Tralhas do Porão: Highway Robbery

Tralhas do Porão: Highway Robbery

Por Ronaldo Rodrigues

Insatisfeito com sua banda, o Boston Tea Party, e analisando os novos rumos que as bandas estavam tomando no começo dos anos 70, o guitarrista Michael Stevens resolveu apostar suas fichas numa nova ideia – criar um power-trio para tocar um som pesado. O Grand Funk Railroad estava na crista da onda nos EUA e tocar rock no último volume também era o quente outro lado do Atlântico. Para a empreitada, apareceram na história o baterista Don Francisco, nova-iorquino, que estivera na Califórnia envolvido com as bandas Atlee e Crowfoot e o baixista John Livingston Tunison, que estava envolvido com o grupo chamado Manitoba Hugger, de Illinois. O Manitoba Hugger, apesar de pouquíssimo conhecido hoje em dia, teve até alguns feitos importantes na carreira, com a participação em festivais hippies que contabilizaram dezenas de milhares de cabeças, como o que aconteceu na Illinois Speed Press, em 1969, junto com o Grateful Dead e o Crow.

Stevens tinha diversas composições prontas (que tiveram seus arranjos incrementados pelos colegas) e o material que o grupo estava trabalhando (apenas em ensaios e audições, já que não se apresentaram antes do disco ser lançado) chamou a atenção da dupla de empresários Robert Cavallo e Joseph Rufallo, que já tinham trabalhado com grupos como o Little Feat e o Weather Report. O grupo estava suportando Maurice White (famoso depois pelo Earth, Wind & Fire) que ajudou a promovê-los para os empresários. Ambos ficaram impressionados com a performance do pessoal assim que puderam vê-los ensaiando. Rapidamente, a dupla colocou o grupo em contato com o produtor Bill Halverson (que já tinha trabalhado com Delaney & Bonney, Eric Clapton e CSN&Y), que topou produzir o disco do já batizado Highway Robbery, e um contrato foi assinado com a RCA Victor.

Michael Stevens, Don Francisco e John Living Tunison - o trio Highway Robbery
Don Francisco, Michael Stevens e John Living Tunison – o trio Highway Robbery

Tudo parecia seguir por um caminho promissor. Porém, o produtor Bill Halverson não fez muita conta da moçada. Ainda que eles estivessem gravando no estúdio C da RCA Victor, em Hollywood, o referido produtor enxergava aquele trabalho como mera  e tediosa rotina atrás de grana, não oferecendo nenhum capricho que fosse minimamente necessário. O processo todo aconteceu de forma expressa e a banda gravou rapidamente o disco que ficou batizado como For Love or Money, em 1972. A RCA também providenciou um compacto com as faixas “All I Need to Have is You” e “Mistery Rider”. O compacto não emplacou e o disco vendeu muito pouco. Poucas apresentações foram agenciadas para o grupo, que naquela altura, parecia estar abandonado a própria sorte. Já em 1973, sem nenhum alarde os músicos debandaram, desiludidos pela má aceitação e pela dispensa da RCA. Pouco se sabe dos reais motivos das baixas vendas e dos concertos que a banda fez para promover o disco. No mínimo duas músicas do disco tinham alto potencial comercial (e uma inegável qualidade de composição) – a baladinha “All I Need to Have is You” e “Bells”, uma canção com um clima mais suave e estradeiro.

Bill Halverson, o produtor
Bill Halverson, o produtor

 

Depois do desmanche do Highway Robbery, Don Francisco tocou com o ex-Beau Brumells, Ron Elliot e com a banda que acompanhava Linda Ronstadt. Depois entrou para o grupo Pan e formou o Big Wha-Koo, com David Palmer, que tinha sido vocalista nos primeiros anos de estrada do Steely Dan. John Tunison se firmou nos bastidores, como produtor e músico de estúdio e sobre os rumos de Michael Stevens não se tem notícias.

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For Love or Money, gestado todo em cima das composições e letras de Michael Stevens, é mais um daqueles primores perdidos do som pesado dos anos 70. Saltam camadas sonoras de pura pulsação e vibrações viscerais como a martelação percussiva de “Fifteen” e o som ardido de “Lazy Woman” e “Promotion Man”. A melidronsa e soturna “I’ll do it all again” é outro destaque.

Se há alguma crítica a se fazer é pelo excesso de vocalizações, que nem sempre funcionaram. As vozes (divididas) ficam em cima do muro e vez em quando, parecem desconectadas do peso cru da guitarra e da velocidade das canções. Nota-se que para esse tipo de som, o melhor resultado é quando o baixista John Livingston Tunison assume os microfones.

No ano 2000, o disco foi reeditado em CD pelo selo Smokin’, mas há quem diga que a qualidade sonora ficou aquém do que era no lançamento original em LP. O disco da época é raro de ser encontrado fora dos EUA, para conferir se realmente há uma diferença substancial entre o registro da época e a reedição em CD.

Faixas:

1. Mystery Rider

2. Fifteen

3. All I Need (To Have Is You)

4. Lazy Woman

5. Bells

6. Ain’t Gonna Take No More

7. I’ll Do It All Again

8. Promotion Man

Um comentário em “Tralhas do Porão: Highway Robbery

  1. Que tralhas de porão maravilhosas, Ronaldo! Sensacional! Vou te confessar que já registrei aqui no meu bloquinho de anotações todas as bandas que não conhecia, inclusive a Highway Robbery, para ir atrás de tudo o que mencionou! Seu texto, para tratar da banda em questão, menciona mais uns outros 16, 18 artistas e bandas! Tenho garimpagem garantida pelas próximas semanas, pois tirando Grand Funk, Eric Clapton, CSN&Y, Weather Report, Delaney & Bonney, Crow, Linda Ronstadt e Grateful Dead, o restante que cita eu nunca ouvi falar. Parabéns!

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