Minhas 10 Favoritas do Led Zeppelin

Por Mairon Machado
Led Zeppelin é com certeza uma das minhas bandas favoritas. Há muitos anos que amo o quarteto Jimmy Page (guitarras), Robert Plant (vocais), John Bonham (bateria) e John Paul Jones (baixo, teclados), e já contei diversas vezes os motivos que me levaram a ser um apreciador de rock graças ao que vi e ouvi dos caras na minha infância. São no mínimo 35 anos ouvindo, reouvindo e sempre me apaixonando pelas canções e versões dos britânicos, e selecionar as dez melhores é uma tarefa quase impossível. De qualquer forma, me arrisco a fazer esta lista de hoje, mas que amanhã pode tirar no mínimo umas três ou quatro dessa lista, já que é uma vasta gama de pérolas e gemas musicais atemporais criadas pelos caras.
Segue então minha lista das 10 favoritas, e irei aceitar tranquilamente críticas e sugestões. Afinal, uma banda como o Led só surgiu uma única vez na história da humanidade.

10. “Ten Years Gone” – Physical Graffitti (1975)
Pode parecer estranho que uma das bandas mais pesadas da história da música tenha uma lista de 10 mais – bastante – recheada de baladas e canções leves (spoiler dado), Mas olha, se alguém criou – influenciou – e fez algo com tanto talento como o Led teve para criar baladas, desconheço. E “Ten Years Gone” é um belo exemplo. A longa introdução apenas com guitarra e baixo, trazendo a dolorida voz de Plant, e levando a brilhante entrada de Bonzo, com aquele riff pegajoso da guitarra se repetindo e hipnotizando nossa mente, fazem uma combinação rara dentro das músicas criadas até então pelas grandes bandas de rock. Page abrilhanta a faixa ainda mais com um solo carregado de efeitos, e lindíssimo. Ouçam a linha de baixo de Jonesy aqui, e todo o trabalho de bateria de Bonzo. Musicaço perfeito para ouvir ao lado da pessoa amada nesse próximo dia dos namorados.
9. “Since I’ve Been Loving You” – Led Zeppelin III (1970)
Ah, se foder ter que fazer uma lista só com 10. E pior que eu que inventei isso. “Since I’ve Been Loving You” é tranquilamente uma das melhores músicas da banda, mas acaba ficando em nono aqui (o que só comprova como o Led tem muita música boa). Essa versão de Led Zeppelin III é incrível. Inspirada em “Never” (do Moby Grape, uma das bandas preferidas de Plant), é um blues corta-pulsos demolidor. Plant entrega uma de suas melhores performances vocais, assim como Bonzo destrói na bateria. Mas é no órgão de Jones e no solo e dedilhado de Page que a música ganha em dramaticidade. Page dá simplesmente uma aula de “olhe como se toca um blues mesmo sendo branco”, e porra, o que Plant grita, chora, clama nessa música, se catar. Nono talvez seja pouco, mas o que vem a partir daqui é uma porrada atrás da outra!
8. “Tea For One” – Presence (1976)
Puta merda, “Tea For One” é de chorar. Cara, o Presence eu ouvi muito, e a crueza desse disco é tão forte que quando chega em “Tea For One”, a casa cai. O riff introdutório sugere até uma faixa animada. Mas não. Quando passam os primeiros segundos e a guitarra de Page começa a dedilhar, aaaaaaaaah, é de chorar. O que Plant canta é algo animalesco. Sua dor exala pelos poros, e as caixas de som sentem isso com tamanha força que tremem em cada “well, well, well” que Plant chora ao microfone. E o que é aquele trecho onde guitarra, baixo e bateria espancam o ouvido da gente? Que coisa incrível. Fora o solo desregrado e bluesístico de Page. Quer pensar na vida e se afundar em lágrimas? Prepare um Johnie Walker ou um Jack Daniels e deixe “Tea For One” rolar às escuras, somente com o brilho da luz de seu equipamento de som iluminando o ambiente. 100% de obtenção de lágrimas no rosto!
7. “Wearing and Tearing” – Coda (1982)
Acredito que a galera vai se surpreender de ver essa música aqui, mas eu adoro ela. Um rockaço pesado que é difícil de acreditar que foi gravada exatamente durante In Through the Out Door. Destaco a pancadaria de Bonzo no bumbo e o belo riff rocker de guitarra e baixo, em um momento bastante raro na carreira do Led. Uma música curta, pesada e veloz, que não há nada igual em toda a discografia da banda (talvez “Communication Breakdown” e “Out on the Tiles” cheguem um pouco perto do que é feito aqui). Indica um dos possíveis caminhos que o Led seguiria nos anos 80 caso Bonham estivesse vivo? Duvido muito. Mas Top 10 para ela, isso é certeza!
6. “In My Time of Dying” – Physical Graffitti (1975)
Essa é uma que até poderia estar mais acima aqui, principalmente pelo trabalho de Page ao slide. Para os que criticam o Led por ser uma banda de plágios, ter músicos irregulares, etc etc, isso aqui é um soco de uma bigorna na cara desses idiotas. O Led levou o blues para outros patamares ao se inspirar nos criadores do estilo, e o que é feito por exemplo em “In My Time of Dying” é descomunal. São quase 12 minutos de pura perfeição, com Page dando um espetáculo a parte em solos e acordes viscerais. Além disso, Plant canta em sua melhor forma (que aliás durou um bom tempo), e a cozinha Jones/Bonham segura essa guerra musical de guitarra e voz com muita eficiência. Para ouvir em som alto e sair pulando pela casa.

5. “That’s the Way” – Led Zeppelin III (1970)
Saída do famoso “disco acústico” (pero no mucho) do Led, “That’s the Way” é a melhor representação de como os caras sabiam realmente compor e criar algo atemporal. É somente Page e Jones levando-a com apenas três acordes do violão e o dedilhado do mandolim, tendo uma manhosa steel guitar que leva você para uma longa viagem pelos campos celtas, na companhia de uma cachoeira de sentimentos que transborda dos pulmões de Plant. Precisa de mais? Top 5 facin facin!
4. “Achilles Last Stand” – Presence (1976)
Que injustiça né? “Achilles Last Stand” não entrar num Top 3 é crime. Mas quem mandou o Led fazer tanta música boa? Essa faixa é um tour de force para qualquer fã do Led vibrar com sua audição. Abrindo Presence, temos o baixo cavalgante (aprendam fãs de Maiden, baixo cavalgante tocado em uma custom-built Alembic de oito cordas) de Jones, as linhas de guitarra pesadíssimas de Page, o ritmo complexo que somente Bonham seria capaz de tocar com tanta fúria, e uma performance impressionante dos vocais de Plant. Ainda hoje não consigo acreditar que ele trouxe tamanha performance sentado em uma cadeira de rodas (o acidente com ele inclusive é a origem da faixa, originalmente batizada “The Wheelchair Song”). “Achilles …” passa por diversas variações, assim como a obra que inspirou seu nome, a sensacional Ilíada, ao longo de seus mais de dez incansáveis minutos, colocando o quarteto à prova sobre sua então criticada “velhice musical”. E os britânicos saem vitoriosos, criando mais uma grande obra atemporal. Poderia falar horas e horas sobre o trabalho de solos de Page e a percussão bombástica de Bonham aqui, mas prefiro colocar o vinil e ouvir esta faixa pela sei lá qual ésima vez. Fantástica!
3. “Stairway to Heaven” – Untitled (1971)
A música que me apresentou o rock, e me fez virar fã não só do Led, mas de todas uma geração de bandas dos anos 70. Já comentei diversas vezes sobre como “Stairway to Heaven” foi descoberta por mim, e falar dela é quase tão difícil quanto fazer essa lista. O lindo dedilhado da introdução, a emotiva voz de Plant, a entrada triunfal da bateria de Bonzo, a sequência emocionante de variações sobre Am, o solo mais arrepiante de toda a carreira de Page e o final apoteótico são algumas das características que ainda hoje me encantam nessa – mais uma – faixa atemporal. Para muitos, uma das melhores músicas de todos os tempos, e para mim, no mínimo um Top 3, já que há outras duas obras ainda tão fantásticas quanto esta!
2. “The Rain Song” – The Soundtrack fro the Film The Song Remains the Same (1976)
Tudo o que o Led fez em “Stairway to Heaven” foi aperfeiçoado ainda mais no álbum seguinte, Houses of the Holy, só que acrescentando a magia dos teclados de John Paul Jones. E na versão ao vivo do contestado The Song Remains the Same, o Led criou algo que abala as estruturas. Uma apresentação grandiosa, com Jones brilhando no órgão e mellotron, mais uma performance vocal absurda de Plant, Bonham tocando com uma rara delicadeza, e Page, mesmo fazendo um solo simples perto do de “Stairway …”, comandando os dedilhados, arpejos e acordes dessa canção belíssima que aprendi a amar. É mais uma que espero que coloquem no dia da minha cremação (e se quiserem colocar “Stairway to Heaven” de brinde, não ficarei chateado não). Linda demais, e me emociono só de lembrar dela!
1. “Kashmir” – Physical Graffitti (1975)
Quando ouvi “Kashmir” pela primeira vez eu não consegui entender a sua grandiosidade. Era algo tão complexo para um guri já apaixonado por Led aos 8 anos que aquilo teve que ser absorvido lentamente. Como Physical Graffitti para mim é o melhor disco de todos os tempos, certamente o disco que mais ouvi na minha vida, junto do Presence (tanto que furei minhas primeiras edições de ambos os discos), quando “Kashmir” bateu não tive o que fazer. E ela só cresce cada vez mais que a ouço. O arranjo oriental do mellotron de Jones, o vocal delicado de Plant, a guitarra que carrega esse órgão nas costas sem fazer um mísero solo, e que caso houvesse tal solo, seria muito desnecessário, o peso das batidas de Bonzo, tudo isso e muito mais impactam o ouvinte em quase 10 minutos de uma obra-prima. Elenco fácil “Kashmir” como uma das melhores músicas de todos os tempos, e complemento dizendo que a versão feita por Plant e Page em No Quarter também é magnífica, mas essa versão de Physical … é simplesmente a obra mais perfeita da carreira do quarteto britânico.
Não tenho nem como contestar as suas escolhas. Todas grandes músicas de uma grande banda. Não ouço tanto Led quanto o Mairon, mas gosto bastante. Mas eu tenho uma ligação com a banda que pode ser curiosa. Todas as vezes que eu vou pensar em Led Zeppelin a música que vem direto na minha cabeça é Good Times Bad Times. Tanto que enquanto eu lia o texto eu pensava comigo “se eu fizesse essa lista eu colocaria Good Times Bad Times em que posição?”. Até entendo que ela não seja a melhor música da banda, mas para mim ele representa o que a banda é.
Que texto, Mairon! Essa coluna das 10 preferidas é sensacional, pois nela podemos ser passionais, emotivos e abri o nosso coração – e vi essas 3 coisas em seus textos, parece que dá para te ouvir falando em cada uma das músicas.
Quanto à seleção, Led Zeppelin é como Michelangelo, Pelé, Machado de Assis, Van Gogh, pode selecionar quaisquer 10 coisas deles que serão 10 boas. Confesso ter me surpreendido com “Wearing and Tearing”, mas realmente é a mais massa do “CODA”. Se eu fosse fazer uma lista agora de bate-pronto, teria no pódio “Tea for one”, “That’s the way” e “Kashmir”, sem sombra de dúvidas.
E quanto você ter feito “uma lista de 10 mais – bastante – recheada de baladas e canções leves”, isso me fez pensar… Led Zeppelin é uma das bandas que mais ouvi e ouço ao longo da vida e, diferentemente dos demais gigantes que caminham e caminharam pela Terra (Beatles, Black Sabbath, Deep Purple, Rush, Rolling Stones e alguns outros), eles realmente tinham uma coisa com músicas assim e nos faziam parar, ouvir e viajar nisso… As outras eram adrenalina sempre alta, lá em cima, mas com Led Zeppelin eu chorei alguns amores, pensei em grandes questões da minha vida e, tal qual você menciona, vivi algumas solidões com as faixas mais lentas… Sabe uma coisa que fiz muito? Colocava o disco e, nessas faixas, as pulava, para ouvir mais atentamente depois. Hoje, obviamente, evoluí e não faço mais isso.
Depois de seu texto, percebi algo que ainda não tinha racionalizado: quando estou curtindo um momento solitário, coloco geralmente Led Zeppelin ou Robin Trower.
Conclusão: achei sua lista imbatível, nem vou me atrever a fazer uma.
Parabéns pela postagem visceral.
De negativo somente a citação de “Stairway to Heaven” nesta lista, até porque não considero e nem a coloco entre as melhores canções do Led (devo concordar com o Plant, que não gosta muito desta canção, nem eu gosto também), ainda mais gravada no Led IV, um trabalho que apesar de ser visto como um clássico histórico, sofre daquele mal “o disco é bom mas a capa não ajuda”. Eu substituiria essa por “The Rain Song”, “Ramble On”, “Wanton Song”, “The Ocean” ou qualquer outra canção que não seja do Led IV.
Dentre as outras nove, concordo 100% com as escolhas de “Ten Years Gone”, “In My Time of Dying” (canção em que o saudoso Bonzo estraçalhou geral na bateria) e a primeira posição com “Kashmir” (até porque são ambas as canções do hoje cinquentão Physical Graffiti, disco que até hoje ouço completinho da primeira a última canção (porque antes eu apenas ouvia as faixas gravadas especialmente para o LP que seria simples, e não as “sobras” de discos passados que fizeram dele um trabalho duplo).