50 Anos de Bad Co.

50 Anos de Bad Co.

Por Marcello Zapelini

Em 24 de maio de 1974, um LP de capa preta com apenas cinco letras em cinza claro identificando o título – e o nome da banda – foi lançado na Inglaterra, marcando a estreia de um novo grupo. E que grupo! Bad Company era formado por Paul Rodgers (vocal, guitarra e piano), Simon Kirke (bateria e backing vocal), ambos ex-integrantes do Free, Mick Ralphs (guitarra, teclados e backing vocal), vindo do Mott The Hoople, e Boz Burrell (baixo e backing vocal), ex-King Crimson; quatro músicos que vinham de bandas bem-sucedidas e reconhecidas pelo público e a crítica. Mel Collins participa como convidado no sax e o duo Sue and Sunny contribui com backing vocals. Na capa interna do LP britânico, uma colagem de fotos da banda ao vivo – na americana, uma foto posada em estúdio que virou a contracapa do lançamento brasileiro em capa simples.

A capa interna da versão gatefold americana (acima) … virou a parte traseira da versão brasileira (abaixo)

Gravado em Headley Grange, na zona rural do condado de Hampshire, com o estúdio móvel de Ronnie Lane e produzido pela própria banda, Bad Co. traz apenas oito faixas em pouco menos de 35 minutos, todas composições dos membros da própria banda: Mick Ralphs escreveu “Can’t Get Enough”, “Ready for Love” e “Movin’ On”, Paul Rodgers, “The Way I Choose” e “Rock Steady”. Outras duas músicas são assinadas por Rodgers e Ralphs, “Don’t Let me Down” e “Seagull”, e Rodgers ainda compôs “Bad Company” com Simon Kirke – ou seja, apenas Boz não contribuiu com nenhuma composição. Além delas, a banda gravou “Little Miss Fortune” (outra parceria entre Rodgers e Ralphs), “Easy on my Soul” e “Superstar Woman”, ambas de Rodgers; as duas primeiras saíram à época como B-sides dos singles “Can’t Get Enough” e “Movin’ On”, respectivamente. Há que se destacar que “Ready for Love” já tinha sido gravada pelo Mott The Hoople e “Easy on my Soul”, pelo Free.

“Can’t Get Enough” abre os trabalhos com a bateria de Simon, e é o melhor cartão de visita que a banda poderia disponibilizar: um rock agradável de se ouvir, com uma letra no melhor estilo roqueiro macho e gostosão, com um solo de guitarras dobradas que ao vivo trazia Rodgers auxiliando Ralphs. O single fez sucesso nas paradas, e ajudou a introduzir a banda. “Rock Steady” segue a mesma linha, outro hard rock direto na veia. O lado A termina com duas músicas mais leves, a maravilhosa “Ready for Love” (muito superior à versão do Mott, ainda que falte a coda instrumental que a outra banda de Ralphs incluiu), e “Don’t Let me Down”, que explora o alcance vocal de Rodgers e traz Mel Collins nos saxes. Virando o disco, a música que batizou o grupo e o álbum mostra porque Kirke chegou a ser cogitado para substituir John Bonham no Led Zeppelin: quando preciso, ele descia o braço no kit.

Boz Burrell e
Simon Kirke, Boz Burrell, Paul Rodgers e Mick Ralphs

“The Way I Choose” não é uma música ruim, mas para mim não se destaca; já “Movin’ On” traz de volta o hard rock alegre das duas primeiras músicas do LP, e “Seagull”, que Rodgers gravou sozinho, é uma balada acústica muito bonita, que mais uma vez fornece argumentos para quem concordar com Rod Stewart, que considerava Paul o melhor cantor de rock da Inglaterra.

Bad Co. fez grande sucesso, atingindo o 3º posto na Inglaterra (onde foi lançado pelo selo Island e ganhou disco de ouro) e liderando a Billboard nos EUA (incidentalmente, tornando-se o primeiro álbum da Swan Song do Led Zeppelin), tendo vendido mais de cinco milhões de cópias nesse país. Disponível em diferentes edições, hoje em dia a melhor opção é o CD duplo lançado em 2015 para comemorar (com atraso) o 40º aniversário do grupo, com mais de uma hora de versões alternativas no segundo disco. O grupo lançaria bons discos como Straight Shooter, Run With the Pack e Desolation Angels antes de se desfazer em 1982, quando Paul Rodgers decidiu sair para uma carreira solo e depois faria parceria com Jimmy Page no The Firm.

O selo da Swan Song (acima); A edição de 40 anos (abaixo)

Alguns anos depois, Ralphs e Kirke trariam a banda de volta com Brian Howe (ex-vocalista de Ted Nugent) e lançariam quatro discos de estúdio mais voltados para o AOR, bem-sucedidos nos EUA mas meio ignorados no resto do mundo. Após a saída de Howe, o grupo continuaria com Robert Hart nos vocais e um som mais próximo do original, até receber Paul Rodgers de volta em 1999, quando uma coletânea levou a uma turnê que ressuscitou a formação original. Boz infelizmente veio a falecer em 2002, aos 60 anos, e Rodgers e Kirke mantiveram o Bad Company na estrada por mais alguns anos, com e sem Ralphs, cuja saúde fragilizada impedia de fazer longas turnês, mas, à exceção de duas músicas gravadas para o álbum Merchants of Cool, não lançou mais discos de estúdio, somente álbuns ao vivo, os últimos deles trazendo Howard Leese (ex-Heart) na guitarra.

Embora o Bad Company nunca tenha superado o disco de estreia tanto em qualidade quanto em sucesso, este Bad Co. marcou o início de uma bela carreira que brindou os fãs de um hard rock voltado apenas para divertir os ouvintes com várias pérolas. Paul Rodgers continua por aí, tendo inclusive lançado um bom disco-solo em 2023. Quem sabe ele se reúne a Kirke mais uma vez para uma comemoração dos 50 anos?

Contra-capa da versão inglesa em vinil

Track list

  1. Can’t Get Enough
  2. Rock Steady
  3. Ready For Love
  4. Don’t Let Me Down
  5. Bad Company
  6. The Way I Choose
  7. Movin’ On
  8. Seagull

4 comentários sobre “50 Anos de Bad Co.

  1. Bad Company é uma de minhas bandas favoritas – ou mesmo A favorita -, a que tenho mais memórias de audição, a que primeiro quis completar a coleção de LP’s, a que sei todas as letras de cor… Merecem um Discografia comentada, hein?! Obrigado pela postagem.

  2. Obrigado pelo comentário, Marcelo! Também adoro o Bad Co., mas confesso não curtir muito a fase com o Brian Howe nos vocais… Os discos com ele não são exatamente ruins, mas para mim não estão à altura dos da banda original. O único dessa primeira fase que não gosto muito é o “Burnin’ Sky”, que tem algumas músicas boas, mas não está à altura dos outros. O que você acha?

  3. O Paul Rodgers é uma potência da espécie humana, né? Os discos sem ele são como os do Black Sabbath sem o Ozzy e/ou o Dio, estamos lá pelo Tony Iommi e cia… Já o “Burnin’ Sky” tem um lugar especial no meu coração por conta da faixa 2 do lado A, “Morning Sun”, uma das 3 faixas mais lindas do grupo e uma das baladas mais incríveis do rock – essa, se não tocar no meu enterro, eu nem vou! A própria “Burnin’ Sky” figura bem entre os grandes sucessos deles e gosto do jeito da “Leaving You”, mais cadenciada e contemplativa e entendo que o disco tem outro ritmo, requer mais calma e uma bela tarde para o curtirmos, ele não é o disco da curtição “sexo, drogas & rock and roll”… Basta ver que, ainda no lado A, na faixa 4, “Like Water”, temos mais uma balada, um rock leve e denso na medida certa. “Every Woman I Love” é deliciosa, impossível não pensar em amores juvenis com ela, enfim… Gosto demais desse disco, que ouço com outras expectativas, sentado no fim de tarde e tomando umas sem pretensões de sair e curtir todas, sugiro uma outra chance para ele! Abraços!

    1. Que legal, Marcelo!! Fui ouvir o “Burnin’ Sky” de novo para prestar atenção nessas músicas, algumas eu não lembrava direito, e de fato são as melhores do álbum. Conhece a versão original de “Like Water”, gravada pelo Free (e lançada só postumamente)? É muito legal também. Agora, “Master of Ceremony” não consigo engolir… muito arrastada e sem grandes atrativos.

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