AC / DC – 30 anos de Ballbreaker [1995]
![AC / DC – 30 anos de Ballbreaker [1995]](https://arquivos.consultoriadorock.com/content/2025/09/81vqy2IIFfL._UF10001000_QL80_.jpg)
Por Davi Pascale
Há 30 anos, chegava ao mercado Ballbreaker, décimo terceiro álbum de inéditas do AC/DC. O disco – que gerou single de sucesso – foi produzido por Rick Rubin e marcava a volta do baterista Phil Rudd. Vamos lá entender um pouco mais dessa história.
Na década de 90, o AC/DC já era considerado uma lenda do rock, mas havia um tempo que seus discos vinham dividindo opiniões. Desde For Those About to Rock que o grupo não lançava um álbum que era celebrado. Havia quem acusasse as mixagens (especialmente em Fly On The Wall), existia quem culpasse as composições (algo que ocorreu muito em Flick of The Switch), portanto parecia uma boa ideia convidar Rick Rubin para a produção. Afinal, ele era um fã declarado e dizia que queria resgatar a sonoridade clássica da banda.
Rubin já havia oferecido seus préstimos na época de The Razor´s Edge, mas o grupo já havia fechado um acordo com Bruce Fairbairn e decidiram seguir com ele. Quando chegou o pedido para que fizessem uma música para a trilha sonora de Last Action Hero (O Último Grande Herói), os músicos resolveram dar uma chance ao rapaz e a parceria deu certo. “Big Gun” teve uma boa repercussão e o grupo gostou de como a faixa soava, sendo assim, por que não dar uma chance?

Chegou Julho de 1994 e o AC/DC começou a trabalhar na criação do novo álbum. As primeiras músicas foram criadas ainda em formato de trio com Angus Young na guitarra, Malcom Young assumindo as 4 cordas e Chris Slade na bateria, mas Malcom sentia que alguma coisa não estava certo. O músico tinha o sentimento que a banda não tinha o mesmo brilho desde a saída de Phil Rudd. Na verdade, essa pulga atrás da orelha tinha uma razão. O antigo baterista havia assistido um show do grupo na Nova Zelândia, em 1991, e no backstage disse à Malcom que, se alguma coisa mudasse, era para entrar em contato com ele, que tinha interesse em voltar ao AC/DC.
De tempos em tempos, aquela conversa retornava à cabeça do guitarrista, que decidiu entrar em contato com Phil e pedir para que se encontrassem no estúdio para ver se ainda dava liga. Rudd não sentava em uma bateria há 6 anos, mesmo assim quando começaram a tocar juntos, tudo voltou a fazer sentido. Era o fim da estrada para Chris Slade. Malcom ligou para Chris, disse que Phil havia retornado e pediu para que aguardasse alguns dias. Slade cansou de esperar e avisou que estava saindo fora.
As gravações iniciaram em Outubro do mesmo ano, no Power Station Studios, em Nova Iorque. E, logo, Rubin percebeu que a empreitada não era tão simples quanto imaginava. “Me recordo que, muitos anos atrás, tinha um cara fazendo um trabalho com Chuck Berry e ele dizia. ‘Ele é tão previsível. Sempre os mesmos licks’. Mas quando parou para escutar, reparou que todas as vezes era diferente, ele começou a enxergar as outras peças do quebra cabeça. Em Chuck, há o jazz, o country, o blues e, é claro, o rock ´n´ roll. A grande jogada é que ele sempre soube quando tocar e quando não”, declarava Angus Young.
O comentário do guitarrista faz sentido. O AC/DC sofre a mesma crítica. Quem não gosta, costuma dizer que eles fazem sempre o mesmo disco. Para quem está de fora, parece fácil fazer o que fazem, acham que é só seguir uma fórmula. Muitos reclamam da bateria reta que, na verdade, é uma marca do grupo e este foi o primeiro elemento que deu trabalho ao renomado produtor. Os discos começam a ser gravados pela bateria. Ele mexia, mexia, mexia e não conseguia tirar um som decente. Tentou de tudo: moveu o instrumento de lugar, colocou espumas na parede, nada funcionava. Depois de 10 semanas, ficou decidido que gravariam em outro estúdio. Dessa vez, localizado em Los Angeles, o Ocean Way Studios.

“Depois que começamos a trabalhar em L.A., o som começou a ficar mais verdadeiro e algumas músicas começaram a surgir. Decidimos começar tudo de novo e regravamos as três ou quatro músicas que já tínhamos”, comentava o saudoso Malcom Young. A relação com o produtor foi conturbada. Rick Rubin fazia os músicos repetirem as músicas dezenas de vezes e, para piorar, começou a dividir o tempo de produção com o Red Hot Chili Peppers, que vinha trabalhando no que viria a se tornar o One Hot Minute. Ambas as situações deixaram os músicos putos, vindo a declararem pouco depois que havia sido um erro trabalhar com ele.
Não sei como é trabalhar com Rick Rubin. Se é um cara fácil de lidar, se é um cara difícil. Acredito que seja um sujeito complicado. Dizem, inclusive, que houve brigas homéricas entre ele e Malcom sobre como a banda deveria soar. Agora, verdade seja dita, o álbum não tem um som ruim. Ok, ele não conseguiu reproduzir aquele som mágico que Mutt Lange tirou em Back in Black, mas 30 anos se passaram e o álbum não soa datado, o que já demonstra que o trabalho não foi exatamente equivocado.
O disco já começa de cara com 2 músicas que se tornaram hits: “Hard As a Rock” e “Cover You In Oil”. As músicas que serviam de apresentação ao novo trabalho demonstravam que a banda seguia a risca com seu hard rock influenciado por blues, com baixo pulsantes, vocal berrado e riffs marcantes. “The Furor” é mais cadenciada, mais midtempo e funciona. “Boogie Man” é um blues eletrizado, como se tentassem criar uma nova “The Jack”. Tudo bem, a faixa não tem a mesma força de sua canção clássica, mas ainda assim é divertida e tem um belo solo de Angus Young. “The Honey Roll” tem um riff sensacional, um belo vocal de Brian Johnson, mas merecia um refrão mais forte. “Burnin´ Alive” é a primeira faixa que considero um filler. Não chega a ser ruim, mas não diz a que veio.

A segunda metade começa com a empolgante “Hail Caesar”, uma das faixas que marcaram presença no set da turnê. “Love Bomb” e “Caught With Your Pants Down” acho que estão abaixo do nível do material presente no disco. Especialmente as letras que são bem bobinhas. “Whiskey On The Rocks” diverte, mas o disco volta a pegar fogo mesmo com a faixa-titulo, responsável por fechar o CD. Musica simplesmente perfeita. Uma das melhores canções do AC/DC na década de 90.
Já vi muitas pessoas dizerem que o problema desse disco são as composições, que o álbum soa certo, mas que a única boa faixa era “Hard As a Rock”. Como já deu para perceber, não concordo. É verdade que eles não criaram um novo clássico, mas dizer que o disco tinha apenas uma faixa boa era absurdo. Para quem curte o som do AC/DC e não busca um álbum de hits, o disco agrada em cheio. Eles entregaram exatamente aquilo que se esperava da banda.
Se o álbum era bom, o show era espetacular. Em outubro de 1996, a turnê aterrissou no Pacaembu trazendo o AC/DC, pela primeira vez, à São Paulo. (Sim, os músicos haviam feito uma apresentação histórica na primeira edição do Rock in Rio (1985), mas haviam se apresentado apenas no Rio de Janeiro). Lembro até hoje de ter assistido show com os olhos brilhando. A introdução do show com a bola indo para frente e para trás até atingir o palco e os músicos iniciando a noite ao som de “Back in Black” é algo que nunca vou me esquecer. A banda tinha uma energia fora do comum, o setlist era espetacular. Se o álbum, mais uma vez, dividiu as opiniões, os shows acabavam com qualquer dúvida. A banda ainda tinha muita lenha para queimar…
OBS: Os depoimentos presentes nessa matéria foram retirados do livro Maximum Rock n´ Roll: The Ultimate Story of the World´s Greatest Rock and Roll Band.
Faixas:
01) Hard as a Rock
02) Cover You In Oil
03) The Furor
04) Boogie Man
05) The Honey Roll
06) Burnin´ Alive
07) Hail Caesar
08) Love Bomb
09) Caught With Your Pants Down
10) Whiskey On The Rocks
11) Ballbreaker
“Ballbreaker” foi o primeiro disco de estúdio do AC/DC que comprei em CD – que tenho até hoje em perfeita condição – e, na época, soou bem. “Caught with your Pants Down”, “Ballbreaker”, “Hard as Rock”, “Hail Caesar” e “Boogie Man” são músicas que gosto bastante e que, se pudesse ouvir num show da banda, ficaria bem contente. Faz um tempão que não ouço, vou parar por aqui e botar para rolar.
Legal, Marcello. Acho um bom disco também. “Ballbreaker”, “Hard as a Rock”, “Boogie Man” e “Hail Caesar” rolavam nos shows da época. Se você tiver curiosidade em ouvir esses sons ao vivo, elas aparecem no DVD No Bull.
Que resenha massa de se ler, Davi! Adoro saber dessas histórias de bastidores e aqui você as contou muito bem. Ouço AC/DC com certa frequência, mas confesso que escuto pouquíssimo o “Ballbreaker”, então, tal qual o Marcello, também para por aqui para ouvi-lo.
Obrigado, Marcelo. Fazia um tempo que não ouvia também. Acabei reouvindo algumas vezes para escrever a matéria. Acho um disco bacana…