Selos Lendários: Elektra

Selos Lendários: Elektra

Por Ronaldo Rodrigues

A Elektra é um selo norte-americano muito colecionável e eclético. Integra, desde o início dos anos 70, o portfólio da gigante fonográfica Warner.

Sua trajetória se inicia de forma independente nos anos 50. A ideia do selo surge da cabeça de um jovem chamado Jack Holzman, que tinha problemas com seus pais e por diversas vezes fugiu de casa. Seus pais lhe deram de presente um fonógrafo de boa qualidade e, nessa época de sua tenra adolescência, desperta-lhe o interesse em música e rádio. Sua avó era membro do Conselho Nacional de Mulheres Judias e fazia frequentes pronunciamentos em uma rádio dos arredores de New Jersey. O jovem Jack Holzman a acompanhava com frequência. Na escola era um aluno relapso, e apenas as aulas de eletrônica lhe despertavam o interesse. Aos 15 anos, após insistentes pedidos, seu pai lhe dá de presente um gravador semi-profissional. Ele começa a gravar casamentos, “bar mitzvahs” (a cerimônia de passagem à vida adulta para os judeus) e pequenos recitais.

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Jack Holzman, a cabeça da Elektra Records

Essas pequenas experiências germinaram a vontade em Jack Holzman de inaugurar um selo. Em 10 de outubro de 1950, a empreitada estava batizada como Elektra, inspirada na figura da mitologia grega e em dezembro, Holzman realiza sua primeira gravação em um estúdio em New York, com o pianista John Gruen. Holzman levou as fitas para serem masterizadas e prensadas no estúdio da RCA, mas ficou decepcionado com o resultado. Depois de reclamar um bocado, conseguiu que o processo fosse refeito sob sua supervisão e finalmente em março de 1951 a primeira gravação da Elektra estava concluída em uma tiragem de 500 cópias. Jack Holzman conseguiu um distribuidor para 100 cópias, que havia lhe pedido mais 50 cópias para fins promocionais. Ao final das contas, apenas as 50 cópias promocionais foram distribuídas e as demais, devolvidas. Um mal começo.

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A primeira gravação da Elektra, com o pianista John Gruen

Jack Holzman não desistiu e resolve se instalar em New York, no bairro boêmio de Greenwich Village. Junto do amigo Paul Rickolt, decidem investir US$ 300,00 dólares cada, em um apartamento que seria batizado como “The Record Loft”. Ali funcionaria uma espécie de loja para as gravações que Holzman estava tentando fazer e também para outras que possuía. O acervo disponível tinha em torno de 1000 discos e desses, 400 eram de folk music. O local passou a ser frequentado por artistas folk que viviam na área. Um cara chamado George Pickow entrou na loja e depois de algum papo, falou que sua esposa era uma cantora folk. Jack Holzman, depois de conhecê-la, ficou impressionado com sua voz e a posterior gravação e o lançamento de Jean Ritchie, a referida cantora, foi um tímido sucesso vendendo 2000 cópias.

Em seguida a essa boa aposta, Jack investe em novos equipamentos de gravação. E as gravações continuavam, principalmente dentro do gênero folk music, tão popular naquela época e naquele local. Em 1954, a Elektra grava seus primeiros trabalhos também no território do blues, com Sonny Terry & Brownie Mcghee. Também nessa época, a Elektra se transfere para um novo e mais amplo escritório.

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O gaitista Sonny Terry

O primeiro sucesso da Elektra surge de forma bastante casual. Jack Holzman conheceu um ator principiante chamado Theodore Bikel, que havia residido na Palestina antes da segunda guerra mundial e estava nos EUA tentando a sorte na Broadway. Bikel não estava interessado em gravações, mas pela insistência de Jack Holzman, gravou uma série de canções tradicionais que ele conhecia e o lançamento “Folk Songs of Israel” teve uma boa repercussão comercial. Os demais lançamentos de Theodore Bikel o transformaram no nome mais bem sucedido do selo Elektra até 1961.

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Alguns dos vários lançamentos do cantor Theodore Bikel, sucesso nos primórdios da Elektra.

Os principais legados da Elektra para a indústria fonográfica em seu início foram o lançamento de compilações contendo apenas trechos de músicas de diferente artistas para as rádios e o lançamento de um selo subsidiário de baixo custo, para atingir uma outra parcela do público. As compilações da Elektra tinham por objetivo dar uma amostra do cast do selo às rádios, a baixo custo. A ideia deu certo, pois garantiu o interesse das rádios para vários de seus artistas e a ideia se expandiu para o público, pois os preços eram convidativos e davam ao ouvinte um bom panorama antes de comprar um disco do selo. Obviamente, outros selos concorrentes também adotaram essa estratégia.

Uma das compilações da Elektra, com amostras das canções de seus contratados.
Uma das compilações da Elektra, com amostras das canções de seus contratados.

No início dos anos 60, o catálogo da Elektra era dominado pela folk music e começava a contar com nomes mais conhecidos do grande público, como a cantora Judy Collins. Depois de 1961, Jack Holzman foi delegando as atividades de produção aos produtores Mark Abramson e Paul Rothchild e se concentrando no gerenciamento do selo. Jack Holzman perdeu uma grande oportunidade de assinar com Bob Dylan. O lançamento do primeiro disco de Dylan fez com que Jack Holzman mudasse seus planos – ele havia transferido seu escritório para Santa Monica na Califórnia, e se sentiu obrigado a retornar para New York.

A bela folk-singer Judy Collins
A bela folk-singer Judy Collins

Em 1963, a Elektra passa a tratar com mais seriedade o blues. Em 1965, surge através do produtor Paul Rothchild, a Paul Butterfield Blues Band. O primeiro álbum custou uma fábula de dinheiro para ser concluído, mas o retorno veio e o disco superou em vendas todos os outros lançamentos do selo. Iniciava-se o período áureo do selo. A Butterfield Blues Band, entre outros feitos, foi quem acompanhou Bob Dylan em sua chocante apresentação elétrica no Newport Blues & Folk Festival em 1966.

Bob Dylan eletrificado com a Butterfield Blues Band
Bob Dylan eletrificado com a Butterfield Blues Band
A estreia lançada pela Elektra
A estreia lançada pela Elektra

Depois do sucesso da Paul Butterfield Blues Band e de uma má sucedida transação com o Lovin’ Spoonful (banda que viria a ser muito bem sucedida nos anos seguintes), Jack Holzman decide adentrar o mercado do rock e do pop que emergia na Califórnia. Na Sunset Strip, Jack Holzman trava contato com a banda Love, de Arthur Lee. Contrato assinado, e mais sucesso para a Elektra. O compacto com as músicas “My Little Red Book” e “A Message to Pretty” foi um grande sucesso da Elektra em 1966. E depois, o disco Forever Changes, de 1967, foi outro marco na trajetória do selo.

Compacto do Love, um dos sucessos da Elektra em 1966
Compacto do Love, um dos sucessos da Elektra em 1966

Em um dos encontros com o Love, Jack Holzman assistiu uma banda de abertura da noite na boate Whisky-a-go-go – The Doors. Holzman fica impressionado e passa para Paul Rothchild a missão de produzi-los. Paul se nega veemente, mas pela insistência do patrão Holzman, aceita a empreitada a contragosto. Em uma semana, estava gravada a estréia dos Doors. O primeiro compacto, com “Break on Through” não teve a repercussão esperada. Mas uma versão editada de “Light my Fire“, feita contrariando a vontade do grupo, explodiu nas paradas e alcançou o número 1 em 1967. Foi o primeiro single da Elektra a chegar no topo. Os Doors se tornaram uma das bandas mais conhecidas e rentáveis de toda história.

Versão em CD da clássica estréia do Doors.
Versão em CD da clássica estréia do Doors.

O selo afastou-se da imagem fortemente associada ao folk e ao blues, para se tornar bastante influente na música pop e rock daquele período. Nessa época também surgem no selo Tim Buckley, Incredible Strings Band, MC5 e Stooges, artistas que tiveram reconhecimento ao longo do tempo. Outros artistas que fazem a cabeça de colecionadores do rock dos anos 60 também foram lançados pela Elektra – Rhinoceros, Earth Opera, Clearlight, Eclection, Stalk Forest-Group, Sirens, entre outros. A Elektra então passou a estabelecer parcerias de distribuição e licenciamento com outros grandes selos, como a Columbia, RCA, Decca e Capitol. Em 1970, a Warner adquire a Elektra, mas Jack Holzman se mantém como presidente da companhia pelos anos seguintes.

O lendário Stooges, de Iggy Pop.
O lendário Stooges, de Iggy Pop.
Primeiro LP da banda Rhinoceros, pela Elektra.
Primeiro LP da banda Rhinoceros, pela Elektra.

No início dos anos 70, a Elektra também agregou dois nomes que se tornariam gigantes dentro do chamado soft-rock – o grupo Bread e a cantora Carly Simon. Ambos trouxeram um caminhão de hits e suas músicas infestam as FM “adultas” mundo afora até hoje. Depois, uma miscelânia de artistas tão díspares quanto Neil Sedaka, The Cars, Larry Corryel e Television (incluindo o clássico Marque Moon) tiveram lançamentos no selo. O Queen também teve seus discos lançados nos EUA através da Elektra. Jack Holzman se aposentou aos 42 anos e não se envolveu mais nos negócios de sua companhia ou do grupo Warner.

Television – a Elektra ativa e ligada nas tendências no fim dos anos 70.
Television – a Elektra ativa e ligada nas tendências no fim dos anos 70.

O selo, ao contrário de vários outros que já abordamos aqui nesta série, teve uma regularidade de lançamentos ao longo da década de 70 e 80. Vale destacar outro grande sucesso nos anos 70, através da Asylum – os Eagles, um dos maiores baluartes do pop-rock de todos os tempos. A Asylum foi fundada por David Geffen, com a ajuda de executivos da Atlantic e da Warner. Depois foi adquirida em 1972 e fundida à Elektra e algum de seus lançamentos passaram a sair como Elektra/Asylum. É até desnecessário dizer do estrondoso sucesso de discos como Hotel California, de 1976.

Clássico lançamento pela estampa conjunta Elektra/Asylum
Clássico lançamento pela estampa conjunta Elektra/Asylum

Nos anos 80, outros grandes sucessos da Elektra no rock foram o Mötley Crüe e o Dokken. Todos os lançamentos mais famosos de ambas as bandas sairam pela Elektra, que gostava sempre de estar onde o público estava. Também o Metallica teve alguns de seus lançamentos mais famosos com o selo da Elektra – Master of Puppets, …And Justice for All e Mettalica. Mas babas pop como o Simply Red e outros mantiveram perene o sucesso de um selo que, depois de algum tempo de estrada, aprendeu a jogar nas 11 posições.

Motley Crue com Too Fast for Love
Motley Crue com Too Fast for Love

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A Elektra no hard rock e no heavy metal nos anos 80
A Elektra no hard rock e no heavy metal nos anos 80

Destacam-se, principalmente durante os anos 60 e 70, os trabalhos gráficos do selo e a própria evolução de seu design. A partir de uma escrita em letras toscas no início da década de 50, o selo foi evoluindo para seu formato mais conhecido, com uma letra “E” estilizada em forma geométricas e depois adotando uma borboleta colorida. Com a chegada dos anos 80, o design voltou ao minimalismo, e uma letra “E” bem careta passou a ser presente nos lançamentos do selo.

A evolução do logotipo do selo Elektra ao longo dos anos
A evolução do logotipo do selo Elektra ao longo dos anos

2 comentários sobre “Selos Lendários: Elektra

  1. Durante muito tempo o selo Elektra para mim foi sinônimo do The Doors, mas como teve banda legal nele! A começar pelo Love, que tem dois discos obrigatórios, pelo menos, para quem gosta do rock americano da segunda metade dos anos 60. E depois, ao longo do tempo, o Television, Eagles, Metallica… Muita coisa legal rolou pela Elektra.

    1. E teve a Stalk-Forrest Group.
      Que, mais tarde, mudaria de nome.
      Passaria a se chamar Blue Öyster Cult…

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