Ode Insone – Isolamento: do Silêncio à Poesia [2020]

Ode Insone – Isolamento: do Silêncio à Poesia [2020]

Por Thiago Reis

Em dezembro de 2020 a banda de brasileira de gothic/doom metal Ode Insone lançou o seu terceiro álbum de estúdio, chamado “Isolamento: Do Silêncio à Poesia”. No contexto em que o álbum foi lançado, não existiria um título mais adequado. Como todos sabem, vivemos momentos muito sombrios no ano de 2020 com a pandemia de COVID-19. O álbum aborda essa situação e de acordo com a própria banda, “Isolamento: Do Silêncio à Poesia aborda as percepções da banda sobre o momento de isolamento imposto pela pandemia, refletindo nas letras os tempos atuais, tudo envolto em um portentoso Gothic/Doom Metal”.

O disco foi gravado e mixado por Mad Ferreira no BestialGod Studios na cidade de João Pessoa – PB. Fizeram parte da gravação de Isolamento: Do Silêncio à Poesia os seguintes músicos: Lucas Souza (guitarra), George Alexandria (bateria), Diego Nóbrega (baixo), Tiago Monteiro (voz), Venore (voz) e Mad Ferreira (guitarra). O lançamento físico do álbum ficou por conta da Eclipsys Lunarys productions em uma bonita versão em caixa acrílica. Veremos a seguir cada uma das faixas que compõem o trabalho do conjunto de gothic/death metal.

Diego Nobrega, Venore, Tiago Monteiro, Lucas Souza, George Alexandria e Mad Ferreira

Começamos com “Sem Despedida” e uma introdução com melodias e sons profundos e tristes. Letras faladas quase em forma de sussurro dão o tom ao lado de belas melodias cantadas por Venore. O som é envolvente e de repente riffs pesados e vocais guturais entram em cena completando o clima denso da canção. Trechos como “Quando não havia respiração, quando não haviam batimentos, as frases de adeus chegavam pelo vento” são ao mesmo tempo poéticos, realistas e trágicos, combinando perfeitamente com o som da banda. Seguimos com “L’arte della Tristezza #1” e sua introdução que mantém o padrão da faixa anterior. Entretanto, riffs mais arrastados e voltados para o doom metal entram em cena, com destaque também para as linhas de baixo acompanhadas da bateria, proporcionando uma “cozinha” bem entrosada e condizente com a proposta sonora. Outro destaque vai para os vocais carregados de emoção de Tiago Monteiro.

A próxima é “Do Silêncio à Poesia” que apresenta letras bastante inspiradas, como podemos conferir no trecho “Perdido em acordes da tua canção póstuma, domado pelo frenesi de uma mente já cansada, velo o teu corpo, mergulhado pelo desgosto, o que seria a morte? A queda ou um voo?” Os destaques são muitos, como por exemplo o dueto entre vocais limpos de Venore e os guturais de Tiago. Além disso, os riffs são menos arrastados do que na faixa anterior, conferindo uma dinâmica bem interessante com os já citados vocais. A bela “Casulo” aparece com vocais inspirados de Venore ao lado de notas bem dramáticas ao piano. Percebe-se dor e sofrimento ao serem cantadas letras como “Meu corpo é um casulo, minhas asas vão se abrir rasgando a pele…enquanto eu dissimulo diante do mundo, minhas asas se recolhem mais ao fundo”. O momento de calmaria acaba com a entrada das guitarras, acompanhada do restante da banda, mas mesmo assim os vocais voltam e roubam a cena. “Casulo” é sem dúvida um dos grandes destaques do disco.

“L’arte della tristezza #2” é a próxima com riffs mais voltados ao doom metal. Peso e melodia se combinam de forma bem intensa, acompanhados de um inspirado solo de guitarra. Talvez essa seja a introdução mais fúnebre do álbum, nos remetendo ao som praticado pelo Funeral/Doom metal. Essa alternância entre sons mais melódicos e músicas mais pesadas e densas confere uma dinâmica interessante para o disco. Se “Casulo” foi uma das faixas com mais melodia no trabalho, sem dúvidas “L’arte della tristezza #2” apresentou-se como uma das mais pesadas.

“Efêmero” possui riffs mais “quebrados”, um teclado que serve de suporte para o peso da guitarra e vocais femininos em destaque. A alternância com os vocais de Tiago Monteiro se mostram novamente como um dos trunfos da banda. Entretanto, o grande destaque vem das guitarras de Mad Ferreira e Lucas Souza. “O Monstro no Espelho” apresenta riffs mais melódicos, conferindo boa variação em relação às outras faixas. Letras como “Quando chega a noite, no escuro da minha mente, ouço tua voz surgir, eu te sinto mais presente”, juntamente com a bela interpretação de Venore conferem a “Monstro no Espelho” um dos grandes destaques do álbum. “O que é Ser Humano?” encerra de forma sublime o trabalho. Riffs cheio de feeling, vocais limpos e guturais que interpretam de forma muito envolvente as letras da música e de forma geral uma excelente composição para os amantes de Gothic/Doom metal.

O álbum em formato físico ainda apresenta uma bela versão para “My Wine in Silence” da banda My Dying Bride. Aqui, a banda Ode Insone nos brinda com “Meu Vinho em Silêncio”, de forma a encerrar de maneira brilhante o trabalho. Isolamento: Do Silêncio à Poesia é um excelente álbum de Gothic/Doom, competente, de muito bom gosto melódico e com letras profundas e inspiradas, além de serem compostas em português, funcionando de forma até surpreendente com o som proposto pela banda. Caso o leitor seja fã deste estilo de música, recomenda-se ir atrás da banda Ode Insone e de seu mais recente álbum.

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