Chicago – Chicago 17 [1984]
Por André Kaminski
Muitas bandas tem isso como característica, mas o Chicago tem algo muito bem cimentado entre seus fãs: a divisão entre suas diferentes fases. Tem aqueles que só ouvem seus discos iniciais quando possuía larga influência do jazz-fusion e do progressivo enquanto há outros que só os conhecem pelo soft rock facinho de digerir que tem feito dos anos 80 para cá. Outro aspecto notável da banda é o seu uso de naipe de metais de bronze (trombone, trompete, trompa) e outros instrumentos de sopro (oboés e clarinetes) quase fazendo uma mini-orquestra com um som rock.
O Chicago não é uma banda que tenho profundo conhecimento de sua discografia, mas o que já ouvi deles me agrada. Então resolvi escrever sobre o disco que mais gosto dessa fase soft rock deles que é este Chicago 17, lançado em 1984. Último álbum do vocalista e baixista Peter Cetera, este também é até hoje o maior sucesso comercial da banda vendendo mais de 6 milhões de cópias e com seus clipes passando com frequência na MTV americana da época.
Como já dito, Peter Cetera lidera as vozes mas o tecladista Robert Lamm contribui com alguns vocais. O Chicago sempre foi uma banda com muitos membros e o time se completa com Lee Loughnane (trompete), James Pankow (trombone), Bill Champlin (guitarra, teclado e alguns vocais), Walter Parazaider (instrumentos de sopro), Chris Pinnick (guitarra) e Danny Seraphine (bateria).
O disco abre com a maliciosa “Stay the Night” e uma típica pegada de teclados oitentista, datada e ótima, como sempre curto. Curiosamente, ela difere bastante dos rocks mais antigos cheio de harmonias vocais e sopros. Ela é mais próxima do glam e do hard. Muito teclado e sintetizador abre “We Can’t Stop the Hurtin'”, e aqui já surgem o sopro dando aquele ar mais classudo a uma mú10sica de estrutura mais próxima da new wave. Aliás, acredito que o Chicago conseguiu a melhor mistura desses rocks oitentistas com os teclados e sintetizadores da new wave, conseguindo um equilíbrio perfeito entre estilos. Uma coisa meio “futurista dos anos 60”, se é que consigo me fazer entender.
“Hard Habit to Break” é uma balada tristonha típica “dor de corno”. Letras bregas, mas quem disse que eu ligo? Outra que destaco foi o single “Along Comes a Woman”, com um instrumental que, acredito eu, foi inspirado por Michael Jackson com seu baixo sintetizado (ou sintetizador configurado para baixo) dando aquele ar que logo vai surgir um “awww” por parte do falecido. Seu clipe tem um jeitão meio “Indiana Jones vai para o Marrocos” que não sei muito bem o porquê e de onde tiraram essa ideia.
Outra balada “You’re the Inspiration” foi feita por Peter Cetera originalmente para ser gravada por Kenny Rogers. Segundo Cetera, ele por algum motivo não a gravou e ele resolveu fazer umas pequenas alterações e gravar com o Chicago. Deu certo porque foi mais um single de sucesso de um disco que já vendeu horrores.
Numa época em que as baladas rockeiras eram a moda, o disco se fartou delas e o Chicago da fama e sucesso que os ressuscitaram mais uns anos para o mercado mainstream após os anos 70.
Após a turnê, Cetera pediu para a banda entrar em um hiato visto que ele queria tempo para gravar seu segundo disco solo. A banda não quis e em 1985 ele saltou fora para não retornar mais. Lamm, Loughnane e Pankow são os membros originais restantes que seguem atuando hoje, enquanto o saxofonista Walter Parazaider segue sendo considerado um membro, embora tenha se aposentado da música (este ainda sofre problemas cardíacos e Alzheimer).
Um belo disco que representa os clichês mais legais dos anos 80 com um pitadinha de sopros. Se curte ambos, por que não deixar de lado a birra com a “mudança de sonoridade” e curtir este disco do Chicago sem peso na consciência?
Tracklist
01. Stay the Night
02. We Can Stop The Hurtin’
03. Hard Habit To Break
04. Only You
05. Remember The Feeling
06. Along Comes A Woman
07. You’re The Inspiration
08. Please Hold On
09. Prima Donna
10. Once In A Lifetime
Até coloquei o 17 para rodar aqui. Tenho mania de classificar os discos que tenho no Discogs, e Chicago 17 ficou com uma estrela na minha análise do Discogs e do Rate Your Music (assim como o 18 e 19). Impressionante que da formação original, só o Terry Kath (que já havia falecido) não estava, substituído por Bill Champlin. Claro que o brazuca Laudir de Oliveira já havia partido, e a entrada de mais um guitarrista, Chris Pinnick, pouco agregou aqui. O excesso de sintetizadores, a pouca participação dos metais (ou metais eletrônicos), um Danny Seraphine tocando uma bateria sem punch algum (que desperdício) e as harmonias vocais insossas são o que mais me fizeram torcer o nariz, ainda mais por que o trabalho que havia sido apresentado nos discos das digitais (14 e 16) e no excelente disco do prédio (13) não podia cair tanto ao nível de “We Can Stop The Hurtin'” ou “Along Comes a Woman”, faixas que como trilhas da Sessão da Tarde já seriam detestáveis. Pior ainda é saber que Robert Lamm, talvez o principal compositor do grupo (junto de Kath e Pankow) contribua só com uma música, e ela ser a já citada tinhosa “We Can Stop the Hurtin'”. Vergonha alheia de ouvir Cetera, o cara por trás de obras primas como “Dialogue”, “Happy Man” e “Lowdown”, para citar algumas, cantando “Hard Habit to Break”, “You’re the Inspiration” ou a intragável “Remember The Felling”, com arranjinhos orquestrais sonsos e a irritante voz aguda de Cetera atormentando as caixas de som. O excesso de baladas (5/10) prejudica bastante também a qualidade final de 17. Escapa-se “Prima Donna”, trilha do filme Two of a Kind (no Brasil Embalos a Dois, com o casal amoroso Olivia Newton-John e John Travolta, nada tão anos 80), rockzão datadíssimo dos anos 80, quadrado ao extremo, mas que ainda assim é interessante de ouvir, e que foi para mim o último trabalho relevante de Cetera com o grupo. Por um lado foi bom ele ter saído e mostrado em carreira solo que ele era o mais “pop” e “comercial” dos músicos do Chicago, mas por outro lado, ouvir os discos seguintes são ainda mais torturosos. Dentro das obras oitentistas, é brabo aturar, e como obra do Chicago, certamente só não está entre os piores discos da banda por que os lançamentos pós-anos 90 são ainda mais constrangedores, com o ápice para o disco de Natal O Christmas Tree. Desculpa Andre, essa não deu, e cabe bem como um Disco Que Parece Que Só Eu (no caso Você) Gosta ao meu ver, heheheh
Eita Mairon, imaginei que fosse mesmo descascar o disco, mas não com tantos detalhes assim hahahahahahaha.
Pior que eu não acho que eu deveria colocar no “Discos que Parece que Só Eu Gosto” porque ele vendeu mais de 6 milhões de cópias. É muita gente, se não vendesse nada, aí eu acho que entraria mesmo.
kkkkkk, pois é, 6 M, tens razão, eu que devo fazer o Discos Que Parece Que Só Eu Não Gosto kkk
Estou entre esses 6 milhões, tenho-o em LP! Ótimo texto, muito obrigado por compartilhar e me fazer reouvir com satisfação!