Caravan – In The Land of Grey and Pink (1971):

Por Daniel Benedetti
In the Land of Grey and Pink é o terceiro álbum de estúdio da banda britânica Caravan, lançado originalmente em abril de 1971 pelo selo Deram Records. Os membros originais do grupo; David Sinclair, Richard Sinclair, Pye Hastings e Richard Coughlan estiveram todos no Wilde Flowers, com sede em Canterbury, embora não ao mesmo tempo. Richard Sinclair foi um dos primeiros membros, mas saiu em setembro de 1965 para estudar na faculdade. Hastings substituiu Robert Wyatt como vocalista do grupo e Coughlan como baterista da banda quando Wyatt, que desempenhava ambos os papéis, formou a Soft Machine.
David Sinclair se juntou ao grupo no final de 1966, mas depois que o futuro membro do Soft Machine, Hugh Hopper, deixou o grupo em junho do ano seguinte, eles começaram a perder força e se separaram em outubro de 1967. Coughlan, Hastings e os dois Sinclairs formaram posteriormente o Caravan em 1968.
Em outubro daquele ano, eles atraíram o interesse do editor musical Ian Ralfini, que os contratou para a gravadora americana Verve Records, e se tornou o primeiro conjunto britânico que o selo adquiriu. O Verve posteriormente lançou o LP de estreia da banda, Caravan (1968), no mesmo ano, mas alguns meses depois a gravadora saiu do Reino Unido e abandonou o grupo. Depois de uma série de shows em Londres, incluindo o Speakeasy Club, a banda foi apresentada a Terry King, que se tornou o primeiro empresário do grupo. David Hitchcock, que trabalhava no departamento de arte da Decca Records, pediu ao presidente da empresa para assinar com o Caravan.
O conjunto começou a gravar seu segundo álbum, If I Could Do It All Over Again, I’ d Do It All Over You (1970), em setembro de 1969, enquanto continuava a fazer shows no circuito universitário e a aparecer em festivais ao lado de Pink Floyd, Yes, The Nice e Soft Machine. O álbum foi lançado em agosto, juntamente a uma aparição no Plumpton Festival com o Van der Graaf Generator, o Yes e o Colosseum. O single “Hello Hello” ajudou a banda a aparecer no programa de TV Top of the Pops, cantando a faixa-título do álbum. Nesta época, o Caravan começou a construir seguidores ao vivo, incluindo uma aparição no Kralingen Pop Festival, na Holanda, para um público de 250 mil pessoas e no 10º Plumpton Festival. No outono de 1970, o Caravan começou a trabalhar em um de seus álbuns mais aclamados pela crítica, In the Land of Grey and Pink (1971). O equilíbrio das composições mudou em relação aos dois álbuns anteriores, com Richard Sinclair assumindo um papel mais proeminente.

Como os caras tiveram problemas para produzir o álbum anterior, If I Could Do It All Over Again, I’d Do It All Over You, o grupo decidiu colaborar com o produtor David Hitchcock. Hitchcock tornou-se um fã da banda e foi uma figura chave para que eles assinassem contrato com a Decca Records. Ele progrediu do departamento de arte da gravadora para a produção e estava ansioso para atuar no álbum. O grupo estava apreensivo com o fato de Hitchcock ter trabalhado em ‘If I Could Do It All Over Again…’ mas depois de descobrir seu entusiasmo e ideias criativas, decidiu que seria uma boa ideia tê-lo como produtor.
A gravação começou em setembro de 1970 no Decca Studios, West Hampstead, Londres. O guitarrista Pye Hastings compôs a maior parte do material dos álbuns anteriores, o que levou a um acúmulo de músicas compostas pelo resto do grupo; conseqüentemente, ele ofereceu apenas uma única música para este disco, “Love to Love You (And Tonight Pigs Will Fly)”. O baixista Richard Sinclair escreveu “Golf Girl”, uma música sobre sua namorada e futura esposa. Ambas as canções foram compostas em um estilo pop direto, em contraste com algumas peças mais longas do álbum. O tecladista David Sinclair compôs vários segmentos musicais diferentes que queria unir em um conjunto de canções. O grupo ajudou na organização e junção das seções, resultando em uma peça de 22 minutos, “Nine Feet Underground”. A música foi gravada em cinco seções separadas e editada em conjunto por Hitchcock e o engenheiro de som Dave Grinsted. A maior parte da obra é instrumental, exceto duas seções com letras. David Sinclair tocou a maior parte dos solos da faixa, e de fato, o álbum inteiro, tanto no órgão fuzztone quanto ao piano.
A maior parte do álbum, exceto “Nine Feet Underground”, foi gravada em dezembro no Air Studios em Oxford Street. “Group Girl” foi testada no Decca Studios, mas foi regravada com letras diferentes como “Golf Girl”, que apresentava partes de flauta e trombone. “Winter Wine” foi gravada em setembro como um instrumental áspero com vocais sem palavras, mas recebeu uma segunda tentativa no Air Studios, quando já havia adquirido letras sobre sonhos e contos de fadas. A versão final apresenta uma introdução de violão com influência folk e inclui uma seção de órgão improvisada no meio. A última faixa a ser gravada foi a faixa-título, que trazia o som de Richard Sinclair soprando bolhas. O álbum foi mixado na Decca em janeiro de 1971.
“Golf Girl” é uma canção bem divertida, contando com uma sonoridade influenciada pelo rock psicodélico. “Winter Wine” oscila entre melodias acessíveis, de origem “pop”, ao mesmo tempo em que apresenta rebuscamento instrumental, com a flauta trazendo um ar bucólico.” Love to Love You (And Tonight Pigs Will Fly)” foi o single do disco, com uma pegada mais simples e vocais de Pye Hastings que versam sobre magias. A faixa-título conta com uma musicalidade interessante, um rock com pegada psicodélica e influências folk, além de ótimos vocais de Richard. “Nine Feet Underground” conta com mais de 22 minutos, forte influências do Jazz, 8 seções, sendo a suíte sensacional que encerra o disco. Hastings e Richard dividem os vocais nesta fabulosa peça de arte.

In the Land of Grey and Pink é um dos pontos mais altos deste excelente Caravan, pois aponta para os fortes elementos que constituem a cena musical de Canterbury. A influência psicodélica, em canções mais diretas, enquanto a veia Jazz-Fusion fica evidente nas canções maiores. A fantástica suíte “Nine Feet Underground” demonstra fidedignamente toda a categoria dos músicos que compunham a banda e os elementos diferenciais da mesma: alternâncias de sonoridades, dinâmica de movimentos, solos inspirados e melodias belíssimas. “Golf Girl” é contagiante, com uma leve influência pop que dá a ela uma sensibilidade única. A psicodelia come solta na atraente “Love to Love You (And Tonight Pigs Will Fly)” e a roupagem folk e bucólica de “In the Land of Grey and Pink” é marcante.
O álbum foi lançado em abril de 1971 e apresentava uma capa influenciada por Tolkien, desenhada por Anne Marie Anderson. Não chegou às paradas no Reino Unido, mas vendeu de forma constante ao longo da década de 1970, com “Nine Feet Underground” se tornando uma faixa popular nas rádios FM noturnas. O grupo ficou frustrado com a falta de sucesso comercial, o qual atribuíram à falta de promoção da Decca. Em agosto de 1971, David Sinclair aceitou uma oferta para se juntar ao ex-baterista e vocalista do Soft Machine, Robert Wyatt, em uma nova banda, a Matching Mole.
A Rolling Stone listou o álbum na 34ª colocação em sua lista dos 50 melhores álbuns de rock progressivo de todos os tempos. Na edição especial, Q and Mojo Classic Pink Floyd & The Story of Prog Rock, o álbum ficou em 19º lugar em sua lista de “40 álbuns de rock cósmico”.
A banda olha favoravelmente para o álbum. Hastings disse posteriormente que o grupo “começou a atingir o auge de várias maneiras” e elogiou em particular a forma de tocar de David Sinclair e as habilidades de produção de Hitchcock. O Caravan continuou apresentando músicas de In the Land of Grey and Pink em seu repertório ao vivo, principalmente “Nine Feet Underground” e “Golf Girl”. Em 1972 o grupo lançaria seu 4º álbum de estúdio, Waterloo Lily.
Faixas:
- Golf Girl – 5:05
- Winter Wine – 7:46
- Love to Love You (And Tonight Pigs Will Fly) – 3:06
- In the Land of Grey and Pink – 4:51
- Nine Feet Underground – 22:43
(Vocais de R. Sinclair e P. Hastings)
Um álbum sensacional de uma banda que teve uma carreira meio complicada, com muitas idas e vindas de músicos e algumas mudanças radicais de sonoridade, “In the Land of Grey and Pink” é daqueles discos que quem gosta não consegue entender como é que tem pessoas que não o curtem, e quem não gosta simplesmente não vê motivo para tanta adoração. Foi o segundo disco que comprei do Caravan, uma banda que eu “ouvia falar” e não encontrava nem discos para comprar, nem pessoas que gostassem deles para me emprestar um álbum (o primeiro foi o “Live Fairfield Halls 1974”, que arrisquei comprar porque estava baratinho na loja – e adorei). Aqui o grupo atingiu o que provavelmente foi seu apogeu (não consigo me decidir entre este e o “For Girls Who Grow Plump in the Night”), com músicas bastante atraentes – e o épico “Nine Feet Underground” (se o Mairon permitir, um dia invado a coluna “Maravilhas do Mundo Prog” para comentar sobre essa música fantástica) para provar que a banda era capaz de progar como os melhores progs. Acho a linha de baixo da faixa-título algo simplesmente fenomenal, e o vocal de Richard Sinclair está perfeito nas ótimas “WInter Wine” (que tem uma versão instrumental nas reedições em CD, com o baixista apenas fazendo a melodia vocal) e “Golf Girl”. Espero que a (excelente) resenha do Davi Pascale motive quem não conhece a banda a ir atrás do disco e, quem sabe, procurar mais coisas deles.
Estava me esquecendo da capa fantástica, que na box set que compilou todos os discos da banda foi transformada em um “mapa” de Canterbury destacando os lugares mais importantes para a história do Caravan na cidade.
Valeu, Marcello.
Este disco merece mais atenção mesmo. Abraço!