Minhas 10 Favoritas com Nomes de Mulheres

Minhas 10 Favoritas com Nomes de Mulheres

Por Marcello Zapelini

Desde que essa seção foi criada, eu ficava pensando em como participar dela; bandas muito populares levariam a discussões intermináveis, bandas que eu adoro me levariam a cometer injustiças com músicas de alto nível, bandas obscuras não atrairiam ninguém. Então, pensei que talvez escolher um tema pudesse ser algo interessante de se fazer, e comecei a pensar em qual poderia ser explorado. Enquanto ouvia “Marcella”, dos Beach Boys, veio o estalo: por que não escolher dez músicas favoritas que levam os nomes das suas musas inspiradoras?

Nem todas são canções de amor, ou de adoração a uma garota dos sonhos, ou de crítica à mulher cruel que partiu o coração do autor/intérprete. Após uma lista preliminar com mais de 30 músicas, veio o processo de ouvir uma a uma e escolher apenas 10. Após todo esse trabalho, surgiu essa lista que organizei em ordem alfabética para não ter que escolher a melhor (podia tê-lo feito cronologicamente, mas simplesmente não tive essa ideia). Como sempre gosto de fazer, incluí algumas adicionais no final por conta de predileções pessoais ou apenas por curiosidade. E fica a pergunta: quem eram a Jane e a Emily?

Angela Bowie nos anos 70

“Angie” – Goat’s Head Soup (Rolling Stones) [1973]
Essa bela e triste balada teria sido escrita para a esposa de David Bowie, para a atriz Angie Dickinson, ou para a filha de Keith Richards, Dandelion Angela, que atendia por esse apelido (eventualmente, Richards disse que apenas gostava do nome e o sugeriu a Jagger como título). Mick Jagger, que sempre foi conhecido pela misoginia nas suas letras, aqui assume o papel de um homem que lamenta o fim do seu relacionamento com Angie, admite que ainda a ama e que não conhece nenhuma mulher que se compare a ela. Não fica claro porque o relacionamento entre Angie e o protagonista terminou, mas ela também não se saiu muito bem, pois ele diz que odeia a tristeza nos olhos dela; o que fica claro é que ele quer uma nova chance com Angie. Com o vocal frágil de Mick Jagger, Keith e Mick Taylor nos violões, Nicky Hopkins no piano, Charlie Watts na bateria, o baixo sutil de Bill Wyman e um arranjo de cordas de Nicky Harrison, “Angie” fez grande sucesso, liderando a parada americana (mas ficando no 5º lugar na inglesa), e foi interpretada ao vivo muitas vezes (a versão do álbum Brussels Affair, de 1973, traz guitarras no lugar dos violões, e um solo excepcional de Taylor).


“Guinevere” – The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of Round Table (Rick Wakeman) [1975]
Tecnicamente falando, ao se tratar de Rick Wakeman, qualquer uma das seis esposas de Henrique VIII poderia estar aqui, mas não consegui escolher uma das músicas; por isso optei pela esposa do rei Arthur. A letra de Wakeman fala não apenas do amor de Arthur por sua rainha, mas também da paixão que ela e o cavaleiro Lancelot viveram enquanto o rei parecia estar mais preocupado em combater pelo seu reino do que estar com sua esposa. A música é aberta por Rick ao piano, e depois que o resto dos instrumentos entra no arranjo, o tema de Arthur é repetido no sintetizador ao longo dela para reforçar a conexão entre os dois. “Guinevere” é uma das minhas favoritas no álbum, em que a orquestra e o coral apenas reforçam a beleza da melodia, sem se intrometer excessivamente, e o English Rock Ensemble tem chances de brilhar. O álbum fez grande sucesso e as apresentações ao vivo incluíram o Brasil no roteiro, e foi relançado em 2016 com músicas adicionais, escritas à época e não lançadas por causa das limitações de um vinil simples. A rainha Guinevere é comparada a uma mulher contemporânea por David Crosby em música do primeiro disco do Crosby Stills & Nash, mas como não consegui escolher entre a versão original e a de Miles Davis, decidi que Rick Wakeman ocuparia lugar na minha lista.


“Jangalene” – Together (Golden Earring) [1972]
Na lista há alguns nomes femininos bonitos, que eu poderia de bom grado ter dado a uma filha (se tivesse tido uma), mas com toda franqueza, Jangalene não é um nome bom nem mesmo para se dar para uma cachorrinha. Apesar do nome infame, essa música do Golden Earring é uma das que mais gosto da banda. Parte do (bom) álbum Together, de 1972, “Jangalene” foi escrita pelo guitarrista George Kooymans e traz a formação clássica com Kooymans, Barry Hay (vocal e harmônica), Rinus Gerritsen (baixo) e Cesar Zuiderwijk (bateria). A letra é bem simples, e nos faz concluir que Jangalene é uma gata, um sonho passando num Cadillac da Sunset Strip até Sausalito, com o protagonista a seguindo em seu carro de segunda mão. Após uma longa introdução acústica, a música ganha peso e Hay faz dois solos de harmônica antes dela acabar. Kooymans acaba não fazendo nenhum solo, mas é um dos destaques tanto na guitarra elétrica quanto no violão, e o ótimo baterista Zuiderwijk mostra porque impressionou Pete Townshend. Se você não conhece, vá atrás! A versão inteiramente acústica em Naked é muito boa e merece uma conferida também.


“Janine” – David Bowie (David Bowie) [1969]
“Janine”, gravada por Bowie em seu segundo LP (de 1969, posteriormente rebatizado Space Oddity para destacar sua música mais famosa), não está entre as músicas mais conhecidas do Camaleão do rock, mas é uma música agradavelmente rocker em um disco meio folk, que certamente merecia mais sucesso (só saiu em single como lado B de “All the Madmen”, do disco seguinte). Janine era namorada do velho amigo de Bowie, o artista plástico George Underwood, e a letra é bastante obscura; Bowie declarou que era difícil de falar a respeito dela sem soar negativo, e o próprio Underwood disse em entrevista que não tinha entendido a letra, pois sempre pensara que Janine e David eram amigos. Bowie gravou a música com apoio do guitarrista Tim Renwick, músico de estúdio bem requisitado na época, responsável pela guitarra proeminente no arranjo. Em demo disponível na box set Conversation Piece, Bowie engata um “na-na-na-na” como o de “Hey Jude”. Há uma boa versão ao vivo no álbum Bowie at the Beeb, que dá uma ideia de como ela soava ao vivo; Bowie parou de tocá-la em shows no começo de 1970 e nunca a revisitou.


“Layla” – Layla And Other Assorted Love Songs (Derek & The Dominos) [1970]
Não poderia faltar a declaração desesperada de amor de Eric Clapton pela esposa do seu melhor amigo. Sabe-se que George Harrison não era exatamente o melhor marido do mundo, e a letra reflete isso: Eric percebe que Layla/Patti (a garota que ilustra a matéria) está sofrendo e ele pode lhe oferecer algo melhor, pode lhe dar o amor que ela merece. Entretanto, Clapton sabe que foi um tolo em se apaixonar por Layla, pois se ela não corresponder, ele acabará ficando sem a mulher e sem o amigo. Mas ainda assim ele precisa pedir uma chance para não sofrer tanto – e só quem já viveu um amor impossível (não precisa se apaixonar pela namorada ou esposa de um amigo) sabe o quanto isso é doloroso. O vocal de Eric reflete a dor que ele sentia, e o riff marcante de guitarra é superado pelo slide fantástico de Duane Allman. A famosa coda instrumental tinha sido composta independentemente ao piano pelo baterista Jim Gordon, que precisou ser convencido a permitir que fosse adicionada à música. “Layla” é uma das músicas mais conhecidas de Clapton, mas curiosamente só foi ter uma versão ao vivo oficial nos anos 90 – o guitarrista disse que pensava que ela estava nos discos ao vivo anteriores e acaba não a selecionando.

Guinevere, na representação do álbum de Rick Wakeman

“Sweet Lorraine” – Magician’s Birthday (Uriah Heep) [1972]
Uma música em homenagem a uma bruxa? Por que não? Lançada no ótimo Magician’s Birthday de 1972, “Sweet Lorraine” tem no sintetizador de Ken Hensley sua marca registrada, mas a linha de baixo de Gary Thain é simplesmente sensacional. A guitarra com wah-wah de Mick Box tem pouco espaço, mas brilha quando pode, e a bateria de Lee Kerslake também é muito legal. Em cima disso tudo, a interpretação perfeita de David Byron e os backing vocals dos outros fazem a letra se destacar, ainda que seja bem simples. Lorraine e o protagonista tomam uma poção mágica juntos e embarcam numa viagem bem pessoal pelo mundo dos sonhos, sentindo a brisa e nadando pelo mar. Embora seja comum nas coletâneas e possua algumas versões ao vivo (a lançada no “Live” de 1973 é fantástica), “Sweet Lorraine” só saiu em compacto nos EUA, Canadá, França e Itália, sem grande sucesso na parada.


Melissa – Eat A Peach (The Allman Brothers Band) [1972]
Aqui ficou meio difícil de escolher, pois a Allman Brothers tem várias músicas com nomes de mulheres; podia ter colocado “Little Martha”, “Jessica”, “In Memory of Elizabeth Reed”, mas optei por “Melissa”. Lançada em Eat a Peach, o híbrido ao vivo/estúdio que trouxe as últimas gravações de Duane, “Melissa” é uma bela e triste composição de Gregg Allman que saiu em compacto com “Blue Sky” (tanto como lado A, tanto como B). O protagonista é descrito como um cigano que vive de um lado para outro, sem se relacionar com ninguém à exceção de Melissa; fica claro que o homem adora viver sem rumo, mas sempre sonha em voltar para sua amada. Nas suas memórias, Gregg disse que ouviu uma mãe em uma loja chamando a filha Melissa, que brincava de fugir dela na fila para comprar leite, e ele soou melhor do que “Delilah”, nome original da mulher. Embora tenha sido começada em 1967, só em 1972 Gregg a concluiu (e a tocou no funeral do irmão); ele e Dickey Betts tocam violão, e a slide guitar que tanto se destaca é obra de Betts, pois a música foi gravada depois da morte de Duane Allman. Berry Oakley, Jaimoe e Butch Trucks completam o lineup dessa música que teria uma bela versão ao vivo no Unplugged MTV da banda no início dos anos 90.


“Peggy Sue” – Buddy Holly (Buddy Holly) [1958]
Queria colocar um clássico do rock cinquentista, e “Carol”, “Maybelline” e “Lucille” pareciam ser boas escolhas; em vez disso, decidi que valia a pena trazer de volta Buddy e seu visual de nerd. Composição de Holly, Jerry Allison (baterista dos Crickets, a banda de apoio) e do produtor Norman Petty, “Peggy Sue” foi lançada originalmente como lado B do single com “Everyday” em 1957, bem como no seu primeiro LP (que basicamente era uma coletânea de compactos previamente lançados), que saiu em fevereiro de 1958. Buddy está perdidamente apaixonado pela Peggy Sue na letra, inocente e delicada como convém a uma música dos anos 50, deixando claro que seu amor por ela é sincero, e quando não estão juntos, ele sente muito a sua falta. Gosto muito da bateria de Jerry Allison nessa música, um dos rocks mais antigos que conheço a dar destaque a esse instrumento, e o interlúdio de guitarras é bem interessante (não se pode chamá-lo exatamente de solo, mas nem por isso deixa de chamar a atenção). Em 1959, pouco depois da morte de Holly, sairia “Peggy Sue Got Married”, uma continuação da história, em que um amigo lhe conta que, apesar de tudo, Peggy Sue se casou com outro homem – e a musa agora usa uma aliança de ouro. Nos anos 80, “Peggy Sue Got Married” virou um filme de Francis Ford Coppola, estrelado pela bela atriz Kathleen Turner.


“Rhiannon” – Fleetwood Mac (Fleetwood Mac) [1975]
Stevie Nicks dedicou essa música à uma mulher lendária do folclore galês que ela erroneamente chamava de bruxa nos shows. Ela já interpretava essa música com Lindsey Buckingham, mas foi gravada no primeiro LP da dupla com o Mac, tornando-se uma de suas composições mais famosas. O nome Rhiannon veio da personagem principal de um livro que Nicks leu e a impressionou muito, mas, na verdade, há pouco dela letra; não conheço o livro, mas a da música é uma mulher poderosa e sedutora que busca o amor, uma mulher que é como um gato na escuridão e que pode lhe prometer o paraíso. Lançada como single em 1976, “Rhiannon” atingiu o 9º lugar na Cash Box e o 11º na Billboard, contribuindo para o sucesso do álbum Fleetwood Mac de 1975. Ao vivo, Nicks interpretava apaixonadamente a música, tanto que, quando ela saiu do Mac no começo dos anos 90, sua substituta Bekka Bramlett não quis cantá-la por acreditar que a música estava inextricavelmente ligada à sua antecessora. Sábia decisão!


“Sylvia” – Focus at the Rainbow (Focus) [1973]
Essa foi a mais fácil de escolher. A única música instrumental selecionada para esta seção foi não só uma das primeiras do Focus que eu ouvi, como foi a que me fez gostar da banda holandesa. Destaco a versão que aparece no excelente Focus at the Rainbow: a introdução com a guitarra precisa de Jan Akkerman, levemente funky, conduz ao riff de órgão de Thijs van Leer, que ainda embeleza a canção com algumas vocalizações. Some-se a isso a bateria jazzística (ainda que um tanto pesada aqui) de Pierre van der Linden e o baixo preciso de Bert Ruiter, e o que se tem são alguns breves minutos de puro êxtase musical. A versão original, gravada no bem-sucedido álbum duplo Focus 3, não é tão boa quanto a do disco ao vivo, mas de todo modo nos permite concluir que “Sylvia” é misteriosa, mas indubitavelmente bela, senão não seria homenageada com essa pequena obra-prima dos mestres holandeses. Lançada como single, “Sylvia” chegou ao 4º lugar na parada britânica e é o segundo maior hit do grupo, perdendo apenas para “Hocus Pocus”.


Bonus tracks:
Jane tem várias faces e já inspirou diversas músicas. Jane já foi uma Lady, doce e delicada, que despertou um lado romântico de Mick Jagger que ninguém conhecia nos anos 60 (“Lady Jane”). Mas talvez Jane fosse uma rainha, e Bob Dylan perguntava “Won’t you come see me, Queen Jane?” em seu “Highway 61 Revisited”. E embora Jane usasse um colete e trabalhasse num escritório, ela era uma mulher doce que inspirou Lou Reed nos tempos do Velvet Underground (“Sweet Jane”) – e Lou devia gostar muito de Jane, porque ela reapareceu em vários discos ao vivo dele (sem contar que inspirou o Mott The Hoople e o Cowboy Junkies a regravar a música). Apesar de tanta idolatria, Jane também sabia ser cruel: ela rompeu com o protagonista, algo que ele não aceitou, no hit do Jefferson Starship (no álbum “Freedom at Point Zero”) simplesmente intitulado “Jane”. E Jane (ou melhor, Janie) mostrou toda sua fibra ao acabar com o pai abusivo na sombria “Janie’s Got a Gun”, do Aerosmith. Jane é muito mais do que uma gata!

E quanto a Emily? Admiravelmente cantada por Art Garfunkel na delicada balada “For Emily, Whenever I May Find Her”, do álbum “Parsley, Sage, Rosemary, and Thyme”, de Simon and Garfunkel, Emily era mais leve do que a chuva e tinha cabelos cor de mel. Infelizmente, ela conheceu Syd Barrett e começou a pegar emprestados os sonhos das outras pessoas em “See Emily Play”, e no mês de maio ela endoidou de vez; a pobre Emily, solitária, abandonada, não era amada por ninguém em “A Rose for Emily”, do The Zombies, e ninguém lhe dava uma rosa (nem colocaram rosas em sua sepultura). Mas sua redenção viria ao reencarnar como a filha de John Lodge em “Emily’s Song”, do álbum “Every Good Boy Deserves Favour” (Moody Blues). O paizão Lodge está perdido de amor pela sua filha, e promete que sempre estará com ela, mesmo que não a entenda. Emily sumiu por vinte anos, e quando nós a reencontramos, ela está num cemitério, rezando por algum herói que se foi – e lá Elton John a encontrou e escreveu uma música com seu nome, lançada em “The One”.

2 comentários sobre “Minhas 10 Favoritas com Nomes de Mulheres

  1. Há uma bela canção da banda Fairfield Parlour, do álbum “From home to home”, de 1970, chamada “Emily”. Vale uma audição.
    Assim de cabeça, me vêm:
    “Song for Susie” (Heads Hands & Feet);
    “Suzanne” (Leonard Cohen)
    “Vanessa Simmons” e “Galadriel” (Barclay James Harvest)
    “Mary Clarke” (Steeplechase)
    “Aubrey” (Bread)
    “Mary, Mary so contrary” (Can)
    “Isadora” (Illusion)
    “Cynthia Gerome” (Chrysalis)
    “Lydia Purple” (The Collectors)
    “Clarice” (America) – o nome de minha filha caçula…
    “Delilah” (The Sensational Alex Harvey Band)
    “Lisa” (Cressida)
    “Cross eyed Mary” (Jethro Tull)
    “For Melanie” (Matthews Southern Comfort)
    “Bella” (Carlos Santana)

  2. Amanda – Boston
    Jane – Jefferson Starship
    Rosanna – TOTO
    Mary on a cross – Ghost
    Lucille -BB King
    Chiquita – Aerosmith
    Luanne – Foreigner
    Kayleigh – Marillion
    Lola -The Kinks
    Beth – Kiss
    Sarah – Thin Lizzy
    Carmelita – Warren Zevon
    Espero ter colaborado…

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