Cinco Discos para Conhecer: Templos do Rock – Royal Albert Hall
Por Marcello Zapelini
O mais antigo dos templos do rock! O Royal Albert Hall foi inaugurado em 1871 pela rainha Victoria, tendo sido construído por inspiração de seu marido, o príncipe consorte Albert, que falecera em 1861. Londres hospedara a exposição mundial de 1851, The Great Exhibition, que inspirou o príncipe a criar um local em que artes e ciências pudessem ser expostos ao público em geral. O belo edifício, encimado por uma cúpula de vidro e ferro, possui capacidade para 5.272 pessoas sentadas, e foi inaugurado por um discurso do príncipe de Gales, Edward, pois a rainha estava emocionada demais para falar.
Ao longo das décadas, o RAH foi palco para inúmeros concertos, espetáculos teatrais e de dança, e até hoje hospeda cerca de 390 eventos por ano. Entretanto, a acústica não é das mais favoráveis, havendo problemas com eco até hoje, apesar das tentativas de corrigi-los que os diminuíram muito. Um dado interessante é que, durante a Segunda Guerra Mundial, apesar de todos os bombardeios alemães em Londres, o RAH permaneceu quase ileso, pois sua estrutura inconfundível era usada pelos pilotos da Luftwaffe como marcação de rota. Após a guerra, a ascensão do rock e do pop fizeram o RAH se tornar um dos endereços favoritos para as bandas e artistas britânicos, bem como estrangeiros. Em 15 de setembro de 1963, um show histórico, The Great Pop Prom, reuniu The Beatles e The Rolling Stones pela primeira vez, bem como outros artistas britânicos. Em 1966, Bob Dylan se apresentou na sua famosa turnê com The Hawks (futuro The Band), que rendeu o disco pirata Live at the Royal Albert Hall – o conhecido disco com o sujeito berrando “Judas” antes de “Like a Rolling Stone” – que na verdade foi gravado no Manchester Free Trade Hall (eventualmente, o show no RAH acabou sendo lançado junto com as outras gravações feitas na época).
Mas o artista mais identificado com o RAH é, sem dúvida, Eric Clapton, tanto que ele aparece em dois discos desta lista, que atravessa algumas décadas e traz uma pequena surpresa para quem conhece seu autor. Como bônus, dois álbuns que, embora gravados ao vivo no belo auditório britânico, incluem material inédito. As escolhas são bem de gosto pessoal e foram ordenadas cronologicamente de registro. Antes de passar para ela, uma pergunta: quantos buracos são necessários para encher o Albert Hall? Somente fãs dos Beatles estão autorizados a tentar responder…
Creedence Clearwater Revival – At the Royal Albert Hall (April 14, 1970) [2022]
Este álbum foi gravado em 14 de abril de 1970 e, teoricamente, lançado em 1980 como The Royal Albert Hall Concert – mas depois se revelou que o show fora registrado em Oakland em 31 de janeiro de 1970, fazendo com que o título fosse modificado para “The Concert” pura e simplesmente. Em 1980, o único registro ao vivo oficial do Creedence era Live in Europe, gravado na turnê europeia de 1972, após a saída de Tom Fogerty, e os fãs da banda tinham finalmente um show do quarteto original, o que fez o disco vender bem (atingiu o 62º posto da Billboard e recebeu platina). Mas não era o artefato verdadeiro, que só veria a luz do dia em setembro de 2022. At the Royal Albert Hall tem pouco mais de 42 minutos, contra os quase 50 de The Concert, mas é tão bom quanto este. Ambos são verdadeiros desfiles de hits (“Born on the Bayou”, “Green River”, “Fortunate Son”, “Proud Mary”, e vai por aí afora), e contam com repertórios semelhantes, em que apenas “Good Golly Miss Molly” é apresentada no show inglês sem aparecer na contrapartida americana. Ao vivo, o Creedence não ousava muito, tocando as músicas bem próximas dos arranjos originais – e se você assistir às filmagens dos shows, vai ver que eles não eram exatamente grandes showmen no palco. Mas a música flui solta, e para mim os destaques são John Fogerty, que canta tão bem quanto no estúdio e Doug “Cosmo” Clifford”, que toca mais pesado do que no estúdio e tenta alguns floreios. Stu Cook e Tom Fogerty seguram o ritmo de maneira segura e precisa como sempre, e seus backing vocals dão um sabor especial às versões de “The Midnight Special” e “The Night Time is the Right Time”. O final com “Keep On Chooglin’” dá à banda a chance de se estender um pouco mais, especialmente com John na harmônica, fazendo com que a música tenha mais de 8 minutos; mas o Creedence iria ampliá-la ainda mais posteriormente, pois em Live in Europe ela dura quase 13 minutos! Após a turnê britânica, o Creedence teria um momento de brilho com “Pendulum” e depois perderia Tom Fogerty, cansado da tirania do irmão caçula, para cometer um dos maiores equívocos de uma grande banda ao democratizar as composições em “Mardi Gras” (Clifford e Cook são bons músicos e o batera até que canta bem, mas compositores eles não eram) e acabar com tudo ainda em 1972. Restam os álbuns da época, e este At the Royal Albert Hall é um belo testemunho do que os quatro americanos podiam atingir no palco.
John Fogerty (guitarras, vocais, harmonica), Tom Fogerty (guitarras, vocais de apoio), Stu Cook (baixo, vocais de apoio), Doug Clifford (bateria)
- Born On The Bayou
- Green River
- Tombstone Shadow
- Travelin’ Band
- Fortunate Son
- Commotion
- Midnight Special
- Bad Moon Rising
- Proud Mary
- The Night Time Is The Right Time
- Good Golly Miss Molly
- Keep On Chooglin’
The Byrds – Live at the Royal Albert Hall 1971 [2008]
The Byrds não é exatamente um grupo que venha imediatamente à cabeça quando se fala de grandes bandas ao vivo. Injusto, mas fácil de entender: durante o período em que eles existiram, apenas um dos LPs do duplo Untitled (1970) trazia material ao vivo. Posteriormente, o set da banda em Monterey foi lançado na box comemorativa do festival e dois discos, Live at the Fillmore – February 1969 e este Live at the Royal Albert Hall 1971, saíram para matar a fome dos fãs. Todos trazem a configuração em que Roger McGuinn era o único membro original, com Clarence White na guitarra e Gene Parsons na bateria; a única exceção é que o disco do Fillmore traz John York no baixo e os outros, Skip Battin. Dentre esses lançamentos, meu favorito é justamente este Live at the Royal Albert Hall, pois os vocais (ponto forte do grupo) estão muito bem gravados (a guitarra solo, entretanto, precisava de mais destaque) e Clarence White faz jus à fama de um dos melhores guitarristas de country rock da história. O público britânico recebe muito bem a banda, que faz um show à altura da plateia e do local. As covers de Bob Dylan, que sempre foram marca registrada da banda, são destaque do disco, e a versão com mais de 18 minutos de “Eight Miles High” mostra a excelência dos quatro músicos. “Black Mountain Rag/Soldier’s Joy” traz Parsons no violão, acompanhando White e McGuinn num medley de verdadeira e tradicional música country americana. O clima acústico continua com “Mr. Tambourine Man”, numa versão mais próxima do original de Dylan do que da originalmente gravada pela banda, e nessa a harmonia vocal dos quatro é simplesmente perfeita. A bela “Chestnut Mare” recebe aqui sua versão definitiva, e a banda prova que podia fazer rock’n’roll como os mestres na versão de “Roll Over Beethoven”. “I Trust” termina com uma coda instrumental, até onde sei sem título, que o grupo sempre agregava à última música antes do bis. O espetáculo se encerra com o McGuinn, White, Battin e Parsons a capella em “Amazing Grace”. The Byrds ainda tentariam um retorno da formação original em 1973, num álbum autointitulado produzido por, vejam só, David Crosby, para acabarem logo depois. Somente em 1990 McGuinn, Hillman e Crosby se reuniriam sob o nome da banda para impedir que Gene Clark e Michael Clarke se apresentasse como Byrds, e gravariam algumas composições novas para uma box set autointitulada. Este Live at the Royal Albert Hall traz a formação que mais durou em um bom show, que não deixa nada a desejar em relação aos álbuns de estúdio.
Roger McGuinn (guitarra, vocais, violões), Clarence White (guitarras, violões, vocais), Skip Battin (baixo, vocais), Gene Parsons (bateria, violões, vocais)
- Lover Of The Bayou
- You Ain’t Going Nowhere
- Truck Stop Girl
- My Back Pages
- Baby, What You Want Me To Do
- Jamaica, Say You Will
- Black Mountain Rag / Soldier’s Joy
- Mr. Tambourine Man
- Pretty Boy Floyd
- Take A Whiff (On Me)
- Chestnut Mare
- Jesus Is Just Alright
- Eight Miles High
- So You Want To Be A Rock ‘N’ Roll Star
- Mr. Spaceman
- I Trust
- Nashville West
- Roll Over Beethoven
- Amazing Grace
Eric Clapton – 24 Nights [1991]
Clapton considera o Royal Albert Hall a “sua casa” desde que se apresentou ao vivo pela primeira vez em 1964 com os Yardbirds. Além disso, o Cream fez seus shows de despedida no local em 1968; com diferentes bandas ou solo, ele se apresentou mais de 200 vezes (!) lá! Em sua carreira solo, dois álbuns ao vivo foram registrados lá: 24 Nights, lançado originalmente em dezembro de 1991 e Slowhand at 70, de 2015. Optei pelo primeiro, porque ele representou um recorde pessoal para mr. Slowhand, quando em 1991 ele fez uma série de 24 shows consecutivos no RAH (daí o título do álbum). Entretanto, há uma pequena trapaça aqui: embora o título aluda à série de shows de 1991, parte do material foi registrado em 1990 (quando Clapton tinha feito uma série de 18 apresentações). De todo modo, vamos ao 24 Nights. Clapton passara os anos 80 indo de fracasso em fracasso, tanto artística quanto comercialmente, até que o álbum Journeyman conseguiu elogios da crítica (mas não no Brasil…). O álbum original trouxe composições do Cream (“Badge”, “White Room”, “Sunshine of Your Love”) e do Derek & The Dominos (“Have You Ever Loved a Woman” e a surpreendente “Bell Bottom Blues”) mesclado a material de sua carreira solo (tanto velhos cavalos de batalha “Wonderful Tonight” quanto músicas mais recentes como “Old Love”, “Running on Faith” e “Pretending”). Um dos lados do LP original é dedicado ao blues, e Clapton recebe convidados de peso como Buddy Guy, Jimmie Vaughan e Robert Cray. As últimas músicas traziam o acompanhamento da National Philharmonic Orchestra, uma experiência que Clapton parece não ter apreciado muito. 24 Nights é um bom álbum, talvez não tanto quanto Just One Night, foi razoavelmente bem-sucedido (mais uma vez, nem tanto quanto Unplugged), e recentemente foi objeto de uma box com 6 CDs e 3 Blu-Rays intitulada The Definitive 24 Nights, com dois discos dedicados ao rock, dois ao blues e os outros dois às gravações orquestrais (com espaço para um Concerto for Guitar and Orchestra!). Essa edição é, sem dúvida, a melhor para os fãs do guitarrista que “foi Deus” (trocadilho intencional), mas os interessados ocasionais ficam bem servidos pelo duplo original. Qualquer hora faço a resenha mais completa!
Eric Clapton (guitarras, vocais), Buddy Guy (guitarras), Phil Palmer (guitarras), Robert Cray (guitarras), Alan Clark (teclados), Chuck Leavell (teclados), Ed Shearmur (teclados), Greg Phillinganes (teclados, vocais), Johnnie Johnson (piano), Nathan East (baixo, vocais), Richard Cousins (baixo), Jamie Oldaker (bateria), Steve Ferrone (bateria), Katie Kissoon (Backing Vocals), Tessa Niles (Backing Vocals), Ray Cooper (percussão), Michael Kamen (maestro)
- Badge
- Running On Faith
- White Room
- Sunshine Of Your Love
- Watch Yourself
- Have You Ever Loved A Woman
- Worried Life Blues
- Hoodoo Man
- Pretending
- Bad Love
- Old Love
- Wonderful Tonight
- Bell Bottom Blues
- Hard Times
- Edge Of Darkness
Cream – Royal Albert Hall, London, 2-3-5-6 May 2005 [2005]
Os primeiros shows completos do Cream em quase 37 anos tinham que ser realizados num lugar especial, e o RAH é perfeito para isso. Jack Bruce, Eric Clapton e Ginger Baker deixaram as diferenças de lado (já se disse que era difícil colocar Bruce e Baker no mesmo planeta, o que dirá na mesma banda) por um pouco de tempo e se juntaram para essa série de shows na casa que hospedara sua despedida (que rendeu um filme disponível em DVD e Blu-Ray, e faz parte da box set alemã The Goodbye Tour), e o resultado foi um belo álbum ao vivo que homenageia uma carreira curta e sem paralelo no rock dos anos 60, e cuja capa remete diretamente ao começo da carreira do grupo. De cara, salta aos olhos que Clapton ocupa mais espaço com seus vocais do que no passado – reflexo da confiança que ganhou ao longo dos anos – e Bruce, embora estivesse com boa voz, não atingia mais os tons mais altos. Baker, por sua vez, tem espaço no microfone em “Pressed Rat and Warthog”, e seu desempenho na bateria surpreende se considerarmos que ele era um veterano de 66 anos com sérios problemas de artrite na época. As músicas ainda têm bastante solos, mas nada exagerado como na década de 60 (“Toad” dura apenas dez minutos, vejam só!), e os shows foram, sem dúvida, um presente e tanto para os fãs dos três músicos, que parecem divididos entre retomar as egotrips da década de 60 e aceitarem a idade meio avançada. Ainda assim, há muita coisa boa e muitos momentos de brilho, como em “Spoonful”, “I’m So Glad”, “Politician”, “Sweet Wine”, “Sunshine of Your Love” (tocada como deve ser, diferentemente dos shows solo de Clapton), “Deserted Cities of the Heart” e Bruce dando um espetáculo à parte na harmônica em “Rollin’ and Tumblin’” (é impressionante como o cara era bom nesse instrumento dificilmente associado a um baixista!). O álbum é quase uma antologia, o que faz os fãs do Cream babarem de inveja de quem teve a oportunidade de assistir aos shows originais. Após essa reunião, o Cream nunca mais se apresentou, e tanto Bruce quanto Baker já se juntaram à “Great Gig in the Sky”, deixando Clapton sozinho. Restou ouvir o disco e assistir ao DVD e se emocionar com os velhinhos deixando de lado suas diferenças e brilhando pela última vez.
Jack Bruce (baixo, vocais, harmônica), Eric Clapton (guitarra, vocais), Ginger Baker (bateria)
- I’m So Glad
- Spoonful
- Outside Woman Blues
- Pressed Rat & Warthog
- Sleepy Time Time
- N.S.U.
- Badge
- Politician
- Sweet Wine
- Rollin’ And Tumblin’
- Stormy Monday
- Deserted Cities Of The Heart
- Born Under A Bad Sign
- We’re Going Wrong
- Crossroads
- White Room
- Toad
- Sunshine Of Your Love
Opeth – In Live Concert at the Royal Albert Hall [2010]
A banda sueca de death metal progressivo comemorou os vinte anos de carreira com uma turnê que rendeu este álbum ao vivo, acompanhado de DVD, em 2010. A capa foi propositalmente baseada na do Concerto for Group and Orchestra do Deep Purple (do qual será falado um pouco mais na seção bônus). Para quem quer uma introdução ao som do grupo, este álbum é uma boa escolha: a primeira parte apresenta uma versão completa de “Blackwater Park”, considerado por boa parte dos fãs a obra-prima da banda, e a segunda traz uma música de cada um dos outros oito álbuns de estúdio lançados até então. Como já mencionei diversas vezes, não sou fã de vocais urrados como os que Mikael Åkerfeldt usa em várias músicas, mas engulo esse “detalhe” por conta da qualidade das composições do Opeth (ainda que não seja um som que eu vá ouvir com grande frequência, tenho que admitir). Na época, o quinteto trazia em sua formação, além de Åkerfeldt, Fredrik Åkesson na guitarra e backing vocals, Martin Mendéz no baixo, Per Wiberg nos teclados e backing vocals, e Martin Axenrot na bateria. O álbum foi lançado em DVD duplo e combos com 3 CDs e 2 DVDs ou 2 DVDs e 4 LPs. Sobre as músicas em si, como não sou profundo conhecedor do Opeth (comecei a ouvir a banda pouco tempo atrás), não posso estabelecer muitas comparações com as versões em estúdio, mas há vários destaques, como o público acompanhando com palmas o início de “Dirge for November”, a bela instrumental “Patterns in the Ivy”, o bom trabalho de guitarras de “Blackwater Park”. O material da segunda parte do show sem dúvida é controverso – cada um tem sua música favorita nos diferentes discos do Opeth, mas acho que, pelo que conheço, as escolhas foram bem feitas, com destaque para a épica “Forest of October” (que se encerra com Åkerfeldt explicando à plateia o que esperar a seguir no show – aliás, como fala o sujeito!!), “The Moor” (outra que o público acompanha) e “Harlequin Forest”. No todo, o álbum é uma boa introdução ao trabalho do Opeth, e mostra toda a qualidade dos músicos ao vivo.
Mikael Åkerfeldt (vocais, guitarras), Per Wiberg (teclados, backing vocals), Fredrik Åkesson (guitarras, backing vocals), Martin Mendéz (baixo), Martin ‘Axe’ Axenrot (bateria)
- The Leper Affinity
- Bleak
- Harvest
- The Drapery Falls
- Dirge For November
- The Funeral Portrait
- Patterns In The Ivy
- Blackwater Park
- Forest Of October
- Advent
- April Ethereal
- The Moor
- Wreath
- Hope Leaves
- Harlequin Forest
- The Lotus Eater
Bonus tracks:
Deep Purple – Concerto for Group and Orchestra [1969]
Contra a vontade de Ritchie Blackmore, o Deep Purple estreou sua segunda formação em disco com a gravação do concerto escrito por Jon Lord para juntar uma banda de rock a uma orquestra sinfônica. Como se sabe, Blackmore não negava seu gosto pela música clássica, mas seguia o princípio de “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa completamente diferente”, e não gostou nem um pouco de ter que gravar com uma orquestra uma peça escrita por Lord que tentava juntar os dois mundos, o erudito e o rock. Há várias versões do álbum disponíveis por aí, mas a melhor é o CD duplo de 2002, que traz o mini-set completo de abertura com o Deep Purple sem a orquestra e acondiciona a caixinha numa bela luva púrpura. Independentemente do mau humor do guitarrista, a composição de Jon Lord é muito bonita, em especial no segundo movimento, em que Ian Gillan mostra que era um vocalista diferenciado no mundo do rock. Aliás, nesse segundo movimento há trechos em que a orquestra e a banda tocam juntas e conseguem se harmonizar muito bem, em contraste com o primeiro movimento, em que são apresentadas como antagonistas (algo que, de acordo com as liner notes de Lord, era de se esperar). Sir Malcolm Arnold, um maestro bem conhecido na Inglaterra, conduziu a orquestra e elogiou a composição de Lord, um feito memorável para um músico de rock; além disso, sem dúvida manteve os músicos da orquestra em seu devido lugar, já que muitos estavam aborrecidos por terem que tocar com um bando de cabeludos barulhentos. O rock com orquestra sinfônica renderia trabalhos memoráveis, como os álbuns ao vivo do Procol Harum e Caravan, bem como alguns questionáveis, como o In Concert do Emerson Lake & Palmer – mas o Deep Purple é um pioneiro na fusão ao lado do The Nice de Keith Emerson. Em 1999, o Deep Purple retomou o Concerto e gravou um álbum duplo ao vivo (In Concert with the London Symphony Orchestra) no Royal Albert Hall com uma nova versão, agora com Steve Morse na guitarra. Além do Concerto, o álbum apresenta diversas músicas escolhidas pelos cinco integrantes da banda, bem como vários convidados especiais (dentre os quais Ronnie James Dio, Steve Morris, Miller Anderson e a Steve Morse Band). Musicalmente falando, a nova versão não deixa a desejar para a primeira, mas é triste ver como a voz de Ian Gillan envelheceu mal… Mas, independentemente do Concerto, é muito legal ver Dio e Gillan cantando “Smoke on the Water” e Ian Paice detonando tudo na jurássica “Wring that Neck” com um arranjo de metais.
Ginger Baker’s Air Force – Ginger Baker’s Air Force [1970]
Após o fim do Blind Faith, Ginger Baker não perdeu tempo e embarcou em um novo projeto, formando o Air Force com a participação de Steve Winwood, Rick Grech, Chris Wood, Denny Laine, Graham Bond, Harold MacNair, Jeanette Jacobs, Phil Seamen e Remi Kabaka. O projeto reunia músicos da cena jazz (com destaque para Seamen, principal baterista de jazz da Inglaterra nos anos 50 e 60, e guru de Baker) e do rock sessentista da Inglaterra (Winwood, Wood, Grech e Laine, que ganhara fama com a primeira formação do Moody Blues e estava meio por baixo); uma nota à parte deve ser dada para Bond, que dera a Baker seu primeiro emprego de destaque e pode ser considerado um pioneiro do fusion com sua Graham Bond Organisation, que teve em suas formações ninguém menos do que Jack Bruce, Dick Heckstall-Smith e John McLaughlin. O álbum foi gravado em 15/1/1970, e a abertura com “Da Da Man”, do saxofonista Harold MacNair, dá o tom do álbum, com muito destaque para a bateria e a percussão, os saxes de MacNair, Wood e Bond, solos de órgão e guitarra, e um ritmo jazzístico contagiante. “Early in the Morning” joga os spotlights sobre os vocalistas, traz Laine pedalando o wah-wah na sua guitarra e belos solos de flauta de Wood e MacNair. “Toad”, rearranjada para os saxes, traz a bateria em primeiro plano, com direito a Baker, Seamen e Kabaka juntos no solo (dá para falar em solo a três???). “Aiko Biaye”, do nigeriano Remi Kabaka, escancara o interesse de Baker na música africana, que o levaria a gravar com Fela Kuti em 1971. “Do What You Like” traz o Blind Faith de volta (afinal, só Clapton não estava presente), e mais uma vez os bateristas têm seu momento de brilho. “Doin’ It” encerra o álbum numa vibe semelhante à de “Da Da Man”, em mais uma música com forte influência do jazz. Embora seja criticado como uma exibição do ego de Baker, “Air Force” é um bom disco e aponta algumas direções que o rock seguiria nos anos 70. Com muitos solos, músicas longas e várias influências diferentes (jazz, rock, blues, música africana, e por aí adiante) misturadas, Ginger Baker’s Air Force documenta outra banda que existiu por pouco tempo e que, infelizmente, jamais será ouvida novamente, pois somente Steve Winwood e Remi Kabaka estão vivos atualmente (McNair, Seamen e Bond todos morreram entre 1971 e 74, e o casal Jacobs e Wood, em 1982 e 83, respectivamente). Na Wikipedia se menciona que o Air Force teria existido entre 2015 e 2019, mas não há muitos detalhes. De todo modo, Air Force 2, gravado em estúdio, apresenta uma banda quase completamente diferente, pois apenas Baker e Bond aparecem nos dois discos.
No comentário sobre os músicos do Ginger Baker’s Air Force esqueci de mencionar o Ric Grech, que faleceu em 1990… Fica a homenagem ao grande baixista!
Que postagem maravilhosa! Vou atrás dos álbuns do Opeth e do Ginger Baker, pois não os conhecia, e o do Creedence, pois embora fã da banda, passei batido nesse, acredita? Quanto à menção dos “buracos no Albert Hall”, como a história é DELICIOSA (com sugestão de mudança na letra por parte do teatro e até de backing vocal do Ringo!), deixo dois links para quem quiser adentrar nela (um do próprio site oficial deles!):
https://www.navecriativa.com/o-dia-que-o-royal-albert-hall-pediu-para-os-beatles-mudarem-uma-letra/
https://www.royalalberthall.com/about-the-hall/news/2015/april/royal-albert-hall-was-furious-over-beatles-lyric-newly-discovered-documents-reveal/
Muito obrigado por compartilhar essa postagem, um bom domingo!
Acho que não saiu configurada a postagem… Bom, vou separá-la dos links e reenviá-la…
Que postagem maravilhosa! Vou atrás dos álbuns do Opeth e do Ginger Baker, pois não os conhecia, e o do Creedence, pois embora fã da banda, passei batido nesse, acredita? Quanto à menção dos “buracos no Albert Hall”, como a história é DELICIOSA (com sugestão de mudança na letra por parte do teatro e até de backing vocal do Ringo!), sugerirei dois links para quem quiser adentrar nela (um do próprio site oficial deles!).
https://www.royalalberthall.com/about-the-hall/news/2015/april/royal-albert-hall-was-furious-over-beatles-lyric-newly-discovered-documents-reveal/
E o outro link: https://www.navecriativa.com/o-dia-que-o-royal-albert-hall-pediu-para-os-beatles-mudarem-uma-letra/
Que legal, Marcelo, obrigado pelos comentários e pela contribuição! Espero que goste dos discos do Opeth e do Ginger Baker’s Air Force, porque o do Creedence tenho certeza que será muito curtido, não perde em nada para o mencionado “The Concert”. Depois compartilha conosco o que achou dos álbuns! Eu tinha lido que a direção do RAH não tinha gostado da letra de “A Day in the Life” – mas não tinha visto essa carta que está num dos sites que você compartilhou, valeu muito!
Pode deixar, estou com ambos aqui na esteira de audição e o do Creedence, só pelo seu texto, eu já comprei o CD sem pestanejar, deve chegar em breve. Eu é que sempre agradeço por vocês existirem, passo por aqui praticamente todo dia e aprendo muito com todos os textos que postam! Sempre bons textos, com a personalidade de cada um de vocês, ótimas dicas (que busco ouvir e conhecer mesmo não sendo dos estilos que curto, pois já conseguiram me surpreender várias vezes) e sempre, sempre a música que nos une, o bom e velho rock and roll… Abração!