Tralhas do Porão: Buffalo

Tralhas do Porão: Buffalo

Por Ronaldo Rodrigues

Essa seção trata, em geral, de grupos que gravaram um ou dois discos e depois sumiram do mapa. Ainda que o destino do Buffalo tenha sido parecido (sumir do mapa), ao menos isso levou mais tempo para ocorrer, já que a banda teve uma respeitável discografia de 5 discos em 7 anos de existência.

A história toda começa com um jovem chamado Dave Tice (nascido na Inglaterra), vocalista, e Pete Wells, baixista, que entraram para o mundo do rock em 1966, na cidade de Brisbane, Austrália. A cena australiana nessa época já era bastante concorrida, no rastro da Beatlemania que varreu a Austrália (e mais da metade do mundo) em 1964. Algum reconhecimento local foi alcançado pelos garotos, mas nada realmente consistente. Em novembro de 1968, os dois parceiros montaram um grupo chamado Head, que incluía o guitarrista Neil Jensen e o baterista Steve Jones.

Brisbane era uma cidade relativamente pequena e era em Sidney onde as coisas realmente ganhavam escala. Os garotos do Head decidiram então se basear lá a partir de 1970, acreditando no potencial e na dedicação ao som que tinham. Contudo, nas primeiras dificuldades que surgiram na metrópole, Neil Jensen e Steve Jones desistem. Tice e Wells recrutam novos membros – John Baxter (guitarra) e Peter Leighton (bateria). No ano seguinte, a banda já tinha um empresário e conseguiu grava um compacto, com as faixas “Hobo/Sad Song, Then”.

Pouco tempo depois, porém, Dave Tice e Pete Wells estavam novamente procurando novos músicos para tocar, já que Peter Leighton partiu. Para seu lugar veio Paul Balbi, que trouxe a tira-colo um segundo vocalista chamado Alan Milano. Como tudo estava mudando, o empresário do grupo sugere uma mudança no nome, visando algo com mais impacto. E nisso, em agosto de 1971, o grupo se rebatiza como Buffalo. Trabalhando duro, a banda descolou um contrato com a Vertigo, que apesar de baseada na Inglaterra, buscava ampliar suas operações internacionais através de contratos com grupos emergentes em outros países (o Buffalo foi a primeira banda não-britânica a fazê-lo). Vale lembrar que, ainda que a Vertigo fosse uma pequena estampa subsidiária da Philips, seus contratados já alcançavam grande relevância no mercado, como o Black Sabbath, o Uriah Heep, Colosseum, Juicy Lucy, entre vários outros.

Antes de gravar o primeiro álbum completo, o Buffalo lançou pela Vertigo mais dois compactos (“Suzie Sunshine”/”Ain’t No Particular Place to Go” e “Just a Little Rock n’ Roll”/Barberhop Rock”). Em maio de 1972 chegaria ao mercado Dead Forever com um hard rock sólido, cheio de riffs e o vocal avantajado de Dave Tice. Apesar do bom repertório – poucas coisas tinham o mesmo calibre do Buffalo na Austrália na ocasião, apesar do cenário acirrado de bandas de grande qualidade – o disco não aconteceu. A Vertigo não era exatamente conhecida por seu maciço investimento em uma única banda especificamente e, sendo assim, a banda teve um retorno muito tímido com o disco.

A falta de uma maior repercussão desanimou completamente os membros do Buffalo. Dave Tice se juntou a uma outra banda (chamada Mr. Madness, que não gravou nada) e os demais membros só tocavam juntos por passatempo. Todavia, em janeiro de 1973 uma turnê do Black Sabbath estava sendo organizada pela Austrália e a Vertigo queria uma banda de igual quilate para abrir os concertos. Foi aí que Dave Tice, Pete Wells, John Baxter e Paul Balbi se animaram para retornar com a banda (Alan Milano desistiu totalmente da música após o lançamento de Dead Forever). A turnê foi uma grande catapulta para o Buffalo, já que a crítica local exaltou o grupo, inclusive colocando-os acima da atração principal. Pouco tempo depois, na esteira dessa recepção calorosa de crítica e público, o Buffalo abriu também shows para o Status Quo e o Slade.

Embalados e empolgados, o Buffalo se prepara para lançar um novo álbum, apostando ainda mais no rock pesado. O baterista Paul Balbi pula fora e vem para seu lugar Jimmy Economu. Com essa formação é que foi cunhado o álbum Volcanic Rock, de 1973, que é simplesmente um clássico do rock pesado underground dos anos 70. Um álbum simplesmente primoroso, muito pesado e empolgante, imprescindível para quem curte hard rock. Nessa época, o Buffalo já tinha um bom reconhecimento local, fazia shows para grandes plateias, aparecia na TV (veja aqui e aqui) e na mídia impressa com frequência. Boa parte do repertório do álbum foi cunhado a partir de improvisações que a banda fazia ao vivo nos palcos.

Ainda pela Vertigo veio mais um bom álbum – Only Want You For Your Body – lançado em junho de 1974. Não tão impactante quanto o anterior, mas ainda sim mantendo a brasa acessa, com um repertório consistente, que incluía uma versão poderosa para “I’m Coming On” do Ten Years After. Assim como em Volcanic Rock, ideias para o novo álbum surgiam a partir das longas jams que a banda fazia no palco. No fim de 1974, o Buffalo passaria a ser um quinteto, com o ingresso do segundo guitarrista Norman Roue (ex-Band of Light). Contudo, essa formação durou pouco já que o guitarrista John Baxter se desentendeu com a turma e saiu da banda. Para seu lugar, rapidamente empresário e banda contratam o guitarrista Colin Stead.

Depois da saída de John Baxter o som do Buffalo foi se distanciando do rock pesado, para adotar uma linha de rock mais básico (como os Rolling Stones, Bad Company ou Faces). O empresário da banda insistia para que o grupo tentasse algo que os direcionasse para as rádios. Norma Roue também foi outro que ficou pouco tempo e deu lugar a Karl Taylor, mantendo a formação de quinteto. A reputação positiva da banda ainda existia junto ao público, mas era nítido um desinteresse do público roqueiro pelos novos rumos do grupo. O próximo álbum do grupo, Mother’s Choice, saiu em fevereiro de 1976 pela Vertigo, junto com alguns compactos. O trabalho é apenas mediano, frente ao que o Buffalo se mostrou capaz de fazer antes, ainda que tenha bons momentos.

O ano de 1976 marcaria um entra-e-sai na banda, em que até mesmo o baixista e fundador do grupo Pete Wells sai para formar o Rose Tattoo, banda bastante famosa e longeva no rock australiano. Em 1976 o Buffalo abriu shows da turnê australiana do Rainbow (de Ritchie Blackmore) e preparou um novo álbum, chamado de Average Rock n’ Roller, lançado em 1977 e mantendo a mesma linha do anterior – ou seja, um disco mediano e que pode passar despercebido.

Ao longo dos anos seguintes, o catálogo do Buffalo foi relançado em CD e LP e tornou-se influente para grupos de stoner-rock e de rock pesado inspirado nos anos 70. No ano 2000 a banda se reuniu para um show comemorativo em Sidney, mas sem se reunir para turnês ou novos lançamentos.

 

Um comentário em “Tralhas do Porão: Buffalo

  1. Obrigado pela matéria baita banda sou suspeito em falar sobre o Mother’s Choice pra mim é o melhor deles mais leve realmente mas roda aqui de A a Z parabéns

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