois primeiros são o próprio álbum, e os demais são seis shows completos no EUA, da mesma turnê. Imperdível! A nave espacial do UFO não parava, e assim chegava nos anos 80, como veremos mês que vem.

6 comentários sobre “Discografia Comentada: UFO [Parte I]

  1. A fase Schenker no UFO é praticamente imbatível – todos os discos são bons ou excelentes, na minha opinião. Acho o Mick Bolton um cara meio injustiçado, meio esquecido à sombra de Michael Schenker, Paul Chapman e Vinnie Moore, mas os dois primeiros discos mostram que ele era muito bom – pena que o som combine mais com o Hawkwind do que com o UFO que a gente conhece. Parabéns por destacar o trabalho do grande Pete Way, um baixista excepcional que pouquíssimas vezes é lembrado nas listas dos grandes das quatro cordas. Embora não seja um dos melhores, Obsession é um disco com uma sonoridade à frente do seu tempo: a primeira vez que ouvi algo dele foi numa coletânea que não tinha nenhuma informação sobre as músicas e pensei que eram dos anos 80 pela clareza da produção.

      1. Eu tive algumas fases: já foi o Phenomenon, depois o Lights Out, e atualmente é o Force It. Strangers in the Night ainda é o que mais roda aqui em casa, não adianta – mas disco ao vivo é covardia! A discografia vai ser em três partes?

  2. Até acho trabalhos interessantes os dois primeiros discos, mas não tem jeito, o UFO “voou” mesmo do Phenomenon para frente, este aliás, o meu favorito disparado deles.

    1. Com certeza André, a entrada do Schenker fez o grupo voar para o reino unido e US. Mas antes, no Japão, os caras eram deuses

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