Datas Especiais: 40 Anos de Machine Head
Machine Head |
Fireball (1971), o disco seguinte, não seguiu a mesma linha de seu antecessor, acrescentando mais experimentalismo ao som do grupo, e flertando com estilos como o funk e o country. Quando o Purple saiu em excursão para promovê-lo, percebeu que várias de suas composições não soavam muito bem ao vivo, e logo os músicos começaram a compor novos temas para preencher o set list, sendo que ainda durante esta turnê as músicas “Highway Star” e “Lazy” seriam apresentadas ao público. Esta “falta de adaptação” das músicas de Fireball ao palco, agregadas à procura menor por parte do público em relação ao disco anterior (ou seja, menos vendas), levou o grupo a tomar uma resolução para retomar o patamar atingido por In Rock. Naqueles tempo, isto significava gravar e lançar um novo disco, mesmo que tivessem passado apenas poucos meses desde que Fireball havia chegado às lojas.
Jon Lord, Ritchie Blackmore, Roger Glover, Ian Gillan e Ian Paice |
Aconselhados por seus contadores a gravarem fora da Inglaterra, devido às altas taxas do imposto de renda local, os membros do grupo passaram a considerar possíveis locais para registrarem seu próximo disco, e acabaram aceitando a sugestão do suíço Claude Nobs de usarem o teatro “Casino” de Montreux, o qual ficaria fechado durante três semanas em dezembro daquele ano. O Purple já havia se apresentado antes no local, e o considerou o lugar ideal para gravar o disco que os levaria de volta ao topo.
Imagem do incêndio no Casino de Montreux |
Graças à inestimável ajuda de Nobs, o quinteto acabou se alojando no Pavillion, um teatro próximo ao Casino. A equipe do grupo passou parte de uma tarde instalando lá seus equipamentos, e, durante o início da noite, os músicos começaram a experimentar diversas ideias musicais com seus instrumentos, até resolverem começar a gravar pouco depois da meia noite. Uma canção com o nome de trabalho “Title #1” deu início aos trabalhos, e seria a única registrada naquele local, pois, segundo Glover, “o barulho era tanto que parecia manter toda Montreux acordada”. Diversas ligações foram feitas às autoridades locais por moradores indignados, e a polícia foi até o local exigir que o grupo parasse com aquilo. Os roadies do Purple conseguiram conter os policiais até o grupo terminar de gravar a faixa, que acabaria depois sendo a parte instrumental de “Smoke On The Water”, cuja letra ainda não existia até aquele momento. Após conversarem com os policiais, estes exigiram que o quinteto realizasse suas gravações apenas no horário da tarde, coisa com a qual o grupo não concordou, pois gostava de fazer suas gravações na parte da noite. Sendo assim, novamente o grupo estava sem local para gravações, e o tempo ficando cada vez mais apertado.
Foto do encarte de Machine Head, com imagens da gravação do disco |
Gravações estas que não foram fáceis. Birch funcionava como um sexto membro do grupo, e, sendo um perfeccionista, diversas vezes obrigava os outros a refazerem certas canções. Acontece que as faixas básicas eram todas registradas “ao vivo” pelo quinteto, o que obrigava todos a repetirem suas partes caso o engenheiro não concordasse com algo que houvesse sido registrado. Isso para não citar o imenso trabalho que os músicos tinham para conseguir escutar aquilo que haviam gravado. Segundo os depoimentos dos membros do quinteto no excelente DVD da série “Classic Albums” que trata de Machine Head, para saírem do corredor onde as faixas eram gravadas e chegar até a entrada do hotel, onde estava o caminhão com o estúdio móvel, e poderem ouvir o playback de seu trabalho, eles tinham de “sair da área onde estavam gravando, entrar em um quarto, sair pela janela do quarto para uma sacada, passar para outra sacada (enfrentando a insistente neve que caía sempre), atravessar por outro quarto, atravessar duas portas para uma plataforma que levava a uma escada sinuosa, passar pelo hall de entrada do hotel, chegar à porta da frente, cruzar o pátio de entrada e finalmente chegar ao caminhão. Subir os degraus do caminhão, abrir a porta, ouvir as fitas, verificar o que haviam feito de errado, e fazer todo o caminho de volta para regravar as faixas”. Com o tempo, o grupo passou a aceitar a opinião de Martin ao invés de fazer todo este trajeto, e apenas regravava o que ele ordenasse.
Parte do encarte de Machine Head |
Três semanas e três dias depois de iniciadas as gravações, as sete faixas que comporiam Machine Head (cujo título foi sugerido por Glover, e significa a cravelha ou tarraxa de um instrumento musical) estavam devidamente registradas, além de uma oitava, “When A Blind Man Cries”, que não entrou no álbum por exigência de Blackmore, visto este não ter gostado de seu arranjo, e que acabou como lado B do primeiro single, a “swingada” e pouco expressiva “Never Before”. Além desta e das já citadas “Highway Star” (composta durante uma entrevista dada no tour bus do grupo, quando um jornalista perguntou como eles compunham suas músicas e Ritchie disse que ele apenas compunha um riff e a banda o seguia, “como, por exemplo, algo assim”, e saiu tocando o início da canção. Gillan improvisou uma letra, o grupo trabalhou no arranjo, e a canção foi apresentada pela primeira vez já naquela noite mesmo) e “Lazy” (com sua introdução que mostra a excelência do lado clássico de Jon Lord), ainda diziam presentes as excepcionais “Pictures Of Home“, que por anos foi deixada de lado pela banda na escolha de seus set lists, até ser resgatada por Steve Morse quando este juntou-se ao Purple, sendo presença constante nos palcos desde então (e a minha favorita dentre todas as faixas deste álbum) e a pesada “Space Truckin’“, além de “Maybe I’m A Leo” (que traz um lado blues à música do Purple que não era muito conhecido até então) e de “Smoke On The Water”, que conta a história real da gravação do disco e que, curiosamente, só foi incluída no set list já ao final da tour de promoção do disco, sendo presença obrigatória nos shows do grupo dali para frente, em todas as formações do quinteto.
Contracapa de Machine Head |
Em 1997, foi lançada uma edição de vigésimo quinto aniversário com novos remixes feitos por Roger Glover, os quais adicionaram novas nuances às músicas originais, além de dar continuidade a canções que antes acabavam em fade out e incluir alguns diálogos e brincadeiras executadas antes do início das canções. Estas novas versões dão nova vida a este que é um dos mais importantes discos de hard rock já lançados, e um item essencial na prateleira de qualquer um que se considere um apreciador do som pesado.
Capa da edição de 25 anos de Machine Head |
Cabe citar ainda que foi na tour de Machine Head que o Deep Purple gravou, durante três noites de agosto de 1972, o álbum Made In Japan, seríssimo candidato a “melhor disco ao vivo da história” (sendo que, para mim, só fica atrás da versão dupla de At Fillmore East do Allman Brothers, o Fillmore Concerts), e outro disco obrigatório aos fãs de hard rock. Mas isto é assunto para outra matéria…
Indiscutivelmente um clássico. Não tem uma música ruim nesse disco. Grande fase dos caras, como músicos e compositores….
Belo registro histórico, trazendo informações extremamente novas para muitos que se quer sabem que o Deep Purple é a banda que gravou aquela musica que seu amigo estava tocando ontem.
Acho o disco bom, mas não o melhor da fase Gillan (posto esse que fica com Concerto em minha modesta opinião), mas é inegável a importância histórica de Machine Head.
Muito tri
Alguém sabe explicar por que a capa do Machine Head é da forma que é???
O album predileto de Ozzy Osbourne – Marcio Silva de Almeida/joinville – SC
Machine Head sem “When a Blind Man Cries” não tem graça (tal como The Number of the Beast sem “Total Eclipse”, por exemplo). Dá um jeito aí, Tio Blackmore!