Praying Mantis com Dennis Stratton: A Fase Mais Melódica da NWOBHM

Praying Mantis com Dennis Stratton: A Fase Mais Melódica da NWOBHM

Por Fernando Bueno

A New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) produziu centenas de bandas com variados graus de importância e reconhecimento. A meu ver, quatro delas extrapolaram os limites do movimento, tornaram-se amplamente conhecidas e são consideradas influências para muitos que vieram depois: Iron Maiden, Saxon, Def Leppard e Venom.

Além dessas, há um grande número de outros nomes que sempre são citados como referência por terem produzido álbuns de alta qualidade — entre eles, o Praying Mantis.

Eles quase foram reduzidos a uma banda de um álbum só, lançado durante o período de ouro da NWOBHM. Time Tells No Lies (1981) é considerado um dos clássicos da época, embora, na minha opinião, não seja o melhor trabalho da banda (leia mais sobre o álbum aqui). Depois disso, ficaram anos batendo cabeça, sem conseguir dar continuidade à carreira. Chegaram até a mudar o nome da banda para Stratus, cuja formação incluía o baterista Clive Burr e o vocalista Bernie Shaw.

Essa, aliás, não foi a única ligação com o Iron Maiden. Anos depois, durante um show no Japão — evento que buscava resgatar a nostalgia da NWOBHM — convidaram Dennis Stratton e Paul Di’Anno para participações especiais. O show foi gravado e lançado sob o nome Live at Last. Em seguida, Dennis Stratton foi efetivado na banda, iniciando uma parceria que resultaria em diversos álbuns — e é essa fase que será tema deste texto.

Após sua saída do Iron Maiden em 1980 (após o álbum de estreia), Dennis Stratton tocou em diversos projetos, incluindo Lionheart e o projeto Gogmagog. Sua saída do Iron Maiden se deu muito pelo tipo de música que o guitarrista gostava e pela intenção de adicionar mais polimento às músicas, algo que ele já esboçava fazer no Iron Maiden. Isso desagradou a Steve Harris e sua saída foi questão de tempo.

Esse estilo mais melódico de Stratton casou perfeitamente com a sonoridade do Praying Mantis — mais próxima do AOR e do hard rock melódico. O primeiro álbum dessa nova fase foi Predator in Disguise (1991), que abusava das harmonias de guitarras e vocais bem trabalhados em uma mistura de hard rock melódico e heavy metal. A formação incluía Tino Troy (guitarra e piano), seu irmão Chris Troy (baixo e voz), Bruce Bisland (bateria) e Dennis Stratton na outra guitarra e, um detalhe importante, também era creditado como voz principal e isso vou detalhar um pouco mais na frente. Tino e Dennis também assinam a produção do disco.

Outro detalhe curioso é que o produtor executivo dessa nova empreitada foi o japonês Itoh Masanori — jornalista, DJ e entusiasta do rock, conhecido por participar de diversos documentários sobre o gênero ao longo dos anos.

A sequência veio com A Cry for the New World (1993), que manteve a linha melódica do álbum anterior e acrescentou climas mais épicos, lembrando bastante bandas como UFO e Thin Lizzy. O terceiro álbum com Stratton, To the Power of Ten (1995), é ligeiramente inferior aos anteriores, mas mantém a mesma proposta musical.

Quanto aos vocais, há certa confusão. Em Predator in Disguise, apenas Tino e Dennis são creditados. No disco seguinte, junta-se Colin Peel, e em To the Power of Ten, aparece também o nome de Gary Barden (ex-MSG). Se você ouvir os discos sem atenção aos créditos, pode ter a impressão de que é sempre o mesmo vocalista. Isso se deve ao uso intenso de harmonias vocais e à semelhança entre os timbres. Ou, talvez, à tentativa consciente de manter uma uniformidade sonora. Na minha análise, as faixas em que Dennis Stratton canta sozinho são, ao menos: “Can’t See the Angels” (Predator in Disguise), “Best Years” (A Cry for the New World) e “Turn the Tide” (To the Power of Ten).

Foi com Gary Barden nos vocais que gravaram um álbum ao vivo no Japão: Captured Alive in Tokyo City (1996). Mas outra conexão com o Iron Maiden ainda surgiria. Durante a turnê japonesa de 1995, o baterista Bruce Bisland sofreu um acidente de bicicleta e quebrou o braço. Para não cancelar os shows — já que a banda era bastante popular no Japão — Clive Burr foi chamado para substituí-lo. Ele é, portanto, o baterista nesse registro ao vivo. Seria o “Praying Maiden”?

Após isso, iniciou-se uma nova fase. Tony O’Hara foi convidado a se tornar vocalista principal e também trouxe suas habilidades como tecladista, o que agregou ainda mais à sonoridade da banda. O resultado foi Forever in Time (1998), considerado por muitos o melhor trabalho do grupo — e é difícil discordar. Dois anos depois, com essa formação consolidada, lançaram Nowhere to Hide, um bom álbum também, embora alguns fãs achem que a banda exagerou nos elementos AOR. Pessoalmente, não vejo problemas no álbum. Um detalhe importante é que a participação de Dennis Stratton começou a diminuir — tanto nas composições quanto nos vocais.

O encerramento dessa fase veio com um disco um tanto estranho. Dennis Stratton praticamente limitou-se às guitarras, já não contribuía nas composições, Tony O’Hara saiu e os vocais foram divididos entre John Sloman (Uriah Heep, Lone Star, Gary Moore Band), Dougie White e, pela primeira vez, Chris Troy assumindo os vocais principais em uma faixa.

Seguiu-se mais um hiato na carreira da banda, que só retornaria seis anos depois com os irmãos Troy e novos músicos. Desde então, lançaram cinco álbuns, sempre mantendo o selo de qualidade do Praying Mantis — mas essa já é outra história.

A fase com Dennis Stratton ajudou a consolidar o estilo do grupo inglês, contribuindo com sua abordagem melódica na guitarra e nas harmonias vocais — hoje uma das marcas da banda. Foi uma época de maturidade musical, marcada por um hard rock britânico mais clássico, distante do metal agressivo e mais próximo do AOR. Muitos fãs consideram essa a melhor formação da banda, mesmo que tenha atuado quase exclusivamente em nichos. Todos esses álbuns foram lançados praticamente apenas no Japão, com tiragens mínimas no Reino Unido. Dennis Stratton é sempre tratado como o ex-Iron Maiden, mas seria muito mais justo ele ser conhecido com o ex-Praying Mantis.

O Praying Mantis é uma banda que nunca recebeu o reconhecimento que merece. Espero que esta análise ajude, de alguma forma, a influenciar novos ouvintes.

 

3 comentários sobre “Praying Mantis com Dennis Stratton: A Fase Mais Melódica da NWOBHM

  1. Grande texto, Fernando, parabéns! Acho que o Praying Mantis, realmente, merece mais reconhecimento! De suas várias fases, os álbuns que mais curto são, justamente, “Forever in Time” e “Nowhere to Hide”. Acho que você poderia destrinchar mais bandas do NWOBHM e também do AOR…

    1. E os discos mais novos?
      Sanctuary (que é de 2009 e nem é tão novo assim) e o Defiance (o último) são meus preferidos.
      Sempre fiz textos sobre a NWOBHM. Eu parei um pouco pq teve uma época que era só isso…rs

  2. Aí está uma banda que eu não ouço há muito tempo e que, graças ao texto, vou recuperar. Era difícil conseguir discos do Praying Mantis em Floripa, então por muito tempo ela foi uma daquelas que eu só ouvia falar…
    Vou atrás desses discos comentados aqui para ver se reconheço algum – ouvi a banda em casa de amigos e não lembro mais dos discos que foram tocados (só lembro que rolou dois em sequência!).

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