“Nevermore” surge  com Holdsworth esbanjando virtuosismo no violão, acompanhado por  acordes de sintetizadoers e fazendo um curto tema. Bruford surge com  marcações no chimbal e Wetton começa a cantar, com o moog acompanhando a  melodia do vocal. Bruford faz uma virada e passa a comandar o ritmo da  canção, dessa vez sem muitas invenções.
O  baixo de Wetton se destaca durante os solos de Holdsworth e Jobson,  onde a alternância entre guitarra e teclado cria um clima ótimo e  dançante junto à marcação quebrada e à pegada de Bruford e Wetton.  Holdsworth e Jobson fazem o mesmo tema, e Wetton grita o nome da canção,  retornando à letra na melodia deste último tema, levando assim para a  viajante sessão somente com sintetizadores, com muitos eletrônicos.
Wetton  passa a cantar sobre os acordes de Jobson, enquanto Bruford, em um  mundo paralelo, faz diversos rolos, levando ao solo de Holdsworth, que  encerra a canção com mais um show à parte feito por Bruford.
O  LP encerra com “Mental Medication”, onde os acordes jazzísticos da  guitarra, bem como sintetizadores, apresentam os vocais de Wetton na  mesma melodia desses acordes. Bateria e baixo surgem dando ritmo para a  canção, acompanhados pelas intrincadas sessões de teclados, com Bruford  fazendo misérias na bateria. Essa parte recheia o tema central da  canção, antecedendo o virtuoso solo de Holdsworth, onde novamente Wetton  e Bruford se destacam com um andamento dançante e swingado, e ao mesmo  tempo extremamente complicado.
O  mesmo acompanhamento está presente no solo de violino feito por Jobson,  levando ao encerramento da canção com as frases iniciais de Wetton, e  com sintetizadores e guitarra repetindo a melodia inicial.
Bozzio  era um proeminente garoto que tinha no currículo uma excelente  participação trabalhando ao lado de Frank Zappa, registrando álbuns como Zoot Allures (1976) e In New York (1978).
Então, entre novembro de 1978 e janeiro de 1979, passam a  trabalhar no Air Studios, onde registram uma famosa foto com casacos de pele em um embranquiçado dia de neve (similar a outra famosa foto do  grupo Emerson Lake & Palmer). As alterações no UK mostravam que o  grupo tinha adquirido uma nova personalidade. Apesar da sentida  ausência, principalmente de Bruford, em alguns momentos, o UK inovava na  utilização dos sintetizadores, e Jobson tornava-se cada vez mais  especialista no violino elétrico, tirando sons que seriam copiados por  sintetizadores diversos durante toda a década de 80. Além disso, Bozzio  trouxe mais peso e velocidade ao ritmo do UK, o que para os fãs da  primeira encarnação, acabou não soando tão bem.
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| A estreia do UK como trio | 
Em                março de 1979 era lançado o álbum de estreia da nova formação do grupo. Danger Money apresentava  o que já vinha sendo conferido nas apresentações e ensaios que o UK  estava fazendo: peso e virtuosismo empregados em doses perfeitas para o  fã de rock progressivo.
O  álbum abre com a faixa-título. “Danger Money” começa com os sombrios  acordes de teclados e das batidas de Bozzio empilhando viajantes acordes  que diminuem o tom até Wetton começar a cantar o nome da canção na  melodia do tema principal, feito por teclados e baixo. A letra  desenvolve-se em um interessante duelo vocal de Wetton com ele mesmo, em  uma canção que pode se dizer precursora do estilo AOR que marcaria a  carreira de Wetton anos depois ao lado de grupos como Asia e Phenomena.
O  refrão entoando o nome da canção é repetido e o duelo vocal segue,  para então mais uma vez surgir o tema central, chegando ao solo de  Jobson, onde ele primeiramente apenas marca o tempo com o sintetizador  enquanto faz um estranho tema com outro sintetizador. Wetton e Bozzio  acompanham os acordes de marcação de Jobson, e aqui claramente  percebemos a ausência de Bruford, já que o andamento de Bozzio é muito  convencional, não saindo das batidas bumbo-caixa, enquanto que Bruford  estaria fazendo grandes peripécias com seu kit.
O  tema central retorna, e Jobson dá sequência aos seus acordes, retomando  o tema principal e Wetton encerrando a letra, sem antes deixar de  repetir o refrão, com o sombrio início completando a canção.
“Rendezvous  6.02” vem a seguir, com piano elétrico, baixo e chimbal apresentando  outra canção na linha do Asia na fase inicial, principalmente pela  melodia vocal de Wetton. O tímido refrão apenas entoa o nome da canção, e  após mais uma breve estrofe, temos o solo de piano de Jobson, com  Wetton fazendo boas escalas no baixo e onde Bozzio finalmente se  apresenta para os fãs do UK, com boas e rápidas viradas, voltando então  para o refrão e ao encerramento da canção com mais uma estrofe da letra  de Wetton.
O  lado A encerra-se com a pérola “The Only Thing She Needs”, que começa  com um ótimo solo de Bozzio. Marcações de baixo, bateria e teclados,  trazem o tema principal, com a canção virando uma dançante faixa  comandada pela marcação de Wetton e Bozzio, onde Jobson sola utilizando  violino e sintetizadores. O tema dos teclados aumenta de velocidade, e  então Wetton passa a cantar sobre o andamento dos teclados, baixo e  bateria, com Bozzio novamente fazendo uma boa performance.
Mais  um curto solo de Bozzio e voltamos ao início da canção, para Wetton  seguir a letra. Bozzio executa uma rápida virada que leva ao início dos  solos de Jobson, primeiramente ao piano elétrico, e tendo apenas a  companhia de intervenções de Bozzio. Wetton então passa a marcar o tempo  enquanto Bozzio e Jobson travam uma batalha particular, chegando ao  clímax da canção no delirante solo de violino, que antecede os ritmos  oitentistas que apareceriam em diversas bandas posteriormente, com uma  pegada fantástica de Bozzio e Wetton, além do próprio Jobson fazendo  acordes no seu órgão hammond, que são seguidos por um virtuoso solo no  mesmo instrumento.
Um  crescendo dos acordes, onde o destaque vai para as escalas de Wetton, e  essa excelente faixa encerra-se com longos acordes do baixo e dos  sintetizadores, entre rápidas viradas executadas por Bozzio.
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| Jobson, Wetton e Bozzio ao vivo em 1979 | 
“Caesar’s  Palace Blues” abre o lado B com longos acordes de violino entre batidas  de Bozzio e marcacão de Wetton. Bozzio novamente trabalha muito bem, e  Jobson apresenta o intrincado tema central nos teclados, seguido pelo  baixo e pela marcação de Bozzio. Violinos surgem trazendo o vocal de  Wetton, entoando o nome da canção entre as intervenções do violino.  Aliás, essa é a canção da carreira do UK onde Jobson mais utiliza esse  instrumento, que também irá aparecer bastante nas duas faixas seguintes.  O solo que Jobson faz aqui, utilizando-se de escalas similares as de  Darryl Way (Curved Air) é sensacional, levando então para o encerramento  da canção.
“Nothing to Lose” já possui um andamento bem mais oitentista, recheado de  teclados e com a marcação cavalgando lentamente pelo baixo e bateria.  Temos claramente um embrião de Asia, recheado de vocalizações que entoam  o nome da canção, e em um andamento que só não é mais parecido com o  Asia primeiramente por que ele ainda não existia, e segundo pela  ausência das guitarras de Steve Howe. Essa canção é perfeita para os  amantes do estilo, e facilmente poderia ter se transformado em trilha de  propaganda de cigarros. Destaque para mais um interessante solo de  violino feito por Jobson.
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| Jobson, Wetton e Bozzio | 
O  LP encerra-se com mais uma joia. Sintetizadores vagarosamente  introduzem “Carrying No Cross”, acompanhados de muitos eletrônicos, até  Wetton começar a cantar. Resquícios de King Crimson surgem na melodia  vocal de Wetton, que está acompanhado apenas pelos sintetizadores. A  bateria aparece, e o climão viajante de canções como “Starless and Bible  Back”, “The Night Watch” e “Exiles” (todas do King Crimson) toma conta  do recinto a partir dos teclados e do violino.
Wetton  segue a letra da canção, e assim começa a sequência de solos de  Jobson. Para os que consideram o tecladista/violinista apenas um mero  coadjuvante nas bandas por onde passou, essa é a canção que ele  precisava para demonstrar suas habilidades e gravar seu nome como um dos  principais nomes do rock progressivo. Com o piano elétrico, Jobson  começa a solar acompanhado pela forte marcação de Wetton e Bozzio.  Intrincadas intervenções do hammond modificam a canção, que ganha um  ritmo veloz com Bozzio utilizando bastante os dois bumbos, além de  viradas precisas que se encaixam perfeitamente com o que Jobson está  fazendo no piano elétrico.
Wetton  passa a fazer uma marcação que dita o ritmo da sequência da canção,  enquanto Jobson delira nos sintetizadores e Bozzio cria um ritmo  totalmente insano para acompanhar a doideira de Jobson e a marcação de  Wetton. Jobson salta como Keith Emerson para o hammond, fazendo um dos  melhores solos de sua carreira, para então, com os sintetizadores,  executar os acordes que Wetton permanece incansavelmente executando.  Jobson ainda executa um virtuoso solo com o piano, que então o leva para  a utilização de diversos eletrônicos, enquanto Bozzio destrói atrás do  bumbo.
Finalmente, a canção ganha uma cadência que leva para o solo de violino, com a melhor canção de Danger Money encerrando-se tendo apenas Wetton cantando o final da letra acompanhado pelos eletrônicos de Jobson. 
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| O derradeiro Night After Night | 
O  UK partiu para uma excursão mundial, passando por países como Alemanha,  Inglaterra, França, Estados Unidos e Japão, onde as apresentações no  Sun Plaza e no Seinen Kan de Tóquio foram registradas no álbum 
Night After Night (1979), com o grupo lançando duas canções inéditas: “Night After Night” e “As Long As You Want Me Here”. 
 Após o lançamento desse álbum ao vivo, o UK encerrou  suas atividades, com os músicos partindo para projetos individuais, onde  Wetton foi montar o Asia ao lado de Steve Howe, Geoff Downes (teclados) e Carl Palmer (bateria), Jobson integrando o Jethro Tull e  Bozzio criando a banda Missing Persons, ao lado de Dale Bozzio (esposa  do baterista) nos vocais, Patrick O’Hearn (baixo, que havia tocado com  Bozzio na banda de Frank Zappa) e Warren Cucurullo (guitarra, também  ex-membro da banda de Zappa).
Em 1998, saiu o álbum 
Concert Classics Vol. 4 – UK, trazendo uma apresentação do grupo com a formação original em 1978. Wetton e Jobson lançariam ainda o álbum 
Legacy, trazendo como convidados músicos como Bruford e Steve Hackett (Genesis), mas que acabou sendo abortado.
 Fundado  por alguns dos maiores nomes do cenário  progressivo mundial, o UK  obteve em sua curta carreira o respeito e a  admiração do público e da  crítica especializada, apresentando uma  sonoridade que associava as  novas tendências do rock progressivo  e também utilizando-se da formação jazzista de seus  integrantes, culminando com o surgimento do estilo que ficou conhecido como Adult  Oriented Rock (AOR) e gravando no hall dos grandes nomes do rock progressivo uma excelência essencialmente britânica, ou seja, perfeita!
Baita bola, Mairon, acabaste fazendo praticamente um "discografias comentadas" de luxo da banda. Até hoje eu conhecia apenas "In the Dead of Night", mas já corri atrás da discografia do grupo e ouvi os dois primeiros álbuns do UK. Ainda preciso ouvir beeeem mais, mas a banda me agradou de cara, em especial o primeiro disco, com meu mais forte candidato a baterista favorito EVER. E quem pensa que Eddie Jobson, por ser menos conhecido que os outros integrantes, faz papel de coadjuvante, está muito enganado.
Muito bom mesmo esse seu texto Mairon. Eu também acho o Bill Bruford o melhor baterista de todos os tempos. O cara saiu do Yes onde o virtuosismo é colossal porque ele não podia ele se sentia limitado!!!!! O qu eé isso!!! E tem gente que ainda paga pau para cada zé ruela por aí…
Só ouvi até hoje o Danger Money. Ouvi poucas vezes, mas a verdade é que não agradou muito..
Vou conferir esse primeiro. Bruford e Holdsworth! Difícil não ser sensacional!!
Groucho, o U. K. é fantástico. O que o Bruford faz na bateria é de tirar o chapéu e comê-lo inteiro. Vá atrás! E Diogo, tu tens tazão, o Jobson para coadjuvante somente no Jethro. No más, por onde ele passou, o cara sempre mandou bem. Fernando, discutir se o Bruford é o melhor baterista de todos os tempos as vezes é complicado. Na época dele, Carl Palmer, Neil Peart e até o Phil Collins tocavam muito. Só que com o passar dos anos, o Bruford foi o UNICO que manteve a mesma técnica, e tocando excepcionalmente, enquanto os outros viraram algo q prefiro não escrever aqui.
Muito bom! Concerteza isso ajudará muita gente.
Obrigado meu caro Paulo. Abraços
Excelente texto! Parabéns.
Ouvindo agora o CD duplo The UK Collection, com os três LPs numa embalagem bem pobre, mas conveniente. Realmente, o UK era fantástico, e apesar de Terry Bozzio set um baterista de respeito, ninguém supera o mestre Bill Bruford nesse tipo de som. Mental Medication é uma música para se obrigar as pessoas a ouvirem em pé, em posição de respeito!
Em tempo: será que é sonhar demais imaginar um lançamento de sobras de gravação com material inédito?
Seria sensacional, ainda mais em vídeos. Há poucos registros no mercado. Seria perfeito!!! E sim, Bruford é o maior baterista da história. O que ele estava tocando nessa década de 70 é inacreditável