Titãs – Nheengatu Ao Vivo [2015]

Titãs – Nheengatu Ao Vivo [2015]

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Por Alisson Caetano

A versão analisada neste texto foi a versão deluxe digital com faixas extras.

Mudanças de formação são eventos que abalam as estruturas de qualquer banda. É preciso muita perseverança e pulso firme dos integrantes restantes para que o grupo se mantenha coeso e siga em frente sem que a troca de músicos provoque sérias consequências.

Os Titãs definitivamente passaram por períodos difíceis nestes últimos anos. A saída de Arnaldo Antunes, Nando Reis, a morte de Marcelo Fromer e, mais recentemente, a debandada de Charles Gavin, provocaram o esfacelamento de uma das mais prolíficas e criativas bandas da história da música nacional. Sucedeu-se também, nestes últimos anos, o lançamento dos discos mais fracos da história do grupo. Sem representatividade alguma, registros como A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana [2001], Como Estão Vocês? [2003] e Sacos Plásticos [2009] jogaram o nome “Titãs” na vala do ostracismo e no mesmo nível de relevância de bandas de pop rock insossas do mesmo período.

Independente disso tudo, e sabe-se lá por quais motivos, a banda conseguiu se reinventar em um lançamento muito digno. Nheengatu [2014], se não é um ótimo disco, recolocou o agora quarteto novamente nos holofotes. Com a banda reformulada, contando com o jovem Mário Fabre empunhando as baquetas e Branco Mello assumindo em definitivo as quatro cordas, os Titãs gritaram a plenos pulmões que querem voltar a serem aqueles Titãs com sangue nos olhos dos anos 80.

E para sedimentar essa nova fase, mais enxuta, nada melhor que um ao vivo para provar que essa nova banda está azeitada e confiante em suas funções em cima do palco. Nheengatu Ao Vivo, gravado na casa de shows Áudio Club, São Paulo, é o registro dessa fase mais “incisiva” e “direta ao ponto” do quarteto paulista.

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Branco Mello e Paulo Miklos em destaque.

Focado nas canções de seu último registo, o grupo tomou um cuidado imenso na escolha do tracklist do show. Limando completamente as baladas e qualquer música de seus registros pós anos 2000, os Titãs proporcionaram aos presentes um show dinâmico, focado em canções agressivas e um clima quase punk ao espetáculo.

No que se refere à execução, posso dizer sem medo de errar que é um dos shows mais técnicos que a banda executou. Branco Mello, agora o baixista principal, executa esta função com mais desenvoltura, diferente do quase amadorismo visto no MTV Ao Vivo [2005]. Paulo Miklos sempre foi um guitarrista eficaz, jogando para o time sem muitos enfeites. Mário Fabre, por sua vez, mostra a mesma qualidade que apresentou em estúdio. O baterista não tem a mesma precisão cirúrgica do monstro Charles Gavin. Sua pegada é mais primitiva, diria até mais simplista, estando longe, entretanto, de ser algo pejorativo.

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Paulo Miklos e Sérgio Britto em destaque.

Como pontos negativos, preciso fazer menção a voz de Branco Mello. Ela se mostrou insegura e por vezes até falha em vários momentos do show, destoando da energia com que o restante da banda desprendia em suas execuções. Por fim, o tracklist cometeu apenas um erro: ter incluído a faixa “Pela Paz”. Mesmo a balada sendo de qualidade, acabou soando como uma quebra no ritmo constante do show.

Nheengatu Ao Vivo não representa o auge da carreira dos Titãs. Representa, todavia, a reafirmação de um novo momento em sua história. Afiados, sem medo de desagradar fãs mais “família” com sua roupagem mais politizada e crua, esses dinossauros voltaram a nos mostrar aquilo que de melhor sabem fazer: boa música. Para os fãs, um registro indispensável.


Tracklist:

  1. Fardado
  2. Pedofilia
  3. Cadáver Sobre Cadáver
  4. Chegada ao Brasil
  5. Massacre
  6. Jesus Não tem Dentes no País dos Banguelas
  7. Lugar Nenhum
  8. Baião de Dois
  9. Pela Paz
  10. Quem São os Animais?
  11. República dos Bananas
  12. Nem Sempre se Pode Ser Deus
  13. Diversão
  14. Mensageiro da Desgraça
  15. Fala, Renata
  16. Desordem
  17. Vossa Excelência
  18. Televisão
  19. Sonífera Ilha
  20. Polícia
  21. AA UU
  22. Flores
  23. Bichos Escrotos

Lineup:

Paulo Miklos – guitarra, vocal

Branco Mello – baixo, vocal

Sérgio Britto – teclados, vocais, baixo

Tony Bellotto – guitarra

Mário Fabre – bateria

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16 comentários sobre “Titãs – Nheengatu Ao Vivo [2015]

  1. Gostei muito de Nheengatu. O disco me fez voltar a ouvir os Titãs. Cheguei até a dar uma nova cnahce à esses discos mais recentes que vc citou, mas não deu. Até Titanomaquia TODOS os discos são bons. Não ouvi esse ao vivo ainda e estou esperando uma chance de vê-los pessoalmente.

  2. Eu acho que os Titas eram a sintese do Brock 80, para o bem e para o mal. Nunca tiveram um estilo definido, foram se adaptando conforme o mercado ditava as regras, já flertaram com o rock, o pop, o reggae…

    Mas gosto de muita coisa dos discos pré-Acustico. Apesar da variedade de estilos, a qualidade costumava ser bem alta em dicos como Cabeça Dinossauro, Jesus Não Tem Dentes, O Blesq Blom… E a fase mais pesada do Tudo Ao Mesmo Tempo Agora e do Titanomaquia é bem legal.

    Mas depois do Acustico, a coisa começou a ficar insuportavel. Baladas e mais baladas com letras de auto-ajuda, cover do Roberto Carlos… A banda ficou extremamente chata. E perdeu espaço, como as demais bandas de rock brasileiras, e relevancia.

    Ouvi pouca coisa do ultimo disco, mas gostei da postura, da sensacao de ser uma banda mais coesa, com um estilo mais definido. E isso parece ter refletido no show.

    Agora, que Sonifera Ilha destoa totalmente desse repertorio, destoa…

  3. Os Titãs hoje são uma bandinha acomodada e seus integrantes precisam continuar a fazer shows e gravar discos ridículos e comerciais para ganharem bastante dinheiro para comprarem iates e apartamentos luxuosos de frente pro mar para suas esposas burguesas e afrescalhadas. Engraçado isso, esses artistas que mais posam de socialistas normalmente são os que mais são burgueses. Brincadeiras a parte, esses bundões dos Titãs acabaram ali no razoável Domingo. Do AcustiCUzinho pra cá só lançaram lixo. Só sabem criar musiquinhas bregas, cafonas e descaradamente comerciais ao extremo. Esse Nheengatu é muito ruim, a produção é péssima, e as músicas são desprovidas de peso, agressividade. Som limpo, polido. Será que aquele arrombado do Rafael Ramos que foi quem produziu esse cocô não poderia ter dado uns sacodes no panacão do Tony Bellotto pra ver se ele cria vergonha na cara e aprende a tocar guitarra de vez e botasse mais peso e distorção nas guitarras? no final o disco soa como feito por uma banda tocando de má vontade, sem gosto, sem tesão nenhum pela música como se tivessem gravando um disco pra cumprir contrato. Eu que sempre fiquei puto com a finada BIZZ que bateu firme nos Titãs até o fim, hoje sou obrigado a concordar com alguns dos detratores dos Titãs. De que a banda só toca aquilo que estiver na moda, só toca o que está tocando no momento. Se vocês forem prestar atenção e se ligarem detalhadamente nos discos ruins dos Titãs, irão ver que o que fazia sucesso em 97 na época do Acústico era pagode brega, sertanojo. Não, os Titãs nunca tocaram música sertaneja mas se aproximaram bem perto disso com os Acústicos, A Melhor Banda, Sacos Plásticos….Os caras agora depois que o Brasil voltou a ser um país politizado e a esquerda radicalizou ainda mais o discurso da luta de classes, o Titãs “abandonou” as baladas e agora posam de roqueiros “conscientes” e “inconformados com a sociedade hipócrita”. É? Estranho, na época dos acústicos os velhacos geriátricos só queriam cantar o amor em verso e prosa e ainda na maior cara de pau iam pagar boquete pro Katinguele e pro Molejo. Esses Titãs são muito picaretas demais. Toma vergonha na cara Titãs.

  4. O Tony Bellotto além de ser um PÉSSIMO(letra maiúscula mesmo para esse idiota) guitarrista(está mais para tocador de cavaquinho) é um péssimo escritor. Imagino eu que deva ter tantos escritores por aí com talento nato para ser escritor enquanto um medíocre como esse otário consegue publicar com facilidade suas estorinhas insossas escritas enquanto está com prisão de ventre no banheiro. Faltou vergonha na cara do Bellotto aprender finalmente a tocar e a solar. Mais de trinta anos de estrada e o cara ainda não aprendeu a tocar? Teria sido melhor se ele tivesse virado banqueiro, engenheiro, empresário do que pagar mico tocando(???) guitarra. No Titanomaquia ele surpreendeu positivamente. Nunca ouvi tantos riffs inspirados e antológicos. Ele e seu amigo Marcelo Frommer formavam uma dupla sensacional de guitarristas. O Domingo também possui muitos riffs memoráveis do marido da Malu Mader. Mas verdade seja dita, o Sérgio Britto no Kleiderman era um guitarrista muito melhor do que o Bellotto. E era um guitarrista só, não era que nem nos Titãs que tinham dois guitarristas. Além do que pelo que eu sei, a maioria dos riffs do Titanomaquia foram criados pelo Sérgio Britto. O Bellotto só executava o que já tinha sido criado.

  5. Esse disco só não ficou pior pq na última hora eles deixaram de fora um forró composto pelo Branco Mello, inspirado depois de ter tido algumas aulas com o Chimbinha. Uma música horrenda que não ficaria nada mal em um disco do Chiclete com Banana. Interessante que o riff da música me parece com uma música dos Smiths. Estão duvidando do que estou falando? Então escutem com atenção. PS:Estava brincando quando falei sobre o Chimbinha rsrs.

    https://www.youtube.com/watch?v=_gJbk3ym-yc

  6. Milagre eles terem resgatado a Massacre. Essa é uma das melhores músicas deles. Meio que um lado B.

  7. Nem Sempre se Pode ser Deus é tocada com uma agressividade forçada e artificial. A iniciativa dos caras de resgatar músicas mais pesadas foi boa, mas a meu ver não funciona mais. Me desculpem mas a banda está enferrujada. Se eles tivessem acabado a mais de vinte anos atrás teriam feito a coisa certa, pelo menos não teriam gravado discos horrendos e medíocres.

  8. Branco Mello era o meu integrante favorito no velho Titãs pois sempre escolhia as músicas mais sacanas para ser o vocal principal. Porém, a voz dele realmente foi a que mais sentiu o peso da idade.

    Eu curto o último disco e ainda não ouvi o ao vivo, mas pelo que acompanhei alguns vídeos no youtube, eles tem mandado bem e o disco novo tem sido bem recebido pelos fãs nos shows. Algo raro, ainda mais no rock brasileiro.

    1. Sempre gostei mais das músicas com o Arnaldo cantando, e as que o próprio compunha também. Elas tem um gostinho mais experimental, e a voz dele é meio estranha. Tanto é que após o Arnaldo ter saído do Titãs, a banda sofreu imensamente com um período pouco inspirado. Consequência de sua saída? Pode ser…

      1. A banda perdeu muito com a saída do Arnaldo e com a morte do Frommer. Não tanto com o Nando porque apesar de que a maioria das músicas de outros estilos fora do rock serem dele, sei lá, sempre o achei deslocado demais do restante.

        Entretanto, não consigo gostar de nada do Arnaldo em carreira solo.

        1. Tem discos ótimos dele, especialmente o “Nome”, que é todo experimental, com coisa de musique concréte. O restante eu ainda ouvi pouca coisa.

          1. O Branco Mello de fato era o Titã que cantava as músicas mais pesadas e agressivas da banda, assim como o Britto na fase Titanomaquia. O Nando Reis sempre foi bicho-grilo, sempre compôs com exceção de Isso Para Mim é Perfume e Igreja, as músicas mais chatinhas e pop dos Titãs. E por causa disso ele quase seguiu o caminho de Arnaldo Antunes em 1992 e saiu da banda. Durante os ensaios de Titanomaquia, o disco mais pesado e radical da banda, ele se sentia completamente deslocado e não conseguia compor nenhuma canção que combinasse com o então novo estilo da banda. Só saiu quando sua carreira solo(insossa e chata por sinal) tinha se consolidado, então pode cair fora, já que não dependia mais do dinheiro da banda. O Charles Gavin saiu por outros motivos da banda, mas fez a coisa certa. O Titãs com todo o respeito é uma banda que já deu o que tinha que dar. Os caras perderam a muito tempo o felling e o carisma que tinham nos anos 80 e 90.

  9. Caras, vocês deram destaque a questão do “deluxe”, mas não falaram disso. Vocês falaram do dvd, já que o repertório é esse mesmo. As “faixas extras” de que falam são as que não saíram no cd.
    Em todo caso, boa resenha. Curto o disco novo. Esse ao vivo ficou legal, mas nada extraordinário. Ponto positivo terem tocado quaae todo o disco novo. Ótimo a presença de Massacre e Jesus, mas podiam ter escolhido melhor as mais pesadas. Nem sempre se pode ser deus já deu.
    Pela Paz entrou aí como jogada, visto que estão direto na rádio, quiseram dar o sucesso que ela não teve em 96/97. Foi uma redescoberta pensada.

    1. Dimas, na verdade esse é o “CD”, mas em formato digital, disponível no Spotify, lugar onde eu escutei o mesmo.

        1. Sim, foi lá que ouvi o disco pra fazer esse texto, por isso a observação lá no começo do texto.

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