Do Pior Ao Melhor: Pink Floyd

Do Pior Ao Melhor: Pink Floyd

Por Mairon Machado

Em se tratando de Pink Floyd, uma banda gigante mas uma discografia relativamente curta, fazer uma análise de quais os melhores e piores discos é uma tarefa não muito ingrata. Digo não muita por que é relativamente fácil para mim escolher o melhor e o pior, e até o mesmo o segundo melhor e o segundo pior. Porém, o recheio da lista sim, é bastante complexo. São 15 discos no total (lembrando que só os discos de estúdio entram aqui, mas acabei tendo que incluir Ummagumma por ser mezzo ao vivo mezzo em estúdio), e daí, tirando esses quatro citados, sobram 11 para se degladiarem nas posições

Vamos então a lista Do Pior Ao Melhor disco feito por Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Rick Wright (e mais Syd Barrett)


15. The Endless River [2014]

O 15° disco do Pink Floyd é o 15° dessa lista. Quero ressaltar que chamá-lo de “pior” não necessita dizer que ele é ruim. É um trabalho em homenagem ao falecido Rick Wright, e que resgata canções e improvisos realizados durante a gravação de The Division Bell. O resultado é um álbum praticamente todo instrumental, recheado de longos solos, mas que acaba sendo pouco marcante. As faixas onde Wright se sobressai, como “On Noodle Street”, “The Lost Art of Conversation” ou as duas “Allons-Y” são os melhores momentos. Mas no geral, não há uma música que grude, como em todos os demais discos do Floyd, e tão pouco algo que você vá dizer “nossa, isso é animal“. É um belo disco, mas só. Se fosse lançado como carreira solo de Gilmour, talvez recebesse mais atenção.


14. A Momentary Lapse of Reason [1987]

O retorno inesperado depois de um “longo” hiato de três anos do Pink Floyd foi sem seu líder Roger Waters, e tendo agora David Gilmour como figura central. Ao lado de Mason (e Wright novamente como músico contratado, assim como fôra em The Final Cut), Gilmour cria um novo Floyd, com sua voz aveludada brilhando junto de sua guitarra, e claro, fazendo um progressivo bastante moderno. Eu gosto do disco, destaco boas faixas como a complexa “Sorrow”, a baladaça “On the Turning Away”, um dos grandes solos da carreira de Gilmour, e o mega-sucesso “Learning to Fly”, que coloca os vocais femininos em destaque. Porém é difícil aturar “The Dogs of War”, “Terminal Frost”, as duas “A New Machine” e “Yet Another Movie / Round And Round”. A eletrônica “One Slip” até curto, mas para Pink Floyd, é uma música bem aquém. Em um disco 50% bonzinho, e 50% brabo de ouvir, penúltima posição até que é lucro.


13. More [1969]

Agora começa a complicar. Cada disco a seguir poderia mudar facilmente de posição (com exceção do primeiro), e More acaba abrindo essa sequência. É uma trilha sonora, o que nos leva a ouvir com uma atenção diferente, mas é inegável que não há como não se surpreender com o peso de “The Nile Song” e “Ibiza Bar”, ou o jazz fusion de “Up The Khyber”, uma das mais subestimadas faixas dos caras. Por outro lado, os violões de “Cirrus Minor” e ‘”Green is the Colour”, com o órgão de Wright brilhando na primeira, e o piano na segunda, dão ainda mais charme para a obra. Só que “A Spanish Piece”, “Crying Song”, “Main Theme” e “Party Sequence” são justificáveis apenas para trilha sonora mesmo. E “Quicksilver” é muita viagem e demasiada longa. Uma pena, por que as músicas boas aqui realmente são muito boas.


12. Ummagumma [1969]

O disco ao vivo e o disco de estúdio ficam na rabeira muito mais pelo estúdio do que pelo ao vivo. Três das quatro faixas caught in the act são excelentes amostras do que o Floyd fazia no final dos anos 60 e início dos 70, sendo “Astronomy Domine” uma das minhas músicas favoritas da banda na versão aqui registrada. “Careful With that Axe, Eugene” é alucinante, e “A Saucerful of Secrets” é simplesmente de chorar, numa das melhores performances de Wright e Mason. “Set The Controls for the Heart of the Sun” já considero mais aquém das demais, e então, ao entrar no álbum de estúdio, é difícil aproveitar algo realmente bom dali. Claro, eu curto “Grantchester Meadows” e algumas das partes de “Sysyphus” e “The Narrow Way”, mas é muito pouco para qualificar o álbum em uma posição maior. E nas demais faixas, muito do que acabamos ouvindo é realmente pura experimentação. Assim como More, não entra no Top 10 hoje, mas, oscila bastante na margem de erro para ficar no máximo na décima posição.


11. The Wall [1979]

Por mais que The Wall seja tido por muitos como uma obra-prima do Pink Floyd, não é o caso nas minhas audições. Claro, é um belo disco, sem sombra de dúvidas, mas a história talvez seja melhor que o disco, e as melhores músicas do álbum acabaram ficando melhores ao vivo do que aqui (preciso dizer quais são???). The Wall é um disco que ou você ouve inteiro concentrado na história, ou passa por faixas fracas como “Vera”, “Stop”, “Bring the Boys Back Home” entre outras, achando que são só músicas soltas, e que “Comfortably Numb” e “Another Brick in the Wall” são também faixas nada a ver com o contexto geral do roqueiro Pink. Para desentendidos, um disco com boas músicas acolá. Para um fã como eu, uma baita história, mas que musicalmente funcionou melhor ao vivo.


10. The Piper At Gates of Dawn [1967]

A estreia da banda é pura psicodelia. Até é meio que injusto tentar comparar o que o Floyd faz em The Piper at Gates of Dawn com os demais discos do grupo. Nada aqui vai soar parecido com o que os britânicos fizeram depois, culpa única e exclusivamente da presença de Syd Barrett. Uma das melhores estreias de todos os tempos traz pedradas como a citada “Astronomy Domine”, “Take up Thy Stetoschopy and Walk”, “Bike”, “Scarecrow”, entre outras, e fico sempre me perguntando onde a mente doentia e alucinada de Barrett teria levado o Floyd caso ele continuasse na banda? Talvez seria uma das mais de centenas de obscuridades que Londres pariu (e engoliu) entre 1965 e 1968.


9. Obscured By Clouds [1972]

Esta foi a última trilha sonora totalmente composta pelo Pink Floyd, e em comparação com More, é com certeza um disco melhor. O Floyd capricha nas canções instrumentais, com destaque para a pesada “When You’re In”, a delicadeza de “Burning Bridges” e “Mudmen”, e a sensacional “Stay”, na qual o Floyd aprimora suas composições mais lentas com primor. Gosto das viagens da faixa-título e das experimentações sonoras nos teclados de “Childhood’s End” e “Absolutely Curtains”, e é evidente como Wright foi um membro fundamental para criar o som tradicional que consagrou o Floyd, mesmo sendo os pilares centrais a guitarra de Gilmour e as letras de Waters. Obscured by Clouds acaba não soando como uma trilha sonora, mas como uma brincadeira de estúdio feita pelo grupo, e mesmo sendo discutido entre os fãs sobre sua qualidade, considero sim um belo disco, que como seus antecessores nessa lista, talvez merecesse uma posição melhor.


8. The Division Bell [1993]

Quando o Pink Floyd “voltou” em 1993, ninguém sabia o que esperar. Ainda mais que agora, depois de todo o litígio entre Waters e Gilmour, Wright voltava a ser membro oficial. Ao lado de Mason e Gilmour, criam o excelente “disco azul”, que amadurece e melhora as obras confusas e fracas de A Momentary Lapse of Reason (AMLOR), e dão uma nova cara para a banda, a cara rechonchuda e com biquinhos na boca de Gilmour. Surgem então canções suaves e bonitas, com andamentos leves, como “Coming Back to Life”, “Lost for Words” e “Poles Apart”, onde Gilmour brilha nos solos, assim como na belíssima instrumental “Marooned”. Apesar de terem faixas ainda comercias e que remetem a AMLOR (“What do You Want From Me” e “Take it Back” em especial), aqui está uma das melhores faixas da carreira dos caras, “High Hopes”. Em muito tempo Gilmour não havia criado nada similar a esta faixa, e ainda hoje não fez algo se quer 1/10 igual. Disco muito bom, e que ainda hoje soa surpreendente.


7. A Saucerful of Secrets [1968]

Bah, pior que eu gosto desse disco. É a psicodelia londrina preparada com novos temperos, que levam ao nascimento do progressivo meses depois, e aqui sendo preparada com uma qualidade rara. O disco é praticamente perfeito nesse quesito, vide faixas maluquetes como “Corporal Clegg” e “Remember a Day”. É o Floyd Barrettiano (Barrett está em “Jugband Blues”, sua última faixa com o grupo), mas caminhando para níveis maiores e melhores, criando coisas visionárias como a faixa-título, assombrosa e delirantemente fantástica, com usos de instrumentos como xilofone, o órgão carregado de efeitos de Wright e muita percussão, além de Gilmour fazendo misérias junto de um coral dramático e espetacular. E também se preparando para a nova – e melhor – fase com as experimentações de “See-Saw” e “Set the Controls for the Heart of the Sun”. Belíssimo e injustiçado disco, que talvez pudesse estar num Top 5. Se bem que a concorrência agora é ainda mais complicada …


6. The Dark Side of the Moon [1973]

Já vi que está chovendo pedras e facas lá fora, mas não, The Dark Side of the Moon está longe ser meu disco favorito do Pink Floyd. Óbvio que gosto do disco, óbvio que ele é incrível, mas há cinco discos da banda que considero melhores que este. E sabe por que? Por que não sou tão admirador assim dos clássicos que estão aqui. “Time” e “Money” meio que encheram o saco já (assim como “Another Brick in the Wall part II”), e as instrumentais não contribuem muito para eu curtir DSOTM como deveria. Apesar de ter “The Great Gig in the Sky” e “Us And Them”, duas das minhas favoritas da carreira do grupo, no todo acho que o disco ainda está abaixo dos cinco que virão. Tomates e ovos podres chegando em 3, 2, 1 …


5. Wish You Were Here [1975]

Agora é briga de facão. Se os anteriores já poderiam ocupar essas posições até a quinta, daqui até o pódio é muito, mas muito difícil dizer qual o melhor. Coloco Wish You Were Here na quinta posição muito por que, assim como “Another Brick in the Wall pt. II” e “Time”, cansei da faixa-título. Mas por outro lado, “Shine On You Crazy Diamond” em sua totalidade é uma obra-prima que dá muitos pontos para o disco, complementando por uma pancada do porte de “Have a Cigar” e as viagens nos teclados de “Welcome to the Machine”. Um disco que é uma paulada, e que deve ser ouvido com toda a calma e beleza que cada acorde dessas canções entrega ao fã.


4. Animals [1977]

Um discaço quase que completo. “Dogs” é uma paulada que impressiona a cada minuto, com viajantes teclados e um Gilmour inspiradíssimo. “Sheep” e “Pigs (Three Diferent Ones)” seguem os mesmos caminhos, porém agora com Waters se destacando junto de Wright, e se fossem apenas essas três épicas faixas, Animals talvez estivesse uma ou duas posições acima. Afinal, é um peso descomunal para um grupo prog, mas com muitos trechos viajantes e extremamente sensacionais. Porém, a ideia de Waters ganhar mais uma $ e colocar duas “Pigs on the Wing” no início e no fim do disco acaba contribuindo negativamente na qualidade final. Então, quarto lugar para ele.


3. The Final Cut [1983]

Muita gente diz que é um álbum solo do Waters, mas o nome na capa (ou no selo) é Pink Floyd, e tem David Gilmour e Nick Mason, e o melhor, o disco funciona. Desde que ouvi a primeira vez, The Final Cut me impactou. A dramaticidade que Waters carrega em sua interpretação vocal me agrada muito, e a obra toda, contando sobre como a guerra afeta a vida de uma pessoa, funciona muito bem. Aqui não há uma música em específico a se destacar, mas o conjunto total das canções, na qual justamente a que ficou mais popular, “Not Now John”, é a que destoa das demais (tipo um “Under Pressure” para o Hot Space). Se fosse para escolher só três canções que amo aqui, apresentaria “Your Possible Pasts”, “The Fletcher Memorial Home” e a faixa-título, principalmente pelas colaborações primorosas dos solos de Gilmour. Quem critica o disco por não existir nele o Pink Floyd de outrora, na verdade é uma viúva marota de Gilmour. Top 3 tranquilo.


2. Meddle [1971]

Seguindo o excelente momento de criatividade do quarteto, Meddle veio como um disco de transição em relação a fase do fim dos anos 60. As explorações musicais ainda estavam presentes, vide a grande suíte “Echoes” que ocupa todo o lado B do vinil. Porém, o lado mais comercial começava a surgir em canções amenas como “San Tropez”, “A Pillow of Winds” e “Fearless”. Fazendo o cercamento dessas faixas, a imortal e pesada “One of These Days” e o hilário blues de “Seamus”. O Floyd foi ao seu limite dentro dos estúdios, levando um cão para gravar uma canção, mas ao mesmo tempo encontrou os caminhos musicais que o levaram a criar Dark Side of the Moon e se tornar um gigante mundial. Tudo começou aqui.


1. Atom Heart Mother [1970]

Podem me chamar de louco, mas esse é o verdadeiro Pink Floyd. Cada membro contribuindo equanimemente para criar músicas fantásticas, e que representam o que os britânicos tinham de capacidade para juntos, propiciarem alegrias aos ouvidos. A suíte da faixa-título é o suficiente para garantir um Top 3, mas o Floyd cria peças incríveis chamadas “Summer ’68” e “If”, daí é Top 2. Com a delicada “Fat Old Sun” e os experimentalismos de “Alan’s Psychedelic Breakfast”, aí é topo do pódio fácil. Sem mais o que falar, colocar ele na primeira posição indica que este é também um dos melhores discos de todos os tempos, e se fosse eu professor de Artes, levaria fácil para a sala de aula. Obra prima!

3 comentários sobre “Do Pior Ao Melhor: Pink Floyd

  1. Vamos lá…

    “É um belo disco, mas só” não é não, risos. Só não é o pior da banda porque o Momentary fede a mofo.

    Concordo que ao vivo o The Wall funciona melhor (especialmente pela transição das faixas), mas 11° é loucura, ainda mais com as sobras dele em terceiro (!!!)

    Meddle merece estar alto, diferente do The Division Bell – malemá o único elemento onde este é superior ao Piper talvez seja a capa, e olhe lá. Atom Heart Mother é sim um bom disco, não entendo a rejeição que a banda nutre por ele… melhor do Floyd não, mas top 10 é garantido.

    Outras boas bandas para esta seção: Beatles, King Crimson, Kiss…

  2. Lista que provavelmente vai levantar controvérsia; mas é aquele negócio, gosto é como nariz, todo mundo tem, e cada um gosta de um tipo diferente.
    Eu nunca ordenei os discos do PF, para ser franco, e me alinho com a escolha de Atom Heart Mother como o melhor de todos, pois faz um tempão que é meu favorito. Mas para mim Animals viria em segundo lugar (de vez em quando alterna com Atom… no topo) e Wish You Were Here em terceiro, completando o pódio. Daí em diante vai uma confusão do cão, porque depende de como estiver a cabeça na hora de ouvir. Mas o meu último colocado é A Momentary Lapse…, que até é um bom disco para 1987, mas não é um bom disco para o Pink Floyd – não estaria alto na lista nem mesmo como disco-solo do Gilmour, na minha opinião. Quero reforçar, não é que o disco seja ruim, é que os outros são bem melhores…

  3. Meu caríssimo chefão Mairon, vossa pessoa está de sacanagem comigo? Atom Heart Mother, é isso mesmo? O “disco da Anitta” (chamado carinhosamente por mim) em primeiro lugar entre os melhores do Pink Floyd? NUNCA NA VIDA!
    Vós sabeis bem que eu não gosto deste disco que inspirou o Led Zeppelin a fazer algo semelhante na capa do Led IV e até o Aerosmith na hora de fazer a capa de Get a Grip 23 anos depois. O mais perfeito exemplo de um disco ser legal musicalmente e a arte gráfica não ajudar em 0% de nada. Pra mim Atom Heart Mother está em um nível muito abaixo do que a banda faria nos anos seguintes. No meu ranking pessoal do Pink Floyd, está em último colocado. Em suma, não vos perdoarei JAMAIS!

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