The Completers – The Completers [2025]
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Por Micael Machado
Depois de dois compactos e um EP lançados entre 2017 e 2020, o quarteto gaúcho de pós-punk The Completers, formado por Felipe Vicente (vocal, guitarra e sintetizador), Jonas Dalacorte (guitarra), Lucas Richter (baixo) e Guilherme Chiarelli Gonçalves (bateria e pads), finalmente chega ao seu full lenght de estreia. Lançado em março deste ano pelo selo Yeah You! (nas versões CD, vinil – numa bela edição na cor vermelha – e K7, além de disponível nas hoje obrigatórias plataformas digitais), o disco, autointitulado, foi gravado entre janeiro de 2023 e agosto de 2024 (à exceção das baterias, gravadas ainda em 2019), com produção da própria banda, tendo a mixagem sido feita pelo guitarrista Jonas Dalacorte e a masterização ficado a cargo do estadunidense Carl Saff, que já trabalhou com nomes como Sonic Youth, Mudhoney e Fu Manchu.
Nos pouco menos de quarenta minutos do álbum, o grupo apresenta várias das características típicas do pós-punk, como baterias secas (por vezes, soando quase como um instrumento eletrônico), linhas de baixo graves (que, muitas vezes, “guiam’ as músicas, tomando a frente dos outros instrumentos), e guitarras mais preocupadas em criar “climas” para as canções do que em executar linhas e riffs mais impactantes (além de quase não haver solos do instrumento ao longo das composições). Os vocais não são tão graves quanto os de outros expoentes do estilo (e, certamente, menos derivativos do timbre adotado por Ian Curtis, do Joy Division, quanto aqueles usados em alguns lançamentos anteriores da banda), e as composições do quarteto geralmente fogem daquela linha “arrastada e depressiva” tradicional do pós-punk, incorporando algumas passagens mais velozes e “agitadas” do que o normalmente encontrado na “cartilha” do estilo, lembrando em muito algo feito em certas canções do já citado Joy Division, ou as composições do início da carreira do The Cure (sendo Wire e The Sound outras bandas citadas como influências pelo pessoal do grupo). As letras são mais pessoais e introspectivas, como mostram versos como “Nada resta dentro de mim/E, no final, nunca conseguimos o que merecemos”, “Há uma cicatriz em meu coração/E sou o único que consegue senti-la”, “Por todas as noites que passei sozinho/E os momentos em que percebi que não tinha ninguém além de mim”, “As memórias de nós dois estão desaparecendo/E as imagens das risadas e dos choros já não existem mais” ou “Eu não pertenço a esta estrada que percorro”, algo que, novamente, lembra os textos de Ian Curtis e do Joy Division.

Das dez faixas do registro, duas já haviam aparecido nos lançamentos anteriores (as “rápidas” “End”, que abre os trabalhos do disco, e já havia sido lado A do compacto de 2020, e “Silence”, faixa título do compacto de 2017), as quais são destaques dentre o track list da estreia do The Completers, ao lado da longa “Hypnosis” (com mais de sete minutos quase todos instrumentais, e que, para mim, apresenta os melhores trabalhos de guitarra do álbum), da mais lenta “Bag Of Bones” (que apresenta um vocal um pouco mais grave que as demais composições do álbum) e de “Innocent Boy”, uma composição mais “marcada”, que vai construindo um angustiante clima em “crescendo” que, infelizmente, não chega a “explodir” como promete fazer ao longo de seus pouco mais de dois minutos e meio. “Past Year”, outra faixa mais rápida que o usual no mandamento do pós-punk, foi escolhida como primeira faixa de trabalho do álbum, ganhando inclusive um vídeo clipe, dirigido pelo cineasta Theo Tajes.
A mais cadenciada “Please Me” tem um violão como destaque ao longo de sua duração, enquanto o uso dos teclados e sintetizadores, ao contrário do que ocorreu nas composições do EP Unspoken Signals, acabou bastante restrito neste álbum de estreia, sendo utilizado mais para criar “climas” em algumas poucas faixas, e alcançando um destaque maior apenas na marcada “Symptôma”, em partes da citada “Hypnosis” e mais ao final da faixa de encerramento, “Mirage”, que, com quase seis minutos, é a única (ao lado de “Hypnosis”) a ultrapassar os cinco minutos, sendo que apenas a citada “End” e a lenta “Chemicals” (que lembra algo dos primeiros registros do Cure com Simon Gallup na formação) passam dos quatro minutos, com as demais ficando entre os dois minutos e meio e uma duração pouco maior que os três minutos.

The Completers é uma bela estreia para o grupo porto-alegrense, que completou dez anos de existência neste 2025, e vem a somar bastante em um estilo musical que já não anda mais tão em alta no país quanto em décadas passadas, mas que ainda insiste em permanecer ativo e atuante, ainda que muitas vezes em bandas sem tanta divulgação e mais voltadas ao underground. Que um segundo registro completo não demore tanto quanto o primeiro, e que a carreira do quarteto ainda traga mais melodias para iluminar (ou escurecer de vez) as almas dos fãs do pós-punk pelo país. Aguardemos!
Track List:
1. End
2. Past Year
3. Symptôma
4. Chemicals
5. Hypnosis
6. Please Me
7. Silence
8. Bag Of Bones
9. Innocent Boy
10. Mirage