Discografias Comentadas: The Beatles [Parte III]
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Por Marcello Zapelini
Em abril de 1970, Paul McCartney entrou com um processo para acabar com a Apple Records e pôr fim aos Beatles. Os outros três até cogitaram continuar juntos, e inclusive houve a proposta de Klaus Voorman para baixista. Mas naquele ano cada um lançou seu disco solo, e todos eles fizeram sucesso. Com isso, os quatro seguiram seus caminhos em separado, com Ringo se beneficiando do fato de que ninguém tinha bronca com ele para obter músicas e participações especiais dos outros em seus discos, mas nunca mais os quatro se juntaram num estúdio. Claro, houve rumores sobre a volta dos Beatles; Ringo acreditava que seria possível reunir os quatro para shows e, quem sabe, discos novos, mas nenhum dos outros se manifestou.
A EMI, na Inglaterra, e a Capitol, nos EUA, fizeram de tudo para manter os Beatles nas manchetes, lançando várias coletâneas, discos ao vivo, raridades. É impossível dar conta de tudo, até porque há muita repetição, mas há coisa bem interessantes. Para encerrar essa discografia, alguns petiscos importantes para os fãs do grupo. Se você tiver algum a mais para recomendar, deixe nos comentários!
COLETÂNEAS
A Collection of Beatles Oldies… But Goldies! (1966)
Lançada meio às pressas pela EMI na Inglaterra, A Collection… era uma excelente opção para quem comprava as edições britânicas dos álbuns, pois era composta essencialmente por músicas lançadas apenas em compactos (13 das 16 faixas), e uma raridade: “Bad Boy”, cover de Larry Williams que só saíra no “Beatles VI”, um dos vários discos mequetrefes que a Capitol lançava nos EUA para aproveitar a Beatlemania. Além disso, vários dos singles da banda tinham sido lançados apenas em mixagem em mono, e foram especialmente remixados em stereo para este lançamento. Esteve disponível em vinil no Brasil por décadas, mas nunca ganhou edição oficial em CD e acabou sendo excluída do catálogo oficial do grupo em 1987. Além das músicas extraídas de compactos, o disco incluiu as baladas “Michelle” e “Yesterday”, que saíram em LPs ingleses.
Hey Jude (1970)
Depois de 1967, o catálogo britânico e o americano passaram a coincidir, e a Capitol acabou ficando com vários singles que não tinham saído em LP; em fevereiro de 1970 ela juntou vários desses singles, incluiu “I Should Have Known Better” e “Can’t Buy me Love”, que só tinham saído em LP nos EUA na trilha sonora de A Hard Day’s Night (lançada pela United Artists), e o resultado foi um “novo” LP. As fotos da capa foram tiradas na última sessão feita por eles, e o álbum traz coisas ótimas como “Hey Jude”, “Lady Madonna”, a versão heavy de “Revolution”, “Don’t Let me Down” gravada em estúdio, “Paperback Writer” e seu lado B “Rain”, e a divertida “The Ballad of John & Yoko”. O disco só foi lançado oficialmente na Inglaterra em 1979, e em CD só saiu numa box set com os álbuns americanos; como no caso de A Collection…, as músicas estão disponíveis em antologias mais abrangentes.

1962-66 e 1967-70 (1973)
Durante muito tempo, as melhores introduções à carreira dos Beatles foram esses dois discos, que traziam na capa e na contracapa as fotos dos quatro olhando para baixo, tiradas com sete anos de diferença – a mais recente ilustraria a capa de Get Back, que acabou não sendo lançado. Um álbum com a capa vermelha, outro azul, LPs embalados em envelopes com as letras, repertórios bem escolhidos, tudo conspirava para fazer dessas as coletâneas perfeitas da banda. Mas há falhas: 1962-66 não traz nenhuma cover (como deixar de fora “Twist and Shout”?) nem composições de George (como deixar de fora “Taxman”?), e, com pouco mais de 62 minutos, não é exatamente um generoso; 1967-70 compensa em duração (quase 100 minutos), mas The Beatles e Abbey Road são mal representados (colocar “Ob-La-Di, Ob-La-Da”; e não incluir “She Came in Through the Bathroom Window” foi crueldade). Em 2023 os dois álbuns foram relançados com músicas adicionais, corrigindo algumas injustiças. A nova versão de 1967-70 trouxe uma música “nova”, “Now and Then”, dando hype ao relançamento.

Rock’n’Roll Music (1976) e Love Songs (1977)
Duas coletâneas temáticas: a primeira traz 28 rocks gravados pela banda (dos quais a única raridade era “I’m Down”), começando com “Twist and Shout” e terminando com a versão do Let it Be para “Get Back” (ao vivo no telhado da Apple). Lançado em 1976 (e ainda em catálogo no começo dos anos 80), é um álbum praticamente perfeito, muito bem selecionado, daqueles para ouvir sem pular uma música e esfregar na cara de quem acha que os Beatles só sabiam fazer baladinha. Os únicos senões são a arte de capa, meio fraquinha, e não ser organizado cronologicamente, mas o fluxo das músicas é muito bom e esse acaba se tornando um detalhe menor. Nunca foi oficialmente lançado em CD, mas há uma boa versão pirata em digipack. Se forem as baladinhas que você prefere, no ano seguinte outro duplo, Love Songs, foi lançado. Com 25 músicas e menos de uma hora de duração, o disco tem uma cronologia ainda mais bagunçada, pois inicia com “Yesterday” e termina com “PS I Love You”; no entanto, o lado B do primeiro LP (com “Something”, “And I Love Her”, “If I Fell”, “I’ll be Back”, “Tell me What You See” e “Yes it Is”) acabou ficando praticamente perfeito. Também não foi lançado em CD e só é encontrado nesse formato em edição pirata. A capa imitando couro com letras douradas era bem simples, mas bonita.

Rarities (1978 e 1980)
Em 1978, foi lançada uma box com todos os LPs dos Beatles no mercado britânico. Para aumentar seu valor de mercado, foi acrescentada uma compilação de músicas raras, e o primeiro “Rarities” (assim mesmo, entre aspas) foi disponibilizado. Incluindo vários lados B de singles, o compacto gravado em alemão com versões para “She Loves You” e “I Wanna Hold Your Hand”, o EP “Long Tall Sally”, “Bad Boy” e a versão de “Across the Universe” doada para um álbum de caridade, o disco era uma tentativa de garantir que, se alguém tivesse os discos oficiais, 1962-66 e 1967-70, teria tudo que a banda lançou oficialmente. No entanto, a versão de “Love Me Do” do primeiro compacto foi “esquecida”. Eventualmente o álbum foi relançado fora da box, mas dois anos depois apareceu um novo Rarities no mercado americano e no resto do mundo, incluindo a “Love Me Do” do single, algumas versões alternativas como “Help” (com vocal diferente), “And I Love Her” (com final mais extenso), “Penny Lane” (com final diferente), “Helter Skelter” (com final editado), “Don’t Pass me By” (um pouco acelerada e com violinos diferentes), mas também incluiu “Misery” e “There’s a Place”, que a Capitol nunca tinha lançado nos EUA (tinham saído apenas num LP da Vee-Jay, fora de catálogo desde os anos 60), mas não eram exatamente raridades…
Past Masters Volumes One & Two (1988)
Past Masters foi disponibilizado como dois LPs/CDs separados ou como álbum duplo quando da remasterização do catálogo dos Beatles para lançamento em CD. A coletânea basicamente recolhe tudo o que a banda lançou oficialmente e não foi incluído nos discos originais. Com 33 músicas no total, o álbum traz os singles não lançados em LPs na época do lançamento, as famigeradas músicas em alemão, a versão alternativa de “Across the Universe”, o EP “Long Tall Sally”, enfim, toda a “raspa do tacho”, essencial para quem tem os discos originais e não quer investir em todas as coletâneas que circulam por aí. Past Masters funciona bem até como antologia da obra da banda, pois apenas o ano de 1967 não está representado no álbum (todas as músicas lançadas nesse ano estão em Sgt. Peppers … e Magical Mystery Tour); o único defeito é a arte de capa minimalista. Talvez um dia uma reedição traga as duas músicas “novas” completadas por Paul, George e Ringo para o projeto Anthology, bem como a recente “Now and Then”, e até aquelas alternativas que se encontram no Rarities americano, mas não aposto muito nisso.
Anthology (1995 – 1996)
Quando Anthology foi anunciada, muita gente pensou que finalmente as dezenas de músicas só disponíveis em discos piratas seriam lançadas. Anthology 1 era formado por material gravado entre 1958 e 64, e trouxe uma “música nova”, a versão do grupo para a demo de Lennon para “Free as a Bird”, mas ela é basicamente uma curiosidade, apesar de toda a falação na época. O álbum foi a primeira oportunidade oficial de ouvir Stu Sutcliffe no baixo, já que material com Pete Best na bateria já tinha sido disponibilizado antes. Músicas do Quarrymen, demos caseiras, material do tape gravado na audição para a Decca Records, versões ao vivo, alguns outtakes de estúdio (incluindo as primeiras tentativas de gravar “One After 909”, que seria revivida em Let it Be) e trechos de entrevistas completam o pacote; a baixa qualidade sonora das gravações contrasta vivamente com o som límpido das gravações oficiais do grupo feitas sob a batuta de George Martin, mas, com tanta coisa oficialmente rara ou inédita, quem se importava? Anthology 1 vendeu cerca de dez milhões de cópias no mundo inteiro e deixou os fãs sedentos por mais.
Quatro meses depois, Anthology 2 chegava às lojas, formado por material gravado entre 1965 e 68. Embora, na minha opinião, fosse muito melhor do que o primeiro volume, não vendeu tão bem (mas ficou mais semanas nas paradas). Talvez uma razão tenha sido o fato de que quase todo o material fosse composto por gravações ao vivo e versões alternativas de músicas conhecidas, com apenas quatro inéditas: “Real Love” (outra demo de John completada pelos outros três), “12 Bar Original”, “If You’ve Got Trouble” e “That Means a Lot” (a primeira editada de uma jam, as outras duas, nada especial). As versões alternativas de músicas lançadas oficialmente não chegam a ser uma grande revelação, mas mostram que havia variações interessantes (que seriam mais exploradas a partir de 2017, quando a box set de Sgt. Peppers… foi lançada).
Em outubro de 1996 saiu Anthology 3, que incluiu músicas gravadas entre julho de 1968 e janeiro de 1970 (“I Me Mine”) e não trouxe nenhuma “nova” feita a partir das demos posteriores de John entregues por Yoko. Mas há oito músicas não disponíveis nos outros discos e uma introdução de George Martin, e não há gravações ao vivo de baixa qualidade sonora. As versões de músicas já conhecidas variam bastante; por exemplo, uma versão voz e piano de “Good Night” (a orquestra entra só no final) resgata a música da versão cafona do álbum branco, e “While My Guitar Gently Weeps” sustenta-se bem sem Clapton. É difícil entender que “Piggies” entrou na cota de George no duplo The Beatles, e “Not Guilty” ficou de fora. E a demo de “All Things Must Pass” devia ter sido lançado pela banda em Let it Be… Pelo menos George corrigiu a injustiça. Em suma, na minha opinião, a grande revelação desse terceiro volume é o crescimento impressionante de George Harrison como compositor.
The Beatles 1 (2000)
Se você quer uma coletânea da banda em um só CD (há uma edição em LP duplo, mas nunca a vi), a melhor é esta aqui, composta por 27 músicas que atingiram o 1º lugar das paradas. Um dos discos mais vendidos do século XXI (e o 4º mais vendido nos EUA em todos os tempos), 1 marcou os trinta anos da dissolução dos Beatles e inclui suas músicas mais conhecidas, de “Love Me Do” a “The Long and Winding Road”. É praticamente impossível alguém gostar de rock e não conhecer as músicas que compõem este álbum – não espere raridades ou faixas obscuras: o foco é realmente oferecer os maiores sucessos da banda da maneira mais conveniente possível. A única coletânea em vinil que conheço que oferecia tantas músicas numa só peça era a 20 Greatest Hits de 1982 (só para sacanear: “Hey Jude” tem sua coda cortada e dura cerca de 5 minutos – uma versão que não aparece em mais nenhum lugar). The Beatles 1 é desnecessário para quem tem os discos originais e os dois volumes de Past Masters, mas é perfeito para um fã ocasional e seria minha recomendação para quem não tem nenhum disco do grupo e quer ter um.
AO VIVO
The Beatles Live! At the Star Club 1962 (1977)
Tapes feitos no famoso clube hamburguês em dezembro de 1962, quando Ringo já tinha entrado na banda, foram transformados neste álbum duplo (lançado pelo selo Lingasong em abril de 1977) com 26 músicas em pouco mais de uma hora de duração, quase todas covers (uma versão americana trouxe quatro músicas diferentes). A capa interna trazia algumas boas fotos dos jovens Beatles no palco. Registrado por um fã com um microfone de gravador na frente do palco, o disco não tem boa qualidade sonora, embora seja melhor do que se esperava para uma gravação tão antiga. O repertório traz algumas músicas que a banda regravaria posteriormente em seus álbuns de estúdio, como “Roll Over Beethoven”, “A Taste of Honey” (bela harmonia vocal de Paul, John e George), “Twist and Shout”, “Mr. Moonlight”, “Kansas City/Hey Hey Hey Hey”, “Everybody’s Trying to be my Baby”, “Matchbox” (a melhor música do disco, merecia uma versão mais audível), “Long Tall Sally”, e, sobretudo, “Ask me Why” e “I Saw Her Standing There” (sem o solo de guitarra), ambas composições de Lennon e McCartney que se misturam aos clássicos do rock e do pop (e algumas coisas pouco conhecidas) interpretados pelo quarteto de Liverpool. Outras músicas seriam disponibilizadas em versões com mais qualidade sonora nos discos da BBC, mas uma parte considerável só se encontra nesse disco. Como os tapes voltaram à propriedade dos Beatles, que nunca o apreciaram, é improvável que o álbum seja relançado – mas como saiu inclusive no Brasil, ainda dá de encontrar nos sebos.
The Beatles at the Hollywood Bowl (1977)
A Capitol tentou, sem sucesso, gravar um show dos Beatles no Carnegie Hall em fevereiro de 1964 para um álbum ao vivo; a gravadora não desistiu e registrou um concerto no Hollywood Bowl em agosto, mas a qualidade sonora não agradou ninguém. No ano seguinte, no mesmo local, foram gravados os shows de 29 e 30 de agosto, mas, mais uma vez o som deixou a desejar. Doze anos depois, em maio de 1977, surgiu este álbum, produto de paciente trabalho de George Martin tentando equalizar o som de maneira a se tornar audível. Com sete músicas extraídas do show de 23/8/64, quatro do de 30/8/65, uma do de 29/8/65 e uma (“Dizzy Miss Lizzy”) montada a partir das apresentações de 29 e 30/8, o álbum, em seus 33 minutos, nos leva a uma época em que os Beatles não tinham rivais no mundo da música. É claro que as versões de estúdio são melhores, mas a banda parecia genuinamente entusiasmada com a recepção da multidão, o disco é uma verdadeira festa, cheio de hits, boas covers, e cada um tem sua chance de brilhar (John e Paul, claro, dominam, mas Ringo canta “Boys” com entusiasmo, e George tem um desempenho vocal melhor do que na versão de estúdio de “Roll Over Beethoven”). Em 2016, uma nova versão, feita por Giles Martin, agregou quatro músicas ao programa original e melhorou ainda mais o som, sendo essa a preferível (até porque a original, até onde sei, nunca foi disponibilizada em CD). At the Hollywood Bowl não substitui os discos de estúdio nem as coletâneas, mas é imperdível para os colecionadores.

Live at the BBC (1994) e On Air: Live at the BBC volume 2 (2013)
Dois CDs duplos contendo gravações para a BBC, incluindo algumas músicas que nunca tinham sido lançadas oficialmente pelo grupo, bem como trechos de entrevistas e papos com os apresentadores. A banda fez um total de 52 sessões na BBC entre 1962 (mas nenhuma música desse ano foi lançada oficialmente) e 1965, gravando 88 músicas diferentes (como várias foram repetidas ao longo das sessões, um total de 275 gravações foram apresentadas), 36 das quais não apareceram nos discos da época (31 delas acabaram fazendo parte dos dois volumes). Lembro que na época que o primeiro volume foi lançado, os bootleggers disponibilizaram uma box set com 10 CDs trazendo tudo que conseguiram localizar. O segundo volume corrigiu algumas lacunas, mas traz sobretudo músicas já conhecidas, disponíveis nos primeiros LPs dos Fab Four; a exceção é “Beautiful Dreamer”, inédita em disco deles. Três fatores tornam os dois volumes bem interessantes: as músicas que a banda não lançou oficialmente (majoritariamente covers), a baladinha de Lennon e McCartney “I’ll Be On My Way”, indisponível em outra forma, e o fato de que eles realmente pareciam gostar de gravar para a rádio. Difícil destacar alguma música quando se tem tantas, mas chamo a atenção para “Thank You Girl” no primeiro volume, pois a banda está bastante animada e Ringo desce a lenha na bateria, diferentemente de seu estilo mais sutil e, no segundo, para o belo desempenho vocal de Paul em “And I Love Her”. Os livretos são muito bons, bastante detalhados e informativos, e algumas fotos, se não são inéditas, pelo menos não são muito comuns. Quando On Air foi lançado, Live at the BBC foi remasterizado e relançado em digipack como o volume 2.
Get Back: The Rooftop Performance (2022)
Lançado somente nas plataformas de streaming, é a versão oficial mais completa do famoso concerto no telhado da Apple Records. Embora funcione melhor em vídeo do que áudio, é imperdível, pois traz os Beatles finalmente se divertindo nas tensas sessões de Let it Be. Inclui “Get Back” (em três versões), “Don’t Let me Down”, “I’ve Got a Feeling” (duas versões para cada uma), “One After 909”, “Dig a Pony” (uma versão para cada) e até um trecho do “God Save the Queen”, com pouco mais de 38 minutos e meio de música e alguns diálogos. “Dig a Pony” está mais longa que a versão conhecida por todos, com uma introdução instrumental, e cada fã pode escolher qual versão prefere das músicas repetidas. A qualidade de gravação é boa, e a presença de Billy Preston libera John e Paul para se concentrarem em seus instrumentos “normais”, e só há duas coisas a lamentar: o show é curto, e não há nenhuma versão para músicas de George; seria interessante ouvir como sua voz soava ao vivo no começo de 1969. Quando ouvia as músicas que saíram em Let it Be, ficava me perguntando como teria sido um show do grupo se eles tivessem voltado a excursionar, e esse breve concerto diminui um pouco a curiosidade.
A Small Selection of Antiques & Curios – The Beatles with Tony Sheridan (várias edições)
Como é sabido, a primeira gravação feita pelos Beatles foi acompanhando o cantor e guitarrista Tony Sheridan, na Alemanha, ainda com Pete Best na bateria, em junho de 1961. Várias edições dessa sessão (produzida por Bert Kaempfert) foram lançadas a partir de 1964 pela Polydor (ou suas licenciadas), destacando duas músicas: uma versão para “Ain’t She Sweet”, com John no vocal principal, e a instrumental “Cry for a Shadow”, parceria entre George e John que soa como um pastiche do The Shadows, muito popular na Inglaterra no começo dos anos 60. As edições em vinil usualmente trazem essas duas músicas dos Beatles, mais seis acompanhando Sheridan (a mais famosa é, sem dúvida, “My Bonnie”, lançada em single), e quatro do cantor com um grupo chamado The Beat Brothers (que até o começo dos anos 80 se imaginava fosse um pseudônimo dos Beatles). Até a Som Livre licenciou as gravações (no início dos anos 80) para um disco chamado Beatles In The Beggining – uma picaretagem com apenas 8 músicas que chamava Pete Best de PETER e incluía as 4 músicas com os Beat Brothers! A melhor edição que conheço é o LP Ain’t She Sweet, com bela foto de capa.
Reel Music (1982)
Essa antologia foi lançada em 1982 reunindo músicas dos filmes dos Beatles (A Hard Day’s Night, Help, Magical Mystery Tour, Yellow Submarine e Let it Be). Em princípio, não teria nada de especial – ainda que seja uma coleção bem interessante de músicas, mas havia algumas diferenças: “I Should Have Known Better” aparece em mixagem em stereo com introdução ligeiramente diferente (diz- se que havia um erro na introdução de harmônica, mas admito não o ter percebido até hoje…), “A Hard Day’s Night” e “Ticket to Ride” em mixagem em stereo, versões inéditas nos EUA até então (em que as músicas tinham saídas em mono “reprocessado”), e um brinde especial: um compacto com “The Beatles Movie Medley”, que mistura trechos de várias músicas do disco (na época, o projeto holandês Stars on 45 fazia bastante sucesso mixando trechos de músicas numa faixa única), e “I’m Happy Just to Dance With You” no lado B. O medley e as versões diferentes nunca foram reeditados, tornando o disco uma verdadeira raridade hoje em dia. Um amigo meu tinha o LP brasileiro, mas não me lembro de ele ser acompanhado pelo compacto.
Let it Be… Naked (2003)
Paul nunca escondeu que não gostava da produção de Phil Spector e insistiu num relançamento sem as adições do produtor. Let it Be… Naked não inclui “Dig It” nem “Maggie Mae”, mas traz a versão ao vivo de “Don’t Let me Down” gravada no telhado da Apple. As músicas foram remixadas, e algumas diferenças são gritantes; “The Long and Winding Road”, por exemplo, é uma música inteiramente nova, “For You Blue” dá mais destaque à pedal steel guitar de John, “I’ve Got a Feeling” tem vocais melhores, mais claros (e você ouve com mais clareza a bateria do Ringo) – essa e “Don’t Let me Down” foram “compostas” a partir de dois takes do concerto na Apple, em vez das versões originais. Gosto mais dessa versão do que do Let it Be original, mas ainda o acho um dos discos mais fracos que os Beatles gravaram.
Love (2006)
Esse álbum de remixes feito por George e Giles Martin (com a aprovação de Paul, Ringo, Yoko Ono e Olivia Harrison) foi lançado como a trilha sonora do espetáculo do Cirque du Soleil (George Harrison defendia o projeto, mas infelizmente não viveu para vê-lo). Alguns dos remixes, como o que acopla “Drive my Car”, “What You’re Doing” e “The Word”, são bem interessantes, mas no todo o disco passa uma sensação de estranheza no ouvinte. “Within You, Without You” mixada com a bateria de “Tomorrow Never Knows” ficou bem legal (por outro lado, introduzir “Octopus’s Garden” a capella com o arranjo orquestral de “Good Night” não me agradou), mas o disco não motiva muitas audições. As vendas foram boas, com dois milhões de discos só nos EUA (4º lugar na Billboard), mas não substitui os discos originais.
Box Sets
O Fab Four é bem servido de boxes, desde os tempos do vinil, e novas caixas estão sendo lançadas com as sessões para os álbuns do grupo. A pequena lista abaixo pretende destacar algumas bem interessantes.
The Beatles Collection: mencionada acima, essa bela box set britânica traz 12 álbuns originais em 14 LPs (não se esqueçam de que The Beatles é duplo, e a primeira versão de Rarities saiu na box); a exceção é Magical Mystery Tour, que na versão britânica era um EP duplo. Os álbuns vêm com a arte original (incluindo capas gatefold e encartes) e as versões stereo foram usadas. Hoje em dia não tem mais nada que leve a comprá-la especificamente, mas um colecionador de vinis pode perfeitamente ficar com ela e depois buscar o que falta.
The Beatles in Mono: caixa de CDs e LPs que inclui todos os discos do grupo originalmente lançado em suas versões em mono (ou seja, até o álbum branco). O pacote é acompanhado pelo CD duplo/LP triplo Mono Masters, que traz algumas versões em mono inéditas em CD até esse lançamento. As versões em stereo estão numa box simplesmente intitulada The Beatles, que traz Past Masters como bônus.
The U.S. Albums: esta caixa substituiu as boxes The Capitol Albums vol. 1 e 2, lançadas em 2004 e 2006, com oito discos americanos (cada CD trazia as versões mono e stereo), e traz todos os 13 lançamentos norte-americanos, também com as duas versões em cada disco. Vale a pena para um colecionador que queira ter em CD o bizarro LP duplo The Beatles Story (de 1964, composto quase inteiramente por entrevistas) e a já mencionada antologia Hey Jude. Ou, então, para os velhos fãs americanos que cresceram ouvindo discos como Beatles VI ou Yesterday and Today.
Box sets dos álbuns: desde o aniversário de 50 anos de Sgt. Peppers…, diversos discos dos Beatles foram lançados em box sets individuais, como Revolver, The Beatles, Abbey Road e Let it Be. Essas boxes serão objeto de uma matéria futura; por ora, basta comentar que a produção é ótima, a qualidade sonora, excelente, e há bastante coisa interessante (inclusive algumas versões alternativas que não estavam disponíveis nem mesmo nos bootlegs), mas são bem caras (e em alguns casos, há pouco aproveitamento do espaço disponível): o colecionador ou fã precisa de todas, mas os demais podem se contentar com as edições em CD duplo ou triplo (no caso do álbum branco) que trazem parte do material.

![Discografia Comentada: The Beatles [Parte II]](https://arquivos.consultoriadorock.com/content/2025/08/15.The-Beatles2.jpg)

Muito bom Marcello. Uma discografia bem imparcial, e que apresentou os discos da banda e fez uma compilação com a nata das coletâneas. Eu conheci Beatles pela coletânea The Beatles, que o Micael ganhou de aniversário e ouvimos até que bastante, mais por clima de festa do que de gostar mesmo, e senti falta dela na lista. Porém, contudo, todavia, as coletâneas citadas são de excelente fundamental.
Muito obrigado, e rapidinho, meu do pior ao melhor dos besouros
Yellow Submarine
A Hard Days Night
Please Please Me
Let it Be
With the Beatles
Help
Magical Mistery Tour
Rubber Soul
For Sale
Revolver
Sgt. Peppers
White Album
Abbey Road
Obrigado pelo comentário, Mairon. Essa coletânea que você comentou eu não conheço, ou pelo menos não estou me lembrando… Sobre o seu do pior ao melhor, fiquei feliz de ver que não estou sozinho em gostar do Beatles For Sale! Nunca entendi a bronca com esse álbum…
Gostei muito dessa série e o fechamento com as coletâneas foi, verdadeiramente, a cereja do bolo. O que o Mairon chama de “Uma discografia bem imparcial” eu considerei como um excesso de rigor na análise, talvez para não incorrer em um texto de fã ou mesmo sem retoques na genial discografia deles – às vezes nos esquecemos que o que nos parece enjoativo de tanto já termos ouvido é, justamente, a virada de chave para que todos os que vieram depois fazerem o mesmo, mas tudo bem, ainda assim, não tirou o mérito da empreitada. Muitos gênios não o foram reconhecidos assim por seus pares durante muito tempo (Bach, Van Gogh, Robert Johnson), então fico do lado dos que já entenderam que os Beatles foram e são os maiores da música. Dia desses, depois de ter recomendado em sala de aula o “Psicose” do Hitchcock, ouvi de umas alunas que “o filme era sem graça e nem metia medo”; respondi-lhes que o medo que elas sentem produções de terror/horror/suspense atuais são obras de diretores que só lhes metem medo por terem, primeiro, se assustado com o mestre do suspense – mas as discussões sobre história da arte são para outra ocasião, portanto parabéns, Marcello, pela bela discografia dos Beatles!
A questão dos Beatles terem enjoado não é por que eu ouvi muito, é por que algumas músicas realmente nem com Dramin dá de aguentar. É óbvio que os Beatles tem sma importância para música, mas os maiores, eu sempre desconfio e não consigo concordar. Em comparação com os Stones (que se aguentaram durante mais de 50 anos, mesmo com mudanças de formação), Yardbirds (que revelou três dos maiores guitarristas da história) e Jefferson Airplane (que inovou musicalmente em inúmeros sentidos, principalmente pela liderança de uma mulher no vocal e apresentações muito à frente de seu tempo), só para parar por aqui, musicalmente não vejo comparação com os Fab 4 (e ainda tem Who, Animals, Moby Grape, Kinks, …)
Boa parte desses que citou produziram coisas a partir dos Beatles e em termos musicais muita, mas muita gente os ultrapassa – mas vai ver quem conseguia fazer o que eles faziam com tão poucas notas? E a revolução estética produzida por eles? Comportamental? Da indústria fonográfica? E o conceito de álbum? Tem muita, mas muita coisa envolvida na classificação “Os maiores”.
Pois é, eu entendo. Massssssssssssss, com disse um sábio Ian Anderson: “Ninguém foi maior que o Led Zeppelin”. E fim de papo
Ufa, achei que ia invocar Frank Zappa…
Essa discussão toda é muito interessante. Se eu tivesse feito essa discografia comentada vinte anos atrás, quando comprei a discografia novamente em CD (eu completei a coleção em LP ainda nos anos 80, foi a segunda banda que completei a discografia, atrás apenas dos Stones – claro que estou falando dos discos originais, sem considerar as coletâneas), provavelmente teria sido mais elogioso. Mas apesar de reconhecer o pioneirismo do Fab Four em muitas coisas, acho que eles nunca alcançaram o potencial que tinham. Fico pensando se eles tivessem conseguido retomar a carreira em 1971, depois que cada um lançou seu disco-solo, como o Kiss fez em 1979 – se bem que no caso do Kiss o melhor indubitavelmente veio antes dos solos. Tirando “All Things Must Pass” e um ou dois discos do Macca, nenhum dos 4 chegou a lançar um solo que se comparasse com o que a banda fez. Eu concordo com o Mairon, muita coisa legal foi feita que ganha em criatividade em relação aos Beatles – mas também dou razão ao Marcelo ao apontar que eles originaram muita coisa.
Mas Zappa era estadunidense …
Precisei de um dramin após ler que Yardbirds e Moby Grape estariam no mesmo plano que OS BEATLES na discussão sobre ser a maior banda 😃 ainda tivesse citado Pink Floyd, Queen e Led, vá lá…
Boa, Sábio, compartilha esse Dramin aí, porque também não fez sentido para mim…
Sobre o Moby Grape não posso falar muita coisa, afinal, meu conhecimento do grupo abrange o primeiro LP e um dos discos das reuniões. Mas acho que o Yardbirds teve mais importância para o desenvolvimento do rock britânico do que o que muita gente imagina, vale bastante a pena mergulhar na discografia dos caras.
Marcelo, com certeza não fará sentido. Vc mesmo sabe que não existiria Led se não fossem os yardbirds, e a banda de cabeceira do plant era quem?? Moby Grape. Começamos bem
Pois é né Lino, não tem como botar, concordo contigo. Moby Grape e Yardbirds estão muito acima de Beatles. Peço desculpas pelo equívoco
Nem você acredita nisso… é como considerar o Newell’s Old Boys maior que o Barcelona, sob a desculpa do primeiro ter revelado o maior ídolo do outro. Moby Grape pode ter sido a banda de cabeceira de Jesus Cristo, não muda absolutamente nada
Acredito que o fato do primerio Anthology ter vendido muito mais seja o fato de ter trazido Free As A Bird, então uma faixa inédita, inédita mesmo… Lembro do clipe no Fantástico. Podia ter acrescentado o Anthology IV que saiu recentemente e eu não tenho ideia do que vem nele, só sei que QUERO.
Muito bom esse seu apanhado Marcelo nessa três partes. Serve para um f´ã ocasional, para um fã iniciante e també, pq não, para aquele fã que já leu tudo sobre a banda e sempre quer mais.
E foi um auê né. Um dos discos mais divulgados da história. Até lá em Pedro Osório todo mundo queria ter o disco, mesmo sem saber do que se tratava. Lembro dos meus colegas do Ensino Médio (e a ironia confusa) de comprarem o CD piratinha do Anthology e o cd (também piratinha) do Terra Samba ao vivo, e ouvirmos ambos praticamente na sequência …
Eu sabia que vc tinha esses desvios de caráter!!!
Lembro até hoje do hype em torno do projeto Anthology – e também dos beatlemaníacos mais eruditos reclamando do que faltou! O primeiro volume, além de promover “Free as a Bird”, ainda teve a vantagem de trazer muita coisa que os colecionadores comuns não tinham, só os fanáticos. A qualidade sonora não era lá essas coisas, mas quem é que reclamava?
O Anthology IV foi anunciado para novembro, e se você tiver comprado as boxes dos discos oficiais, vai ter pouca coisa nova, tem umas 15 músicas que saíram na do Sgt. Peppers e do álbum branco. Só para sacanear, vai vir uma box com os quatro CDs duplos numa só embalagem, mas não sei se vai ter algo a mais em termos gráficos. E esse quarto volume vai incluir a “nova” música que saiu na reedição dos álbuns vermelho e azul, “Now and Then”. Quando mandei o texto definitivo, ainda não tinha sido anunciada, e optei por incluir nos comentários a informação – obrigado por lembrar do lançamento, Fernando!
Para quem tem os três primeiros volumes, o medo é que eles lancem com uma embalagem diferente e fique todo estranho na prateleira. Agora forçar comprar o box para ter o Vol IV e ter que ficar com duas vezes o material dos 3 primeiros volumes é de uma sacanagem GIGANTESCA
Opa, Fernando, não se apavore, o volume IV terá edição própria, não só na box. Mas acho que o seu temor vai se concretizar, porque até onde pude apurar esse novo Anthology virá em digipak, e os três primeiros serão relançados nesse formato. Aquela caixinha fat box, pode esquecer… A mesma coisa acabou sendo com os dois discos na BBC; quem comprou o segundo volume acabou ficando com uma fat box e um digipak lado a lado. Acho que qualquer álbum futuro dos Beatles virá em digipak também, seguindo o padrão da última remasterização do catálogo. Aliás, como não esperava os relançamentos dos Anthologies nem dos álbuns vermelho e azul, não ficaria nada surpreso se não pintasse um Past Masters em digipak com algumas coisas a mais, afinal os CDs não estavam cheios até o gargalo.
Claro, para quem tiver condições, todos os Anthologies também vão aparecer em vinil – e aquela box set vai ter edição em vinil também
Vou fazer o Do Melhor Ao Pior do Araketu
Eu já pensei em fazer um do Blind Faith, mas não consigo me decidir na ordem final.