Os Replicantes – Os Replicantes 40 Anos [2025]
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Por Micael Machado
No ano de 2024, o grupo de punk rock gaúcho Os Replicantes completou quatro décadas de atividades sobre os palcos. Para celebrar a ocasião, um show da banda foi marcado para o dia 16 de maio daquele ano no Bar Opinião, em Porto Alegre, exatamente quarenta anos depois da primeira apresentação “oficial” da turma, ocorrida em 16 de maio de 1984 no seminal Bar Ocidente, na capital gaúcha. Infelizmente, a tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul no começo daquele maio de 2024 (causando, dentre outras tragédias, a maior enchente da história do Estado) fez com que a apresentação fosse postergada, com a “festa punk” ocorrendo somente no dia 15 de agosto daquele ano, em um Opinião completamente lotado para celebrar junto à banda este aniversário tão marcante. Parte da apresentação d’Os Replicantes naquela noite foi lançada oficialmente agora em julho de 2025 no disco Os Replicantes 40 Anos, através de uma parceria dos selos independentes E-Discos.net e Made In Soul Records. Com edição apenas em vinil (numa belíssima versão na cor preta esfumaçada, com capa gatefold, um encarte repleto de fotos e com a ficha técnica completa do show, tendo produção, mixagem e masterização a cargo de Lucas Hanke, da produtora Marquise 51), a bolachona traz alguns dos maiores clássicos da banda, além de algumas “surpresas” para os fãs de longa data.
Para esta apresentação especial, a banda reuniu, pela primeira sobre um palco, todos os integrantes que já passaram por seus diferentes “line ups” (eu mesmo já cheguei a assistir shows do grupo com as presenças de alguns músicos de formações anteriores em participações em ocasiões especiais, mas não com a totalidade dos oito membros e ex-integrantes da turma sobre o mesmo palco, na mesma noite). Desta forma, o disco (e a apresentação) começa com os integrantes da formação atual Cláudio Heinz (guitarras), seu irmão Heron Heinz (baixo) – ambos membros fundadores dos “Repli” – e a vocalista Julia Barth (no grupo desde 2006) junto ao baterista original Carlos Gerbase, que segurou as baquetas do quarteto desde sua fundação até 1989. Logo na segunda música, Julia cede lugar ao cantor original da turma, o “punk brega” Wander Wildner, que comanda o microfone nas próximas duas músicas (Wander volta à função mais adiante para cantar “Astronauta”), marcando a reunião da formação inicial dos Replicantes em uma apresentação ao vivo sei lá eu quantos anos depois da última vez de Wander, Cláudio, Heron e Carlos juntos sobre um palco em suas funções originais (talvez desde 1989?), antes do cantor passar o posto de “front man” para Gerbase, como já havia ocorrido antes na história do grupo, quando Carlos saiu de trás da bateria para se tornar a voz principal do grupo. Assim como ocorreu no passado, junto à troca de funções de Gerbase também chegam ao palco (e, metaforicamente, à própria banda) o baterista Cleber Andrade e a tecladista e cantora de apoio Luciana Tomasi (neste show, restrita apenas ao microfone). Neste disco, Gerbase permanece no posto por três canções, tendo, em uma delas, a companhia do saxofonista Ricardo “King Jim” Cordeiro, ex-integrante dos Garotos da Rua (outra importantíssima banda gaúcha no cenário do rock and roll), e que chegou a integrar os “Repli” na formação que gravou e divulgou o disco Andróides Sonham com Guitarras Elétricas, de 1990. Nas cinco primeiras músicas do Lado B, temos a presença apenas da formação atual do quarteto (Julia, Cláudio, Heron e Cleber) e o LP termina com as duas faixas do bis daquela noite, as clássicas “Surfista Calhorda” e “Festa Punk”, onde os versos são divididos pelos três vocalistas que já ocuparam esta função na banda, além das presenças de Luciana e King Jim nos backings.

A gravação do show, mesmo feita de forma independente, ficou muito acima da média (só achei a guitarra meio “magrinha” em certos momentos, mas nada que estrague a experiência), e o repertório escolhido para o disco, mesmo que não traga a íntegra do que aconteceu no Opinião naquela noite (um vídeo amador, facilmente encontrável no Youtube no momento em que escrevo, mostra um repertório de vinte e cinco músicas interpretadas na ocasião, contra as quatorze que constam da bolachona), serve como uma excelente representação dos momentos mais importantes da carreira dos Replicantes, ainda que muito focado nos dois primeiros discos (na minha opinião, os melhores e mais importantes da trajetória dos Repli), sendo que a faixa mais “lado B” seja, possivelmente, “Tom & Jerry”, que não costuma aparecer com muita frequência nos set lists da banda (e que sempre foi uma das minhas favoritas dentre a carreira da turma), ainda que o repertório completo da noite tenha contado com várias outras canções mais “obscuras” dentro da discografia do grupo.
Em certo ponto do disco, em uma das poucas interações entre banda e plateia mantidas na versão final do vinil (no citado vídeo, elas acontecem com frequência bem maior), Julia anuncia que a apresentação estava sendo filmada. Resta aguardar que estas imagens sejam liberadas oficialmente algum dia, bem como o restante das músicas interpretadas naquela marcante noite de agosto de 2024, talvez em um “volume dois” deste disco que já é, desde seu lançamento, um marco histórico do movimento punk no Rio Grande do Sul. Afinal, quarenta anos não são quarenta dias, e os Replicantes não são uma banda qualquer no cenário gaúcho! Que muitos anos mais ainda venham a manter o grupo sobre os palcos e pelos estúdios, nos presenteando com mais “festas punks” como a registrada neste vinil. Obrigatório!

Track List
Lado A
1. Nicotina
2. Sandina
3 O Futuro É Vortex
4. Boy Do Subterrâneo
5. Hippie Punk Rajneesh
6. Só Mais Uma Chance (Pin Up)
7. Astronauta
Lado B
1. Tom & Jerry
2. Motel Da Esquina
3. Punk De Boutique
4. Libertá
5. Maria Lacerda
6. Surfista Calhorda
7. Festa Punk
Pessoalmente, achei muito bacana como a banda representou sua história sobre o palco neste show específico! Abrindo com o trio original Claudio/Heron/Gerbase tendo à frente a atual vocalista Julia Barth, a turma voltou às origens com a troca de Julia por Wander no palco, apresentando a formação original junta novamente, algo que há anos não acontecia. Como ocorreu na carreira do grupo, Wander saiu do palco (e da banda) para Gerbase assumir os vocais, com Cleber e Luciana se unindo ao grupo junto com esta mudança. Depois veio King Jim, que foi efetivado no grupo e depois saiu, junto com Luciana e Gerbase, o que deu origem à volta de Wander. Representando esta mudança, os membros “desistentes” saem do palco (e do disco) e Wander volta para cantar mais algumas canções (no disco, apenas a citada “Astronauta”), antes de sair novamente (do palco e da banda) e dar lugar a Julia, que volta em definitivo ao palco (e, representativamente, à própria banda). A carreira e a trajetória do grupo foram representadas de forma muito inteligente, a meu ver, nesta sucessão de trocas de integrantes no palco (seguindo a ordem do que ocorreu na realidade), com o final servindo para unir todo mundo de novo, afinal, todos ainda fazem parte da mesma turma. A lamentar apenas o fato de disco não ser duplo, para contemplar as outras canções interpretadas na noite. Mas, quem sabe, uma futura versão em CD (ou mesmo em vídeo, como a declaração de Julia deixa a desejar) não corrija esta “falha”? Aguardemos!