Discografias Comentadas: U2 (Parte II)

Discografias Comentadas: U2 (Parte II)

Por Mairon Machado

Depois de conquistar o mundo com a trilogia clássica formada por The Unforgettable Fire, The Joshua Tree e Rattle and Hum, o U2 entrou os anos 90 surpreendendo. Uma nova trilogia começou a ser formada, e poucos imaginavam que o grupo iria atirar-se tão de cabeça em uma empreitada quase suicida. O eletrônico era a bola da vez, e Bono Vox (vocais), Adam Clayton (baixo), The Edge (guitarra, vocais) e Larry Mullen Jr. (bateria, vocais), adaptaram seu estilo a uma sonoridade que quase levou a dissolução do grupo.

Se para os antigos fãs era uma verdadeira m*, para os novos era o ápice de um nível orgasmático inalcançável. Criticada, a fama do grupo caiu muito durante o período que durou essa trilogia (aproximadamente dez anos). Porém, para esse que vos escreve, é um período fértil, de extrema criatividade, no qual o quarteto (e principalmente The Edge) colocou suas mangas para fora e gerou seus melhores e revolucionários trabalhos. Voltamos ao ano de 1991, e o mundo inteiro tentando entender o que os irlandeses queriam…


maxresdefaultAchtung Baby [1991]

Adam Clayton nu na contra-capa do álbum; Bono carregado de maquiagem e usando roupas estranhas; The Edge com uma echarpe vermelha muito chamativa ilustrando o encarte. Essas cenas estranhas aterrorizaram os fãs do grupo ao verem a capa de Achtung Baby, e o que eles encontraram nos sulcos do vinil (ou na gravação digital da mídia) certamente fez com que 80% ou mais da geração acostumada a clássicos como “Where the Streets Have No Name”, “Bad” ou “Sunday Bloody Sunday” apedrejam-se esse disco. Por outro lado, a imprensa mundial dividiu-se em elogios e críticas. Na verdade, o U2 começava uma nova fase, “vendendo-se” aos apelos dos críticos e criando um mundo adaptado ao eletrônico dos anos 90. Criticado pela imprensa pela sua postura social nos álbuns anteriores, Bono e seus companheiros resolveram re-inventar-se, mostrando que podiam criar canções interessantes sem serem apelativos ou sensacionalistas (como muitos jornais e revistas especializados costumaram chamar o grupo desde The Joshua Tree). O resultado é um disco controverso, mas muito bom. Com a colaboração de Brian Eno e Daniel Lanois, Achtung Baby abre com o começo perturbado da guitarra e a bateria eletrônica introduzindo, “Zoo Station”, bem como os efeitos na voz de Bono, indicando um caminho que nos lembra o techno de bandas como New Order e Orchestral Manoeuvres in the Dark, continuando em “Even Better than the Real Thing”, destacando os vocais dobrados de Bono, em “Love is Blindness”, bonita balada destacando o baixo, e a ótima “Until the End of the World“. “One” tornou-se um clássico, e é uma das poucas a possuir traços do que o U2 havia apresentado nos anos 80, mas destoa bastante das demais canções do álbum. Momentos descontraídos aparecem em “Who’s Gonna Ride Your Wild Horses” – outra que lembra os anos 80, mas com muitos efeitos eletrônicos – na dançante “Misterious Ways” – outro clássico do álbum – e na pegada bluesy de “The Fly”, com destaque para a voz em falsete de Bono, alavancando a popularidade dos irlandeses para uma nova geração. Porém, são nas desconhecidas “Acrobat”, “So Cruel”, “Tryinto Throw Your Arms Around the World“, apresentando uma mescla do pop proposto para essa nova fase com as linhas rock dos anos 80, mescla esta explicitada na melhor faixa do álbum, a fantástica “UltraViolet (Light My Way)“, que encontramos os melhores momentos deste álbum que, apesar de todas as críticas, tanto dos fãs quanto da imprensa, conquistou a primeira posição em seis países (entre eles Brasil e Estados Unidos, país aonde atingiu oito discos de platina),vendendo mais de vinte milhões de cópias em todo o mundo e tornando-se um dos álbuns mais vendidos da carreira do grupo. Era o começo de uma nova e conturbada era.

Após o lançamento, o grupo saiu na famosa Zoo TV Tour, a primeira grande turnê mundial que o grupo fez, com um palco gigantesco, mostrando imagens de televisão, um potente telão ao fundo e diversas performances em cima do palco, destacando Bono, auto-apelidado de “Homem-Mosca”, utilizando óculos escuros, guampas reluzentes e outros artefatos durante as apresentações.


u2zooropa_1373982712Zooropa [1993]
Demorei muito tempo para entender este e o disco seguinte, mas hoje, caio de joelhos a cada audição. Zooropa é praticamente perfeito. Bono e The Edge travam uma batalha de egos que encobrem as almas de Clayton e Mullen Jr., mas criam uma harmonia inédita nas canções do U2, produzidos novamente por Brian Eno, mas agora com a colaboração de Flood e The Edge, e investindo ainda mais em eletrônicos e também em samplers. Difícil destacar alguma faixa em específico, mas se pudesse citar apenas três, elas seria “Numb“, com sua mistura vocal/eletrônicos, os vocais em falsete e os gemidos da majestosa e contagiante “Lemon” (quem nunca dançou sozinho com essa canção que atire a primeira pedra), e as harmonias emocionantes de “Stay (Faraway to Close)“, não por acaso os três singles do álbum, e não por acaso, as três canções que encerram o lado A. Desde a longa abertura da faixa-título, até os segundos finais de “The Wanderer” (com a participação mais que especial de Johnny Cash nos vocais), passeamos por quase uma hora de maravilhas techno-rock, cruzando pela suavidade de “Babyface”, a sequência citada e o recheado Lado B, os eletrônicos tomando conta de “Daddy’s Gonna Pay for Your Crashed Car”, o baixão de “Some Days are Better Than Others”, a emocionante balada “The First Time”, o viciante ritmo de “Dirty Day” e a citada “The Wanderer”, na qual a mistura dos eletrônicos com a gravíssima voz de Cash casou muito bem.
Apesar de não ter vendido tanto quanto seu antecessor (10 milhões de cópias em todo o mundo), foi um marco principalmente pela consolidação do quarteto nas grandes arenas, ainda com a Zoo TV Tour, que foi registrada no DVD ZooTV: Live from Sidney (1994). Ainda considero ele o melhor disco do U2, apesar de cada vez mais ver ele perdendo seu espaço para seu sucessor. Mas nem tudo foram flores. Brigas internas levaram a dissolução (breve) do grupo. Nesse período, mudaram de nome e lançaram Original Soundtracks 1, único disco do projeto The Passengers, também ao lado de Brian Eno, destacando “Miss Sarajevo“, gravada em parceria com Luciano Pavarotti. Adam e Mullen ainda gravaram uma versão eletrônica para a trilha do filme Missão Impossível” (1996) e assim, o quarteto preparou-se durante mais de um ano para gravar seu mais odiado álbum e despedir-se de vez da eletrônica.

U2-Pop-coverPop [1997]
Já comentei sobre esse álbum aqui no site, na seção Discos que Parece que Só Eu Gosto, e fui muito criticado. Assim como Zooropa, demorei (e muito) para entender Pop. Único disco conceitual da carreira do U2, é um marco para toda a geração dos anos 90, sendo um desabafo contra o consumismo e o domínio dos Estados Unidos no comércio mundial, usando justamente de sonoridades americanas para provocar e criticar aquele país. O álbum começa vibrante, através de “Discothèque“, e pouco a pouco, entra em um clima de agonia e depressão que só será encerrado com “Wake Up, Dead Man!”, um pedido à todos para não venderem suas almas ao consumismo e capitalismo exacerbado. Musicalmente, Flood, Steve Osborne e Howie B. foram os produtores que aplicaram  samplers sobrepostos entre guitarras e vozes cheias de efeitos. Mas, dos discos da fase eletrônica, este é o que mais apresenta traços da segunda fase da banda, como podemos ouvir em “Do You Feel Loved”, “If You Wear that Velvet Dress” e “The Playboy Mansion”. “Mofo” está entre as principais obras de arte compostas pelo quarteto, assim como a arrepiante “Please“, na qual Bono agoniza nos vocais. A balada “If God Will Send His Angels” demonstra os novos caminhos que o grupo veio a seguir posteriormente, com pouca participação dos eletrônicos, assim como “Staring at the Sun”, única que escapou da crítica destrutiva dos fãs. Adoro os lances sintetizados de “Last Night on Earth” e “Gone”, ambas com a a voz de Bono carregada de depressão, e também flertando com o krautrock estilo Kraftwerk, assim como “Miami”, considerada a pior música gravada pelo U2 e uma das dez piores em todos os tempos pela revista Q Magazine, mas que está muito longe disso. Embora tenha alcançado no seu lançamento a primeira posição em 35 países (entre eles Estados Unidos e Reino Unido), trata-se do maior fracasso comercial da história do U2, com pouco mais de cinco milhões (!) de discos vendidos em todo o mundo, o que eu classifico apenas como incompreensão perante a genialidade que é esse álbum. Enfim, vários são os destaques nesse incrível e conturbado abismo sem fim do qual Pop mergulha em sua uma hora de duração, difícil de se entender no início, mas totalmente fantástico quando ouvimos ele com a mente entendendo cada segundo que passa em suas canções. Concluo dizendo que ouvir Pop do início ao fim deveria ser obrigatório em todas as aulas de arte quando fossem falar sobre música pop.
Sem forças para sobreviver por causa das baixas vendas, o grupo decidiu colocar o pé na estrada, indo em países da América Latina com a PopMart Tour, registrada no essencial DVD PopMart: Live from Mexico City (1999). O Brasil inclusive foi beneficiado com a magnífica produção de um gigantesco palco trazendo artefatos como um limão voador, um arco imitando o símbolo da rede McDonald’s e um hipnotizante telão de LED. Mesmo assim, a baixa procura pelos ingressos quase levaram os irlandeses a falência, e então, um longo hiato de três anos surgiu, afim de ver quais os caminhos que a banda deveria seguir.

20120701195616!All_That_You_Can't_Leave_BehindAll That You Can’t Leave Behind [2000]
Passada a crise interna por conta do excesso de eletrônicos, os irlandeses reuniram-se, juntaram os cacos e resolveram voltar ao som mais convencional, baseado apenas na guitarra, baixo e bateria. Sintetizadores, samplers ou bateria eletrônica raramente são encontrados no décimo álbum do grupo. Contando com a produção de Daniel Lanois e novamente Brian Eno, sendo o início do álbum uma sequência fiel ao final de Pop, através da clássica “Beautiful Day”, a qual virou hino para os fãs, o que só comprova a minha teoria de que as pessoas não gostam de Pop simplesmente por que a maioria nunca ouviu o mesmo direito. Depois, entramos em um mundo bem acessível com a balada “Stuck in a Moment You Can’t Get Out Of”, seguida por “Elevation”, canção um pouco mais pesada e que batizou outra gigantesca turnê do grupo, voltando-se para locais como ginásios e teatros, tendo o palco em formato de coração como principal destaque, turnê essa que pode ser conferida nos DVDs Elevation 2001: Live from Boston (2001) e U2 Go Home: Live from Slane Castle (2003). “In a Little While”, “Peace on Earth” e “Walk On” são os melhores exemplo do que é este álbum para mim: canções arrastadas, com pouca inspiração, engatinhando no objetivo de criar algo de fundamento. Talvez o melhor momento seja quando o quarteto resolve fazer o simples, sem invenções, através de “Wild Honey“, que soa redondinha com o uso dos violões e do slide guitar. Ou então, “New York“, a mais próxima das canções de Pop que All that You Can’t Leave Behind possui, com a bateria eletrônica tomando conta da canção juntamente da guitarra cheia de peso. A alternância das canções, sem manter um padrão auditivo, faz com que muitas canções passem despercebidas, casos de “Kite”, com um interessante emprego do mellotron, “When I Look at the World”, saída de algum lugar obscuro entre The Joshua Tree e Achtung Baby, ou ainda “Grace”,  uma balada sem criatividade e totalmente dispensável. Por essa insegurança, esse acaba sendo um álbum menor na discografia do grupo. Por outro lado, tem sua importância pelo fato de novamente colocar o U2 como um dos mais vendidos, com mais de 15 milhões de cópias até os dias de hoje.


05c49f81663fc6c21f5d2b6eb0679e7837c496daHow To Dismantle An Atomic Bomb [2004]
Mais um breve hiato e, dessa vez, os irlandeses retornam com um álbum sensacional. How to Dismantle an Atomic Bomb é digno de estar entre os melhores lançamentos do grupo, que faz uma belíssima reunião dos riffs marcantes na fase The Joshua Tree a um som atual, pesado e cru, carregado por uma performance irretocável de Mullen e Adam. As atenções ao eletrônico ou samplers desaparecem, e o que ouvimos é o mais puro e direto rock ‘n’ roll, a começar pela faixa de abertura, a clássica “Vertigo”, que até aquele momento, era a canção mais pesada que o grupo já havia gravado. Dessa vez a produção ficou a cargo de diversos nomes, dentre eles ainda Brian Eno, e o resultado alcançado é excelente. “Miracle Drug” parece ser uma sequência de “I Still Haven’t Found When I Looking For”, porém com mais peso e emoção, principalmente na voz de Bono, o grande destaque do álbum. Aliás, é dele a linda “Sometimes You Can’t Make It On Your Own“, belíssima homenagem feita a seu pai, e que é impossível não segurar as lágrimas ao ouvi-la. Outra bonita balada é “One Step Closer”, essa com os teclados marcando presença, enquanto “Original of the Species” destaca-se não só por seu andamento cativante, mas também pelo arranjo orquestral e claro, as passagens de guitarra de The Edge. “All Because of You” tem um riff e levada inspiradíssimo em “Rebel Rebel” (David Bowie), mas com muito mais peso. Outras canções que possuem raízes fortes nos anos áureos do grupo são “Crumbs from Your Table“, “Yahweh” e a fantástica “City of Blinding Lights“, todas com os marcantes riffs de The Edge, e inclusive com o piano e o baixo reaparecendo como há muito não se ouvia nas canções do grupo. “Love and Peace or Else” é um blues moderno e pesado, diferente de tudo o que o U2 já gravou. O único deslize fica para a latinidade de “A Man and a Woman”, que não caiu bem para os padrões deste belo álbum. Poderia facilmente ser substituída pela viajante “Fast Cars”, que saiu como bônus nas versões japonesas e nos lançamentos do Reino Unido, além da versão COLLECTOR’s EDITION, no formato de livro, contando com um DVD apresentando um interessante documentário sobre a criação do álbum e diversas mensagens e fotos coloridas. Existem também a versão DELUXE, contendo apenas o DVD citado, e uma pequena tiragem em vinil. Vale ressaltar que o disco, primeiro lugar em vendas em mais de vinte países, recebeu nove Grammys entre 2005 e 2006, sendo eleito o melhor álbum de 2004 por quase a unanimidade das revistas mundial, além de em apenas nove anos, já ter vendido mais de dez milhões de cópias ao redor do planeta.
A turnê de promoção trouxe o U2 novamente ao Brasil. Os shows nos Estados Unidos foram realizados apenas em ginásios, enquanto os shows na América Central, América do Sul e Europa foram todos em locais abertos. O bonito palco da turnê apresentava uma elipse que contornava alguns fãs, tornando-o mais próximos do grupo. Você pode conferir essa turnê nos DVDs oficiais Vertigo 2005: Live from Chicago, Vertigo: Live from Milan e U2-3D.

U2_NoLineOnTheHorizon-500x500No Line On The Horizon [2009]
Se How to Dismantle an Atomic Bomb já era muito bom, o grupo se superou. Blindando totalmente os eletrônicos e samplers, em No Line on the Horizon temos uma reinvenção para a criação das canções dos irlandeses. Com o mesmo time que produziu Achtung Baby, várias são as faixas que tornaram-se hinos para os fãs, como a ótima faixa-título, a arrepiante “Moment of Surrender”, carregada de teclados e com Bono destruindo nos vocais, o arranjo único de “White as Snow”, outra que Bono dá show nos vocais, o ritmo funkeado de “Stand Up Comedy”,  ou as passagens singelas de “I’ll Go Crazy If I don’t Go Crazy Tonight”. Da onde saiu a sonzeira “FEZ-Being Born“? Nela, temos uma mistura que alivia os saudosos da época de Pop, mas ao mesmo tempo, hipnotiza por seu clima quase progressivo, a la Alan Parsos Project. “Magnificent”, “Cedars of Lebanon” e “Unknown Caller” remetem-nos diretamente para The Unforgettable Fire, e o auge do disco fica por conta das pesadíssimas “Breathe” e “Get on Your Boots“. Ouvir essas canções e associá-las ao U2 é tarefa quase impossível. No geral, o disco soa muito reto, mas graças as linhas de The Edge, o andamento cadenciado de Adam e Mullen, além de uma magnífica performance vocal de Bono (talvez a melhor de sua carreira), temos outro grande candidato a melhor disco do grupo. Para os colecionadores, o álbum saiu em cinco diferentes formatos: versão normal; versão em LP; versão MAGAZINE, trazendo uma revista com 60 páginas; versão DIGIPACK, com um pôster e um livreto com 36 páginas; e a versão BOX SET, trazendo um DVD, um livro com 64 páginas além de uma revista e de um pôster. Em termos de vendas, este álbum debutou em primeiro lugar em mais de trinta países (entre eles o Brasil, aonde recebeu disco de platina por mais de 100 mil discos vendidos), e até hoje, já vendeu mais de dez milhões de álbuns ao redor do planeta. Assim como seu antecessor, foi eleito melhor disco do ano de 2009 por diferentes revistas, e ganhou o Grammy de melhor álbum em 2010.
A bela turnê de promoção trouxe o U2 para os estádios americanos com a 360° Tour, a qual foi registrada no ótimo DVD 360° at the Rose Bowl, e que passou pelo Brasil em 2010.
U2
Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr.

Songs Of Innocence [2014]

Depois de cinco anos, eis que o início da aguardada quinta trilogia dos irlandeses chega ao mercado, e de forma inovadora. Afinal, quando de seu lançamento, Songs Of Innocence foi disponibilizado gratuitamente para download quando durante a conferência da Apple para apresentação do iPhone 6 na cidade de Cupertino, Califórnia, o grupo anunciou uma parceria com a Apple, permitindo aos fãs conhecerem o álbum antes mesmo de seu lançamento físico oficial. Inclusive na época, resenhamos o álbum, mas o Uol Incident retirou do ar aquela reportagem. Songs of Innocence mantém a linha do que o grupo fez nos anos 2000, com refrões fortes e tendo talvez como principal diferença em relação aos anteriores uma presença mais constante dos teclados. É um disco bastante pessoal de Bono, com homenagens aos ídolos punk Joey Ramone (“The Miracle (of Joey Ramone)”) e Joe Strummer (“This is Where You Can Reach Me Now”), falando sobre como ambos impactaram a formação musical do vocalista. Outro grupo bem homenageado é o Beach Boys, com vocalizações apresentando a oitentista “California (There Is No End To Love)”, que poderia estar em algum dos álbuns clássicos da segunda trilogia, assim como a baladaça “Every Breaking Wave” parece uma sequência de “With Or Without You”, e mata a saudade dos nostálgicos com sua atmosfera oitentista. Bono também faz homenagens à pessoas próximas, no caso sua esposa Ali na bela “Song for Someone”, o amigo Guggi Rowan na pesadíssima “Cedarwood Road”, que narra a história de quando um carro bomba explodiu próximo a casa de Bono quando ele era adolescente, durante as brigas entre protestantes e católicos na Irlanda. Essas brigas também estão em “Raised By Wolves”, forte candidata a melhor do disco. Outra homenagem importante vai para a mãe de Bono, Íris, na emocionante “Iris (Hold Me Close)”, com o baixão de Clayton se sobressaindo nas caixas de som. O baixo sem sombra de dúvidas também é o principal instrumento de “Volcano”, faixa que ao lado de “Raised By Wolves” disputa o primeiro lugar, com um ritmo dançante e um refrão pronto para gritar no estádio. Outra boa de dançar é “This Is Where You Can Reach Me Now“, que lembra uma faixa disco, ainda mais com a maciça presença dos teclados. “Sleep Like a Baby Tonight” exagera nos teclados, e é a faixa mais fraca do disco, enquanto a suave “The Troubles” novamente carrega de teclados, além de vocalizações femininas durante o refrão da mesma, méritos da cantora Likke Li, mas é uma ótima faixa. A versão DELUXE contém como bônus “Lucifer’s Hands”, “The Crystal Ballroom”, “The Troubles (Alternative version)” e “Sleep Like a Baby Tonight (Alternative Perspective Mix by Tchad Blake)”, bem como versões para “Something For Someone” e “Every Breaking Wave” (apenas voz e piano), “The Miracle (Of Joey Ramone)” e “Cedarwood Road” (apenas voz e violão), “California (There Is No End To Love)” e “Raised By Wolves” (ambas apresentando metais), e saiu também em vinil duplo, com a cor branca trazendo como bônus uma versão remix de “The Crystal Ballroom”. É um bom disco, mas na minha opinião, aquém de seus dois anteriores, mas que vem amadurecendo bem com o tempo.

A versão DELUXE de iNNOCENCE + eXPERIENCE

A Innocence Tour começou em maio de 2015, e foi marcada por um palco interativo gigantesco, bem como os atentados da noite de 13 de novembro em Paris. Os shows do U2 foram cancelados após o atentado com o grupo Eagles of Death Metal, que vitimou 87 fãs dos americanos. O U2 voltou aos palcos franceses ao lado do Eagles, registrado no belíssimo DVD iNNOCENCE + eXPERIENCE (Live In Paris) (2016). A versão DELUXE desse box acompanha uma lâmpada de abajur. Ao longo do ano de 2017, o quarteto promoveu a The Joshua Tree Tour, que passou pelo Brasil com quatro shows lotados em São Paulo, um deles narrado por mim aqui. Na sequência, veio o décimo quarto disco.


Songs of Experience [2017] 

Experimental como o nome sugere, esse trabalho para mim é bem melhor que seu anterior. Um pouco disso se deve aos diversos produtores que participaram do álbum (Jacknife Lee, Ryan Tedder, Steve Lillywhite, Andy Barlow, Jolyon Thomas, Brent Kutzle, Paul Epworth, Danger Mouse e Declan Gaffney), bem como convidados especiais (citados ao longo do texto), dando uma cara bastante diversa ao mesmo. A tecladeira viajante logo de cara na linda “Love is All We Have Left” já é uma mostra de que os irlandeses estão percorrendo um novo caminho aqui, e o mesmo acontece no encerramento, com a mágica “13 (There Is A Light)”, de fazer até paredes chorarem. Muitos teclados estão também na introdução de “Get Out Of Your Own Way”, ou na bela “Love Is Bigger Than Anything In Its Way”. Kendrick Lamar faz vozes no encerramento da primeira, e também na abertura de “American Soul” faixa sensacional com um baita refrão para pular nos shows. O surpreendente no geral é a variações de ritmos, como a pancada “Lights of Home”, melhor faixa do U2 nessa década, com os backing vocals do grupo pop Haim, a lembrança de The Wonders e os rocks anos 50 na ótima “The Showman (Little More Better)”, o peso quase frenético do baixo em “The Blackout”, ou a grudenta “Red Flag Day”. Gosto da leveza de “Landlady”, com vocalizações ótimas e encantadoras, do clima luau de “Summer Of Love“, com participação de Lady Gaga nas vocalizações, e da estonteante viagem de “The Little Things That Give You Away”, que me remete direto a The Joshua Tree. Esse álbum cresceu muito a cada audição, e para mim está no Top 6 do grupo. Cada audição traz mais novidades, e foi muito bom re-ouvir o mesmo para essa DC. O único deslize é a declaração de amor “You’re The Best Thing About Me”, com um ritmo bem confuso. A versão em LP, DELUXE e SUPER DELUXE conta com as bônus “Ordinary Love (Extraordinary Mix)”, “Book Of Your Heart”, faixa que podia tranquilamente entrar no track list original, de tão boa que é, e “Lights Of Home (St. Peter’s String Version)”.

A Experience Tour trouxe a inovação tecnológica da “realidade aumentada”, na qual através de um aplicativo móvel, ocorre a sobreposição de imagens geradas por computador captadas pela câmera de um telefone celular. O mesmo pode ser aplicado para a capa do CD, sendo que fiz dois vídeos para capturar essa dimensão inovadora aqui e aqui. Existem ainda diversas coletâneas dessa fase do grupo, tanto em CD quanto em DVD, com os clipes oficiais. Singles e álbuns ao vivo então são incontáveis, mas não tem como não destacar Hasta la Vista Baby! U2 Live from Mexico City (2000) e Live from Paris (2008). Para os aficcionados, vale a pena investir na caixa The Complete U2, lançada em 2004 somente para download, trazendo todo o material registrado pelo grupo, inclusive versões single e raridades. A banda segue na ativa, e os fãs aguardando o encerramento da quinta trilogia, com a expectativa de que os boatos do fim da banda não se concretizem.

5 comentários sobre “Discografias Comentadas: U2 (Parte II)

  1. O All That You Can’ Leave It Behind é um pedido de desculpas para aquela palhaçada chamada Pop(que a única coisa que se salva é Starring at The Sun pq foi a primeira música que eu quis aprender no violão)! Obra prima do mesmo nível do Acthung Baby e The Joshua Tree!(Pop eu uma coisa que só o Maicon gosta mesmo! Tipo Los Hermanos..hahahahha… Falávamos disso muitas vezes lá no IFF)
    How to Dismantle an Atomic Bomb foi o primeiro disco que me fez prestar atenção na música! PUTA DISCO! TOP 10 da minha vida!
    Acthung Baby é uma obra prima para ouvir repetidas vezes! É o disco que o The Edge mata a pau na criatividade!
    No Line on The Horizon teve um problema! Lançaram uma das músicas mais fracas como single principal(Magnificent) mas no resto é um bom disco!
    Song of Innocence é muito superior ao No Line on The Horizon! Songs of Experience preciso ouvir com mais atenção

  2. Vim aqui pra dizer que assim como autor, também sou muito fã do POP! Muitas pessoas podem questionar a sonoridade mas um album não so com Staring, mas com Please, If God Will Send His Angels, Last Night on Earth e principalmente Gone (uma das 5 musicas q mais gosto de toda a carreira do U2) jamais pode ser considerado um album ruim. Sobre o HTDAAB eu passei ANOS dizendo q Fast Cars deveria substituir A Man and a Women e fico feliz de que partilhe a mesma opinião. De tudo so discordo de q o Experience é melhor q o Innocence, mas de qualquer forma, otima análise!

  3. All That You Can’t Leave Behind é um dos melhores albuns do U2 e ponto final!

    1. Valeu Danilo. Quanto mais ouço ele, cada vez mais ele baixa de nível, mas é isso. Opinião não se discute. Abraços

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